quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Matando uma charada.

A segunda porta que abre para a nave da igreja de Santa Cecília, em Volta Redonda, com duas bandas, nos mostra duas datas, 1671 – 1741. Perguntaram ao vigário, padre Flávio a que se referiam. Ele não soube dizer e passou a pesquisa para o pesquisador José Adal. Procurando na internet ele encontrou pistas.

Antes de tudo, porque essa segunda porta na igreja? Em um curso para acólitos, diz: “Muitas igrejas, logo a seguir à porta da entrada, têm um pequeno átrio, isto é, um espaço vazio. Isso quer dizer que quem vem de fora não entra logo na igreja. Noutras, este átrio é antes da porta principal. Seja duma maneira ou de outra, é bom que haja um espaço para que as pessoas, quando chegam de casa ou quando saem da igreja possam, no caso de estar a chover ou de fazer muito calor, falar aí umas com as outras. Quando o átrio é depois da porta principal, existe um guarda-vento, que faz mais do que guardar o vento, porque também guarda do frio, do barulho da rua, e evita que os cãezinhos que acompanham os donos entrem na igreja, que não é lugar para eles. Quando a igreja tem guarda-vento, é nele que está a porta ou as portas pelas quais se entra diretamente na igreja.

Agora vamos examinar a questão. É preciso dizer primeiro que nos vitrais deste guarda-vento aparecem imagens da igreja do Outeiro da Glória, no Rio de Janeiro. O pesquisador começou procurando informações sobre a irmandade que mandou construir a igreja centenária. 

Encontrou esta referência numa obra do historiador Bruno da Silva Antunes de Cerqueira, Outeiro da Glória - Brevíssima História: “A única certeza, para todos os pesquisadores da história da IINSGO [Imperial Irmandade de Nossa Senhora da Glória do Outeiro], é que em 1671 o multifacetário Antônio de Caminha — carioca, segundo os registros de batizado disponibilizados no Colégio Brasileiro de Genealogia, e confirmados pelo Livro de Batizados da Cúria Arquiepiscopal de São Sebastião do Rio de Janeiro, mas tido e havido por português de Aveiro, para diversas fontes —, proprietário e artífice no Rio de Janeiro setecentista, esculpiu a primitiva imagem de Nossa Senhora da Glória para veneração na ermida, como narra Rosa Maria Dias da Silva: ‘Escultor, santeiro e mestre de obras, o ermitão, com seu próprio esforço, construiu mais tarde, em madeira e barro, uma rústica capela dedicada à Virgem. Homem habilidoso, sem vaidade, andava simplesmente com o hábito da Ordem Terceira de São Francisco. Era abastado e possuidor de muitos terrenos (...).
Quanto a outra data o mesmo documento chega bem perto: “Os romeiros e devotos da Senhora da Glória do Outeiro ganham forte impulso oficial quando escrevem ao 4º Bispo do Rio de Janeiro, D. Frei Antônio de Guadalupe em 09 de julho de 1739, pedindo-lhe permissão para erigirem uma Irmandade que preste culto digno e conforme a Nossa Senhora da Glória. Não deve se espantar o leitor com essas informações. Os documentos coloniais são dessa forma. A irmandade já existia, mas requeria-se ao novo bispo uma permissão oficial e toda especial para que ela existisse, de pleno direito. E assim foi feito: a 10 de outubro de 1740, D. Frei Antônio de Guadalupe concede a licença eclesiástica e a 07 de janeiro de 1740 aprova o Compromisso. A placa alusiva a essa gloriosa aurora está na parte traseira de nossa igreja, como se vê na fotografia disposta no livro”.

http://outeirodagloria.org.br/historia/historia-irmandade-cerqueira/

Porque a CSN comprou este lindo guarda-vento que ficaria mais de acordo lá, no Rio, no Outeiro da Glória, na bela igreja, não sei dizer, ainda.

domingo, 27 de novembro de 2016

É UMA APOLOGIA ÀS DROGAS?

