sábado, 31 de julho de 2010

O que é preciso para me tornar um pensador?

Pegue uma idéia, vire e revire-a de todos os ângulos refletindo em cada aspecto, anote o que descobrir e transmita-nos, preguiçosos mortais, esses novos insights para que nos tornem melhores.
No livro Confissões santo Agostinho pensa sobre o tempo, veja o que ele viu e passou para nós: "Talvez se deveria dizer, com propriedade, que os tempos são três, porém os vejo coexistindo na alma: o presente das coisas passadas (é a memória), o presente das coisas (a visão) e o presente das coisas futuras (é nossa expectativa). Por isso pareceu-me que o tempo é uma distensão da própria alma".
Ora, muito mais tarde outros pensadores chamaram o tempo de continuon e sendo eterna nossa alma vivemos os momentos do passado, estamos vivendo os momentos do presente e algum dia teremos vivido momentos que chamaremos de passado.
No pequeno livro Solilóquios, Agostinho diz que seu alter ego lhe ensinou assim, para ser um pensador: "Peça a Deus força e auxílio para cumprir sua tarefa, começe fazendo isto por escrito. Resuma o que for descobrindo também por escrito e não te inquietes exigindo numerosos leitores, ache suficiente ajudar os seus concidadãos".
Por isto não me canso de escrever para você, meu único leitor.

Nunca, nunca mesmo, subestime a Bíblia.


Mas tem de se saber muito para dar o devido valor a ela. Uma pessoa que se preocupa em ampliar seus conhecimentos verá ainda mais coisas maravilhosas nela.
No primeiro livro, Gênesis, conta que em dado momento, próximo a um dilúvio, uma grande porção da raça humana falava uma só língua, mas foram expalhados e então formaram-se vários idiomas e os humanos já não se entendiam.
No livro Atlantis, falando das técnicas - novas soluções encontradas pelos estudiosos - mais modernas da arqueologia, conta sobre aquela língua comum:
"Muitos lingüistas situam o idioma indo-europeu entre 6000 e 5000 antes de Cristo".
A raça dos homo sapiens herdou de seus antepassados, os hominídeos, e mais antigamente ainda, dos primatas, a necessidade de viver em grupos e isto exigia encontrar um lugar favorável para alimentar a comunidade sem as dificuldades que Adão passou: "do solo tirarás teu alimento com o suor do teu rosto". Naquele momento eles encontraram um "paraiso, um jardim do Éden", as margens do mar Negro. Não no litoral de hoje, mas no antigo, mais para dentro.
Porque há 8.000 anos atrás o planeta estava saindo de uma era do gelo que retirou dos mares muita água para fazer as montanhosas geleiras do norte que cobriam quase toda Europa, Ásia e América do Norte. O nível dos oceanos era bem baixo, o litoral de hoje ficava a 18 quilômetros de onde as ondas quebravam naquela época. Dois arqueólogos conversando:
"Ele mostrou um pequeno objeto negro do tamanho do seu punho. Ela o sopesou em sua mão e lançou um olhar incrédulo.
- Um seixo de praia?
- Sim, este objeto foi polido à beira-mar pelo fluxo e refluxo das ondas por milhares de anos. Ao longo de todo este declive nós encontramos evidências de um antigo litoral, cento e cinqüenta metros de profundidade e dez milhas náuticas da costa. Mais surpreendente ainda é sua data. Esta é uma das descobertas mais notáveis que jamais fizemos".
Quando as águas voltaram a subir com o degelo o povo daquele litoral saiu procurando outros lugares férteis e se espalharam. Com o tempo cada comunidade foi modificando sua linguagem e os idiomas se tornaram muitos. Não foi um milagre na torre de Babel, esta história é só um resumo, é para quem sabia, ou ainda sabe, pouquinho sobre o passado do homem.
Agora, saber estas coisas é bom? Tomo por mim, estudar faz muito bem. Nos eleva da materialidade da vida e nos afasta das situações que podem anular toda evolução dos primatas e nos fazer voltar a ser animal.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Falando sério, teve um dilúvio mesmo?


