terça-feira, 31 de agosto de 2010

Sou apenas um mercador


O mestre Jesus ensinou isto? Se ensinou e isto faz parte de nossa salvação como espírito, como nos harmonisarmos? Está no Evangelho de Tomé, um escrito dos antigos cristãos que não foi incluído no rol de livros da Bíblia:
"Jesus disse: 'Um homem fez uma ceia. E mandou seu servo chamar os convidados. O servo foi ao primeiro e disse-lhe: 'Meu mestre te convida'. O outro respondeu: 'Tenho dinheiro aplicado com alguns comerciantes. Eles virão me procurar esta noite, apresento minhas desculpas por não ir à ceia'. O servo foi até outro e disse: 'Meu senhor está te convidando'. Este disse-lhe: 'Acabo de comprar uma casa e precisam de mim hoje. Não terei tempo'. O servo foi a outro e disse-lhe: 'Meu senhor está te convidando'. Este disse-lhe: 'Um amigo vai se casar e coube-me preparar o banquete. Não poderei ir à ceia, peço ser desculpado'. O servo foi a outro ainda e disse-lhe: 'Meu senhor está te convidando'. Este disse-lhe: 'Acabo de comprar uma fazenda e estou saindo para cuidar dela. Não poderei ir, por isso me desculpo'. O servo retornou e disse a seu senhor: 'Os que convidaste para a ceia mandam pedir desculpas'. O senhor disse ao servo: 'Vai lá fora pelos caminhos e traze os que encontrares que possam ceiar. Os homens de negócios e mercadores não entrarão no recinto de meu Pai'."
Sou um mercador e todo mundo está o tempo todo fazendo algum negócio, estamos todos fritos? A chave do conselho de nosso mestre está neste pedacinho da parábola: "traze os que encontrares que possam ceiar". Eu e você temos de ser senhores do nosso tempo de vida. Se formos chamados para uma missão por Deus - e é Ele quem dá as cartas para a evolução de nosso espírito - e estivermos tão enrolados de compromisso que tenhamos de deixar passar a chance vamos ter de jogar outra partida. Esta já está perdida, pois esquecemos que somos espíritos em ascensão e só lembramos de ser mercadores.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Pictogramas na comunicação


Os humanos, com sua capacidade de comunicação, foram aprendendo pela experimentação a usar signos para expressar o que desejavam comunicar. O uso repetido de tais signos ficaram gravados na cultura do povo. Quanto mais antigo o signo mais espalhado está o seu uso pela cultura dos povos. Prova de que no passado mais primevo existia um só clã humano.
Os signos podem ser audível (sonoro) ou visual (pictográfico). No estudo da linguística aprendemos que um dos sons mais antigos é o que designa a mulher como aquela que nos deu a vida, mãe. Este som/signo com o fonema eme está gravado em todas as culturas.
No aspecto visual gesto e expressão facial também comunicam intenção semelhante para todos os povos como o sorriso e as duas mãos levantadas, abertas e com as palmas voltadas para frente que significam, paz. Na comunicação visual os pictogramas - primeiro como pinturas nas paredes de cavernas - começaram a ser usados pelo ser humano a 30.000 anos.
"Aos pictogramas é pedida a missão de transmitir informações essenciais a um grande número de pessoas de língua diferente, mas que têm traços sócio-culturais comuns, e a quem não é fornecido nenhum ensinamento para defrontarem a descodificação dessas mensagens".
O desenho de um sol (um círculo com traços saindo por toda volta) é reconhecido por qualquer pessoa não só como nossa estrela, mas também querendo significar dia, luz e claridade.
E como um rio que começa como um fio d'água e se torna tão largo quanto o Amazonas, a comunicação, de uns poucos signos, hoje é grande, diversificada e nos dá tanta informação que mal podemos acompanhar. Mas não fique fechado em si, comunique-se.

sábado, 28 de agosto de 2010

Pecado, esta idéia é boa ou má?


