domingo, 11 de julho de 2010

A vida de um empregado


O livro Negras Raízes, de Alex Haley, conta como era a viagem de um negro aprisionado na África para a América: “Nu, acorrentado, algemado, despertou deitado de costas, entre dois homens numa escuridão total, um calor sufocante, um cheiro horrível, uma algazarra terrível de gente a gritar, soluçar, rezar, vomitar. Todo o corpo doía das pancadas que recebera desde sua captura, há quatro dias. O que doía mais era o lugar em que o haviam marcado com um ferro em brasa, nas costas, entre os ombros. O corpo peludo de um rato roçou no rosto dele, o focinho farejando-lha a boca, puxou e sacudiu as algemas que lhe prendiam os pulsos e os tornozelos. No mesmo instante, ouviu reclamações furiosas e sentiu os puxões de pessoas a quem estava acorrentado”.
A mesma descrição já havia lido em livros de autores brasileiros sobre a escravidão. Que modo desumano de tratar outro ser humano!
Mas no livro O Prêmio da Longitude, de Joan Dash, li que a mesma situação acontecia com os marinheiros: “Depois de embarcar descia, não até o porão, onde ia a carga, apodrecendo e vazando, mas para um espaço entre o porão e o convés. Centenas de marinheiros dividiam esta área com os canhões, pois ela servia também de convés de armamento, e com suas mesas de jantar, uma vez que comiam ali. Nesta área escura, quente e malcheirosa iam dormir com a mesma roupa que tinham usado durante o dia inteiro, estivesse seca ou úmida. Se amontoavam, os pés de um homem junto da cabeça de outro, ocupando um espaço de cerca de 40 cm de largura”.
Esta descrição é de um navio da marinha inglesa, a maior e mais bem equipada do mundo. Imagine o que passavam os marujos em barcos de outras bandeiras! Como cantavam os Paralama do Sucesso: “Entrei de gaiato em um navio. Entrei, entrei pelo cano”.
Então, conclui-se que a vida de um empregado no século 17, fosse ele um escravo ou um serviçal pago, era sem nenhum direito ou conforto. Mourejavam de sol a sol com uma única certeza, o dia seguinte seria igual, se não fosse pior. As relações empregatícias melhoraram bem, não acha?

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