“Escrevi tudo isso naquele caderno branco que meu professor de inglês me deu há tantos anos. Essas epístolas, datadas e assinadas em letra cuidadosa, se alternavam com acessos infelizes em que escrevia com letras muito grandes ocupando toda a página, EU ODEIO TODO MUNDO ou QUERIA ESTAR MORTO. Daí, eram entremeadas com letras mau escritas: faz três dias que não vou a escola, sou quase um zumbi, ficamos tão chapados ontem à noite que meio que apaguei, jogamos um jogo de computador, jantamos sucrilhos e pastilhas de hortelã”.
É um garoto de 15 anos que começou a usar drogas com um colega. Roubavam para arranjar dinheiro ou o pegava na carteira do pai. Estou terminando o livro O PINTASSILGO e as descrições do uso de drogas é alucinante. O rapaz é de boa família, faz faculdade e consegue abandonar o vício. O outro se perde no mundo do crime, mas não morre. Então, a escritora Donna Tartt diz o seguinte (p. 710):
“Mas aí está o que eu realmente queria que alguém me explicasse. E se alguém por acaso tem um coração não confiável? Que por seus próprios motivos insondáveis afasta a pessoa, de uma boa saúde e vida doméstica, da responsabilidade cidadã e de todas as virtudes? Se seu eu mais profundo está te atraindo direto para a fogueira, o melhor é se afastar? Pôr-se no rumo que vai te levar a norma, aos relacionamentos estáveis e a progressão na carreira? Ou o melhor é se jogar de cabeça, rindo da fúria e gritando por ela?”

É o que se chama a apologia às drogas ou é um questionamento profundo do ser humano, na luta por sua alma? 

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

PARE DE CORRER

Desde que me entendo - e aí passaram 65 anos - vivi num mundo bem tranquilo, em que o tempo passava devagar, e neste nosso que tudo acontece rapidamente. Estou lendo um livro que herdei de meu pai, Cascalho, falando das zonas de garimpo, e na p.152 li sobre um tempo bem diferente de agora:
"Os dias de correio eram grandes dias. Representava uma evasão da rotina. Com cartas da família chegavam jornais. Havia correio uma vez por semana, aos sábados. As malas postais vinham pela estrada de ferro até um cidade maior e depois, por 14 léguas [cada légua equivale a 4.828m], 65km, em lombo de burro. Quando os animais atravessavam a praça com suas cargas postais, havia uma agitação.
O promotor mandou um funcionário à agência dos correios e sentou-se para ler. Mas não conseguia deter a atenção nas páginas. Seus pensamentos estavam longe: Como estaria sua mãe e irmãs? Será que o dinheiro que lhes mandou deu para as despesas? E como andaria seu partido político, o Liberal? E a campanha para as próximas eleições, como estavam transcorrendo? E desse modo não conseguia ler, toda hora prestando atenção ao barulho de cascos na praça: seria o correio?"

Há pouco peguei na minha caixa do correio uma propaganda para uma internet mais rápida. Hoje, sabe-se o que está se passando do outro lado do mundo. E são informações sobre tudo. Tudo rapidamente, na correria.
Faz-me lembrar uma previsão de Jesus (Mateus 24:26, 27): "Portanto, se vos disserem: ‘Eis que Ele está no deserto!’- não saiais. Ou ainda: ‘Ele está ali mesmo, nos cômodos de uma casa!’- não acrediteis. Pois, da mesma maneira como o relâmpago parte do oriente e brilha até no ocidente, assim também se dará a vinda do Filho do homem".
Parece que Jesus fala de informações na velocidade de um relâmpago: Ele está ali, Ele está no deserto, Ele está...
O conselho dele foi: Não acredite, não vá atrás de tudo que ouve.

terça-feira, 4 de outubro de 2016

COMO DEVIA SER E ACABA NÃO SENDO

"Há na multidão que povoa um país, quatro categorias:
todos os habitantes;
os adultos com direito a voto;
os homens e mulheres que tem consciência dos seus deveres e direitos e lutam por eles;
e aqueles, investidos de cultura intelectual e moral, com espírito elevado e que são capazes de sobrepor aos seus interesses próprios ou partidários, o destino de dirigir a multidão".
O poeta Olavo Bilac no livro A Defesa Nacional, de 1916.

- Zé, então ele não conheceu o Lula e essa porcalhada de políticos!

