terça-feira, 24 de agosto de 2010

Arrependimento, quando a consciência se ajusta


Quando se fala em arrependimento vem logo a mente o caso de Judas Iscariotes e o julgamento que dele fazem os religiosos: Judas não se arrependeu. Como estamos sempre errando li com interesse o que Schopenhauer refletiu sobre isto:
"O arrependimento não nasce nunca do que é a vontade (porquanto seria impossível), mas sim do que é o conhecimento, o qual se modificou. Pelo que haja de essencial ou de especial que eu quis, devo querê-lo ainda, porque sou eu mesmo esta vontade que se pôs fora do tempo e de qualquer modificação. Assim, não posso jamais arrepender-me do que quis, senão do que fiz, por isso que, guiado por falsas noções, fiz algo que não era conforme à minha vontade".
Arrependimento no sentido de "rejeito o que fiz" não existe. Esta feito, é história, já faz parte de mim. Mas se agora conhecemos um fato novo que modifica o que pensávamos então me arrependo de ter agido segundo aquele pressuposto. Mas aquilo que quiz naquela forma de pensar continua igual dentro da gente.
"Cobrar o conhecimento disto, quando a consciência se ajustou, eis aí o arrependimento. E isto não é verdade apenas no que se refere à experiência da vida, é também verdadeiro do lado puramente moral da conduta. Por exemplo, posso ter agido com mais egoísmo do que o comum ao meu caráter, em virtude de ter sido induzido em erro por uma idéia exagerada sobre a necessidade em que eu mesmo me achava, ou sobre a astúcia, a falsidade, a malvadez alheia, ou ainda por ter procedido com muita precipitação, ou seja, sem reflexão, deixando-me determinar não pelos motivos nitidamente reconhecidos ou por impressão de momento, pela emoção que se lhe derivou e cuja força foi tal, que me tolheu de certa guisa o uso da razão; mas, ainda neste caso, o retorno à reflexão não é mais que um conhecimento, que se anunciará sempre por meio de esforços tendentes a reparar o passado do melhor modo possível".
Assim foi que Judas traiu seu mestre porque não conseguiu crer que ele era o prometido Messias predito pelos profetas? Então aconteceu alguma coisa que mudou seu conhecimento, ele caiu em si e se deu conta de que tinha participado no assassinato do Filho de Deus e não tinha como fazer o tempo voltar atrás? Ou menos, traiu levado a crer que Jesus seria punido e deixaria aquela vida "fantasiosa" e não que seria morto, e arrependeu-se não do que quiz fazer, mas do que acabou fazendo por ter confiado em pessoas erradas.
E de novo a questão: depois de cometer uma torpeza é melhor desistir de continuar vivendo a existência louca que montou para si e aceitar o papel de um judas ou continuar vivendo e carregando a lembrança nas costas?
Parece que o arrependimento tem muito a ver com qualquer das duas decisões.

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