quarta-feira, 29 de julho de 2015

As duas novelas da Globo nos dão uma pista preocupante.

A História revela um dado interessante: cada geração vive uma situação. O estranho é que como as camadas de bolo uma dada geração, em todas as partes do mundo, vive a mesma experiência. Generalização fala muito e não diz nada, então vamos as fatos. Numa mesma página de O Globo tem uma entrevista com um escritor de Moçambique e uma reportagem sobre o Panamá, ambas falam de algo que também aconteceu por aqui.

Falando sobre a década de 1960, em Moçambique, o escritor Mia Couto, diz: “A guerra civil e a instabilidade militar e política foram associadas a uma grande violência. O país esteve paralisado durante 16 anos”.  No Panamá: “Manuel Noriega pediu desculpas por danos cometidos pelos regimes miliares que comandaram o país a partir dos anos 60: 'Peço perdão a toda pessoa que se sinta prejudicada ou ofendida por minhas ações ou dos meus subalternos”. Nessa mesma época o Brasil teve a Ditadura Militar que provocou a morte de tanta gente. E assim foi em muitos países: A dècada de 1960 foi a geração dos golpes militares.
E neste século XXI, em Moçambique: “A corrupção é parte da política. Querem nos convencer que é um processo natural, que a corrupção faz parte do sistema, é uma dieta da qual não se pode fugir”. Sobre o pedido de desculpa de Noriega, no Panamá: “É uma farsa, é parte da corrupção que aflige o país”. E no Brasil? Este é o século da roubalheira desenfreada. A corrupção está tão endêmica que quase leva o país a falência. Então esta geração é da falta total de valores éticos.

Como será o modo de vida na próxima geração, a dos meus netos? As duas novelas da Globo, das 21h e das 23h, nos dão uma pista preocupante.  























quinta-feira, 23 de julho de 2015

Um futuro tenebroso. Mas também pode ser muito bom.

A História nos dá certo alento, ou conforto. Muita coisa ruim está acontecendo. Então em nossa experiência de 30 ou 70 anos achamos que só vai piorar. Mas pode ser diferente.
No livro A Canção da Espada, de Bernard Cornwell, o personagem é um saxão e neste trecho (p. 151) ele anda pela Londres de 878 que fora construída pelos romanos a partir do ano 40 e.c. Em sua época os habitantes da Inglaterra construíam casas e palácios com paredes de barro e cobertos de sapé. Por isso ele se admira das antigas construções:

“Nossos passos ecoavam nas casas altas que tinham pelo menos três andares. Algumas possuíam um belo trabalho em pedra e pensei em como o mundo já fora cheio desse tipo de habitação. Lembro-me da primeira vez que subi uma escadaria romana, de como a sensação era estranha. Agora o mundo era esterco, palha e madeira estragada pela umidade. O mundo inteiro apodrecia enquanto escorregávamos da luz para a escuridão, chegando cada vez mais perto do caos negro em que tudo terminaria”.

Mas ele estava errado, é só andar por Londres de hoje. E nós que presenciamos a violência, a corrupção e o liberalismo com os costumes, vemos para diante um futuro tenebroso. Mas também pode ser muito bom. A História nos dá essa esperança.   
























sábado, 11 de julho de 2015

Fiquei chocado.

“Quando ficava zangado fechava os olhos com os dedos, como se estivesse numa profunda meditação, depois dizia: muito bem garota, muito bem. Eu já sabia o que estava por vir”.
São palavras da personagem Madaline, no livro O Silêncio das Montanhas, de Khaled Hosseini (p. 253). Um relato íntimo e a opinião de uma mulher que escolheu caras errados.
“Depois, conheci outros homens como ele. Gostaria de não ter conhecido, mas conheci. Aprendi que basta ‘cavar um pouco’ e eles se mostram todos iguais. Alguns são mais educados, podem ter um pouco de charme – ou muito – e enganar a gente. Mas são todos garotos infelizes chafurdando na própria raiva”.
Vivo há tantos anos com Lili e, pelo que ela me fala, também eu, sob a capa de homem liberal e compreensivo dorme um transformador de mulheres. O homem escolhe a mulher pelo que ela é, mais o que idealiza, e na convivência ele tenta por todos os meios transmuda-la em outra.