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

LI UM NEGÓCIO QUE ME DEU UM ESTALO

Sabe a Bolsa Família? Pois é, em 1915, sob a presidência de Venceslau Brás, o governo inventou de criar o Serviço Militar Obrigatório, sabe para quê? Foi o que li, escrito por Alberto Torres: "Como meio de revigoramento do espírito cívico de nossos jovens, para lhes dar disciplina patriótica e para lhes exaltar a coragem e a energia moral".
Mas por que nossos jovens precisavam disso? Ele continua: "O Brasil é a pátria de uma população sem nexo social, um acampamento de gerações sem herança de bens e de bons costumes, uma feitoria de aventureiros. Um país em que sua gente morre na miséria enquanto uns poucos ganham riqueza com a falência de seu destino moral".
Então, por que a elite tem essas ideias salvadoras como o Bolsa Família? Diz ele: "É o impulso reflexo, descoordenado. Ninguém está disposto a repor a mente da Nação". Mas, por que? "Em uns o egoísmo ou o exclusivismo do partido, em outros a incapacidade de decidir e de agir".
O mundo fala da alegria e despreocupação deste povo maravilhoso, mas é aí que mora o perigo.

terça-feira, 27 de setembro de 2016

BASTAM POUCAS PALAVRAS

"Nosso partido promete pugnar por dois princípios em que se firmam a Democracia: respeito a liberdade individual e a difusão do ensino público.
Prometemos ainda levantar o crédito público equilibrando o orçamento, animar a iniciativa individual e restaurar a confiança no trabalho.
Sobretudo prometemos: firmar as liberdades constitucionais recuperando o respeito à lei e o prestígio à autoridade.
Essas são as melhores condições para assegurar a Ordem e o Progresso".
Manifesto do Partido Republicano, em 1893 - tirado do livro A Primeira República.

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

TUDO ACABA PASSANDO.

Bate-nos, às vezes, uma tristeza, um desapontamento com a vida. Aprendi que num momento desses, se olhamos para algo da natureza a alegria invade de novo o coração. Pode ser apenas levantar os olhos e observar uma nuvem na tela azul do céu, ou um bem-te-vi cantando num galho de uma solitária árvore de rua.

O livro Brumas do Passado fala de um momento assim vivido pela personagem (p. 118): “Tinha uma quantidade de ideias que não compreendia bem. Então, às vezes, a verdade me aprecia em um lampejo que me assustava e surpreendia ao mesmo tempo. Lembro-me de um dia em que voltava para casa ao cair da tarde. A estrada passava por um trecho cheio de árvores e me peguei observando o sol se insinuando entre os troncos escuros. Como iluminava um grupo de galhos fazendo cintilar a resina que escorria da casca e dando um brilho de aço as folhagens mais ao alto. Porém, conforme caminhava o sol parecia andar comigo deixando a sombra envolver aquela árvore e iluminando outra. Num desses lampejos de compreensão que temos muito raramente entendi no fundo do coração que é assim que acontece com a humanidade toda. Percebi que é o que sucede quando uma pessoa fica muito famosa ou rica. Não demora muito tempo e ela vai para o esquecimento ou perde sua fortuna. Assim é a vida, os raios de sol ora aquecem um ora outro e deixa este na sombra e amanhã aquele”.

Sendo assim, não vale a pena termos inveja de quem tem muito nem nos orgulharmos quando chega nossa vez de possuir ou conquistar algo. Tudo acaba passando.  