Os momentos históricos são impraticáveis de se repetir. Assim é que a formação de um padre jesuíta, as normas que um pleiteante, um exercitante, precisava seguir para se tornar um ministro desta ordem é praticamente incompreensível para um jovem de agora. No livro Jesuitas e Guerreiros diz:
"A doutrina dos pecados estava muito viva na época de Loyola, e sob este aspecto sua obra representa um grande esforço para a libertação do homem. É no sacramento da penitência que se manifesta o arrependimento do pecado. Ao impor a penalidade, o confessor acentua no indivíduo a noção de pecado e do medo. Todos esses elementos comparecem na obra de Loyola, e
eram vivos no pensamento social e religioso da época. Em os Exercícios Espirituais, obra de Loyola, propunha-se uma reconciliação dos membros da comunidade cristã entre si, e isso restituía a condição de paz sobrenatural à comunidade que fora totalmente viciada pelos pecados dos seus membros. Em suma, eles aliviavam a alma do fiel".
Aquele tempo em que a pessoa vivia reprimindo seus desejos pelo medo do pecado levá-lo as tortutas eternas do inferno, seria melhor do que o nosso em que a permissividade a deixa livre para experimentar de tudo? Não há meios de julgar tão irreconciliáveis são esses momentos.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Venerando a vida


Pensamos nos humanos antigos como ignorantes e esquecemos da sensibilidade que lhes permitiu sobreviver naqueles tempos arcaicos. No livro Atlantis os arqueólogos, personagens da aventura, encontram uma imagem cópia da deusa do neolítico que os paleontólogos chamam de Vênus de Willendorf. É uma mulher bem gorda, com uma enorme barriga de gravidez e seios fartos e volumosos, mas sem a face e os pés. O mais jovem comenta a falta de beleza e a doutora fala da simbologia.
"- Ela é um pouco diferente das donzelas graciosas que estão esculpidas na passagem lá atrás, - observou Costas com pesar.
- Não é para ela ser uma moça atraente. - o tom de voz de Katya era levemente reprovador. - Olhe como eles nem se deram ao trabalho de terminar os pés ou os braços, e a cabeça é apenas um espaço vazio. Tudo está deliberadamente exagerado para acentuar a fecundidade e a boa saúde. Ela pode não ser conforme ao ideal de beleza ocidental, mas para as pessoas que viviam com o medo constante da fome, uma mulher obesa simbolizava prosperidade e sobrevivência.
- Você ganhou, - sorriu Costas. - Que idade tem a dama?
- É de antes do Paleolítico, - replicou Jack imediatamente. - Todas as figuras de Vênus se situam entre quarenta mil e dez mil antes de Cristo, dentro da mesma faixa das pinturas que estão no salão dos ancestrais.
- Costumava-se pensar nelas como sendo a deusa-mãe".
Aquelas pessoas não adoravam uma mulher em especial, como os religiosos de agora, eles reverenciavam a capacidade humana de gerar novos seres e manter viva uma linhagem, uma história, um povo. Bom seria se conseguíssemos ter a sensibilidade deles, este respeito pela vida.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Arrependimento, quando a consciência se ajusta


