quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Lendo sobre o passado no gelo


Tem gente que não se dispõe a fazer o esforço de ler um livro, mas tem outros que sobem montanhas, vão fundo no mar e até quase se congelam em geleiras para ler os registros do que a Natureza (o conjunto de leis da física) produziu em nosso planeta. No livro A Cruzada do Ouro conta: "O período quaternário é um termo geológico que abarca o recente Período Glacial, que começa cerca de um milhão e oitocentos mil anos atrás, envolvendo muitos episódios de avanço e de retração do gelo. Temos estado em um período quente, nestes últimos dez mil anos."
Os cientistas retiram tubos de gelo na Groelândia para estudar (ler) as condições do tempo naquela época. O que torna a Groenlândia tão especial?
"Há inúmeras geleiras ao redor do mundo que datam do Período Glacial, e, é claro, há as calotas de gelo polares. Mas a calota de gelo da Groenlândia é o último remanescente dos lençóis de gelo continental que cobriam o hemisfério norte até dez mil anos atrás. Trata-se de uma fantástica janela para o passado, tão excitante como uma grande descoberta arqueológica. Nós perfuramos núcleos, da mesma forma que um técnico em sedimentologia ou um prospector de petróleo em terra. Cada faixa de gelo representa um período glaciário, algumas vezes centenas ou milhares de anos. É um pouco como a dendrocronologia, a descoberta da idade de uma árvore pela contagem dos anéis".
Disse um cientista dinamarquês. "Estamos ainda nos primeiros dias, mas os resultados são muito promissores. Estamos olhando, sobretudo, para bolhas de ar presas no gelo quando este se formou, preservando assim um detalhado registro das condições da atmosfera no Período Glacial".
Pare aí um minuto! Uma bolha de ar, dentro de um pedaço de gelo que se formou há 10 mil anos, tem um pouquinho da atmosfera daquela época, então soltando-a dentro de um aparelho em um laboratório numa universidade ele vai ler para nós as condições do mundo naquele tempo, quando o homem, enfim, teve um clima que lhe permitiu desenvolver a agricultura, construir cidades, inventar a escrita e começar a fazer registros para quem tem um espírito forte e aguenta o gostoso esforço de ler.
O livro conta mais: "A parte fronteira da geleira que vem se fragmentando está agora expondo áreas de gelo formadas muito recentemente, numa onda de frio que precedeu a Grande Fusão dez mil anos atrás. É uma oportunidade sem paralelo, a primeira vez que qualquer pesquisa como esta torna-se possível. O aquecimento global tem suas vantagens", disse ironicamente.
Então, um esforçado cientista consegue ler sobre o clima e as condições atmosféricas há 500 anos, quando Pedro Cabral chegou no litoral da Bahia, nos círculos da madeira de uma velha árvore.
Quando se quer aprender, elevando o espírito, temos muita coisa para ler.

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