terça-feira, 28 de junho de 2016

DELAÇÃO PREMIADA – O CONTRA SENSO

Não é de agora que se aceita e usa esse atraiçoar relações de confiança. Em todos os momentos de crua decadência, de completa falta de ética, em uma sociedade voltada para o consumismo e cultura sem valor e dominada pela corrupção, a delação é premiada.
Acabei de ler o livro Eu, Claudius, o Imperador e quando ele descreve o governo de Tibério César, diz (p. 173): “Tibério fez decretar que se alguém fosse acusado como culpado de conspiração contra o Estado, seriam os seus bens confiscados e repartidos entre seus acusadores. Proliferou então uma classe de delatores profissionais, que podiam à vontade maquinar acusações. Assim, os verdadeiros dossiês criminais tornaram-se supérfluos”. Está vendo como os delatores levavam vantagens?
Outro tempo caótico foi o de Calígula. A amoralidade dominava todas as relações (p. 289): “Aqueles dias de folgança doidas acabaram por secar o Tesouro. Ele tinha agora, para arranjar dinheiro, meios muito engenhosos, por exemplo, reduzia famílias a escravidão à força de multas e confiscos, mandando cidadãos para combater contra gladiadores no anfiteatro. Mas um dia seu tesoureiro veio anunciar-lhe que não restava no Tesouro mais que um milho de peças de ouro [no início de seu governo havia 27 milhões]. Calígula decidiu que não valia a pena fazer economia, era preciso aumentar a receita. Começou a negociar cargos e monopólios e admitiu que delatores acusassem cidadãos ricos de crimes reais ou imaginários, a fim de confiscar-lhes os bens”. 


Temos de escapar desta crise de imoral vaidade que agride as famílias. Parece tão difícil uma volta à ética e a razão

domingo, 12 de junho de 2016

OUTRA CARTA DE RUI BARBOSA

Meses antes do impeachment era comum ver pessoas falando sobre a necessidade da volta dos militares ao poder para nos vermos livres do PT. Essa troca de um mal pelo outro foi comentada há muito tempo por Rui Barbosa.
Estou lendo A Primeira República e nele encontrei à p. 47: “Considerei toda esta noite no assunto que ontem de tarde me vieram submeter, oferecer ao ilustre Marechal Hermes da Fonseca a Presidência da República. Supor que uma crise política desta natureza, puramente doméstica, não se possa resolver senão com o nome do chefe do Exército, seria fazer uma grave injustiça à condição de nosso regime, à índole dos nossos costumes e aos sentimentos do nosso povo. Já lá vão 14 anos de existência da República, a aclamação da candidatura do Ministro da Guerra seria, a meu ver, um retrocesso. Por que regressarmos ao governo militar? Não descubro motivo para nos resignarmos à solução que amigos nossos reputam inevitável”.
Rui Barbosa foi contra a volta dos militares ao poder.
Mas então ele lança um desejo, que também é nosso: “Precisamos de um nome político verdadeiramente popular, realmente nacional, de um nome sério, digno, benquisto que reuniria todos os elementos dissidentes. Teríamos então, pela primeira vez, o espetáculo do povo brasileiro concorrendo efetivamente às urnas, para sufragar nosso primeiro magistrado”. Rio, 19 de maio de 1909.
Onde está este homem íntegro e ilibado?


Faz-me lembrar o que enfatizou o papa João Paulo II em uma de suas visitas ao Brasil: Os brasileiros devem buscar seriamente a santificação.

segunda-feira, 6 de junho de 2016

DEU NO JORNAL

“A nossa honra de povo livre, os nossos brios de povo independente e nossa própria conservação reclamam, de nós, nesta hora de suprema privações e ignomínias, toda energia e todos os sacrifícios. A terra gloriosa de nossos avós, nossa amada Pátria, outrora invejada pelo estrangeiro como uma das mais felizes do mundo, está transformada em lodaçal. Vede como a perversidade de homens sem patriotismo, sem obediência moral e afeitos ao crime, desfigurou a nossa grandeza, desbaratou a nossa riqueza, na orgia infernal que nos deprime e avilta.
Contemplai a miserável situação em que nos achamos. Fora do país, de bárbaros é a nossa fama. O Governo Brasileiro foi proclamado o mais corrupto da Terra! A União atrasa pagamentos e os Estados já não podem pagar o funcionalismo público e fecham escolas porque o dinheiro do imposto escasseia, enquanto a ganância dos larápios aumenta desmedidamente numa fúria diabólica”
- Isso é que coisa de O Globo, Zéadal.


Este editorial está transcrito no livro A Primeira República, de Edgard Carone, e foi publicado no jornal Correio da Manhã, em 25/08/1902.
Ô País sem jeito, minha gente!

quinta-feira, 26 de maio de 2016

CAVALGANDO COM O PRÍNCIPE

Meu amigo Beckmann Pithany é um gaúcho que ama caminhadas. Talvez por isso mesmo tenha se interessado muito pela viagem do príncipe regente D. Pedro à São Paulo, quando deu o grito da Independência. Pesquisou vários livros e fez uma narrativa tranquila que, nesses nossos dias corridos, acalma e nos faz refletir.