Quando se fala em arrependimento vem logo a mente o caso de Judas Iscariotes e o julgamento que dele fazem os religiosos: Judas não se arrependeu. Como estamos sempre errando li com interesse o que Schopenhauer refletiu sobre isto:
"O arrependimento não nasce nunca do que é a vontade (porquanto seria impossível), mas sim do que é o conhecimento, o qual se modificou. Pelo que haja de essencial ou de especial que eu quis, devo querê-lo ainda, porque sou eu mesmo esta vontade que se pôs fora do tempo e de qualquer modificação. Assim, não posso jamais arrepender-me do que quis, senão do que fiz, por isso que, guiado por falsas noções, fiz algo que não era conforme à minha vontade".
Arrependimento no sentido de "rejeito o que fiz" não existe. Esta feito, é história, já faz parte de mim. Mas se agora conhecemos um fato novo que modifica o que pensávamos então me arrependo de ter agido segundo aquele pressuposto. Mas aquilo que quiz naquela forma de pensar continua igual dentro da gente.
"Cobrar o conhecimento disto, quando a consciência se ajustou, eis aí o arrependimento. E isto não é verdade apenas no que se refere à experiência da vida, é também verdadeiro do lado puramente moral da conduta. Por exemplo, posso ter agido com mais egoísmo do que o comum ao meu caráter, em virtude de ter sido induzido em erro por uma idéia exagerada sobre a necessidade em que eu mesmo me achava, ou sobre a astúcia, a falsidade, a malvadez alheia, ou ainda por ter procedido com muita precipitação, ou seja, sem reflexão, deixando-me determinar não pelos motivos nitidamente reconhecidos ou por impressão de momento, pela emoção que se lhe derivou e cuja força foi tal, que me tolheu de certa guisa o uso da razão; mas, ainda neste caso, o retorno à reflexão não é mais que um conhecimento, que se anunciará sempre por meio de esforços tendentes a reparar o passado do melhor modo possível".
Assim foi que Judas traiu seu mestre porque não conseguiu crer que ele era o prometido Messias predito pelos profetas? Então aconteceu alguma coisa que mudou seu conhecimento, ele caiu em si e se deu conta de que tinha participado no assassinato do Filho de Deus e não tinha como fazer o tempo voltar atrás? Ou menos, traiu levado a crer que Jesus seria punido e deixaria aquela vida "fantasiosa" e não que seria morto, e arrependeu-se não do que quiz fazer, mas do que acabou fazendo por ter confiado em pessoas erradas.
E de novo a questão: depois de cometer uma torpeza é melhor desistir de continuar vivendo a existência louca que montou para si e aceitar o papel de um judas ou continuar vivendo e carregando a lembrança nas costas?
Parece que o arrependimento tem muito a ver com qualquer das duas decisões.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Quando vi uma pessoa morta, chorei


“Quando vi uma pessoa ferida ou morta, vesti roupa de luto e até deixei de comer, curvei a cabeça e orei por eles, sim orei como se fosse por um amigo antigo ou um irmão e andei curvado, como de luto, e chorei como faria por minha própria mãe”.
Este Salmo (cap 35, vers 13, 14) mostra o efeito que deve causar em nós a perda de uma vida ou o sofrimento de alguém. Mais, diz que temos de andar com cautela para não ferir nem matar outro ser humano, pois a vida de alguém é muito preciosa.
Assim, no trânsito, dirigindo seu carro, fique atento ao pedestre e ao ciclista, preferencialmente. Passe mais devagar perto deles e mantenha uma distância de pelo menos 1 metro, então terá tempo para uma manobra que evite ter o pedestre ou o ciclista debaixo de seu carro.
Os administradores públicos também precisam pensar em soluções para que sua cidade não tenha notícias de morte ou atropelamento de cidadãos. Diminuir a violência no trânsito precisa ser um esforço de cada um de nós. Cada mês menos acidentados até que a notícia de um irmão morto na rua nos faça chorar, sim, por um homem ou uma mulher que não conhecemos nos curvaremos e oraremos por ele como se fosse nosso irmão, o filho de nossa mãe.

