sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

QUANDO ELE VINHA COM O MILHO EU JÁ IA COM O FUBÁ.

Parece piada.
Duas amigas se encontram e dizem confundindo as vozes: Como você está bem, amiga!
Enquanto em off, os pensamentos também se misturam: Como tá caidaça!
No livro sobre Psicologia que estou lendo, o médico Aaron T. Beck, 

explica esse fenômeno e o denomina de “dupla corrente” (p. 556): “A maioria das pessoas não está plenamente consciente dessa segunda corrente que chamo de 'pensamento automático'. Em primeiro lugar porque esses pensamentos tendem a ser muito fugidios e segundo porque se situam na orla da consciência. Eles normalmente não se verbalizam diante do outro. Outra coisa, esses pensamentos surgem imediatamente antes de vivenciarmos um forte sentimento, seja de tristeza, alegria, ódio ou revolta”.
Então, não é uma ilusão. É muito comum a gente falar sem pensar e pensar sem falar. Mas o professor diz outra coisa sobre esse pensamento de fundo: “O pensamento automático tem função de auto monitoramento, auto instrução e auto regulação. Inclui também interpretações rápidas, auto avaliação e previsões. Sua função é de comunicação consigo mesmo, mais do que com o outro”.
O que significa que ao conversarmos com alguém devemos prestar atenção àquela corrente furtiva que são comentários de algo que estamos percebendo além dos nossos cinco sentidos. São sempre avisos importantes. Os antigos tinham um ditado para isso: quando ele vinha com o milho eu já ia com o fubá.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Sempre quis receber um sim ou um não bem claro.


“Ele teve todo amor que podia receber”, diz uma mãe angustiada. E o que seu filho lhe deu?
“Nunca se adaptou a escola e provocava a rejeição dos colegas, recusava-se a ajudar nas tarefas domésticas ao passo que só vivia fazendo exigências, passou a contestar a autoridade dos pais e dos professores na escola, não cumpria os compromissos e abandonava qualquer atividade que lhe desse algum trabalho, e se tornou um consumista compulsivo que busca prazeres imediatos, seja num videogame, na internet ou usando maconha ou outra droga mais pesada”.

Esta lista está no Livro Negro da Psicanálise (p. 416); felizmente não fala da experiência de uma mãe, mas de várias com filhos dando trabalho em alguns desses comportamentos. Por que isto está ficando cada vez mais frequente? O psicólogo Didier Pleux, responde: “Os jovens estão ficando mais frágeis, com uma vulnerabilidade muito grande ao princípio da realidade”. O que é isso? É a criança ou o jovem não viver numa ‘ilha da fantasia’ com todas as vontades sendo realizadas, é o choque de um prazer negado, restrição a participar de uma festa ou um momento qualquer de alegria, é se defrontar com o desprazer.

Por mais que um pai ou uma mãe ache que o filho ficará traumatizado por deixar de fazer uma coisa de que gosta, o que ele lhe dirá mais tarde na vida é: “sempre quis receber um sim ou um não bem claro”.