terça-feira, 28 de abril de 2015

Briga-se por um quase nada

mas nas Minas Gerais, no tempo do garimpo do ouro, saia-se no tapa até por um lugar na procissão. O livro Pardos e Crioulos em Ordens Terceiras diz (p.174): “A disputa em torno da precedência nas procissões e nas solenidades públicas assumia especial relevância no que respeita ao prestígio social e à preservação de privilégios”. A coisa chegou a tal ponto que o príncipe Regente D. João VI, no Brasil, interveio, dizendo: “Deve-se determinar a preferência que aspira cada confraria, porque indo isto indeciso sucederá semelhante desordem a que aconteceu na Irmandade de Mulatos do Convento de Palmas, que por igual motivo vieram às mãos no meio da procissão, havendo ferimentos com indecência e escândalo”.

Na festa na cidade de Piedade do Rio Grande o privilégio de carregar o andar é da irmandade negra 

e os brancos respeitam esse direito. Se bem que o branco Zé Adal se intrometeu e pediu para levar o andor de N. Sra. das Mercês por um bom pedaço.

sábado, 25 de abril de 2015

É preciso aquietar os pensamentos.

Estou terminando de ler O Segundo Círculo do Poder, de Carlos Castañeda onde aprendi muito.
Existem dois caminhos, com muitas variações, para nos tornarmos melhores pessoas, o religioso e o ético. O primeiro é uma busca por uma revelação o segundo é um empenho pessoal. Esse livro fala de uma terceira via, a procura de capacidades mágicas possuídas por nós e não utilizadas.
Na via religiosa, por exemplo, tem o seguinte conselho (Provérbios 6:6): “Vai ter com a formiga, ó preguiçoso; olha para os seus caminhos, e sê sábio”. 

Na via mágica esta ação chama-se contemplar (p.216): “Depois nos fez contemplar criaturas vivas, em movimento. Disse que os pequenos insetos eram, de longe, os melhores objetos de observação”. Para que serve esta fixação? “Contemplar fortalece a segunda atenção e os pensamentos se aquietam. Sem preocupações a atenção primária se enfraquece e a segunda, de repente, acorda e faz parar o mundo para nós. Não é fácil se absorver numa coisa simples sem nos distrairmos. Para uma meditação real é preciso aquietar os pensamentos”. Algumas coisas ajudam: “O corpo tem de ficar completamente descontraído. Os olhos não devem se fixar no objeto, nesse caso o inseto. O melhor é ficar com os olhos semicerrados e observar com o canto esquerdo dos olhos”.

O objetivo é descansar a mente e renovar as células do corpo e mudar um comportamento por outro mais feliz. Parece que a verdade, uma coisa só, tem três ou mais caminhos para se chegar a ela.   

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Algo muda nossa maneira de ver a vida.

Pode acontecer com qualquer um. É como ganhar algo inesperado. A vida, de repente, deixa de ser a mesmice de sempre. O livro A Serra e o Santuário conta que na cidadezinha de Caeté, Minas Gerais, um construtor de prédios foi tocado por uma irresistível vontade de dedicar o resto de sua vida à devoção ao divino (p.74). “O anacoreta busca a tudo isso realizar até ao limite em que a vida humana possa ai. É uma contemplação que abrindo o caminho para uma experiência mais elevada concede a antevisão do Sagrado, do Misterium Tremendum, tal como viveu Moisés diante da sarça ardente. O místico satura-se dessa realidade paralela em toda sua significação”.


O outro livro que estou lendo concomitantemente, O Segundo Círculo do Poder, diz mais um pouco sobre esta revelação que só alguns recebem (p.200): “A percepção e a consciência são uma unidade única, mas em dois domínios. Percepção é a atenção, a capacidade das pessoas comuns de ter consciência do mundo, da vida cotidiana. É nosso primeiro Círculo do Poder. Consciência é a atenção, a capacidade realmente portentosa que todos nós temos, mas que só alguns utilizam, de ordenar em sua mente o mundo que existe além da matéria. Todos nós estamos continuamente percebendo ambos os mundos, mas preferimos escolher um e isolar e descartar o outro. porém, sob certas condições de tensão as recordações censuradas sobem à tona e mudam nossa maneira de ver a vida”.
Ter coragem e iniciativa de atender à outra visão da vida, aí depende de nós.