sábado, 21 de agosto de 2010

Deus não nos deu nada pronto


Ferdinand de Saussure dedicou sua vida a estudar como as línguas, as diversas formas utilizadas pela raça humana para se comunicar, se desenvolveram. Em seu livro El Curso de Lingüística General (em espanhol) ele construiu uma frase que tem aplicação em várias ciências:«Se suele decir que nada es tan importante como conocer la génesis de un estado dado; es verdad en cierto sentido: las condiciones que han formado ese estado aclaran su verdadera naturaleza y nos libran de ciertas ilusiones". É preciso começar tudo que vamos estudar desde o início.
Os mitos da criação contam que tudo surgiu num estalar de dedos, como a diversidade de idiomas: "Vamos confundir a língua que eles falam". Mas antes que ser uma ação direta do Ser Superior a construção do vocabulário de um povo demandou longuíssimo tempo onde as palavras se formaram por sincronismo e diacronismo. "Pero el papel de la colectividad es mucho más activo; los golpes ciegos son raros, y siempre que hay un proceso destructivo va necesariamente seguido de una reacción activa. Hay cambios lingüísticos que - como los movimientos del ajedrez - tienen la intención de ejercer una acción sobre el sistema".
Este livro didático explica como nosso idioma, o português, continua sendo elaborado até agora e como esta construção irá continuar. As primeiras palavras de nossa língua se perdem num passado de 100 mil anos e começa a ser percebida no falar de um povo que habitava a península Ibérica há 3 mil anos. Seu modo de falar foi quase esquecido quando os exércitos romanos chegaram àquele fim de mundo e o povo passou a falar o latim com um sotaque diferente. Os bárbaros desbarataram os romanos no 4° século e acrescentaram palavras e sons. Os árabes chegaram 300 anos depois e nos deram palavras começando com "al", como álcool. Os franceses nos deram termos como "buquê" e os ingleses "futebol".
Mas o que tudo isto nos devia ensinar é que Deus não nos deu nada pronto e que os seres humanos têm de buscar um aperfeiçoamento constante que não termina nunca.
Jesus, o mestre, nesta enorme aala de aula que é planeta Terra ensinou uma coisa que a maioria ainda não aprendeu. Falando do dia de sábado - assim como da aposentadoria ou da morte - ele disse: "Meu Pai continua trabalhando sem parar e eu também"; e se não falou pensou: e vocês não tem nada que "pendurar as chuteiras", vamos "ralar" por todos os séculos seclorem”. Amém.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Vestígios de percepções passadas


O filósofo Schopenhauer cria tão fervorosamente como Freud que "la mayor parte
de la psyche es más inconsciente que consciente. La conciencia es la simple
superficie de nuestra mente, y de ella, como si fuera una esfera, no conocemos el
interior sino sólo la costra. Las ideas conscientes claras son simplemente la superficie; por otro lado, la masa de agua es borrosa, los sentimientos, los vestigios de percepciones e intuiciones
pasadas y lo que es experimentado en general, se entremezcla con la disposición
de nuestra propia voluntad que es el corazón de nuestra naturaleza interior".
Nosso conciente, é nosso arquivo de memórias aberto e que se usa sempre com muita ou pouca experiência. Nosso inconsciente, é a memória antiga e profunda a qual se tem acesso se somos sensíveis, se buscamos com persistencia as experiências antigas armazenadas nele.
E o coração da alma, o âmago, é "nuestra propia voluntad que es el corazón de nuestra naturaleza interior". Nosso giroscópio que nos mantém no rumo que propomos a nós mesmos desde tempos bem antigos.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Lendo sobre o passado no gelo


Tem gente que não se dispõe a fazer o esforço de ler um livro, mas tem outros que sobem montanhas, vão fundo no mar e até quase se congelam em geleiras para ler os registros do que a Natureza (o conjunto de leis da física) produziu em nosso planeta. No livro A Cruzada do Ouro conta: "O período quaternário é um termo geológico que abarca o recente Período Glacial, que começa cerca de um milhão e oitocentos mil anos atrás, envolvendo muitos episódios de avanço e de retração do gelo. Temos estado em um período quente, nestes últimos dez mil anos."
Os cientistas retiram tubos de gelo na Groelândia para estudar (ler) as condições do tempo naquela época. O que torna a Groenlândia tão especial?
"Há inúmeras geleiras ao redor do mundo que datam do Período Glacial, e, é claro, há as calotas de gelo polares. Mas a calota de gelo da Groenlândia é o último remanescente dos lençóis de gelo continental que cobriam o hemisfério norte até dez mil anos atrás. Trata-se de uma fantástica janela para o passado, tão excitante como uma grande descoberta arqueológica. Nós perfuramos núcleos, da mesma forma que um técnico em sedimentologia ou um prospector de petróleo em terra. Cada faixa de gelo representa um período glaciário, algumas vezes centenas ou milhares de anos. É um pouco como a dendrocronologia, a descoberta da idade de uma árvore pela contagem dos anéis".
Disse um cientista dinamarquês. "Estamos ainda nos primeiros dias, mas os resultados são muito promissores. Estamos olhando, sobretudo, para bolhas de ar presas no gelo quando este se formou, preservando assim um detalhado registro das condições da atmosfera no Período Glacial".
Pare aí um minuto! Uma bolha de ar, dentro de um pedaço de gelo que se formou há 10 mil anos, tem um pouquinho da atmosfera daquela época, então soltando-a dentro de um aparelho em um laboratório numa universidade ele vai ler para nós as condições do mundo naquele tempo, quando o homem, enfim, teve um clima que lhe permitiu desenvolver a agricultura, construir cidades, inventar a escrita e começar a fazer registros para quem tem um espírito forte e aguenta o gostoso esforço de ler.
O livro conta mais: "A parte fronteira da geleira que vem se fragmentando está agora expondo áreas de gelo formadas muito recentemente, numa onda de frio que precedeu a Grande Fusão dez mil anos atrás. É uma oportunidade sem paralelo, a primeira vez que qualquer pesquisa como esta torna-se possível. O aquecimento global tem suas vantagens", disse ironicamente.
Então, um esforçado cientista consegue ler sobre o clima e as condições atmosféricas há 500 anos, quando Pedro Cabral chegou no litoral da Bahia, nos círculos da madeira de uma velha árvore.
Quando se quer aprender, elevando o espírito, temos muita coisa para ler.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

