sexta-feira, 30 de abril de 2010

Vivendo o presente


"Eu sou para sempre possuidor do presente; ele me acompanhará como sombra por toda a eternidade; por conseguinte é inútil que procure donde vem o presente e como acontece que existe precisamente neste instante."
Estas palavras foram escritas por Schopenhauer e envolvem um pensamento muito bom de se refletir. Leia o que ele diz mais sobre o EU.
"Antes de mais nada é preciso que nos convençamos de que a forma da vida ou da realidade, é o presente, e não o futuro, nem o passado. Ninguém vive no passado e ninguém vive no futuro; o presente, somente ele, é a forma exclusiva da vida, propriedade certa".
Tanto que os que cuidam da sanidade mental nos aconselham: não fique remoendo o teu passado nem se atormente com o teu futuro. Mas foi este filósofo que nos mostrou a razão. Eu e você somos, existimos agora, só neste momento. Exemplo: um dia desses, mexendo em velhos documentos vi a foto de um jovem sério numa ficha de apresentação para o exército; olhei-o bem, era eu, mas não sou eu de agora.
"O nosso próprio passado, ainda o mais próximo, o dia apenas transcorrido, não é mais que um sonho vácuo da imaginação, e nada mais que isto".
Então, me fizeram mal? De modo algum, se alguém traiu, maltratou ou deixou de dar amor não foi a mim, foi a uma pessoa que viveu no passado. Vivo aqui e agora e, racional e emocionalmente, não posso carregar o fardo de quem já passou. É difícil desvincular essas pessoas? Então veja o argumento de Schopenhauer:
"É preciso que se pergunte a si próprio, como sucede que ele, interrogador, tenha a graça de possuir tal presente tão precioso, tão fugitivo, o único real; e por que razão tantos sábios e heróis doutros tempos não podem viver esse momento histórico em que o EU insignificante, em realidade existe? - ou, em palavras mais breves e bizarras, deverá perguntar-se a si mesmo, por que esse presente, o seu, existe precisamente neste momento e não tenha já existido há muito tempo".
Refletindo, ele vai mais longe e nos faz ver o seguinte:
"Admita, há, a bem dizer, dois presentes, dos quais um pertence ao objeto e outro ao sujeito e maravilhe-se do afortunado acaso que os fez coincidir. Mas na realidade o que constitui o presente não é mais que um ponto de contato entre o objeto, de que o tempo é forma, e o sujeito".
Foi exatamente isto que o mestre Jesus nos ensinou, quando disse: "Por que se preocupar com o dia de amanhã, pois cada dia tem o seu próprio mal".
Vivo em cada, cada dia. E não faz muito tempo que aprendi isto.

Conhecer coisas novas


"Com o fim de nos enganar a nós mesmos, preparamos às vezes precipitações aparentes, que são, no fundo, atos secretamente premeditados. Porque não há pessoa que melhor enganemos e adulemos com artifícios sutis, do que a nós mesmos".
Ah, eu que penso estar certo! Será que se manter ignorante e ir enfiando os pés pelas mãos é desculpável? Schopenhauer lembra que o não conhecer bem um assunto nos pode levar a coisa pior do que estar errado, a condição de tolo.
"Mas pode suceder que demasiada confiança em outrem, ou ignorância sobre o valor relativo dos bens da vida, ou ainda algum dogma abstrato podem decidir-me a agir mais egoisticamente do que o que é conforme ao meu caráter. O arrependimento, portanto, é sempre resultado de um conhecimento mais preciso".
Então, não ler, não ter curiosidade de saber mais sobre um assunto pode nos fazer errar e, mais perturbador, nos fazer de bobos. E, sem uma nova informação que nos acrescente, é impossível o arrependimento, não o voltar atrás, o que está feito é irremovível, mas podemos mudar nossa maneira de ver e não mais agir ou desejar o que nos parecia certo e agora parece indigno.
Em tempo, não pense em aprender mais num livro só ou com um homem só, abra o leque de opções, ouça opiniões alheias.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Explicando o que sinto