Entre as coisas que aprendi e me chamaram a atenção nele está o caráter do nosso jovem príncipe. Tinha 23 anos, era casado e tinha uma filha, e carregava sobre os ombros os problemas desse nosso imenso país. O relato baseado em documentos oficiais é meio frio, mas Beckmann desenterrou algumas atitudes do príncipe que nos dão uma imagem mais humana do moço.
Em 1822, o Brasil tinha 300 anos, a população dividia-se em duas correntes que se tornaram partidos políticos: os portugueses, gente que vinha da Europa para servir aqui, e brasileiros, de famílias que já estavam nesta terra por várias gerações e que não aceitavam ser governados por cortes no estrangeiro. A vida de D. Pedro corria perigo. Mas quando começou sua jornada para São Paulo sua comitiva demonstra sua autoconfiança (p. 27):

“Era madrugada, dia 14 de agosto de 1822, e o Palácio de São Cristóvão estava envolto em espessa neblina. Não havia ninguém na rua, o silêncio reinava absoluto e no meio da névoa surge seis cavaleiros”. O príncipe não levava soldados para protege-lo. Ele era assim, de grande autoconfiança. Isto se confirmou quando ele pousou em Lorena. Na manhã seguinte, o sexto dia da viagem (p. 50): “Sua Alteza mandou dispensa a Guarda de Honra destinada a acompanha-lo, composta de 32 praças”.
Mesmo com tão poucos acompanhantes, D. Pedro gostava de cavalgar sozinho, ia na frente dos companheiros. Foi assim que em Silveira – estava programado de almoçarem na fazenda Pau-D’álho – ele chegou na frente gritando, ô de casa. Quando lhe atenderam não se apresentou, disse apenas que estava morto de fome. Serviram-lhe a comida na cozinha (p. 46): “Quando os integrantes da comitiva chegaram e foram convidados a entrar, a proprietária perguntou olhando aqueles rapazes [ todos tinham em torno de 20 anos]: qual de vós sois o príncipe? Então o adiantado visitante respondeu detrás do fogão: sou eu”.

No nono dia da marcha chegaram em Jacareí, o arraial ficava do outro lado do rio Paraíba. Entraram na balsa para fazer a travessia e D. Pedro via a multidão apinhada lhe esperando (p. 64): “O príncipe lançou-se com cavalo e tudo nadando até a margem. Molhado até a cintura, apeando do animal, quis saber se alguém coincidia com sua altura e peso. Apresentou-se o jovem Adriano de Pindamonhangaba. O príncipe então lhe falou: Troca de roupa comigo?” Era assim, intempestivo e brincalhão.
Devia ser muito legal fazer uma viagem com o príncipe.

sexta-feira, 20 de maio de 2016

O socialismo nunca vai aprender a governar bem

A REVOLUÇÃO COMUNISTA DE 1917
Sempre aprendi assim e com essa informação eu e todo mundo que estuda um pouco passou a admirar e ter medo dos soviéticos. Só agora vim ler uma descrição dos eventos que aconteceram no decorrer daquele ano contado por um homem que viveu então e foi um dos principais articuladores da Revolução, Leon Trotsky.