No livro Atlantis, arqueólogos estudam construções humanas que hoje estão 150 metros abaixo do nível do mar Negro e a 18 quilômetros do atual litoral, e explica:
"A glaciação mais recente chegou ao ponto máximo cerca de vinte mil anos atrás. Acreditamos que o mar Negro foi separado algum tempo antes disso, e que já havia baixado os cento e cinqüenta metros. A praia que estamos estudando com robôs subaquáticos foi o litoral durante os doze mil anos subseqüentes. Então, repetiu-se a crise de salinidade de Messina. As geleiras derreteram, o Mediterrâneo subiu, apareceram cascatas sobre o Bósforo. A causa imediata pode ter sido uma fase de recuo cerca de sete mil anos atrás no lençol de gelo da Antártida Ocidental. Acreditamos que levou apenas um ano para o mar Negro alcançar seu nível atual. Com um fluxo pleno de quase vinte quilômetros cúbicos vertidos por dia, resultando em um aumento de cerca de quarenta centímetros por dia ou três metros por semana".
Foi trágico. Deixe-me explicar. A era do gelo chupou as águas dos oceanos. Toda água que evaporava dos mares era levada pelos ventos para os pólos e se transformava em neve e gelo. Onde a Europa acaba e começa a Ásia existe uma interessante formação geológica: o mar Negro, o Bósforo e o mar Mediterrâneo. O Bósforo tem uma profundidade 50 metros mais alta que o mar Negro. Com os oceanos bem rasos, há 10.000 anos, o Bósforo ficou seco. Então, cquando veio o degelo, o aquecimento da superfície do planeta, a água dos oceanos começou a subir. A lâmina d'água do Mediterrâneo chegou a altura do Bósforo, inundou-o, e uma cachoeira que não tinha mais tamanho começou a despencar do alto sobre o mar Negro. Os antepassados dos europeus, dos asiáticos e dos americanos que na época viviam em aldeias as margens do fértil lago, viram o que parecia uma parede líquida caindo do céu. Algum profeta da época, algum Noé, já vinha avisando: vamos fazer uma arca grande e colocar nela o essencial, como um casal de cada espécie de animal domesticado que possuímos porque vai vir muita água do céu e inundar tudo!
O degelo foi impressionante! Mudou tudo, afogou muita gente, espalhou o povo pela Terra, dividiu as línguas... E está tudo na Bíblia, mas a quem mais informação foi dada mais vê a beleza do livro santo.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Gênio, eu?


O livro A Gênese, de Allan Kardec, diz: "Todas as ciências que nos permitem conhecer as leis da natureza são revelações, podendo-se dizer que há para nós uma revelação incessante".
Ensina que a revelação tem gradações:
"O professor ensina o que aprendeu; é um revelador de segunda ordem. O gênio ensina o que aprendeu por si mesmo; é o revelador primário".
Mas o quê faz o gênio ser uma pessoa especial?
"Pode-se dizer, como os materialistas, que o acaso lhes deu a matéria cerebral em maior quantidade ou melhor qualidade. Ou pode-se dizer que Deus lhes deu uma alma mais favorecida que a do mais comum dos homens. (Ou) o gênio é um espírito que viveu mais tempo, adquiriu mais conhecimento e progrediu mais do que os que estão menos adiantados".
Como não sou um gênio quero mais é viver aprendendo. Modestamente.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Violência por Ganância


"...não havia sido um trabalho de fanáticos mas um calculado ato de vingança pessoal, mais um horrível episódio em um mundo onde uma ideologia extremista estava sendo substituída por ganância e vendeta como a principal causa da instabilidade mundial".
Isto é um trecho do livro Atlantis, outra obra do escritor David Gibbins que estou tendo o prazer de ler. Ele fala com persepção da mudança do foco provocador de matanças entre humanos.
No século 20, quem viveu boa parte dele como eu, viu os atos covardes praticados por gente violenta contra outras pessoas por causa de ideologias. Milhões de vidas foram ceifadas quando o ideal do comunismo se espalhou pela Rússia perseguindo e matando os dissidentes políticos ali e depois em outros países. Ou como a crença nazista de uma raça humana superior causou o genocídio de milhões de judeus europeus.
Mas os que vivem no século 21, e eu enquanto por aqui estiver vivendo, vamos testemunhar muitas mortes causadas por ganância, seja para controlar campos de petróleo, seja para manter os ganhos absurdos com a venda de drogas e, mais na frente, não sei quando, para ter o domínio de reservas de água doce.
Êta mundo sem paz! Quando é que este planeta e seus habitantes vão se regenerar?

