segunda-feira, 1 de novembro de 2010

A posse é quase nada

Allons dans la grange
voir la poule blanche
qui pond un bel oeuf d’argent
pour ce cher petit enfant
É uma canção de ninar francesa, do tempo de Napoleão. George Sand fala dela e da impressão que lhe causava ainda criança. Numa granja muito longe tem uma galinha branca que põe um ovo de prata para meu querido nenem. Em seu livro História de Minha Vida ela nos leva a infância e nos coloca no coração de um pequenino: “A ti também, por certo, durante anos, prometeram coisas nas histórias e canções de ninar que não despertava a tua ambição mas que te parecia ser o mais gracioso presente. [na minha meninice a cançao dizia: a bacia é de ouro areada com sabão, depois de areada te vestem um roupão, o roupão é de seda camisinha de filó...] E que teria feito deste presente se o tivesses ganho? Tua natureza irrequieta e inconstante não tardaria a cansar-se dele. Mas a imaginação faz muita coisa de um nada, é esse seu feitio, e a história desse ovo de prata é talvez a de todos os bens materiais que provocam a nossa cobiça. O desejo é muito; a posse é quase nada”.
Recebi de um amigo um belo PowerPoint que diz: “todos querem viver no topo da montanha, mas toda felicidade e crescimento ocorre quando se está escalando-a”. A ambição é uma força maravilhosa que nos impulsiona até lá em cima, mas cuidado, ela não pode nos cegar quanto aos princípios e ética, honra e respeito ao semelhante, porque o belo é a busca, ao conseguir logo se descobre que o “ovo de prata” ou o “roupão de seda” se desfaz como o ar.

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