Governava a Rússia o Csar Nicolau II, o sanguinário, um absolutista que tomou uma decisão errada após outra. Entrar na 1ª Guerra Mundial foi a gota d’água. Foi preso, em 15 de março e obrigado pelos revoltosos a abdicar.
- Os comunistas?
Não, os socialistas. No livro Como Fizemos a Revolução, Leon diz (p. 13): “O Partido Socialista Revolucionário tinha como chefes políticos oriundos da classe média que tinham subido àquelas alturas devido ao apoio dos soldados, enquanto os membros da classe operária estavam reprimidos”.
No 1º Congresso Soviético, em 23 de junho, os líderes bradavam: “Prescindi da burguesia, abandonai toda ideia de coligação e tomai nas vossas mãos as rédeas do Estado”.
Os socialistas, maioria no governo revolucionário, endureceram: “O ministério intensificou a repressão, proibiu a publicação de artigos comunistas e estabeleceu a pena de morte contra quem fizesse propaganda política”.
Isto deu mais gás aos comunistas (p. 38): “Os soviéticos não ficaram silenciosos. Nos panfletos produzidos às escondidas animava o povo a apoiar os grupos comunistas em cada cidade, prometia aos camponeses a distribuição das terras e aos operários a direção das indústrias”.
Os socialistas não conseguiam fazer uma boa administração: “A desorganização do exército, o caos na distribuição de alimentos e a revolução agrária criava uma atmosfera de revolta”.
Foi então, já ao final do ano, em novembro, que apoiados pela Marinha e por parte do Exército os soviéticos tomaram o poder (p. 46): “Entendemos firmemente que um governo comunista somente seria possível com métodos radicais. Impunha-se arrancar a autoridade das mãos daqueles que se mostravam incapazes de governar bem e já começavam a causar graves estragos ao país”.
É pessoal, como diz meu grande amigo Marcus, o socialismo nunca vai aprender a governar bem um país. E não foi dito e feito com os PTralhas?

terça-feira, 3 de maio de 2016

A discórdia está acesa.

O poeta romano Virgílio viveu no século I a.C 

e morreu quando Maria de Nazaré, Nossa Senhora, nascia. Escreveu o poema Eneida, a epopeia da fundação de Roma por troianos que escaparam da destruição de Troia pelos gregos. Na edição que estou lendo o professor Paulo Matos Peixoto, faz uma ressalva: “O poema há de ser apreciado dentro do sentido panteísta que animava a civilização romana do seu tempo, tudo era atribuído à influência dos vários deuses que governavam o mundo”.
À página 180 um espírito maligno chamado Alecto se ufana, dizendo: “A discórdia está acesa e a guerra furiosa! E ainda posso espalhar a loucura por toda a zona circunvizinha e realizar alianças com ambos os partidos e, então, toda a Itália pegará fogo e nos seus filhos, de corações inflamados nascerá o desejo da guerra insana”.
Como diz minha neta Pâmela, como o homem deixou de acreditar naqueles deuses também deixará de crer nos demônios. Mas como diziam os antigos espanhóis, segundo Cervantes em Dom Quixote: Yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay ...  
Tudo o que estamos vendo ser exposto pela justiça federal, a incrível roubalheira que se apossou do Brasil, não pode ser creditada só à falta de ética, à má educação, à falta de reverência ao Criador e ao apelo insistente do mundo exibicionista e egoísta pós-moderno. Com certeza existem seres puramente interessados em nos ver sofrer e morrer horrendamente. Então, é ficar vigilante, protegendo o coração e dominando nossas vontades. Siga esta admoestação do apóstolo Pedro (1 Pedro 5:8): “Sede sóbrios; vigiai; porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar”.

Não acredita, não?! 

sexta-feira, 11 de março de 2016

Quando se conta um caso, mudamos alguma coisa.

Sinto imenso prazer em pensar, abstrair-me da vida corrida em volta e buscar entender me é muito agradável.
No livro Tempo e Narrativa, o filósofo Paul Ricoeur, diz (p. 97): “Deve-se entender o fenômeno da retenção de um momento. [como a foto de um instante] Um agora gera uma impressão modificada de retenções anteriores. Cada agora se torna instantaneamente um ‘agora-que-foi’ e que é posterior ao ‘tendo sido o agora-que-foi’. É em virtude dessa modificação de modificações que se diz que cada retenção traz em si a herança de todo processo anterior”.


Quando nos lembramos de um instante especial de nossa vida, tenha certeza que essa lembrança retida na mente não é idêntica à que vivemos. Com o passar do tempo vivenciamos muitos momentos que foram se infiltrando na lembrança daquele dia especial. É por isso que quando você conta um caso num encontro de amigos, pode ter certeza que não serás exato. Não porque esteja mentindo ou inventado, mas porque aquele momento importante do tempo foi impregnado por muitas outras vivências.   

terça-feira, 8 de março de 2016

De onde vem a força inesperada?

