terça-feira, 29 de junho de 2010

Apegar-se a uma vida perdida


Um homem ou uma mulher que perpetram um crime formidável, arrancando vida de crianças ou outra barbaridade, e luta para continuar vivo é mais humano que Jocasta e Édipo?
A história em Édipo rei, diz que ela reagiu assim: "Los padecimientos de aquella infortunada. Cuando, dejándose llevar por la pasión atravesó el vestíbulo, se lanzó derechamente hacia la cámara nupcial mesándose los cabellos con ambas manos. Una vez que entró, echando por dentro los cerrojos de las puertas, llama a Layo, muerto ya desde hace tiempo, y le recuerda su antigua simiente, por cuyas manos él mismo iba a morir y a dejar a su madre como funesto medio de procreación para sus hijos. Deploraba el lecho donde, desdichada, había engendrado una doble descendencia: un esposo de un esposo y unos hijos de hijos". E matou-se. Foi demais para ela saber ter sido amante do filho e ter tido filhos com ele.
Ele reagiu de outro modo, também trágico: "Y gritando de horrible modo, como si alguien le guiara, se lanzó contra las puertas dobles se precipita en la habitación en la que contemplamos a la mujer colgada, suspendida del cuello por retorcidos lazos. Cuando él la ve, el infeliz, lanzando un espantoso alarido, afloja el nudo corredizo que la sostenía. Una vez que estuvo tendida, la infortunada, en tierra, fue terrible de ver lo que siguió: arrancó los dorados broches de su vestido con los que se adornaba y, alzándolos, se golpeó con ellos las cuencas de los ojos, al tiempo que decía cosas como éstas: que no le verían a él, ni los males que había padecido, ni los horrores que había cometido, sino que estarían en la oscuridad el resto del tiempo para no ver a los que no debía". Édipo sentiu que seus olhos não deviam ver mais nada e cegou-se.
Jocasta havia deixado o filho récem nascido no mato para morrer. Mas Édipo sobreviveu e sem saber matou o pai e teve filhos com a própria mãe. Nenhum dos dois suportou ter cometido tais horrores. Mas hoje, neste momento carregado de pobrezas de espírito o apego a esta vida faz o mais brutal criminoso empurrar sua animalidade para algum buraco escuro dentro de si mesmo e acumulando erro sobre erro viver até a morte. Vigiar e orar é a via para não nos sujarmos demais nesta vida. O inferno tão falado, é pouco.

domingo, 27 de junho de 2010

Cada vez mais equilibrados


Lendo Jung e suas descobertas sobre as forças inconscientes no homem e na mulher - ele com sua anima ou sentimentos mais femininos, ela com seu animus ou comportamento masculino - senti que esta explicação já não descreve o homem e a mulher do século 21. Agora, leio a confirmação disto no ensaio da psicanalista argentina Carolina Vásque no livro Jung depois de Jung (1999). Está em espanhol, mas dá para entender bem.
"Sabemos que la conciencia viene evolucionando a través de 3 fases: mágica, mitológica y mental y que superamos los dos primeros. Y en este proceso del camino del héroe, el proceso de transición del guerrero a mago y la consecuente integración del amor y el cuidado 'femenino' con el coraje y la disciplina 'masculina" resultan en personas mejores. Históricamente los hombres han preferido dedicarse a guerrear y las mujeres a amar, ahora el mago es un andrógino que ha integrado a ambos".
Então, o homem e a mulher de hoje são diferentes daqueles que na década de 1940 cometeram tanta violência na 2° Guerra Mundial. Meu pai era aquele varão rigoroso e minha mãe a companheira submissa. As coisas mudaram.
"En el estado andrógino resultante o masculino ya no es equivalente a macho. Inevitablemente, al llegar a esta etapa, tambén lo femenino llega a adquirir un significado mucho más potente e interesante que la feminidad convencional. Se puede ser masculino y honrar a las mujeres, abandonando la superioridad para abrazar la realidad de la comunidad humana. Los hombres que han hecho esto, descubrieron que no es mal negocio. Del mismo modo, algunas mujeres dejan de lado o reprimen su foco central en los cuidados y el afecto, al servicio de la adquisición de cualidades de independencia y autodeterminación".
Assim vemos os homens com mais cuidado com seu corpo e as mulheres cheias de rigor na atividade profissional. Estamos mudando.
"Por fin, a medida que el individuo se torna más andrógino y al tener ambos polos para ser, lo masculino y lo femenino quedan redefinidos. Así, cuando los héroes reprimen cada vez menos cualidades, se vuelven cada vez más equilibrados, tienen más claridad y son en consecuencia más capaces de transformar sus mundos".
Assim vamos dispensando os reguladores internos animus e anima, ao passo que os sentimentos homem/mulher vão se integrando em nós humanos, e vamos ficando mais a imagem de Deus.

