quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Existe nela qualquer coisa anterior

Quando George Sand escreveu História da Minha Vida, por volta de 1850, Alan Kardec começava seus estudos com os espíritos, e ambos defendiam a mesma proposição quanto as crianças: "Não é a infância um estado misterioso cheio de inexplicáveis prodígios? Antes de se formar ao seio materno, já não vivia uma existência qualquer no seio de Deus? Acaso não provém de um mundo para o qual terá de voltar? Quem poderá dizer por que um objeto a alegra e outro a assusta? Existe portanto nela qualquer coisa anterior a toda noções que a educação lhe pode dar".
Então, ela cita um caso na infância que lhe perturbou até a velhice: "Lembro-me de que, de outra feita, brincando de roda escutei uma canção que dizia: nous n'irons plus au bois, les lauriers sont coupés. Eu nunca estivera num bosque e, ao que me consta, nunca vira um loureiro, mas ao que parece sabia o que significavam. Saí da roda e mergulhei numa sentida melancolia, fazendo esforço para não chorar, a tal ponto me sentia triste. Quem quiser que explique as esquisitices da infância, mas esta foi tão marcante que nunca pude olvidar".
Somos seres antigos com uma memória de muitas vidas que não podemos lembrar, mas vez por outra algo nos faz recordar o que está guardado nela.