Vez por outra recebo um texto do professor José Renato Santigo, doutor em Gestão Empresarial, hoje foi este: “Ao longo de qualquer caminhada, após certo tempo, pelo menos duas coisas nos motivam a chegar ao nosso destino.
A primeira delas é a proximidade, que tende a fazer com que encontremos os últimos grãos de energia, ainda que eles já estejam tão escassos.
No entanto, se continuamos distantes, costumamos utilizar outra. Olhamos para trás e buscamos enxergar o ponto de partida”.
Posso falar de minha experiência como ciclista. Quando saímos para um longo pedal cheio de dificuldades, focamos no lugar que escolhemos visitar ou, quando é um círculo, no retorno a casa. Então, acontece o seguinte, quando estamos pelo meio da empreitada deixamos nossa mente refazer o percurso lembrando o que já vencemos de dificuldades até ali. Isso nos empolga e anima para seguir adiante.


Porém, quando já estamos com menos de um quinto de caminho a vencer mandamos, ou automaticamente, nossa mente pensa na linha de chegada. O lugarejo com aquela refeição gostosa e uma cerveja geladinha, ou a cachoeira com a água fria e revigorante. E então as pernas ganham força e andamos mais ligeiros. Mas melhor tonificante não há do que se pensar na casa da gente. Esse pensamento tira todas as dores musculares, nossos pés ganham asas e voamos. Como é que isso acontece? De onde vem esta força inesperada? Quem somos nós que só nos conhecemos plenamente quando bem desafiados?   

sexta-feira, 4 de março de 2016

Corrupção parecia coisa natural, como bostas de cavalo em uma estrada.

Dia 04/03/2016, o ex-presidente é interrogado pela Polícia Federal como se um delinquente fosse. Casas de amigos dele são revistadas e documentos apreendidos. Falam em ‘fim do mundo’, referindo-se obviamente ao término da Era Petista. À tarde Lula fala pela televisão. Lembra seu passado de lutas, mas um passado honesto pode ser destruído por ulteriores decisões desonestas. Afirma, quase temerariamente, que a justiça o está perseguindo indevidamente; todo acusado tem direito a negar seus crimes, mesmo não sendo a melhor maneira de se redimir. E pareceu conclamar os que ainda o admiram a defende-lo, numa luta intestina de seu povo.
Mas, estou lendo um livro que me fez refletir. Depois do Banquete, de Yukio Mishima, fala de uma campanha acirrada para primeiro ministro, no Japão. De um lado o Partido Conservador – o equivalente ao PSDB – de outro o Partido Liberal – com muito boa vontade podemos equipará-lo ao PT. Kasu, esposa do candidato derrotado dos liberais, faz esta reflexão: “Pouco antes da eleição o dinheiro do Partido Liberal começou a esgotar-se, enquanto uma grande torrente de dinheiro foi canalizada para os cofres do Partido Conservador. Daí o dinheiro escoava pelas ruas aos borbotões para conquistar os depravados e os desgraçadamente pobres. O dinheiro luzia como o sol, fazendo crescer as plantas venenosas e as ervas daninhas. A desilusão sempre experimentada no Japão pelas forças radicais continuaria. Que houvesse corrupção durante uma campanha ou que a vitória sorrisse pelas mãos do poder econômico, nada disso surpreendia; pareciam coisas naturais como bostas de cavalo em uma estrada de pedras”.

Pensei: durante grande parte de minha vida, vi a elite econômica dominar o Brasil e pensava: ‘roubam mas fazem’; então Lula ganhou a eleição. O dinheiro gordo não ajudou os partidos conservadores porque o povo não os queria mais. Pena foi que no poder Lula decidiu: Nunca mais vamos viver de migalhas, daqui pra frente o dinheiro grosso virá pra nós.

E o país se danou.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

QUANDO ELE VINHA COM O MILHO EU JÁ IA COM O FUBÁ.