A sorte decide as circunstâncias


"Tive a sorte (ou má sorte)", e daí lançamos sobre esse fenômeno abstrato o que conseguimos ou realizamos. O filósofo Schopenhauer tem algo a nos esclarecer sobre esta fada madrinha ou feia madrasta.
"De fato, ainda que tudo possa ser considerado como irrevogavelmente estabelecido a priori pela sorte, esta não acontece, senão, em virtude do concatenamento das causas. Em nenhum caso, portanto, pode ter sido estabelecido que nasça um efeito sem causa".
- Então, o que nos acontece deriva de um acúmulo de ações!
- Um momento, a sorte como concatenação de fatos tem uma irmã gêmea.
"O acontecimento não é premeditado pura e simplesmente, mas sim como resultado de causas anteriores. Porém, além disto a sorte decide as circunstâncias de que depende. Por conseguinte, se os meios não se produzirem, evidentemente não se produzirá o resultado; as duas eventualidades estão submissas às decisões da sorte, mas nós não o sabemos senão posteriormente".
- Então existe a sorte!
- A sorte é uma intervenção de um mundo superior. Por nossa vontade (ou por vontade de Deus) vamos fazendo escolhas que nos aproximam do que queremos, então (só pela vontade de Deus) as circunstâncias (ações geradas a nossa revelia) criam a situação e, se temos coragem ou loucura nos jogamos naquela ação que nos dará felicidade ou danação.
"Assim como é em virtude da sorte, isto é, do concatenamento sem fim das causas que sucede qualquer acontecimento, assim também as nossas ações se cumprem sempre de conformidade com o nosso caráter inteligível: mas assim como não conhecemos anteriormente o destino, assim também não conhecemos "a priori" o caráter; somente "a posteriori", por experiência, aprendemos a nos conhecer a nós mesmos e aos outros".
Bom, quando então nos olhamos diretamente no espelho e vemos um vitorioso, ou quando quem nos fita é um crápula que nem devia ter nascido, é assim por uma soma de nossas ações mais circunstâncias que fazem parte desta e de outras dimensões.
- Então é a sorte!
- E também nosso caráter.

sábado, 14 de agosto de 2010

O Mundo todo Arderá um Dia


"Todo el mundo creado por Dios arderá un día".
Agosto mês de desgosto. Em 24 de agosto de 410 o visigodo Alarico invade Roma com seus exércitos e por três dias roubam, derrubam prédios públicos e queimam casas e prédios. A capital do mundo se acaba.
Do outro lado do mar Mediterrâneo, perto de Cartago, um padre organiza o atendimento aos refugiados que fogem para África ao mesmo tempo que escreve uma longuíssima carta para confortar os cristãos do mundo todo. Esta carta é o livro Cidade de Deus. Logo de início percebo que o argumento desenvolvido por santo Agostinho é o que poderá salvar a vida em nosso planeta por algum tempo, o desapego aos bens materiais. A fraze acima não é um aviso de castigo divino, mas uma constatação de que nosso planeta e todo Cosmo é mutante e instável. Um dia a Terra arderá, seja por uma cometa ou asteróide que se choque com ela ou quando o Sol começar a crescer para explodir ou implodir. Então, todas as belezas ou devastações que o ser humano tenha feito, serão reduzidas a pó. O grande profeta Jesus também avisou: "Naqueles dias o sofrimento será tão grande como nunca houve". Assim, é bom ser cuidadoso em usar a vida só para ajuntar bens. Viva mais para se tornar melhor e ajudar os outros a melhorar também.
Não é, difícil, é?

