“Lawrence da Arábia me garantiu que lá eu teria paz de
espírito”.
Iniciei a leitura de Vento do Saara, de Ronald Bodley. Ele
nasceu numa família tradicional inglesa, seu avô abriu a primeira livraria em
Oxford e seu pai era historiador. Ele se formou em diplomacia, mas preferiu ser
jornalista e na primeira Grande Guerra foi ferido três vezes. As atividades do
mundo e a vida agitada lhe incomodavam, foi então que seu amigo lhe aconselhou
a ir viver no norte do Saara, entre beduínos.
Falando na terceira pessoa, ele conta: “Quando Mister Bodley,
ex-oficial dum regimento inglês, ex-aluno de Eton e criador de cavalos decidiu
viver com os nômades até causou pilhérias entre os amigos”.
A parte do Saara em que foi viver fica além da fronteira sul
de Marrocos, Argélia e Tunísia. Não era o Saara que a gente conhece. “Lá tem
altas montanhas e profundos vales que depois das chuvas se transformam em infinita
campina coberta de relva e flores. As dunas de areia ocupam apenas um sexto da
sua superfície. Quando se viaja por essas terras, mesmo que tudo tenha sido
bem organizado, tem-se de virar as costas para habitações humanas, conforto e a
preciosa água. Então movimentar-se por ali é sempre acompanhado por uma
sensação assustadora de perigo e desvalimento”. Essas são as situações que mais
aproximam o homem de seu Criador.
O inglês cristão se converteu ao islamismo,
“eu rezava cinco vezes ao dia, abstinha-me de álcool, observava jejuns e lia
devotamente o Alcorão”.
O que ele descreve agora cala profundamente em quem vive num
mundo de corrupção e violência e que não faz outra coisa na vida se não pagar
contas e se aborrecer: “Para os árabes do deserto o Saara é o Jardim de Alá, donde
Deus removeu todo excesso e deixou poucos seres humanos e animais, a fim de que
houvesse espaço para uma pessoas passear em paz”.
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