sábado, 26 de junho de 2010

Sou perfeitamente capaz de ser feliz com o que tenho


Um poeta basco, personagem do livro Shibume, espressa o seguinte pensamento em uma conversa em volta de uma fogueira no alto de uma montanha dos Pirineus: "Um homem é mais feliz quando existe um equilíbrio entre suas necessidades e seus bens. Mas o problema é: como alcançar este equilíbrio? Pode-se tentar alcançá-lo tendo desejos por coisas caras, o que requer possuir muitos bens, mas isto seria uma idiotice. Envolveria a realização de coisas prejudiciais como: trabalhar muito, economizar em excesso e não ter tempo para o que é importante, viver com liberdade. O homem sábio conquista o equilíbrio reduzindo suas necessidades e o nível de suas posses. E isto é feito de uma forma melhor quando se aprende o valor das coisas da vida que não se precisa pagar, ou tem um gasto pequeno como: andar pelas montanhas, pedalar pelas estradas do interior, divertir-se com os amigos, brincando e contando casos enquanto toma cerveja ou um vinho tinto, e amando uma mulher mais velha e/ou mais gorda. Olhe para mim. Sou perfeitamente capaz de ser feliz com o que tenho".
O que se pode acrescentar? Então, cuidado em desejar demasiado e perder os momentos preciosos da vida.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Epicuro foi um grande mestre


Epicuro foi um grande mestre por ter uma visão límpida do que é verdadeiramente importante nesta nossa curta vida. Ele insistia que a causa de muitos males residia numa vida enclausurada numa casa ou cercada pelas construções em uma cidade. A raça humana precisa se voltar para suas origens, a natureza, para se sentir bem.
" Quando te angustias com as tuas angústias, te esqueces da natureza: a ti mesmo te impões infinitos desejos e temores".
O amigo Reginaldo me falou de um livro que para mostrar a origem de nossos sofrimentos nos compara a uma planta ou um animal. A goiabeira é o resultado de uma necessidade em um ecossistema e a ela se basta ser assim como é, com seu tronco liso, folhas ásperas e produzindo frutos suculentos cheios de sementinhas; ela não quer produzir maçãs. Epicuro ensinou isso dizendo assim: "Consideramos um grande bem o bastar-se a si próprio, não com o fim de
possuir sempre pouco, mas para nos contentarmos com pouco no caso em que não possuamos muito, legitimamente persuadidos de que desfrutam da abundância do modo mais agradável aqueles que menos necessidades têm, e que é fácil tudo o que a natureza quer e difícil o que a vaidade exige. Se queres enriquecer, não busque acrescentar riquezas a tua vida, diminui-lhe os desejos. A quem não basta pouco, nada basta. Não deves corromper o bem presente com o desejo daquilo que não tens".
Perceba que Epicuro não era um instrutor cristão, Jesus só nasceu 300 anos depois. Existem duas explicações para a sabedoria de Cristo: ter trazido do mundo espiritual, de uma dimensão mais avançada, tudo o que ensinou ou ter tido facilidade em apreender, em sua pouca idade, os melhores ensinamentos dos filósofos que o precederam. Veja este ensinamento do mestre Jesus: "Eu mando vocês como ovelhas para o meio dos lobos, sejam prudentes como a serpente e sem maldade como a pomba". Agora compare com o que Epiduro havia ensinado antes.
"De todas estas coisas, o princípio e o maior bem é a prudência, da qual nascem todas as outras virtudes; ela nos ensina que não é possível viver agradavelmente sem sabedoria, beleza e justiça, nem possuir sabedoria, beleza e justiça sem doçura".
Veja que pensamento lindo: "O homem que tenha alcançado o melhor da espécie humana será honesto mesmo que ninguém se encontre presente".
Epicuro ensina que se há uma necessidade nos humanos ela é a amizade: "De todas as coisas que nos oferece a sabedoria para a felicidade de toda a vida, a maior é a aquisição da amizade. Devemos escolher um homem bom e tê-lo sempre diante dos olhos, para vivermos como se ele nos observasse e para fazermos tudo como se ele nos visse".
Esse é o cara! Ou melhor, um deles, um dos bons.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Testando meus limites


