“Escrevi tudo isso naquele caderno branco que meu professor
de inglês me deu há tantos anos. Essas epístolas, datadas e assinadas em
letra cuidadosa, se alternavam com acessos infelizes em que escrevia com letras
muito grandes ocupando toda a página, EU ODEIO TODO MUNDO ou QUERIA ESTAR
MORTO. Daí, eram entremeadas com letras mau escritas: faz três dias que não vou a
escola, sou quase um zumbi, ficamos tão chapados ontem à noite que meio que
apaguei, jogamos um jogo de computador, jantamos sucrilhos e pastilhas de hortelã”.
É um garoto de 15 anos que começou a usar drogas com um
colega. Roubavam para arranjar dinheiro ou o pegava na carteira do pai. Estou terminando
o livro O PINTASSILGO e as descrições do uso de drogas é alucinante. O rapaz é
de boa família, faz faculdade e consegue abandonar o vício. O outro se perde no
mundo do crime, mas não morre. Então, a escritora Donna Tartt diz o seguinte (p. 710):
“Mas aí está o que eu realmente queria que alguém me
explicasse. E se alguém por acaso tem um coração não confiável? Que por seus
próprios motivos insondáveis afasta a pessoa, de uma boa saúde e vida
doméstica, da responsabilidade cidadã e de todas as virtudes? Se seu eu mais
profundo está te atraindo direto para a fogueira, o melhor é se afastar? Pôr-se
no rumo que vai te levar a norma, aos relacionamentos estáveis e a progressão
na carreira? Ou o melhor é se jogar de cabeça, rindo da fúria e gritando por
ela?”
É o que se chama a apologia às drogas ou é um questionamento
profundo do ser humano, na luta por sua alma?