terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Mortos bem amados, voltem!



Um bando de meninos batem nas casas ao entardecer do dia do Halloween. Em um casarão afastado, no fim de uma rua são recebidos por um homem alto e magro e de modos apavorantes. Depois do susto o tétrico personagem os leva para conhecer a origem desta tradição mais comum nos países setentrionais. O começo foi no Egito e para quem conhece um pouco da Bíblia logo vai recordar da primeira páscoa, na noite do dia em que os judeus foram libertos da escravidão na terra dos faraós. Mas que ligação tem o dia das bruxas, onde as crianças saem fatasiadas de vampiros, esqueletos, fantasmas, etc, com a páscoa?
Naquela estranha noite o anjo da morte andou pelo Egito entrando nas casas e matando os primogênitos, menos os dos crentes que mataram um cordeiro e com seu sangue pintaram os umbrais das portas. Mas o que eu não sabia é que diferente dos judeus e, depois, dos cristãos que festejam este dia como a páscoa, os egípcios festejavam-no como o dia da visita dos mortos, da volta dos primogênitos que morreram. Li isto no livro de Ray Bradbury, El Àrbol de las Brujas:  
"Hileras de lámparas de aceite colgaban de las fachadas de las casas y los humos tenues se elevaban en el aire crepuscular como almas en pena.
Casi podía verse a los fantasmas que se arrastraban por las callejuelas empedradas.
Las sombras se alejaban de los últimos rayos de sol en el poniente y trataban de entrar en las casas.
Pero las sombras rondaban y merodeaban la comida caliente, que humeaba en los umbrales.
Un ligero olor a incienso alcanzó a los muchachos asomados a esa arcaica Noche de Brujas y a los "premios" preparados no para chiquillos vagabundos sino para fantasmas sin hogar.
No os extraviéis en la obscuridad - cantaban voces en todas las casas al son de arpas y laúdes -. Oh muertos, bienamados, volved, volved al hogar. Perdidos en la obscuridad pero queridos siempre. No erréis, no os extraviéis, que aquí seréis bienvenidos.
De las lámparas mortecinas brotaban volutas de humo.
Y las sombras subían a los umbrales y con delicadeza rozaban apenas las ofrendas de comida".
As famílias se reuniam para esperar a volta daqueles que seriam chefes de famílias mortos, os primogênitos. Parte da refeição colocavam num prato do lado de fora da porta da rua, para atrair os espíritos.
Veja que também tem tudo a ver com as oferendas nas cerimônias do candomblé e da umbanda. 
Isto mostra que não se pode julgar crenças e rituais dos outros, no fundo, em sua origem, todos estão relacionados com acontecimentos terríveis que nossos antepassados viveram.  

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