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Encontrando um Jardim do Édem


Voltando a falar da Bíblia e da arqueologia moderna, veja o que talvez tenha sido o Éden de nossos antepassados. Transcrevo um trecho do livro Atlantis, de David Gibbins, onde dois arqueólogos discutem o litoral antigo do mar Negro, quando o planeta se aquecia depois da última era do gelo:
"Ele olhou para o mapa durante alguns instantes, em silêncio.
- Estamos falando do período neolítico inicial, o primeiro período de exploração agrícola. Quais teriam sido as prováveis condições daqui?
- Nossos paleoclimatologistas têm feito horas extras trabalhando sobre isto. Eles fizeram uma série de simulações com todas as variáveis possíveis para reconstruir as condições ambientais entre o final do Plistoceno e a inundação. Eles acreditam que esta era a região mais fértil do Oriente Próximo.
- Esse poderia ser um quadro completamente novo da história da humanidade. Uma faixa de terra com uma largura de vinte quilômetros, centenas de quilômetros de comprimento, em uma das áreas-chave para o desenvolvimento da civilização".
O homem de 10 mil anos atrás vagava pela Terra procurando um lugar bom para viver. Já existia agricultura, mas ninguém queria repetir Adão que teve de plantar e colher com muito esforço, numa terra infértil e que só dava espinheiros. As margens do mar Negro eles encontraram uma terra fértil, muita água doce e pescado com fartura. Ali se fixaram e se multiplicaram por quase dois mil anos. Em tempo, Isto aconteceu 4.000 anos antes do personagem Adão.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

As Missões Jesuítas


A ordem Católica dos jesuitas enviou seus sacerdotes logo nas primeiras embarcações que vieram para América, mas com os espanhóis conseguiu um resultado melhor do que com os portugueses. Às margens do rio do Prata os discípulos de Inácio de Loiola chegaram a fundar comunidades bem organizadas, os Sete Povos das Missões. O livro Guerreiros e Jesuítas na Utopia do Prata, de Júlio Quevedo, conta: "Procurando especializar a mão-de-obra, os padres acabaram provocando o surgimento de trabalhadores em tecelagem, carpintaria, olaria, curtição de couro, criação de animais e agricultura. A divisão do trabalho existente era por sexo, idade e regras referentes a turnos de trabalho. Este conjunto complexo de elementos é o responsável pelo êxito socioeconômico missionário do final do século XVII até a segunda metade do século XVIII. Simultaneamente ao processo de transformação da terra e do trabalho indígena, os nativos foram gradativamente recebendo os valores sociais, morais e éticos do Cristianismo ocidental. A Missão de índios era a extensão máxima da Cristandade na Zona do Rio da Prata".
Aprendemos nos bancos escolares que os índios eram preguiçosos e avessos ao trabalho regular, mas como é que os jesuitas espanhóis conseguiram ótimos resultados por quase um século?
Então, o livro nos explica o que uma ação religiosa por trás de uma organização produz: "Cristandade vem do latim christianitas e, no dizer de Eduardo Hoornaert, 'é um sistema político-cultural baseado na aliança entre o Estado eclesiástico e os poderes constituídos na sociedade política'. John Bossy, por sua vez acrescenta que a Cristandade 'não se trata apenas da Igreja no seu sentido restrito: trata-se de um conjunto de pessoas e de um modo ou modos de vida e das características da fé cristã que parecerão mais relevantes para elas'".
As notícias que iam da América para Europa fez inúmeros pensadores refletirem sobre as conquistas sociais das Missões e da experiência do comunismo, não como fizeram na Rússia dois séculos depois, mas comunidades que funcionavam sem uma classe dirigente cheia de benesses e que todos es resultados do trabalho era auferidos por todos".
As Missões duraram menos de cem anos porque as forças antagõnicas dos portugueses e espanhóis não deixaram continuar em paz aquela experiência. É comum a inveja do que está dando certo.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Dialética é a arte da esgrima espiritual