Quando um ciclista participa de uma competição ou deixa as trilhas constantemente percorridas e vai longe, a 200 km ou mais ,diz-se que "ele provavelmente estava testando seus limites". No livro de A Cruzada Ouro fala desta necessidade humana, sempre tentar ir mais longe se perguntando: o que existirá depois daquele outro morro.
"A Islândia foi colonizada a partir da Noruega perto do final do século IX, a Groenlândia por Erik, o Ruivo, cerca de um século mais tarde. então, provavelmente, foi daí que os colonizadores vieram. Leif Ericsson era o filho de Erik, o Ruivo, e montou uma colônia viking na América do Norte 500 anos antes de Cristovão Colombo chegar. Eles provavelmente estavam testando os limites de seu mundo. Os fenícios fizeram o mesmo. Os postos avançados mais distantes dos fenícios datam dos períodos mais iniciais de exploração e todos tinham vida curta. Mogador no oeste da África, Cornuália na Grã-Bretanha. Um potencial atraente de comércio, mas bastante distante e vulnerável demais para durar muito tempo".
Os vikings entendiam que a força que empurra àquele que busca ir além de seus limites não é só genética, é espiritual também.
"Os nórdicos acreditavam que aqueles que sentiam sede de correr o mundo seguiam os atalhos deixados por seus ancestrais, por seus companheiros espirituais".
E assim é com cada um, ele busca chegar mais e mais alto, vê até onde pode ir e, se tem um pingo de sabedoria, sente-se satisfeito até onde chegou. É o seu limite.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Dragando seu interior


Como diz Lula: nunca, antes, na história deste país, li a palavra "dragar" usada da maneira que Leonardo Kaz, responsável pelo funcionamento do novo museu que será edificado na zona portuária do Rio, perto da praça Mauá, o MAR, usou.
O MAR, Museu de Arte do Rio, vai ocupar dois prédios restaurados de estilos completamente diferentes e que vai valer a pena nós, do interior, visitarmos.
Mas dizia, ele usou o verbo dragar de uma modo novo. Qual seja, puxar do interior do visitante das exposições o que guardam dentro de si.
"Todos os museus concebidos depois da internet têm que ser uma obra em progresso, não há como manter um acervo estático. O olhar não pode ser apenas contemplação, precisa arrebatar".
Já viu uma draga trabalhando em um rio? Sua caçamba arrancando o que jáz no fundo da corrente? Pena que a falta de respeito pela natureza - força criadora que formou um leito, um caminho, para que as águas de uma nascente lá no meio da mata passasse por este lugar plano que os humanos acharam propício para construír suas casas - faz se jogar nele tanta sujeira: pneus gastos, poltronas furadas, tampas de vasos sanitários e os próprios. A draga trás tudo isto pra fora.
Leonardo quando falava das vistas lindas que os visitantes vão ter, tanto das peças em exposição quanto da cidade e do mar - os prédios do MAR terão salas sem paredes para se ver a rua e sermos vistos - pensava que esta contemplação pode trazer para fora, dragar, coisas más que estão em nosso corações e mentes, nos limpando e nos tornando melhores.
O mesmo deve acontecer quando pedalamos ou fazemos um trekking. Nossos olhos, não, todos os nossos sentidos, precisam estar ativos para nos deslumbrarmos com a natureza à nossa volta: os pássaros gorgeando, a cachoeirinha cantarolando no meio da mata, as cores vivas que tudo reflete. Com isto "'dragamos" o supérfluo na gente, nos limpamos. Não é bom?!

domingo, 20 de junho de 2010

Você sabe porquê ouvir?