sábado, 24 de julho de 2010

Um outro Evangelho


Conversando com um jovem contador em Duque de Caxias ele perguntou: é verdade que a Igreja Católica tirou 7 livros da Bíblia? Disse a ele que não. Foi a Reforma, os iniciadores do Protestantismo, que decidiram tirar de suas versões das Escrituras 7 livros que chamaram de Apócrifos. Disse mais, que os primeiros bispos cristãos resolveram utilizar só 4 livros como Evangelhos desprezando mais de 100 manuscritos contando a experiência pessoal de várias cristãos do primeiro século. Mostrei-lhe, no meu palmtop, um que estou lendo. É chamado de Evangelho de Tomé, aquele apóstolo que precisava ver para crer. Se foi escrito por ele mesmo ou por um discípulo dele, não se sabe:
"Estes são os ensinamentos (logia) ocultos expostos por Jesus, o vivo, que Judas Tomé, o gêmeo, escreveu. (1) E ele disse: "Quem descobrir o significado interior destes ensinamentos não provará a morte."
Na interpretação espiritualista, com a qual me identifico, a morte só existe para o homem, isto é, para este encontro único entre um ser espiritual e um ser humano e sua herança genética. Porém, Jesus ensinou que num milagre maravilhoso pode haver de novo esse encontro, chamado Ressurreição. Mas no conceito espiritualista não existe a morte de um espírito, pois Deus não perderia um único filho, mesmo Lúcifer, que se desgarrou na época que surgiram os primeiros humanos, não se sabe se o homo sapiens ou outra raça anterior. Ele está muito distante, mas crê-se que passando muito tempo, e para Deus esta entidade, o tempo, não quer dizer muito, ele deve cair em si e deixar de ser o Satanás. Mas o mestre Jesus falou que alguns não provarão a morte e, por dedução, que outros morrerão (acabarão?).
(2) Jesus disse: "Aquele que busca continue buscando até encontrar. Quando encontrar, ele se perturbará. Ao se perturbar, ficará maravilhado e reinará sobre o Todo."
Não dá para se ficar alheio. É verdade que na busca de cumprir nossa missão nesta vida podemos nos entregar completamente numa procura, seja profissional ou científica. Mas ouvindo Deus que colocou entre as 10 leis básicas para os humanos guardar um dia sabático temos que parar tudo vez em quando e refletir, estudar sobre o espiritual.
Tem muito mais coisas no Evangelho de Tomé que depois eu conto.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Como fazer poesia?


Roland Barthes ensina que ao pegarmos uma idéia precisamos "absorber su frescura", daí buscar expressões que causem um "accidente sonoro o semántico que concentraría en un punto el sabor del lenguaje y detendría el movimiento intelectual en provecho de una voluptuosidad".
A beleza da poesia, que nesses dias de correria não temos tempo de ler/ouvir/sentir, está na capacidade do poeta de encontrar, ao armar as palavras, "una sucesión de elementos de igual densidad, sometido a una misma presión emotiva a los cuales se les quita toda tendencia hacia una significación individual".
A poesia nos arranca do real, nos livra da história que nos coíbe e nos faz ser pura emoção. "Conserva de las relaciones sólo el movimiento, su música, no su verdad".
Gaste um tempinho mais e sonhe nestes versos do argentino Jorge Luiz Borges. Imagine-se caminhando por uma rua estranha de um bairro, ao entardecer:
CALLE DESCONOCIDA
"Penumbra de la paloma
llamaron los hebreos
a la iniciación de la tarde
cuando la sombra
nos entorpece los pasos
y la venida de la noche se advierte
como una música esperada y antigua,
como un grato declive.
En esa hora en que la luz
tiene una finura de arena,
di con una calle ignorada,
abierta en noble anchura de terraza,
cuyas cornisas y paredes mostraban
colores blandos como el mismo cielo
que conmovía el fondo.
La medianía de las casas,
las modestas balaustradas y llamadores,
tal vez una esperanza de niña en los balcones,
entró en mi vano corazón
con limpidez de lágrima.
Quizá esa hora de la tarde de plata
diera su ternura a la calle,
haciéndola tan real como un verso
olvidado y recuperado.
Sólo después reflexioné
que aquella calle de la tarde era ajena,
que toda casa es un candelabro
donde las vidas de los hombres arden
como velas aisladas,
que todo inmeditado paso nuestro
camina sobre Gólgotas".

domingo, 18 de julho de 2010

Conhecer Cygnus X-3 melhora a gente?


