sexta-feira, 11 de março de 2016

Quando se conta um caso, mudamos alguma coisa.

Sinto imenso prazer em pensar, abstrair-me da vida corrida em volta e buscar entender me é muito agradável.
No livro Tempo e Narrativa, o filósofo Paul Ricoeur, diz (p. 97): “Deve-se entender o fenômeno da retenção de um momento. [como a foto de um instante] Um agora gera uma impressão modificada de retenções anteriores. Cada agora se torna instantaneamente um ‘agora-que-foi’ e que é posterior ao ‘tendo sido o agora-que-foi’. É em virtude dessa modificação de modificações que se diz que cada retenção traz em si a herança de todo processo anterior”.


Quando nos lembramos de um instante especial de nossa vida, tenha certeza que essa lembrança retida na mente não é idêntica à que vivemos. Com o passar do tempo vivenciamos muitos momentos que foram se infiltrando na lembrança daquele dia especial. É por isso que quando você conta um caso num encontro de amigos, pode ter certeza que não serás exato. Não porque esteja mentindo ou inventado, mas porque aquele momento importante do tempo foi impregnado por muitas outras vivências.   

terça-feira, 8 de março de 2016

De onde vem a força inesperada?

Vez por outra recebo um texto do professor José Renato Santigo, doutor em Gestão Empresarial, hoje foi este: “Ao longo de qualquer caminhada, após certo tempo, pelo menos duas coisas nos motivam a chegar ao nosso destino.
A primeira delas é a proximidade, que tende a fazer com que encontremos os últimos grãos de energia, ainda que eles já estejam tão escassos.
No entanto, se continuamos distantes, costumamos utilizar outra. Olhamos para trás e buscamos enxergar o ponto de partida”.
Posso falar de minha experiência como ciclista. Quando saímos para um longo pedal cheio de dificuldades, focamos no lugar que escolhemos visitar ou, quando é um círculo, no retorno a casa. Então, acontece o seguinte, quando estamos pelo meio da empreitada deixamos nossa mente refazer o percurso lembrando o que já vencemos de dificuldades até ali. Isso nos empolga e anima para seguir adiante.


Porém, quando já estamos com menos de um quinto de caminho a vencer mandamos, ou automaticamente, nossa mente pensa na linha de chegada. O lugarejo com aquela refeição gostosa e uma cerveja geladinha, ou a cachoeira com a água fria e revigorante. E então as pernas ganham força e andamos mais ligeiros. Mas melhor tonificante não há do que se pensar na casa da gente. Esse pensamento tira todas as dores musculares, nossos pés ganham asas e voamos. Como é que isso acontece? De onde vem esta força inesperada? Quem somos nós que só nos conhecemos plenamente quando bem desafiados?   

sexta-feira, 4 de março de 2016

Corrupção parecia coisa natural, como bostas de cavalo em uma estrada.

Dia 04/03/2016, o ex-presidente é interrogado pela Polícia Federal como se um delinquente fosse. Casas de amigos dele são revistadas e documentos apreendidos. Falam em ‘fim do mundo’, referindo-se obviamente ao término da Era Petista. À tarde Lula fala pela televisão. Lembra seu passado de lutas, mas um passado honesto pode ser destruído por ulteriores decisões desonestas. Afirma, quase temerariamente, que a justiça o está perseguindo indevidamente; todo acusado tem direito a negar seus crimes, mesmo não sendo a melhor maneira de se redimir. E pareceu conclamar os que ainda o admiram a defende-lo, numa luta intestina de seu povo.
Mas, estou lendo um livro que me fez refletir. Depois do Banquete, de Yukio Mishima, fala de uma campanha acirrada para primeiro ministro, no Japão. De um lado o Partido Conservador – o equivalente ao PSDB – de outro o Partido Liberal – com muito boa vontade podemos equipará-lo ao PT. Kasu, esposa do candidato derrotado dos liberais, faz esta reflexão: “Pouco antes da eleição o dinheiro do Partido Liberal começou a esgotar-se, enquanto uma grande torrente de dinheiro foi canalizada para os cofres do Partido Conservador. Daí o dinheiro escoava pelas ruas aos borbotões para conquistar os depravados e os desgraçadamente pobres. O dinheiro luzia como o sol, fazendo crescer as plantas venenosas e as ervas daninhas. A desilusão sempre experimentada no Japão pelas forças radicais continuaria. Que houvesse corrupção durante uma campanha ou que a vitória sorrisse pelas mãos do poder econômico, nada disso surpreendia; pareciam coisas naturais como bostas de cavalo em uma estrada de pedras”.

Pensei: durante grande parte de minha vida, vi a elite econômica dominar o Brasil e pensava: ‘roubam mas fazem’; então Lula ganhou a eleição. O dinheiro gordo não ajudou os partidos conservadores porque o povo não os queria mais. Pena foi que no poder Lula decidiu: Nunca mais vamos viver de migalhas, daqui pra frente o dinheiro grosso virá pra nós.

E o país se danou.