Shopenhause foi um importante pensador que moldou o entendimento de muita gente. Moldou é a palavra certa já que, no seu entender ela trabalhou no que já existia no coração de seus seguidores.
"Na minha opinião a filosofia é sempre teórica; porquanto, o que está na sua essência, qualquer que seja o objeto da sua investigação, é manter-se exclusivamente no terreno da observação e da análise, e não no de ditar preceitos. Querer guiar a conduta e reformar os caracteres são pretensões que já viveram o seu tempo; em nossos dias, educada pela experiência, a filosofia deveria pôr à margem tais pretensões; pois que, quando se trata do valor ou da nulidade da existência, da salvação ou da perdição, não serão certamente as frias abstrações da filosofia as mais próprias a fazerem lastro na balança, senão que aquilo que para isso concorre é a própria natureza do homem, o demônio que o dirige sem se ter imposto, o qual, foi o próprio homem que chamou sobre si, como diz Platão, ou seu caráter inteligível, como diz Kant".
Repito o que já disse outras vezes: diferente da religião que se propõe formar caráter, a filosofia busca entender onde o ser humano está na corrente do tempo, quanto progrediu em seu caminho para a luz.
"A filosofia não pode fazer outra coisa que não seja interpretar e explicar aquilo que é; ela deve dar à Razão o conhecimento claro e exato da essência do mundo, que sob forma concreta, ou seja no domínio do sentimento, todos compreendem às mil maravilhas; mas tal interpretação quer ser apresentada sob todas as relações e sob todos os pontos de vista".
Por isto insisto em ler o que estudaram os pensadores e comentar com você o que deduzo do que li.
- Por quê?
- Nâo sei.
- Será orgulho ou falta do que fazer?
- Ou prazer de compartilhar? Pode ser também, não acha?

terça-feira, 27 de abril de 2010

Querem me fazer crêr


Estou lendo o livro Shibume pela terceira vez e vejo que da segunda marquei este trecho: "Trata-se de um lugar comum na política americana afirmar-se que nenhum homem que vence uma eleição a merece". E desta vez marquei o seguinte: "Um consórcio das maiores empresas de petróleo, comunicação e transporte controla efetivamente a energia e a informação no mundo dando forma àquilo que as massas consideram a verdade".
Quando o presidente Obama ganhou o Nobel da Paz, ainda no início de seu governo e sem ter mostrado efetivamente se é um homem pacífico ou outro norte-americano que se acha juíz do mundo, os que estão vigilantes pensaram: o que os formadores de opinião estão querendo nos impingir? Estavam tentando nos preparar para a invasão norte-americana no Irã nos fazendo pensar que se um homem que ganhou o prêmio Nobel toma esta atitude é a melhor para todo mundo?
Nos fazer pensar de certa maneira, segundo opiniões que vêm de outra culturas, pode ser mais um obstáculo em nosso crescimento espiritual. Então, precisamos manter nossa mente liberada para criticar e julgar, isto se consegue mantendo os princípios éticos bem nítidos em nossa mente. É uma luta, mas se vencermos o mundo daremos um passo grande em nossa ascensão.

sábado, 24 de abril de 2010

Sou ou não sou bom?