Nossa galáxia, a concentração de estrelas em que se situa o Sistema Solar, sempre intrigou os humanos. Numa noite estrelada, há 6 mil anos, em Babilônia, na Mesopotâmia, ou no Egito, no norte da África, os estudiosos do céu se admiravam da poeira luminosa que se espalhava de um lado ao outro do firmamento, e que os gregos denominaram Via Láctea, o Caminho de Leite. Os astrônomos continuaram debruçados sobre os mistérios celestes e descobriram que nossa galáxia, como a maioria dos bilhões de aglomerados estelares, tem a forma de um disco.
Sempre foi mais fácil estudar um corpo celeste que está em outra galáxia do que um que fica do outro lado na nossa, isto porque entre nós e a estrela de outro aglomerado existe só o vácuo, mas entre nós e a estrela Cygnus X-3, por exemplo, tem toda um tráfego pesado de estrelas, asteróides, satélites, cometas, planetas, meteoros, poeira estelar e outras coisas mais. Falo de Cygnus, descoberta em 1966 e que fica a 37 mil anos-luz de nós, porque ela parece um quasar, emitindo um facho de raios gama a intervalos de 4,8 horas, como um farol ajudando na navegação.
Mas usando vários telescópios óticos e detectores de luz infravermelha, raios X e raios gama, como o Telescópio Espacial Fermi, puderam estudá-la e viram que eram duas estrelas, um sistema binário. O astrônomo Stephane Corbel, da Universidade Paris, diz: “Cygnus X-3 é um microquasar genuíno, e é o primeiro em que podemos provar de alta-gama de energia emissão de raios”.
Outro astrônomo, Mike McCollough, do Centro de Vôo Espacial Marshall da NASA, explica: “Cygnus X-3 pode ser o primeiro exemplo de um blazar na nossa própria galáxia. É o único caso conhecido de uma estrela de Wolf-Rayet com uma companheira compacta. As estrelas de Wolf-Rayet são estrelas massivas - entre 7 e 50 massas solares - que se libertaram do seu invólucro exterior de hidrogênio. O que sobra na estrela é majoritariamente hélio”.
A estrela poderosa dessa dupla chega à temperatura de 100.000 graus centígrados, 17 vezes mais do que o Sol. Ela envia o jato de raios quando a estrela maciça sai da frente dela (em relação a nossa direção). Os estudiosos ainda não sabem por que, mas entre 8 de junho e 2 de agosto de 2009, Cygnus X-3 foi excepcionalmente ativa. A quantidade de matéria em forma de subpartículas que ela lança no espaço em 90 séculos é igual a toda massa do nosso Sol.
É um quebra-cabeça muito grande, mas sempre dá para a humanidade aprender a utilizar novos instrumentos e invenções práticas para a vida. Agora, não sei se melhora sequer um tico a ética e os bons modos da gente.