“Para comprender, el que escucha no se limita a registrar pasivamente los elementos idiomáticos que le van llegando y a asociarlos com las ideas correspondientes; el acto de la comprensión supone una conciencia activa, una actitud como de sintonización con la actividad creadora del que habla, una respuesta psíquica adecuada. Este pensamiento unitario particular que yo articulo con los medios de mi idioma para ser transmitido a tu conciencia, provoca tu prurito de aceptación. Mi articulación te sirve de punto de partida para reconstruir lo unitario y lo particular de mi pensamiento; pero la reconstrucción es tuya: tú eres quien vas reorganizando los materiales que linealmente te van llegando. Si el habla es un modo de creación, el comprender es sin escape posible un modo de recreación”.
Saussure explica que o que sai de minha boca é meu pensamento, mas quando você ouve e compreende, associa com idéias que estão em tua cabeça, você recria o que eu falei. Já não é uma mensagem minha. Depois que entrou pelos teus ouvidos e foi misturada com pensamentos teus, você a recriou, agora esta mensagem é tua.
E tem mais: “Reconocemos que la lengua sin habla no tiene existencia real em ninguna parte; sólo existe en el uso activo que de ella hace el que habla o en el uso activo del que comprende”.
Percebeu? Eu e você dominamos uma língua, uma maneira de se comunicar pela fala, mas se não falo ou você fica calado ela não serve de nada. Pior, se eu falo ou você fala e não te escutou ou tu não me presta atenção, a língua não serviu de nada. Manjou?

sábado, 19 de junho de 2010

É bom ensinar religião nas escolas?


Doutrinar ou evangelizar, nem pensar. Mas a história das religiões, informações sobre doutrinas principais – bem pesquisadas para não se passar informação distorcida – e noções de espiritualidade, parecem ser válidas. Refletir um pouco sobre a morte, destino final de cada pessoa, parece ser bem benéfico.
Cinqüenta anos antes de Jesus nascer, no belo poema A Natureza das Coisas, Lucrécio, em Roma, mostra que então, tanto quanto hoje, o ser humano se preocupava com a morte.
"Não se sabe, como seja a natureza da alma: se nasce conosco ou, pelo contrário, se introduz nos corpos; se perece ao mesmo tempo que eles, desfeita pela morte, ou vê as trevas de Orco e os vastos abismos. Ênio também claramente expõe, em versos eternos, que há lugares certos do Aqueronte onde ficam, não as nossas almas e os nossos corpos, mas umas como sombras de estranha palidez; e diz que de lá lhe falou da natureza das coisas, depois de haver derramado lágrimas amargas, o sempre glorioso Homero.
E é por tudo isto que devemos não só tratar dos fenômenos celestes, saber por que motivos se dão os movimentos do Sol e da Lua, e que força produz os fenômenos da Terra, mas ver, sobretudo, com sagaz inteligência, donde provém a alma e qual é a sua natureza e quais são essas coisas que, vindo ao encontro da gente acordada, mas abalada pela doença ou mergulhada no sono, aterrorizam os espíritos, dando-nos a ilusão de que estão diante de nós, e os podemos ouvir, aqueles cujos ossos tocados pela morte se encontram recobertos de terra".
Assim se refere o poeta Lucrécio ao homem e as dúvidas sobre sua existência após a morte do corpo. É lógico, são especulações, não se chega a lugar algum, mas há que se encarar o que nos espera adiante, se para mais não for, servirá para refletir, parar um pouco, e isto é tudo que se precisa nesta correria desenfreada de vida. E até pode ser que ela não seja tão feia ou tão séria.

Achei, eureka!