Ainda Arthur Schopenhauer (1788-1960) e sua visão pessimista do mundo que nos envolve. No livro O Mundo como Vontade e Representação ele diz: "A única maneira verdadeiramente filosófica de considerar as coisas, a maneira que nos ensina a conhecer-lhes a essência e que nos conduz para além do fenômeno, é precisamente aquela que não se preocupa com saber donde vem o mundo, para onde vai ou porque existe, mas examina unicamente aquilo que é".
Para ele não existe um projeto nem um objetivo no mundo; aliás Deus lhe é desconhecido. Sua filosofia serviu de base para os biólogos materialistas e, o que ele chama "vontade", estes denominam "necessidade".
"A vontade, considerada puramente em si mesma, é inconsciente; é uma simples tendência, cega e irresistível, a qual encontramos tanto na natureza do reino inorgânico e do vegetal e nas suas leis, como também na parte vegetativa da nossa vida: mas se desenvolveu pelo uso, e adquiriu a consciência do seu querer e reconheceu que aquilo que quer não é outra coisa senão o mundo e a vida; dizemos, por isso, que o mundo visível é a sua imagem ou a sua objetividade; e o que a vontade quer é sempre a vida, pois que a vida é a representação, a manifestação da vontade".
Não sei se este entendimento leva à um desrespeito pela vida ou, pelo contrário, à sua honra:
"Sendo a vontade a coisa em si, a substância, é a essência do mundo; e a vida, o mundo visível, o fenômeno, não sendo mais do que o espelho da vontade, segue-se daí que a vida acompanhará a vontade com a mesma inseparabilidade com que a sombra acompanha o corpo: onde houver vontade, haverá também vida, mundo".
Nem a raça humana nem parte dela foi ou é escolhida, é como diz no pessimista livro de Eclesiastes (cap 3 vers 19): "No fim das contas, o mesmo que acontece com as pessoas acontece com os animais". Ele diz assim: "Nesta ordem de idéias, certamente o indivíduo recebe a vida como um dom oriundo do nada e quando despojado do seu dom pela morte, ao nada retoma". Simples assim.
Apesar do que dizia, que a filosofia não forma um bom caráter nem gera monstros, é bem possível que suas idéias tenham alimentado os planos nazistas e tornado menos bestial queimar pessoas em fornos crematórios. Afinal, por este pensamento, todos voltamos ao nada, de uma forma ou de outra.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Poucos ligam


Arte universal é aquela que "se apega fortemente aos dados singulares de sua época e de sua terra". O pintor Pieter Brueghel (1526-1569) foi um artista desse tipo e retratou a Holanda de seu tempo e com isto fez uma obra que impressiona os observadores de todos os séculos e lugares. "Sua cosmovisão burlesca ironiza tudo o que faz suportável o ofício de viver. Mesmo ao registrar as festas populares, as brincadeiras das crianças e os atos religiosos Brueghel mostra homenzinhos que parecem atuar compelidos por uma força superior a eles e que os comanda independentemente de suas vontades".
Me impressiona o quadro A Procissão ao Calvário onde "numa desolada paisagem, vigiada por enormes pás de um moinho que quebra o horizonte, o Cristo está caído com a cruz, mas a vida segue. O acontecimento solene é confrontado com outras atividades desempenhadas por centenas de figuras imersas em suas ocupações diárias".
Este quadro é uma afirmação de que a vida continua e passa por cima dos sinais mais sagrados. Imagine só por um instante: Jesus um profeta com poucos seguidores está sendo pregado num madeiro como um criminoso político. Para sua mãe e alguns homens e mulheres aquele homem santo que fez coisas prodigiosas ante seus olhos está sendo sacrificado pelo mundo insensato. Mas lá na cidade de Jerusalém os comerciantes oferecem seus produtos, os homens das leis se atarefam para resolver questões jurídicas, médicos atendem doentes, donas de casas cuidam dos afazeres domésticos, tudo segue igual, mesmo que ali perto estejam matando um enviado especial de outro reino. Mas a humanidade é assim em tudo, poucos ligam para o que é mais importante para eles. Mas os que vêem têm de continuar avisando.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

A Criança é o Pai do Adulto


A importância decisiva da infância sobre a vida adulta é destacada por Freud nestas palavras (em espanhol): "el niño es el padre psicológico del adulto y... los acontecimientos de los primeros años tienen una importancia suprema para toda la vida posterior".
Schopenhause o disse com estas palavras: "las experiencias y adquisiciones de la infancia y la primera juventud llegarán a ser más tarde las características más señaladas del posterior conocimiento y experiencia. Así, los sólidos cimientos de nuestro conocimiento del mundo se forma en los años de la infancia más o menos profundamente: después es cristalizado y completado, pero no esencialmente alterado".
Por isto um pedófilo é um criminoso tão odioso, suas ações desvirtuam as potencialidades de um ser humano no nascedouro. Em um padre, um pai espiritual, a pedofilia é ainda mais danosa já que aquele que escolhe a vida do sacerdócio sabe que é responsável por mais do que esta existência, mas também pela elevação do ser espiritual por trás da criança. Seu duplo crime não pode ser acobertado pela hierarquia, seus pares, sacerdotes também, pois mesmo que o espírito defeituoso demonstre arrependimento os seguidores de Cristo têm de entregá-lo a César para ser punido em sua miserável vida carnal. Com Deus ele acerta depois.
É para ter medo: "O que você fizer a um desses pequeninos irmãos, foi a mim que você fez".