Quando vemos ou ouvimos falar de um advogado defendendo um evidente criminoso nosso senso de justiça se revolta. Mas no ensaio Lógica e Dialética (em espanhol) somos lembrados de um outro aspecto: a existência da ciência do convencimento.
"Se ha definido la Dialéctica como la Lógica de las apariencias, útil al objeto de la defensa contra argumentos falsos, aún cuando se tiene razón, se necesita la Dialéctica, para defenderla, y es necesario conocer los artificios deshonestos, para afrontarlos; es más: muchas veces emplearlos uno mismo para combatir al adversario con sus
propias armas".
A verdade, seja de que um humano agiu corretamente ou criminosamente, precisa ser provada, o que configura a necessidade de um contestador, este embate de idéias existe desde tempos imemoriais. É uma encenação feita por dois ou mais especialistas e nós somos meros espectadores.
"Por esto, en la Dialéctica presume tener la verdad a su lado; al encerrarla, para ambos la certeza se ha trasformado en duda: y es justamente el resultado de la disputa que debería establecer la verdad o confirmarla! Pues a esto la Dialéctica no se debe dedicar: Tal como en la esgrima no preocupa al juez quien tuvo derecho en la controversia que originó la pelea: golpear y defenderse, es lo que importa, lo mismo en la Dialéctica: es la arte de esgrima espiritual".
Então, quando vemos um esgrimista melhor encenando a defesa de um aparente criminoso dando uma surra de argumentos naquele que tenta atacar o caráter do acusado não nos devíamos melindrar de ver a verdade apanhando da mentira. Afinal, como perguntou retóricamente Pilatos: O que é a verdade?
Assim é que devemos ser agradecidos a Dialética, ela nos lembra, a nós humanos mortais, que só Deus - Aquele que é como um infinitamente grande computador - sabe todos os fatos envolvidos em um acontecimentos e, portanto não podemos nos arvorar em juizes por mais que a mídia nos encha de informações. Afinal não podemos ver a alma humana, de onde ela vem, e o que trás do passado.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

O Morto não pode fazer nada


Muitos homens e mulheres não se contentaram apenas em viver, mas estudaram a terra, o ar, o fogo e a água até tirar deles ferramentas que tornassem a vida dos outros humanos, os que apenas existem, menos brutal. Houve outros que pensaram a razão de estarmos aqui e encontraram remédios e consolo para o corpo e a mente dos que apenas sobrevivem. A vida é preciosa e, por isso mesmo, reflitamos um instante sobre a morte.
No Evangelho de Tomé, que não foi incluído na Bíblia, Jesus disse: "Prestai atenção àquele que vive enquanto estais vivos, para que, ao morrerdes, não fiqueis procurando vê-lo sem conseguir."
No estado de morto não se pode fazer nada, esta sendo julgado por seres superiores, e como no tribunal, tem de se calar e aguardar enquanto outros decidem nosso futuro.
Em todos os ensinamentos religiosos o futuro do réu será viver, ou como um aniquilado, sem interferir em mais nada, estado denominado segunda morte, ou voltando a atuar, a contribuir para os outros, situação chamada de vida eterna.
Segundo Tomé, enquanto andavam com Jesus "eles viram um samaritano carregando um cordeiro a caminho da Judéia. Então Ele disse a seus discípulos: 'Por que o homem está carregando o cordeiro?' Eles disseram-lhe: 'Para matá-lo e comê-lo'. Ele disse-lhes: 'Enquanto o cordeiro estiver vivo, ele não o comerá, mas somente depois que o tiver matado e que o cordeiro se tornar um cadáver'. Eles disseram-lhe: 'Ele não poderia fazer de outro modo'. Ele disse-lhes: 'Vós, também, buscai um lugar para vós no repouso, a fim de que não vos torneis um cadáver e sejais devorados".
Pensemos nisso, enquanto vivendo correndo.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Ajude o outro a avançar