Lendo o livro 1808 que o amigo MP me emprestou procurava uma introdução para fazer um comentário sobre o capítulo O Chefe da Polícia, foi quando lendo um artigo do médico mexicano Federico Ortiz Quezada, li: "Vivemos como Janus bifronte [o deus romano que tem duas faces] contemplando a desigualdade. Por um lado, a pobreza extrema e, por outro, a insultante riqueza". Eram os efeitos disto que o chefe Viana combatia, por linhas tortas.
"Uma bomba populacional abalou o Rio de Janeiro nos treze anos em que a corte portuguesa esteve no Brasil. O número de habitantes dobrou, metade da população era escrava. A criminalidade atingiu índices altíssimos. 'Nesta cidade temos sido muito insultados pelos ladrões', relata o arquivista real Luiz Joaquim Marrocos em uma carta ao pai, 'em cinco dias contaram-se 22 assassinatos e numa noite defronte à minha porta fez um ladrão duas mortes'. A maioria da população andava armada. Pouca gente se arriscava a sair desacompanhada à rua depois do anoitecer. A mulher do embaixador americano foi atingida no olho por uma pedrada enquanto estava dentro de sua carruagem na rua do Ouvidor. Os agentes eram implacáves e truculentos. Sem se importar com qualquer procedimento legal, mandava que seus soldados prendessem e espancassem". Do livro 1808.
Uma sociedade com uma diferença social menor não fica completamente em paz, os espíritos criminosos não vicejam só na pobreza, mas a violência diminui muito numa sociedade mais justa. Nessa situação, um chefe de polícia que agisse dentro da lei seria bem diferente do Dr. Viana. Enquanto a família real estava no Rio de Janeiro esta autoridade entendia que não podendo dar uma vida mais digna aos negros alforriados o que se devia fazer era mantê-los sem liberdade de expressão e tratá-los sem dignidade alguma. Entre seus afgentes o mais famoso foi o capoeirista major Miguel Nunes Vidigal "que se tornou o terror da malandragem carioca". Veja que o Rio não mudou muito em duzentos anos.
Ah, ia esquecendo, por seus inúmeros trabalhos o meganha Vidigal ganhou um terreno que seus descendentes não cuidaram, foi invadido pelos pobres, na maioria negros, como os que ele perseguia, e se tornou a favela, hoje comunidade, do Vidigal. Tudo que se faz tem um retorno.

sábado, 12 de junho de 2010

A tão grandes males pode a religião persuadir


"A tão grandes males pode a religião persuadir".
Como pode um ensinamento que pretende elevar o ser humano, uma religião, entorpecer de tal modo a consciência de um jovem fazendo-o amarrar explosivos por todo o corpo para fazer a si mesmo e a outros em pedaços?
Hoje conversei com um comerciante que me disse: hoje vou lhe ensinar o que é o mais importante, Jesus é...; e completei: o caminho, a verdade e a vida. Mas no decorrer do diálogo ele se mostrou avesso a aprender sobre os avanços da humanidade, sua religião o deixou pronto para não querer aprender mais nada e aceitar quaisquer ordem que lhe dêem como tendo vindo de Jesus. Sua consciência e ética estão bloqueadas pela "verdade".
Mas entrei no assunto e ainda não os apresentei ao poeta romano que escreveu as palavras que iniciam esta postagem, o emotivo Lucrécio. O romano Tito Lucrécio Caro viveu entre 100 e 55 antes de Jesus nascer. Ficou famoso por um poema alexandrino longo, A Natureza das Coisas. Como ele fala muito sobre como a vida nas grandes cidades afasta o homem da natureza e cria toda uma falsa idéia do que é a vida ainda vou comentar muito sobre ele.
Voltando ao tema de como a relilgião pode cegar transcrevo agora versos onde ele relata um acontecimento público que envolveu um rei e o que sua religião o levou a fazer. Lembre-se que é um poema, dai o modo maleável dele apresentar os fatos.
"Quando a faixa enrolada à volta da virgínea cabeleira caiu por igual de um lado e outro do rosto; quando viu o triste pai, de pé diante do altar, e junto dele os sacerdotes que
dissimulavam o ferro, e os cidadãos que, ao contemplá-la, rompiam em choros - então, emudecendo de horror, Ifigênia vergou os joelhos e deixou-se cair por terra. E em nada podia valer à infeliz, em tal momento, ter sido a primeira a dar ao rei o nome de pai. Foi levantada pelas mãos dos homens e arrastada para o altar, toda a tremer, não para que pudesse, cumpridos os ritos sagrados, ser acompanhada por claro himeneu, mas para, criminosamente virgem, no tempo em que deveria casar-se, sucumbir, triste vítima imolada pelo pai, a fim de garantir à frota uma largada feliz e fausta".
Meu Deus, matou a filha para que um deus o ajudasse na guerra! Sua religião plantou esta "verdade" na cabeça do rei. E a verdade é tão simples, Jesus ensinou: Não é sacrifício que quero, diz Deus, mas misericórdia. Misericórdia é uma palavra forte, cheia de bondade e ética. É o que Deus quer que façamos em um tempo em que cada vez mais precisaremos do nosso próximo. O que fizerem diferente disto não está religando nada, é tapeação que só Freud explica.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Há Futuro para a Escrita?


