terça-feira, 20 de abril de 2010

Poucos ligam


Arte universal é aquela que "se apega fortemente aos dados singulares de sua época e de sua terra". O pintor Pieter Brueghel (1526-1569) foi um artista desse tipo e retratou a Holanda de seu tempo e com isto fez uma obra que impressiona os observadores de todos os séculos e lugares. "Sua cosmovisão burlesca ironiza tudo o que faz suportável o ofício de viver. Mesmo ao registrar as festas populares, as brincadeiras das crianças e os atos religiosos Brueghel mostra homenzinhos que parecem atuar compelidos por uma força superior a eles e que os comanda independentemente de suas vontades".
Me impressiona o quadro A Procissão ao Calvário onde "numa desolada paisagem, vigiada por enormes pás de um moinho que quebra o horizonte, o Cristo está caído com a cruz, mas a vida segue. O acontecimento solene é confrontado com outras atividades desempenhadas por centenas de figuras imersas em suas ocupações diárias".
Este quadro é uma afirmação de que a vida continua e passa por cima dos sinais mais sagrados. Imagine só por um instante: Jesus um profeta com poucos seguidores está sendo pregado num madeiro como um criminoso político. Para sua mãe e alguns homens e mulheres aquele homem santo que fez coisas prodigiosas ante seus olhos está sendo sacrificado pelo mundo insensato. Mas lá na cidade de Jerusalém os comerciantes oferecem seus produtos, os homens das leis se atarefam para resolver questões jurídicas, médicos atendem doentes, donas de casas cuidam dos afazeres domésticos, tudo segue igual, mesmo que ali perto estejam matando um enviado especial de outro reino. Mas a humanidade é assim em tudo, poucos ligam para o que é mais importante para eles. Mas os que vêem têm de continuar avisando.

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