Parece piada.
Duas amigas se encontram e dizem confundindo as vozes: Como você está bem, amiga!
Enquanto em off, os pensamentos também se misturam: Como tá caidaça!
No livro sobre Psicologia que estou lendo, o médico Aaron T. Beck, 

explica esse fenômeno e o denomina de “dupla corrente” (p. 556): “A maioria das pessoas não está plenamente consciente dessa segunda corrente que chamo de 'pensamento automático'. Em primeiro lugar porque esses pensamentos tendem a ser muito fugidios e segundo porque se situam na orla da consciência. Eles normalmente não se verbalizam diante do outro. Outra coisa, esses pensamentos surgem imediatamente antes de vivenciarmos um forte sentimento, seja de tristeza, alegria, ódio ou revolta”.
Então, não é uma ilusão. É muito comum a gente falar sem pensar e pensar sem falar. Mas o professor diz outra coisa sobre esse pensamento de fundo: “O pensamento automático tem função de auto monitoramento, auto instrução e auto regulação. Inclui também interpretações rápidas, auto avaliação e previsões. Sua função é de comunicação consigo mesmo, mais do que com o outro”.
O que significa que ao conversarmos com alguém devemos prestar atenção àquela corrente furtiva que são comentários de algo que estamos percebendo além dos nossos cinco sentidos. São sempre avisos importantes. Os antigos tinham um ditado para isso: quando ele vinha com o milho eu já ia com o fubá.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Sempre quis receber um sim ou um não bem claro.


“Ele teve todo amor que podia receber”, diz uma mãe angustiada. E o que seu filho lhe deu?
“Nunca se adaptou a escola e provocava a rejeição dos colegas, recusava-se a ajudar nas tarefas domésticas ao passo que só vivia fazendo exigências, passou a contestar a autoridade dos pais e dos professores na escola, não cumpria os compromissos e abandonava qualquer atividade que lhe desse algum trabalho, e se tornou um consumista compulsivo que busca prazeres imediatos, seja num videogame, na internet ou usando maconha ou outra droga mais pesada”.

Esta lista está no Livro Negro da Psicanálise (p. 416); felizmente não fala da experiência de uma mãe, mas de várias com filhos dando trabalho em alguns desses comportamentos. Por que isto está ficando cada vez mais frequente? O psicólogo Didier Pleux, responde: “Os jovens estão ficando mais frágeis, com uma vulnerabilidade muito grande ao princípio da realidade”. O que é isso? É a criança ou o jovem não viver numa ‘ilha da fantasia’ com todas as vontades sendo realizadas, é o choque de um prazer negado, restrição a participar de uma festa ou um momento qualquer de alegria, é se defrontar com o desprazer.

Por mais que um pai ou uma mãe ache que o filho ficará traumatizado por deixar de fazer uma coisa de que gosta, o que ele lhe dirá mais tarde na vida é: “sempre quis receber um sim ou um não bem claro”.  

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Não seria bom os políticos ladrões serem expulsos de suas igrejas?

Nos tempos feudais, as cidades mudando de Senhor a cada guerra, imóveis pertencentes à Igreja Católica passavam a dar renda ao dito Senhor. No livro Colunas Vivas de São Pedro, conta (p. 391): “A escassez de assembleias papais agravou a necessidade de defender a integridade do patrimônio material eclesiástico. Então uma encíclica ensinou: 'Quando os capelães de castelanias tomarem conhecimento da existência de alguma igreja, cemitério ou outra possessão eclesial incorporada aos bens da fortificação em que residem, devem exortar o Senhor local a restituí-lo. Se a restituição integral não ocorrer até o oitavo dia da demanda, todos os serviços divinos devem cessar, exceto o batismo, a confissão e a comunhão sob o temor da morte. Será permitido apenas a celebração de uma missa semanal numa cidade próxima. Se o Senhor da fortificação se obstinar e se manter incorrigível por 40 dias o capelão deve abandonar o lugar'”.

O papa tinha o poder de excomungar um soberano que não atendesse às ordens emanadas da Igreja, mas muitos não ligavam mais para esse peso de ser um excomungado, então a decisão foi ir “apertando” o cristão que estava usufruindo de um bem da Casa de Cristo. “Era preciso garantir uma aplicação comedida das ações destinadas a dissuadir o infrator e em doses crescentes destinadas a constrangê-lo”. Fazia-se isto cortando serviços religiosos importantes para a fé. O que se seperava é que o povo, querendo seu oficio religioso pressionasse seu Senhor para ele atender a ordem do Papa. 

A maioria de nossos políticos ladrões, empresários que pagam propina e funcionários que as pedem, são católicos ou evangélicos. Não seria bom que além de serem julgados e condenados pela justiça sofressem uma expulsão de sua igreja?