Este é o título de um livro do filósofo Vilém Flusser (1920-1991), onde discute a comunicação pela web, uma sucessão de imagens desconectadas. Quando o livro foi lançado, 1983, a febre dos computadores pessoais nem havia começado, seu ensaio antecipou o mundo virtual.
Flusser nos ensina que a escrita de um livro se parece a confecção de um tapete. Primeiro o artesão compra a tela, uma rede de minúsculas tramas, escolhe e desenha um tema na urdidura, a tela, e começa a amarrar os fios formando o belo objeto. "A escrita é uma luta tenaz para organizar a língua para formar imagens. O escritor ordena as palavras e lhes dá direção".
Ele lembra que antes do ser humano ter a idéia de escrever ele já desenhava símbolos. Pinturas de um sol, um cavalo ou um homem não serviam para contar uma história, elas tinham em si mesmas um significado místico, mágico.
"O mundo contemporâneo ultrapassa a consciência histórica da escrita, entra num sistema mecânico e luminoso (as telas dos computadores) e retorna ao mito".
Ele não teve a experiência de entrar em uma lanhouse, uma caverna escura, onde pessoas mudam de páginas freneticamente, escrevem muito, mas pensam pouco (?).
"Quando abrimos um livro não é só os olhos correndo pelas letras, nós o 'editamos' com nossa imaginação e, para imaginar precisamos pausar e refletir. Toda leitura é meio asmática, cheia de paradas para tomar folego".
Gosto da internet, me amarro em escrever nos blogs, mas não me interesso pelas conversas rápidas tipo msn ou twitter. Porém, longe de mim condenar a moçada nas cavernas das lan. Porque não quero ser retrógrado e porque tenho minha própria experiência com novos formas de escritas.
Meu pai lia muitos livros e queria me ver seguindo os passos dele, mas comecei a chegar em casa com revistas em quadrinhos. Ele ameaçou, me pagou muitas advertências dizendo que com os quadrinhas só conseguiria ler o que tivesse ilustrações. Até que um dia se rendeu, era Natal e ele me deu um grande almanaque em que me amarrei. De todos os presentes que me deu só lembro desta grande história em quadrinhos e da bicicleta verde.
E foi assim que aprendi a amar a leitura, a urdidura cheia de imaginação e pensamentos que edificam. Quem sabe se a turma da lanhouse também não vai aprender a amar os livros!

