quinta-feira, 26 de maio de 2016

CAVALGANDO COM O PRÍNCIPE

Meu amigo Beckmann Pithany é um gaúcho que ama caminhadas. Talvez por isso mesmo tenha se interessado muito pela viagem do príncipe regente D. Pedro à São Paulo, quando deu o grito da Independência. Pesquisou vários livros e fez uma narrativa tranquila que, nesses nossos dias corridos, acalma e nos faz refletir.

Entre as coisas que aprendi e me chamaram a atenção nele está o caráter do nosso jovem príncipe. Tinha 23 anos, era casado e tinha uma filha, e carregava sobre os ombros os problemas desse nosso imenso país. O relato baseado em documentos oficiais é meio frio, mas Beckmann desenterrou algumas atitudes do príncipe que nos dão uma imagem mais humana do moço.
Em 1822, o Brasil tinha 300 anos, a população dividia-se em duas correntes que se tornaram partidos políticos: os portugueses, gente que vinha da Europa para servir aqui, e brasileiros, de famílias que já estavam nesta terra por várias gerações e que não aceitavam ser governados por cortes no estrangeiro. A vida de D. Pedro corria perigo. Mas quando começou sua jornada para São Paulo sua comitiva demonstra sua autoconfiança (p. 27):

“Era madrugada, dia 14 de agosto de 1822, e o Palácio de São Cristóvão estava envolto em espessa neblina. Não havia ninguém na rua, o silêncio reinava absoluto e no meio da névoa surge seis cavaleiros”. O príncipe não levava soldados para protege-lo. Ele era assim, de grande autoconfiança. Isto se confirmou quando ele pousou em Lorena. Na manhã seguinte, o sexto dia da viagem (p. 50): “Sua Alteza mandou dispensa a Guarda de Honra destinada a acompanha-lo, composta de 32 praças”.
Mesmo com tão poucos acompanhantes, D. Pedro gostava de cavalgar sozinho, ia na frente dos companheiros. Foi assim que em Silveira – estava programado de almoçarem na fazenda Pau-D’álho – ele chegou na frente gritando, ô de casa. Quando lhe atenderam não se apresentou, disse apenas que estava morto de fome. Serviram-lhe a comida na cozinha (p. 46): “Quando os integrantes da comitiva chegaram e foram convidados a entrar, a proprietária perguntou olhando aqueles rapazes [ todos tinham em torno de 20 anos]: qual de vós sois o príncipe? Então o adiantado visitante respondeu detrás do fogão: sou eu”.

No nono dia da marcha chegaram em Jacareí, o arraial ficava do outro lado do rio Paraíba. Entraram na balsa para fazer a travessia e D. Pedro via a multidão apinhada lhe esperando (p. 64): “O príncipe lançou-se com cavalo e tudo nadando até a margem. Molhado até a cintura, apeando do animal, quis saber se alguém coincidia com sua altura e peso. Apresentou-se o jovem Adriano de Pindamonhangaba. O príncipe então lhe falou: Troca de roupa comigo?” Era assim, intempestivo e brincalhão.
Devia ser muito legal fazer uma viagem com o príncipe.

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