sábado, 17 de julho de 2010

Não deixe fios soltos


Não se pode deixar linhas soltas.
"Um filho largado a própria sorte dará desgostos a sua mãe", diz a Bíblia, como se o contrário fosse garantia de felicidade para ela e o filho.
Este limite tênue sempre foi discutido por indivíduos que são rotulados como perigosos contestadores. Um deles foi o arquiteto Gordon Matta-Clark que viveu pouco, 35 anos.
Uma vez ele levou um bujão de oxigênio para uma esquina da Wall Street, reduto dos poderosos bancos mundiais, e ficou enchendo balões enquanto dizia aos transeuntes que existem na vida bem maiores do que ficar juntando dinheiro.
O resultado é o mesmo que se consegue comprando uma vaga no estacionamento da rua e ao invés de colocarmos um carro fazermos um picnic na vaga.
Uma jornalista disse bem o que acontece na cabeça do cidadão comum que vê esta atitude rebelde: "Mas é ali, no contato com estas manifestações que aguçamos nosso pensamento crítico para enfrentar um mundo cada vez mais marcado pelas regras nada ingênuas do mercado".
De outra vez Gordon foi para um local de onde famílias foram obrigadas a deixar suas casas que seriam demolidas para a construção de um hipermercado. Tirou pedaços das paredes deixando a mostra os cômodos lembrando a quem passava por ali como em nome do progresso vidas são abaladas e duramente modificadas: "O artista buscava tornar visível o vazio que a própria sociedade instaurava mas para o qual cobria os olhos".
É uma honra conseguir ver o que a maioria de nossos concidadãos não se dão conta, e esta percepção não podemos guardar só para nós. Então, se você um erro participe em despertar os outros e com isto amontoe louvores sobre sua cabeça.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

O prazer de não ter sofrimentos


Ontem falava à um devoto evangélico que o filósofo Epicuro preparou a humanidade para as coisas sábias e humanas que o mestre Jesus ensinou. Ele ficou ofendido, nada que não está na Bíblia poderia ter relação com Jesus. Mas em Atos dos Apóstolos (17:18) fala dos discípulos deste mestre grego: "Alguns professores epicureus e alguns estóicos discutiam com ele (Paulo)". Agora veja algumas coisas que ele ensinou.
"Não pode afastar o temor que importa para aquilo a que damos maior importância quem não saiba qual é a natureza do universo e tenha a preocupação das fábulas míticas. Por isso não se podem gozar prazeres puros sem a ciência da natureza".
Epicuro pensou e escreveu isto há 2.300 anos, e já revelava a importância do conhecimento geral, científico, para se progredir sem os entraves dos dogmas religiosos.
"Realmente não concordam com a bem-aventurança preocupações, cuidados e iras. O ser bem-aventurado e imortal não tem incômodos nem os produz aos outros, nem é possuído de iras ou de bajulações, pois é no fraco que se encontra qualquer coisa de natureza semelhante".
Aqui ele ensina a sermos pacíficos para com todos os homens.
"É insensato aquele que diz temer a morte, não porque ela o aflija quando sobrevier, mas porque o aflige o prevê-la: o que não nos perturba quando está presente inutilmente nos perturba também enquanto o esperamos".
Ele e os outros filósofos epicuristas anteciparam o que o mestre Jesus veio nos ensinar: não se preocupe com o dia de amanhã.
"Há também mundos infinitos, ou semelhantes a este ou diferentes. Com efeito, sendo os átomos infinitos em número, como já se demonstrou, são levados aos espaços mais distantes. Realmente, tais átomos, dos quais pode surgir ou formar-se um mundo, não se esgotam nem em um nem num número limitado de mundos, quer sejam semelhantes quer sejam diversos destes. Por isso nada impede a infinidade dos mundos".
Já neste pensamento ele parece estar falando de física quântica.
"Quando dizemos, então, que o prazer é fim, não queremos referir-nos aos prazeres dos intemperantes ou aos produzidos pela sensualidade, como crêem certos ignorantes, que se encontram em desacordo conosco ou não nos compreendem, mas ao prazer de nos acharmos livres de sofrimentos do corpo e de perturbações da alma".
Os epicuristas eram mal interpretados por ensinar que o esforço maior do ser humano devia ser ter prazer, mas referiam-se, não aos prazeres da intemperança, que produzem resultados nefástos, mas aos prazeres de se viver com tranquilidade. Um exemplo de prazer é o fim de uma dor.
"A imediata desaparição de uma grande dor é o que produz insuperável alegria: esta é a essência do bem, se o entendemos direito. Do mesmo modo, cada dor é um mal, mas nem sempre se deve evitá-las. Antes, pomos de lado muitos prazeres quando, como resultado deles, sofremos maiores pesares; e igualmente preferimos muitas dores aos prazeres quando, depois de longamente havermos suportado as dores, gozamos de prazeres maiores. Convém, então, valorizar todas as coisas de acordo com a medida e o critério dos benefícios e dos prejuízos, pois que, segundo as ocasiões, o bem nos produz o mal e, em troca, o mal, o bem".
Que pena aqueles que colocando em si uma viseira, como aos cavalos, não conhecem o que outros homens iluminados nos ensinaram.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Escritor, eu?