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Surfando nas palavras


Quando, há 6 mil anos, o ser humano percebeu que já estava guardando coisas demais no cérebro e precisava colocar esta memória em algum lugar, inventou a escrita. Ele olhava para a pequena tábua de barro e os sinais impressos ali se conectavam ao que estava em sua mente física. Desde então os sinais gráficos, as letras e os símbolos, para ser entendidos precisam se conectar com conhecimentos que estão na mente da gente.
Ferdinand de Saussure (1857-1913), linguista e filósofo francês fala deste encontro das imagens físicas e virtuais, assim (em espanhol):
“El acto de la comprensión supone una conciencia activa, una actitud como de sintonización con la actividad creadora, una respuesta psíquica adecuada. Este pensamiento, lector amigo, por su contenido unitario, y a ese contenido es al que el ojo de tu conciencia se va acomodando tácticamente a través del instrumental sintáctico y léxico, como el ojo de tu cuerpo se va acomodando a los objetos enfocados”.
Uma vez, lendo um livro passei por uma frase onde falava de uma tamarineira, então parei de chofre e pensei no velho pé de tamarindo ao lado da quadra de basquete em meu querido colégio São Gonçalo. Então refleti nas crianças que não tiveram uma tamarineira em suas vidas, ao passar deslizando por esta frase ela lhe diria menos do que disse a mim. É isto que atrapalha a leitura de um jovem que começa a surfar nas palavras, falta os símbolos corespondentes em sua mente. Tem remédio? Claro, é só continuar lendo e vivendo e,cada vez, as palavras nos dirão mais. Por isto é que depois de anos, ao abrir novamente um livro vemos (lemos) muitas coisas novas.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Vento de Mudanças


Cada geração chega com algum acréscimo sobre a anterior, se herdamos este adiantamento dos nossos pais ou se é devido ao nosso espírito que tem mais experiência a cada encarnação há divergências. Mas que este progresso é um fato lemos na obra do filósofo Arthur Schopenhauer:
"En el Espíritu del tiempo [Zeitgeist] de cada época hay un afilado viento del este que sopla a través de todas las cosas. Yo puedo encontrar huellas de ello en todo lo que se ha hecho, pensado y escrito, en la música y en la pintura, en el florecimiento de este o aquel arte: deja su marca sobre todas las cosas y sobre cada uno".
Os observadores das mudanças as comparam a um vento de viração, o espírito do tempo:
"En el siglo XIX, algunos temas generales eran muy frecuentes en el mundo de habla alemana, y ninguno de ellos más que el de la voluntad y la conciencia. Estos temas pueden haber alcanzado en Freud su máximo desarrollo, como algunos han sugerido, pero no tienen su comienzo en él ni tampoco en Nietzsche".
Parece que as complicadas conclusões de um filósofo são na realidade percepções do que uma geração já está pensando e sentindo e, por ser mais sensível, o pensador traduz científicamente o avanço que talvez ainda nem tenhamos percebido, mas que já borbulha em nossa alma.
Assim, sigamos nossa intuição pois ela é impulsionada pelo vento que trás novidades.

sábado, 10 de abril de 2010

Acrescente qualidades à vida.