No livro Quem me Roubou de Mim, o padre Fábio de Melo nos lembra que uma relação entre dois humanos - seja pai e filho, marido e mulher, patrão e empregado - é um encontro com a missão de ambos se elevarem. Se esta união resultar em atrapalho para ambos isto vai exigir um resgate. O evangelho de Tomé, avisa:
"Jesus disse: Miserável do corpo que depende de outro corpo e da alma que depende desses dois".
Esta mesma forma de construção da alma, dois indivíduos amarrados em um contrato, foi ensinada por Inácio de Loyola no tratado Exercício Espirituais:
"A responsabilidade da Salvação está dividida entre o exercitante e o diretor dos Exercícios, pois o sucesso de um está na consolidação da conversão do outro. Insisto que todo bom cristão deve estar preocupado em salvar a proposição do próximo".
Não culpe o outro. O que os dois fizerem é prejuízo ou ganho para cada alma individualmente. Se você entende que está mais adiantado, ajude o outro a avançar.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Fruto de uma Mentalidade


No filme Matrix o herói vive sua realidade tranquilamente até que descobre estar vivendo como um títere, um paumandado de um outro mundo muito mais complicado. Quer dizer, somos cidadãos programados a viver uma realidade que é mero fruto de uma "mentalidade". É o que estou lendo sobre o nobre espanhol Inácio de Loyola.
"A matriz do pensamento jesuítico é a obra Exercícios Espirituais, escrita pelo principal arauto da Companhia de Jesus, o nobre Dom Iñígo de Oñez Y Loyola, ou Inácio de Loyola, como é mais conhecido o primeiro Padre Geral da Ordem dos Jesuítas. No âmago da obra está o espírito de efervescência religiosa daquela época, na qual o autor almejava regrar a vida do fiel cristão, para que este se sentisse e vivesse como parte integrante da Igreja. Tanto a vida quanto a obra de Loyola são produtos e exemplos de um momento crucial da evolução histórica da Espanha, caracterizado sobretudo pela efervescência religiosa. Um momento no qual os espanhóis consideravam-se a si mesmos como católicos sem igual no mundo, os únicos em que se realizava a plenitude da fé cristã".
Este estado de espírito ou "mentalidade" transtorna a maneira de se compreender o que realmente está se passando a nossa volta. Ficamos como parte da boiada que o susto de uma rês faz disparar todo o rebanho. Faz lembrar a época da copa do mundo de 1970 - a melhor seleção de futebol que tivemos - e do hino: noventa milhões em ação/ pra frente Brasil do meu coração. Nós brasileiros estávamos tão entretidos com o oba-oba de obras faraônicas que não percebíamos o absurdo de um povo que ama a liberdade estar submisso a uma ditadura que torturava e censurava as informações. É um perigo o que uma "mentalidade" faz.
Assim estava a Espanha no final do século 15. "Inácio nasceu em 1491 e viveu, na sua infância, momentos decisivos do catoliscismo espanhol: a descoberta da América, a expulsão dos mouros de Granada, a promulgação da lei que obrigava todos os judeus e os mouros a optarem entre tornarem-se cristãos ou abandonarem o país. Tudo isso mexia com a cabeça dos espanhóis. A vida do menino Loyola era dividida entre a repressão oriunda do terror provocado pelo Tribunal da Inquisição espanhola e a ânsia de liberdade expressa no sonho de explorar outros mares, pois um irmão acompanhou os primeiros navegantes do Novo Mundo e lá morreu e outros foram aventureiros e soldados. O menino herdara a tradição de uma intensa lealdade à fé católica".
Um conjunto de fatores moldando as cabeças é bom ou mal? Com certeza causa injustiças que no conjunto de um povo parece cumprir um destino, uma missão histórica, mas para um indivíduo, as más ações significam um atrazo em sua elevação espiritual.
Então, fique "ligado", não siga a boiada. Como diz a música Disparada, de Geraldo Vandré: "Na boiada ja fui boi/ mas um dia me montei".