Roland Barthes descreve, quase poeticamente, como a linguagem toma as palavras e seguindo normas cria imagens e sonhos.
"La lengua es como una naturaleza que se desliza enteramente a través de la palabra del escrito, sin darle, sin embargo, forma alguna, incluso sin alimentarla: es como un círculo abstracto de verdades, fuera del cual, solamente comienza a depositarse la densidad de un verbo solitario".
Cada pessoa encontrou pelo caminho da existência situações, ou um conjunto delas, que não se repetiu com nenhum dos outros bilhões de humanos. Então cada qual tem sua verdade, sua visão sobre a vida.
"La lengua es propiedad indivisa de los hombres y no de los escritores; es un objeto social por definición, no por lección. Nadie puede insertar su libertad porque a través de ella está toda la Historia, completa y unida al modo de una Naturaleza. De tal manera, para el escritor, la lengua es sólo un horizonte humano. La lengua de escritor es menos un fondo que un límite extremo; es el lugar geométrico de todo lo que no podría decir sin perder, como Orfeo al volverse, la estable significación de su marcha y el gesto esencial de su sociabilidad".
Quem escreve insere numa área - que é mais que uma folha de papel ou uma tela de computador - palavras que tomam formas históricas e servem para encantar outros humanos.
"Es como la dimensión vertical y solitaria del pensamiento. Sus referencias se hallan en el nivel de una biología o de un pasado, no de una Historia: es la "cosa" del escritor, su esplendor y su prisión, su soledad. Es la parte privada del ritual, se eleva a partir de las profundidades míticas del escritor y se despliega fuera de su responsabilidad".
Escreva também, mostre sua alma, tudo o que fez você ser como é, e vai descobrir muitas almas irmãs.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Você e as novelas


O filósofo Roland Barthes (1915-1980), em seu ensaio La Escritura de la Novela, ensina o que as novelas e filmes fazem em nossa cabeça.
"De esta manera se explica lo que tiene de útil y de intolerable el pretérito indefinido de la Novela: es una mentira manifestada; marca el campo de una verosimilitud que develaría lo posible en el mismo momento en que lo designaría como falso".
É uma distração. A novela e o filme são puro divertimento, não querem imitar a vida, não são ensinamentos para uma existência real. É bom não misturar. "La finalidad común de la Novela y de la Historia narrada, es alienar los hechos. Instituye un continuo creíble, pero su ilusión es mostrada".
Então, segundo Bartes, os autores de novela que tratam de temas do momento como gravidez na adolescência ou pedofilia incorrem no risco de estar dando uma idéia falsa de como tratar graves problemas da existência. Ele mostra então para quem é servido este alimento mental:
"Esto debe ser puesto en relación con cierta mitología de lo universal, propia de la sociedad burguesa, cuyo producto característico es la Novela: dar a lo imaginario la caución formal de lo real, pero dejarle a ese signo la ambigüedad de un objeto doble, a la vez verosímil y falso".
Não tenha dúvida, o gênero novelistico não devia, mas forma opinião, perigosamente: "Es una constante operación en todo el arte occidental para quien lo falso se iguala con lo verdadero, no por agnosticismo o por duplicidad poética, sino porque lo verdadero supone un germen de lo universal, o si se prefiere, una esencia capaz de fecundar. Por medio de un procedimiento semejante, la burguesía triunfante del siglo pasado pudo considerar sus propios valores como valores universales e imponer a zonas absolutamente heterogéneas de su sociedad todos los nombres de su moral. Lo que es propiamente el mecanismo del mito, y la Novela -y en la Novela el pretérito indefinido- son objetos mitológicos que superponen a su intención inmediata, una apelación segunda a una dogmática o, mejor aún, a una pedagogía, ya que se trata de ofrecer una esencia bajo la forma de un artificio".
Não há mais tempo para discutir com os filhos e netos que vêem novela o resultado real de se viver nos limites da moral. Aí sim, se conseguimos tempo, fazer um trabalho pedagógico, citando exemplos do que aconteceu na vida real com conhecidos ou analisando uma notícia crua no jornal, incutimos neles o mundo real. Ou como diz Bartes: "Tiene por misión colocar la máscara y al mismo tiempo, designarla".
O fato é que o gênero novelista tem atrapalhado muitas pessoas de "vencer o mundo".
"Por el contrario, eso es lo que hace la escritura novelística".