Pense no tempo como um filme de cinema, cada momento um quadrinho. Mas veja, você, a um segundo atrás, era outro e este que és agora ainda é você. Como? O musicólogo francês Vladimir Jankélévitch (1903-1985) tenta nos dizer:
"Pois a situação concreta, aquilo que de real é efetivamente dado ao sujeito, é a vivência na temporalidade, na sucessão dos instantes que introduz no Eu algo como uma instabilidade constitutiva. Esta sucessão de instantes não se resolve na pura cronologia, isto é, ela não pode ser considerada como uma seqüência homogênea. Os instantes diferem qualitativamente e são vividos sempre no limite da diferença que mantêm entre si. Portanto, quando falamos do ser do sujeito, do si-mesmo é a esta diferença que estamos nos referindo. O repouso num estado permanente contraria esta variação que é o dado mais imediato de nossa vida".
Falou, falou e não respondeu: como?
"Como a temporalidade é fluxo qualitativo, a passagem de um a outro é sempre um salto. Não o percebemos no cotidiano, mas eventualmente nos damos conta disto nas crises morais, nas decisões, nos impulsos, ou seja, nas situações que requerem de nossa personalidade um empenho mais completo".
Bem, então o Eu em cada instante é o Eu anterior acrescido de algum dado histórico, que pode ser quase nada ou uma baita mudança.
"O mérito não é portanto forçosamente uma perfeição acumulável e como que um plasma substancial ou um lustro na superfície da pessoa. O mérito não se conserva, mas se recria com esforço a cada minuto do devir. Além do mérito farisaico, há portanto espaço para uma relatividade intensiva do movimento benevolente que faz prever a ordem do Tudo ou Nada, a escolha graciosa entre sim e não, existência e inexistência - a ipseidade, para dizer tudo".
Então Jankélévitch nos dá o seguinte conselho: "A intuição não é só um novo modo de conhecimento, mas um novo modo de ser e de união essencial com os outros seres. Ela traz respostas às perguntas feitas pela vida".
Então, enquanto nos movemos em cada quadro, cada instante da vida, se ficamos atentos aos sinais a nossa volta como chamadas a mudanças, estaremos sempre nos renovando, sendo outro em nós mesmos. Quer melhor uso do livre arbítrio!?

Novamente falando de filosofia


Palavras de Henri Bergson: "As questões que originalmente sempre moveram a filosofia, pelo menos desde Sócrates e Platão, foram: os meios de realização da felicidade humana, nas várias esferas que compõem a vida, tanto na contingência do presente quanto nas projeções que elabora a esperança humana de eternidade".
Então, pensadores de todas as épocas nos ajudaram na busca da felicidade, mas "Os grandes edifícios sistemáticos, com alicerces firmados em vários tipos de solos e construídos com os mais diversos materiais nunca deixaram de apresentar-se ao olhar retrospectivo da história como dotados de provisoriedade".
É o que a difere da religião que se enclausura em dogmas considerados verdades imutáveis. Mas esta acaba se distanciando dos fatos por causa de dos avanços do conhecimento humano: "É claro que a turbulência da história atua de forma decisiva neste processo de rever o passado e reverter as esperanças do futuro: a supremacia do tempo sobre todas as realizações humanas alerta para o risco de apaziguamento (ou engessamento)".
O tempo que rola muda tudo, sempre, e forja a história. Ora, a religião tenta negar as mudanças pela qual o ser humano passa dizendo: Deus é fiel, querendo dizer, ele não muda e o que dizia ser o certo continua afirmando ainda hoje. Com este pensamento estático esquecem que o que o Eterno sempre achou certo são princípios que revelados aos homens sempre se revestem do momento histórico, da transitoriedade.
A filosofia então, "quando a experiência da transitoriedade das ambições da razão
faz envelhecer a pretensão das soluções definitivas, abraça de novo, com falsa modéstia, a tarefa de construir as interrogações, mais do que as respostas".
Assim, não se acanhe, pergunte sempre.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