sábado, 5 de junho de 2010

É pela espécie humana que a natureza se interessa


O Iluminismo surgiu no século 17 e Immanuel Kant assim o define: "O Iluminismo representa a saída dos seres humanos de uma tutelagem que estes mesmos se impuseram a si. Tutelados são aqueles que se encontram incapazes de fazer uso da própria razão independentemente da direção de outrem. É-se culpado da própria tutelagem quando esta resulta não de uma deficiência do entendimento mas da falta de resolução e coragem para se fazer uso do entendimento independentemente da direção de outrem. Sapere aude! Tem coragem para fazer uso da tua própria razão! - esse é o lema do Iluminismo".
Dizem que o Iluminismo, foi o afastamento dos estudiosos de toda forma de religião e resultou em filósofos (especialmente os alemães) que combatiam qualquer forma de fé, como Schopenhause:
"Não é pelo indivíduo, mas unicamente pela espécie que a natureza se interessa e dela cuida seriamente da conservação, circundando-a de grande luxo de precauções tanto por meio da superabundância como do poder imenso do instinto de reprodução. O indivíduo, ao contrário, não tem valor algum para a natureza e nem pode tê-lo, desde que é apenas um ponto num tempo infinito e num espaço infinito que compreende um número infinito de indivíduos possíveis. A natureza está sempre pronta a abandonar o indivíduo".
Eu e você somos coisinhas no infinito, até aí tudo bem, mas pontos?! Só isso? E desenvolvendo esta idéia chega a esta conclusão: "Por outro lado, a excreção é idêntica à morte que é o oposto da geração. Ora, nós nos sentimos perfeitamente satisfeitos com a matéria eliminada; é preciso manter tal atitude também quando a morte vem realizar por grosso e em mais larga escala, o que sucede a cada dia e cada hora na excreção".
- Ora, abandone esta leitura!
- Não posso, decidi ver o que ensinou e como pensa, ou se ilude com a pretensão de fazer frente a Deus, o materialista puro.
Ele continua: "Ninguém viveu no passado e ninguém viverá no futuro; o presente, somente ele, é a forma exclusiva da vida, propriedade certa, que nada poderá jamais subtrair-lhe".
- É duro pensar assim!
- Bem, a gente pode ficar num meio termo, ou em cima do muro, nem tanto a fé nem tanto a descrença.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Está em toda parte, é a matéria escura


Ninguém nunca viu, mas que ela existe já está provado.
- O quê?
- A matéria escura, algum elemento que preenche cada cantinho no espaço entre todos os corpos celestes. Os astrônomos acham que ela é quase 90% do que há no universo.
- E como conseguiram provar a existência dela se não podem vê-la?
Leia o que disse a astrônoma Patrizia Caraveo: "Queremos ressaltar desde já que parte do que diremos baseia-se em uma descoberta de Christian Doppler. Em 1842 ele observou que o som emitido por uma fonte em movimento mostra-se, a um observador parado, em uma freqüência superior quando o objeto se aproxima e inferior se o objeto se distancia".
Uma coisa simples, mas que ajudou os astrônomos a estudar objetos nas profundezas do cosmo. E ela continua: "O famoso 'efeito Doppler', é válido para qualquer fenômeno ondulatório, do apito de um trem em alta velocidade à radiação eletromagnética. Se aplicado às linhas presentes nos espectros dos objetos celestes (a separação da luz deles em suas diversas cores, que é realizada por outra ferramenta simples, uma pirâmide de vidro que divide a luz branca em um arco-íris de cores), ele permite determinar a velocidade da fonte de radiação em relação a nós e a direção que está seguindo".
- E daí, como é que descobriram uma grande substância invisível no meio das estrelas?
"Examinando os espectros de muitas estrelas de uma galáxia em espiral, selecionadas de modo a que tenhamos distâncias do centro progressivamente crescentes, esperávamos observar que a rotação crescia, à medida que aumentava a distância do centro".
É igual roda de bicicleta, enquanto o cubo vai girando o pneu, o pneu, mais longe do centro, gira mais rápido. Mas os astrônomos constataram que as estrelas mais distantes do centro da nossa galáxia, como nosso Sol, não estão fazendo sua volta na velocidade que deviam. Tem alguma coisa travando, como se o freio de nossa bike tocando no raio segurasse o giro da roda. Está aí, este freio é a tal "matéria escura" ou partículas massivas de interação fraca (WIMPs).
- E esta informação me interessa?
- Sei lá!