domingo, 11 de julho de 2010

A vida de um empregado


O livro Negras Raízes, de Alex Haley, conta como era a viagem de um negro aprisionado na África para a América: “Nu, acorrentado, algemado, despertou deitado de costas, entre dois homens numa escuridão total, um calor sufocante, um cheiro horrível, uma algazarra terrível de gente a gritar, soluçar, rezar, vomitar. Todo o corpo doía das pancadas que recebera desde sua captura, há quatro dias. O que doía mais era o lugar em que o haviam marcado com um ferro em brasa, nas costas, entre os ombros. O corpo peludo de um rato roçou no rosto dele, o focinho farejando-lha a boca, puxou e sacudiu as algemas que lhe prendiam os pulsos e os tornozelos. No mesmo instante, ouviu reclamações furiosas e sentiu os puxões de pessoas a quem estava acorrentado”.
A mesma descrição já havia lido em livros de autores brasileiros sobre a escravidão. Que modo desumano de tratar outro ser humano!
Mas no livro O Prêmio da Longitude, de Joan Dash, li que a mesma situação acontecia com os marinheiros: “Depois de embarcar descia, não até o porão, onde ia a carga, apodrecendo e vazando, mas para um espaço entre o porão e o convés. Centenas de marinheiros dividiam esta área com os canhões, pois ela servia também de convés de armamento, e com suas mesas de jantar, uma vez que comiam ali. Nesta área escura, quente e malcheirosa iam dormir com a mesma roupa que tinham usado durante o dia inteiro, estivesse seca ou úmida. Se amontoavam, os pés de um homem junto da cabeça de outro, ocupando um espaço de cerca de 40 cm de largura”.
Esta descrição é de um navio da marinha inglesa, a maior e mais bem equipada do mundo. Imagine o que passavam os marujos em barcos de outras bandeiras! Como cantavam os Paralama do Sucesso: “Entrei de gaiato em um navio. Entrei, entrei pelo cano”.
Então, conclui-se que a vida de um empregado no século 17, fosse ele um escravo ou um serviçal pago, era sem nenhum direito ou conforto. Mourejavam de sol a sol com uma única certeza, o dia seguinte seria igual, se não fosse pior. As relações empregatícias melhoraram bem, não acha?

sexta-feira, 9 de julho de 2010

O horror da matança


Estamos fartos de tantos assassinatos, alguns com requintes bárbaros, mas isto não é novidade para a raça humana. O livro Cruzada do Ouro descreve a capital dos maias durante o século 10 d.C. e o genocídio institucionalizado, aceito e permitido pelo governo, que havia ali.
"Este era um local de horror de um tipo diferente. Na parede de uma pirâmide a pintura mostra as cenas dantescas que aconteciam aqui: sangue espirrando de pescoços, sangue jorrando de corpos, sangue derramando em uma rampa cor de chumbo em direção a uma ladeira cheia de degraus. Em outro afresco, uma parede pintada com barbaridades inimagináveis, mostra uma execução em massa. Vítimas nuas estavam sendo levadas para um templo no alto. Lá em cima, elas eram retalhadas e mantidas no chão do altar, as mãos do carrasco mergulhavam em suas vísceras, enquanto uma outra figura erguia no alto um coração extirpado. Os maias desenvolveram um enorme progresso, uma arte e uma arquitetura surpreendentes, uma organização econômica fenomenal, mas para essas pessoas era normal os sacrifícios humanos. Se você nascesse aqui, então deveria ser sacrificado. Havia algo profundamente disfuncional nessa sociedade. Mas tudo se tornou titica de galinha quando os toltecas apareceram. Eles eram guerreiros terríveis da antiga América Central, os SS da época. Tudo que escutamos sobre os astecas, aqueles relatos de sacrifícios em massa registrados pelos conquistadores espanhóis no século XVI, multipliquem várias vezes. Imagine o coração das trevas, o apocalypse now, este é o local. Os próprios maias faziam sacrifícios humanos, mas quando os toltecas chegaram, eles transformaram este local num campo de morte".
Muitos homens tentaram nos ensinar um modo de viver melhor: Epicuro, Lao Tzé, Confúcio, Buda, Jesus, Paulo e Pedro, Francisco de Assis, Gandi e tantos outros; mas num momento podemos esquecer todas as palavras boas e o voltamos a matar.
Felizes aqueles que não esmorecem nunca e continuam ensinando a paz e o respeito à frágil vida humana. Como disse Martin Luther King: “O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons”.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Tu podes, por ti só, explicar