O Homem é a própria Liberdade


Este é um pensamento de Henri Bergson (1859-1941) no livro Ensaios sobre os Dados Imediatos da Consciência:
“Se a existência se define como temporalidade, se a realidade do Eu nos escapa por estar sempre adiante de nossa reflexão, o próprio fundamento do ser do homem deve ser pensado não em termos de uma essência fixa (racionalidade, linguagem, sociabilidade) mas como a transição contínua do fazer-se. Coincidir com a criação é criar-se".
Este filósofo ensinava que o comportamento do homem não pode ser reduzido a leis sociais já que é livre para se fazer sempre novo. Lendo isto me veio à mente o amigo João Bosco Reis contando que levando uma vida bem linear e pouco conectada com os sinais que o mundo lhe enviava, um dia aceitou o convite de mudar e criou um outro João, melhor dizendo, um novo João (pois não é que rejuvenesceu!).
Este exemplo confirma a sagacidade da filosofia bergsoniana:
"Ora, se a indeterminação do devir é liberdade, a identificação entre ser e tempo é a identificação entre ser e liberdade. O tempo é irreversível da mesma maneira que o homem é livre: essencialmente e totalmente. A liberdade não é algum atributo particular do homem - como se, além das várias propriedades que servem para definir sua essência (por exemplo, ser dotado de razão, ser feito para a vida em comum), o homem oferecesse esta particular característica suplementar de ser livre. A bem dizer, o homem não é livre nem essencialmente nem acidentalmente, ele é a própria liberdade, a liberdade em pessoa; todo liberdade e nada além de liberdade".
Isto não é magnífico!?

terça-feira, 6 de abril de 2010

TOME CUIDADO A VIDA NÃO ACABA FÁCIL


É perigoso infringir as leis e um risco terrível para a existência física maltratar a natureza. Ferir ou matar um ser imortal como nós, então, é fatal. Pior, atrai um sofrimento dolorosamente demorado.
Veja estes trechos do livro de Rubens Saraceni:
"Eu, às vezes, acordava com pesadelos horríveis. Eram lembranças amargas. Figuras vingativas se aproximavam de mim e tentavam me matar, isso durante o sono. Acordava transpirando muito e com o coração disparado. Isto foi se tornando rotineiro. Todas as noites eram pesadelos horríveis. Tinha medo de dormir e definhava a olhos vistos. Minha esposa começou a se preocupar com minha saúde.
_ Você tem que procurar um médico para ver o que é."
Um mal pisicológico danifica o corpo, mas este penar carnal não é nada. Veja o que revela o livro O Guardião da Meia-Noite mais a frente: "Não tinha mais noção do tempo. Sabia que estava trancado no quarto há muitos dias. Não sabia se era dia ou noite e nem conseguia me mover na cama. Sentia dores em todo o corpo. Lentamente uma lassidão foi me envolvendo. Acordei com pancadas na porta e com gritos que me mandavam abri-la.
_ Senhor, abra esta porta, por favor.
Ouvi também a voz de minha esposa pedindo-me que fosse abrir a porta. Animei-me com sua presença. Tentei me levantar, mas não consegui me mover. Estava paralisado pela fraqueza.
_ Vamos derrubar a porta _ falou alguém.
Por fim a porta foi derrubada. Vi meu sogro e minha esposa com alguns empregados. Quando entraram no quarto, taparam as narinas.
_ Meu Deus, ele está morto há dias _ falou ela.
_ Não estou morto querida. Ajude-me a me levantar, ainda posso caminhar, só estou muito fraco.
Ela olhava em meus olhos. Ainda falou:
_ É uma pena não ter se confessado antes de morrer...
Ela virou as costas e saiu do quarto. Eu gritava seu nome. Não era possível que ela fosse tão cruel a ponto de não me ajudar agora. Algum tempo depois, controlei-me afinal, era um direito dela não me ajudar. Eu a havia feito sofrer tanto e injustamente. Quando já estava conformado com a situação, levei outro susto. Dois homens com lenços no rosto entraram com um caixão tosco no quarto.
Tiraram a tampa e um comentou com o outro:
_ Quem diria, hem? Morrer desta forma.
_ Sim, deve ter sido horrível não?
_ É, morrer assim abandonado deve ser a pior das mortes.
_ Porque será que ninguém o ajudou?
_ Ouvi dizer que ele se trancou no quarto.
Comecei a xingá-los de todos os nomes chulos que conhecia, mas eles nem prestavam atenção em mim. Quando olharam novamente para mim foi para me segurar, um pelos braços e outro pelas pernas e enfiar-me no caixão.
_Não façam isto! _ gritei desesperado_ Cuidado, pois meus ossos doem muito.
De nada adiantaram meus gritos, fui jogado sem piedade no caixão. Puseram a tampa sobre ele e começaram a pregá-la. Continuei gritando, mas não ligavam para meus gritos. Logo, senti que era arrastado para fora do quarto. No mínimo iriam sumir comigo porque eu não podia reagir devido à fraqueza que se apossara do meu corpo. O caixão comigo dentro foi colocado no chão e comecei a ouvir o som do solo sendo escavado.
_ O que vão fazer comigo? Vamos, canalhas, digam o que pretendem!
Faziam-se de surdos, pois não respondiam às minhas indagações. Logo o barulho cessou e o caixão foi colocado no buraco, isto eu percebi claramente. Apesar de fraco, tinha todos os sentidos alertas.
Que horror! Começaram a cobri-lo com terra. Gritava por socorro e ninguém me ouvia. Já não conseguia orar a Deus. Sentia minha carne sendo devorada por vermes. Que horror! Eu os sentia andando por minha pele. Aquilo era algo que eu não havia imaginado. Sim, eu estava isolado em um caixão. Os vermes iriam me deixar igual a um cadáver, todo carcomido. As dores foram aumentando de intensidade. Mas o pior ainda estava para vir. Comecei a ouvir barulhos de algo roendo o caixão. O que seria? Ratos! Só podiam ser ratos! Sim, eles deviam ter cavado um buraco sobre o caixão. Eu me apavorei com a idéia.
_ Meu Deus!_ gritei eu _ Acuda-me !!!
Mas de nada adiantou meu pedido de socorro. Ninguém me ouvia, nem Deus. Senti caírem sobre minhas feridas, farelos de madeira apodrecida. Estavam quase furando o caixão, logo entrariam em seu interior. E isto aconteceu. Foi um horror!
Eles estavam famintos e eram muitos. Lançaram sobre mim com uma fúria indescritível. Eram dezenas deles. Sentia minhas carnes sendo arrancadas pelos dentes afiados. Aquilo era o inferno! Se ele realmente existia eu estava vivendo os seus horrores. Clamava a Deus que me matasse de uma vez. Não sabia como ainda estava vivo. Clamei e não fui ouvido. Desisti de clamar por Deus e pelos santos. Para que, se não era ouvido? Uma revolta intensa tomou conta de mim. A dor insuportável não era menor que o ódio. Odiava minha esposa, a tudo eu odiava. Maldita humanidade que permitia tal sofrimento a um ser humano".
Você vai dizer: "É ficção, já vi isto em filme. Depois da morte acabou!"
Certo, você pode pensar o que quiser, mas como dizia minha mãe: Prudência e canja de galinha não faz mal a ninguém. Eu, vou vigiar ainda mais os meus passos.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