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Desconfie sempre de um crime bárbaro


Desconfie sempre de um crime bárbaro, com certeza nele há envolvida uma passion, um componente de fanatismo com rituais sagrados.
Sempre duvidei, por exemplo, que o holocausto nazista fosse resultado de uma filosofia racional: buscar uma raça pura, já que a mistura, a mestiçagem, diminuía as realizações humanas. Não podia ser só isto que levou pessoas a perfilar homens, mulheres e crianças, metralhá-los e enterrá-los - alguns somente feridos - ou enfiá-los em um forno e queimá-los vivos. Isto não é humano, tem de incluir uma fantasia louca.
Estou lendo um livro, A Cruzada do Ouro, de David Gibbins, que fala dos vikings e dos judeus. Aventureiros violentos, os louros nórdicos chegaram a Constantinopla por volta do ano 1000 ec. Sendo uma grande cidade, não puderam simplesmente saqueá-la, tiveram de aceitar fazer parte de uma tropa de elite para, encarregados da segurança, poder roubar o tesouro real.
- E os judeus?
- Já chego lá!
No ano 70 ec, no reinado do imperador Domiciano, Jerusalém foi destruída, milhares de judeus foram mortos, outro tanto feito prisioneiro e a grande parte espalhada pelo mundo. Mas os símbolos sagrados dos judeus, objetos de ouro que ficavam no templo de Salomão - a mesa de oferendas, a Arca da Aliança contendo as duas tábuas de pedra com os 10 Mandamentos e a Menorá, o grande candelabro de 7 pontos de luz - foram levados para Roma e guardados em local secreto. Depois, no quarto século, o imperador Constantino levou-os junto com outros tesouros para sua capital do Oriente, Constantinopla. Assim os louros habitantes do norte gelado da Europa encontraram um ponto de contato com os morenos semitas do extremo leste do Mediterrâneo. Os Vikings, quando acharam o melhor momento, demitiram-se sem aviso prévio e fugiram de Constantinopla com os tesouros judeus. Não há mais notícia dessas riquezas, mas este livro diz que se formou uma sociedade secreta que misturava num caldo venenoso a pureza racial nórdica, a recuperação dos tesouros sagrados dos judeus e o genocídio deste povo. "As primeiras décadas do século XX viram um ressurgimento de interesse pelos vikings e a herança nórdica, na Alemanha e através do norte da Europa. Depois da insanidade da Primeira Guerra Mundial, o félag [uma sociedade secreta] se tornou um movimento para apoiar a idéia da supremacia racial em meio a um povo que havia perdido seu rumo. Chamavam a si mesmos de companheiros de sofrimento, o antigo nome viking para remador. Esta sociedade secreta começou a atrair os assassinos e fantasistas que sonhavam com um novo Reich na Europa. Tornou-se a sociedade mais hedionda de todas, a Schutzstaffel de Himmler, a SS, acrescida com uma ilustre e inventada ascendência nórdica e alguns rituais. A idéia de um félag reconstituído se ajustava perfeitamente a esse mundo maligno, só que tinha alguma ressonância histórica".
É o mal, que na aparência parece bom, pois defende os mesmos princípios, mas como em uma imagem refletida suas ações resultam em dor e ódio. Agora olhe isto: "Sabe quem está por trás de tudo isto? O Vaticano? Há uma espécie de Inquisição interna, dirigida por cardeais. Isso sempre existiu. Mas esta é mais sinistra, muito perversa".
Então, não é só a pedofilia e outras aberrações que a Igreja entregue por Jesus à Pedro esconde. Os historiadores há muito acusam o papa Pio XII de concluiu com os nazistas no genocídio judeu. Há pouco tempo o Vaticano pediu desculpa aos judeus por não ter condenado Hitler e seus malucos. Mas há os que vêem velhos ódios nas cabeças tonsadas dos dirigentes da Igreja, rancor que leva a ações desumanas.
O fanatismo de qualquer origem - dos árabes mulçumanos à ministérios protestantes, de adeptos do Candomblé à ordens católicas - despe o ser humano de toda semelhança divina e o rebaixa aos Titãs do Caos. Então, fique esperto, procure ver nas atitudes aberrantes além do horizonte aparente, desconfie.