"Para início, tomaremos como base que não há coisa alguma que tenha jamais surgido do nada por qualquer ação divina".
Quem escreveu isto? Darwin, Freud? Não. Quem lançou, com estas palavras, as bases da evolução e denunciou a criação das espécies como uma invencionice foi o poeta romano Lucrécio, meio século antes de nascer Jesus. Leia seus argumentos em versos.
"Logo que assentemos em que nada se pode criar do nada, veremos mais claramente o nosso objetivo, e donde podem nascer as coisas e de que modo pode tudo acontecer sem a intervenção dos deuses. Realmente, se fosse possível nascer do nada, tudo poderia nascer de tudo, e coisa alguma teria necessidade de semente. Poderiam surgir homens do mar ou romper da terra a família dos peixes escamos.É evidente que, se surgissem do nada, repentinamente apareceriam, em lugar incerto e em estações desencontradas, porque não haveria elemento nenhum que
pudesse, por ser desfavorável o tempo, ver-se impedido de união geradora. E também não seria necessário nenhum tempo para se reunirem as sementes e crescerem os seres, se do nada pudessem surgir; de meninos pequenos se fariam de relance homens na força da idade e da terra sairiam as árvores já formadas. Sabe-se, porém, que nada disto acontece: tudo cresce pouco a pouco, como é natural, e de elementos determinados".
Acreditar na história de Adão sair da terra já crescido e explicar este absurdo dizendo: Deus pode tudo; é ananicar um poder supremo. Ou replicar, mas está na Bíblia e Deus não mente; é não querer ver que o conhecimento cresce aos poucos e a história de Adão é uma alegoria que circulava entre os homens da pré-história, antes de aprendermos a escrever, há 7 mil anos.
"Nada, portanto, volta ao nada; tudo volta, pela destruição, aos elementos da matéria".
Para Lucrécio também já era evidente que todas as coisas eram feitas de partículas invisíveis.
"Para que os corpos se possam transformar noutros corpos são necessárias duas condições: pela primeira, deve haver, como ligação entre eles, dando-lhes as suas características comuns de corpos, um elemento eternamente idêntico a si próprio; pela segunda, esse elemento deve
ser bastante móvel, bastante capaz de troca e de combinação, para desempenhar cabalmente o seu papel. Por outro lado, como não vemos nos corpos nenhum desses elementos, devem ser invisíveis. Vejam este exemplo: as roupas penduradas à beira da costa onde se quebram as vagas
enchem-se de umidade e secam, se as expomos ao sol; contudo, não se vê de que
modo se deposita a água, nem, por outro lado, como desaparece com o calor: é que
o líquido se divide em pequenas partículas que os olhos de nenhum modo podem ver".
Acho maravilhoso ler Homero pelo mesmo motivo, sabía-se muito, mas vagamente. Antes de todas filosofias e ciências tirarem nossa inocência, terem nos dado de comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, os homens escreviam com grande doçura e mesmo com toda dificuldade de registrar seus pensamentos desejavam ensinar o que sabiam. E não desculpavam os que não buscavam o saber.
"A um espírito sagaz bastam estas ligeiras indicações; por elas poderás com segurança conhecer o resto. Assim como os cães, logo que dão com sinais certos de passagem, encontram muitas vezes, só pelo faro, os abrigos cobertos de folhagem dos animais que erram pelos montes,
assim também, neste assunto, tu podes, por ti só, explicar uma coisa por outra,
penetrar por todos os recessos obscuros e de lá retirar a verdade".
Grande Lucrécio!