sexta-feira, 28 de maio de 2010

Fuja da loucura


O estudo de "vida literária", a literatura estudada em termos de vida social, desvenda como o sentimento das pessoas sempre moldou a forma que a arte toma.
No século 16, quando o Brasil foi descoberto, a Europa se afligia com tantas guerras entre os senhores feudais, a religião impunha tantas regras e o povo se amargurava com uma sucessão tão terrível de pragas, que os indivíduos buscavam nas festas e no carnaval, nas exibições dos palhaços e nas lendas contadas pelos menestréis com muito humor e jocosidade um refrigério para a alma. Isto resultou numa literatura burlesca, em livros como: Pantagruel, de François Rabelais; Decameron, de Giovanni Boccaccio e as poesias de Shakespeare.
Então, no final do século 18, o mundo já ordenado em reinos, o povo está insatisfeito e as revoluções espocam na colônia americana da Inglaterra e na França. Seus ideais se espalham pelo mundo e a arte se torna romântica. Os cidadãos já não querem pensar na vida da maneira burguesa – em que o dinheiro é o mais importante - não, a vida também é sonho, fantasia e amor. E isto visto sob uma nova ótica religiosa, não a religião repressora, mas a que provê reconciliação e perdão. Surgem livros como Madame Bovary, de Gustave Flaubert; O Vermelho e o Negro, de Marie Henri Beyle (Stendhal); Comédia Humana, de Honoré de Balzac. É o romantismo "que dá ao comum um sentido elevado, ao costumeiro um aspecto misterioso, ao conhecido a dignidade do desconhecido, ao finito um brilho de infinitude”, como definiu o poeta alemão Georg Philipp Friedrich von Hardenberg (Novalis)".
Agora vivemos na época moderna e o coração das criaturas de nosso tempo está, como descreve o sociólogo Max Weber, "cheio de desencantamento do mundo". Daí, a arte de nosso século não ter inocência, e o homem e a mulher atual gostar de uma música louca, uma pintura caótica, programas de TV e filmes cheios de violência e uma literatura de informação.
Por isto as almas sensíveis tentam não submergir nessa loucura e fogem desta arte buscando no passado o que foi bom, e enchendo os olhos das imagens, os ouvidos dos sons, enfim, mergulhando a mente e o coração na natureza.
Não sei dizer se isto é imitar a avestruz que, dizem, se esconde enfiando a cabeça em um buraco.

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