O Resultado do Desvio de Conduta


Eu vos convoco a ouvir Édipo, o rei:
"Y a vosotros os encargo que cumpláis todas estas cosas por mí mismo, por el dios y por este país tan consumido en medio de esterilidad y desamparo de los dioses".
Assim foi na Grécia de antes de Cristo e ainda o é para a maioria das pessoas. Uma epidemia, um tissuname ou um terremoto violento acontecem como resultado de ações inumanas de uns tantos concidadãos, e toda sociedade, partícipe da culpa, [sim, pois desde um lixo que jogamos na rua ao prazer de ver cenas violentas ou bestiais nos colocam como parte da banda podre] passa a ser perseguido por forças naturais que cegas não distinguem entre os criminosos e os quase inocentes.
"Quién es aquel al que la profética roca délfica nombró como el que ha llevado a cabo, con sangrientas manos, acciones indecibles entre las indecibles? Es el momento para que contra él se precipite, armado con fuego y relámpagos, el hijo de Zeus. Y, junto a él, siguen terribles las infalibles diosas de la Muerte".
O que tem dominado a mente de homens e mulheres levando-os a praticar crimes horrendos? Onde ficou prisioneira a nossa consciência mortal onde por milhares de anos a experiência implantou um elevado código de ética? E até quando vamos relevar a ira dos elementos naturais?
Mas como escapar, o que fazer para sobreviver aos cavaleiros apocalípticos? O mestre Jesus apontou uma saída: Fugi para os montes!
Procure o seu que estou procurando o meu.