sábado, 19 de junho de 2010

Achei, eureka!


Lendo o livro 1808 que o amigo MP me emprestou procurava uma introdução para fazer um comentário sobre o capítulo O Chefe da Polícia, foi quando lendo um artigo do médico mexicano Federico Ortiz Quezada, li: "Vivemos como Janus bifronte [o deus romano que tem duas faces] contemplando a desigualdade. Por um lado, a pobreza extrema e, por outro, a insultante riqueza". Eram os efeitos disto que o chefe Viana combatia, por linhas tortas.
"Uma bomba populacional abalou o Rio de Janeiro nos treze anos em que a corte portuguesa esteve no Brasil. O número de habitantes dobrou, metade da população era escrava. A criminalidade atingiu índices altíssimos. 'Nesta cidade temos sido muito insultados pelos ladrões', relata o arquivista real Luiz Joaquim Marrocos em uma carta ao pai, 'em cinco dias contaram-se 22 assassinatos e numa noite defronte à minha porta fez um ladrão duas mortes'. A maioria da população andava armada. Pouca gente se arriscava a sair desacompanhada à rua depois do anoitecer. A mulher do embaixador americano foi atingida no olho por uma pedrada enquanto estava dentro de sua carruagem na rua do Ouvidor. Os agentes eram implacáves e truculentos. Sem se importar com qualquer procedimento legal, mandava que seus soldados prendessem e espancassem". Do livro 1808.
Uma sociedade com uma diferença social menor não fica completamente em paz, os espíritos criminosos não vicejam só na pobreza, mas a violência diminui muito numa sociedade mais justa. Nessa situação, um chefe de polícia que agisse dentro da lei seria bem diferente do Dr. Viana. Enquanto a família real estava no Rio de Janeiro esta autoridade entendia que não podendo dar uma vida mais digna aos negros alforriados o que se devia fazer era mantê-los sem liberdade de expressão e tratá-los sem dignidade alguma. Entre seus afgentes o mais famoso foi o capoeirista major Miguel Nunes Vidigal "que se tornou o terror da malandragem carioca". Veja que o Rio não mudou muito em duzentos anos.
Ah, ia esquecendo, por seus inúmeros trabalhos o meganha Vidigal ganhou um terreno que seus descendentes não cuidaram, foi invadido pelos pobres, na maioria negros, como os que ele perseguia, e se tornou a favela, hoje comunidade, do Vidigal. Tudo que se faz tem um retorno.

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