"Eles se sentem enganados. Creem que não tiveram a parte que mereciam nessa vida. Que ninguém os amou bastante. Claro que deseja que a gente os ame. Querem ser abraçados, ninados e tranquilizados. Mas é um erro conceder-lhes isso. Porque eles não conseguem aceitar. Não conseguem aceitar exatamente aquilo de que precisam. E acabam odiando você por isso. O ódio desses homens não tem fim, porque não tem limite, nunca terminam: a infelicidade, os pedidos de desculpa, as promessas, as negações, toda essa nojeira”.
Fiquei chocado.


















Fiquei chocado.

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Despiu a mulher diante de todos nós.

“- Você se orgulha do que escreveu?
 - Acho que responderia afirmativo se ao menos conseguisse distanciar meu trabalho do próprio processo criativo”.
Diálogo entre um repórter e uma poetisa no livro O Silêncio das Montanhas (p.184), de Khaled Hosseini. Ela continua e tenta explicar o que disse:
“- Eu vejo o processo criativo como um empreendimento necessariamente desonesto. Aprofunde-se num lindo texto escrito e vai encontrar todos os tipos de desonra. Criar significa vandalizar a vida de outras pessoas, transformando-as em participantes involuntários e inconscientes. Nós roubamos desejos alheios, seus sonhos e embolsamos seus defeitos. Pegamos o que não nos pertence. E fazemos isso conscientemente”.
Em meu livro Adão, Feito da Terra exploro na primeira pessoa (como se fosse eu) a angústia do jovem professor de arqueologia quando um caso amoroso com uma aluna é tornado público de uma maneira devastadora. Aposso-me de seu estado down, esmiúço-o.
A poetisa Nila é bem franca: “Eu fazia isso não pelo amor a alguma grandiosa noção de arte, mas porque não tinha escolha. A compulsão era forte demais. Se não me rendesse a ela, eu perderia o juízo. E você me pergunta se sinto orgulho do que escrevi!”
(a orquídea aqui de casa nos galhos da pitangueira)

Veja esse soneto de Vinícius de Moraes:

Soneto de Devoção

Essa mulher que se arremessa, fria
E lúbrica aos meus braços, e nos seios
Me arrebata e me beija e balbucia
Versos, votos de amor e nomes feios.
Essa mulher, flor de melancolia
Que se ri dos meus pálidos receios
A única entre todas a quem dei
Os carinhos que nunca a outra daria.
Essa mulher que a cada amor proclama
A miséria e a grandeza de quem ama
E guarda a marca dos meus dentes nela.
Essa mulher é um mundo! — uma cadela
Talvez… — mas na moldura de uma cama
Nunca mulher nenhuma foi tão bela!

Que lindo, não é? E não despiu perante todos nós essa mulher?!    

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Falta-nos uma voz que nos faça dar meia-volta.

“A Bíblia é a Jerusalém portátil dos judeus”.
Estou lendo o robusto livro Jerusalém, de Simon Sibag

e nesta mesma p. 36, diz: “As religiões começam com um centelha revelada a um profeta”. Na p. 52, diz: “Profetas não eram adivinhos dos futuro, mas argutos analistas da situação presente. A palavra grega propheteia significa “interpretação da vontade de Deus”. A p. 68, fala do profeta Isaias: “Ele moldou o judaísmo e o cristianismo. Jesus estudou o livro de Isaias e seus ensinamentos: a destruição de Jerusalém e uma nova cidade espiritual”. Após sua ascensão os cristãos lembravam o que Jesus falou e ensinou e vários documentos foram escritos sobre isso. No evangelho de Lucas (21:20-24), conta que ele anteviu isso: “Quando vocês virem Jerusalém cercada por exércitos, fiquem sabendo que logo será destruída... Como serão horríveis aqueles dias para as mulheres grávidas e para as mães com criancinhas”. Citando o historiador Josefo sobre Jerusalém cercada pelo exército romano sob o comando de Tito, o livro conta: “Começaram a ficar sem comida. Comiam esterco de vaca, couro, capim seco e sapatos. Uma rica mulher ficou tão desvairada que matou e assou o próprio filho”.

Falta-nos um profeta, uma voz que nos acorde e nos faça dar meia-volta.