sábado, 27 de fevereiro de 2010

Talvez você diga que sou um sonhador


Augusto Cury é psiquiatra e um escritor razoável.
Como é que posso falar isso de um sujeito que já vendeu 7 milhões de livros? É que O Vendedor de Sonhos repete o que já se sabe. Vende tanto porque fala do que as pessoas estão pensando agora. "Peço-lhes que ampliem os horizontes da mente para respeitar e exaltar sua condição de seres humanos. Meu maior sonho é formar uma rede de humanos sem fronteira em todas as nações".
Lembra? John Lenon cantou isto mesmo.
"Imagine todas as pessoas vivendo a vida em paz.
Talvez você diga que sou um sonhador, mas não sou o único"
É sempre importante ter alguém repetindo com outras palavras o que o mestre Jesus disse: "Meu reino não é deste mundo" e "Amai-vos como eu vos amei". É simples assim e não acrescente nenhum, mas...
Então, o personagem de Cury cita três princípios: "temos o compromisso vital de defender a espécie humana e o meio ambiente, apoiar toda forma de inclusão (lembra Francisco de Assis? 'onde houver discórdia que eu leve a paz') e respeitar e apoiar o diferente".
Será que ainda não está no momento de se viver assim?
Me lembro de um trecho do livro de santo Agostinho, Cisdade de Deus. O sumo sacerdote da religião pagã romana, Volusiano, tendo fugido para Cartago quando Roma foi saqueada por Alarico culpou os ensinamentos do mestre galileu, que se espalharam pelo império, como responsável pelo sucedido (está em espanhol): "de ninguna manera convienen al Estado la predicación y la doctrina cristiana, porque ensina como no devolver a nadie mal por mal, presentar la otra face a quien te abofetea en la derecha, dejar también el manto a quien quiere litigar contigo para arrebatar la túnica y caminar dos millas con quien te ha contratado para una. Tais ensinos son nefastos para la conducta del Estado, y se oponen al bien de la República. Si el enemigo arrebata una provincia del Imperio, ¿habrá que renunciar a reconquistarla
con las armas? Si han sobrevenido tales desventuras al Estado, es evidente que la culpa la tienen, los emperadores cristianos por observar la religión de Cristo".
Como diz no livro de Cury: "Os líderes, políticos e empresários, pensando como bons humanos solucionariam em um mês dois terços dos problemas da humanidade".
- Ah, isto eu já sabia!
Então faça e fale para os outros. Eu vou.

Será que nunca a aprenderão?

Deus me permitiu ter, e me esforço bastante para consegui-los, muitos amigos.
Porém, me empenho mais ainda para ter Sabedoria. Não é fácil adquiri-la. Já em Provérbios (1:20-22), na Bíblia, diz: “Escutem! A Sabedoria está gritando nas ruas e nas praças: Gente louca! Até quando terão prazer em zombar da Sabedoria? Será que nunca a aprenderão?”
Lendo Solilóquios, de Aurelius Agostinho, me deparei com uma importante relação: amigos e Sabedoria. Neste livreto o mestre dialoga consigo mesmo. Vou te mostrar um pedaço:
“- Agora me diz; por que queres que permaneçam contigo teus amigos?
- Para buscar através do companheirismo desinteressado o conhecimento de Deus e da alma. Juntos, aquele que chegasse primeiro à verdade anunciá-la-ia aos outros.
- E se teus amigos não quiserem dedicar-se a esta busca?
- Eu lhes darei razões para procurar a Sabedoria.
- E se eles não puderem buscá-la, talvez porque imaginem já a conhecerem, ou por acharem ser impossível encontrá-la ou por terem outras preocupação e necessidade?
- Então aproveitarei da convivência deles da melhor forma possível.
- E se com sua presença eles te desviarem da busca da Verdade preferirás ficar com eles?
- Certamente que não!
- Logo, estás querendo a companhia deles como um meio de alcançar a Sabedoria.
- Penso que sim.
- E se tiveres certeza de que teu modo de vida é um obstáculo ao alcance da Verdade, vais querer prolongá-lo?
- Absolutamente, procurarei com todas as forças abandonar os maus hábitos”.
Quer um discurso mais claro? E voltando aos Provérbios (4:7): “Para ter Sabedoria é preciso primeiro pagar o seu preço. Use tudo o que você tem para conseguir a compreensão”.
Na foto levando reciclados para a APAE

Procurando a cura

Ainda o Dr. Jung:
"Por trás de tudo o que fazemos está uma filosofia geral; uma dessas, ainda bem viva, é a religião. Talvez não saibas mas a cristandade está por trás de inumeráveis tabus. Não podemos evitar a força dos costumes, eles não podem ficar fora de nosso caminho, mesmo nos dias modernos. Naturalmente, nada vemos de histórico naquilo que fazemos, mas nossa linguagem está cheia das coisas mais extraordinárias das quais não estamos conscientes. Por exemplo, quando dizes, "eu estou sob o tratamento do Dr...", estás usando a palavra latina trahere, que significava puxar; o doutor está te puxando da morte através do buraco do renascimento, e quando ele te traz inteiro e são, dizes: "O doutor me trouxe de volta". Houve uma clínica pré-histórica na Cornualha, a Menanthole, que era uma enorme laje de pedra com um buraco através do qual os pais puxavam suas crianças, e supunha-se serem curadas pessoas doentes daquele modo. Eu mesmo passei pelo buraco. E na Alemanha, no século dezenove, tinham o costume de fazer um buraco na parede atrás da cama dum homem doente, quase a morte, e puxá-lo através dele para fora, para o jardim, para um renascimento. Não te iluda, somos dirigidos por comportamentos humanos que há muito foram esquecidos, não fazem parte de nosso consciente, mas estão bem vivos nas antigas memórias do inconsciente".
A pedra furada da foto fica no caminho de Barcelos (a região portuguesa do galinho da chuva) rota da peregrinação de Santiago de Compostela. Veja o blog do amigo português que não consegui descobrir o nome: http://refoista.blogspot.com/2007_09_01_archive.html

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

A vida passa ligeira


Andando com Malu às vezes fico pensando no tempo que ela tem de vida. Seguindo a minha frente olha um jardim pela grade do portão ou cheira alguma coisa no chão, enquanto penso no que a veterinária falou enquanto a acariciava em cima da mesa de exame: Malu já tem sinais de velhice aparecendo. Ela corre para conversar com outro poodle de pelo muito alvo e gravatinha na linguagem de grunhidos e muito movimento do rabinho. Imagino que depois dela ter partido vou recordar cada coisa que ela faz. Torço para que ainda fique uns dez anos com a gente. A morte (não a nossa, sempre pensamos na dos outros) é mais terrível pela perda que nos causa. É como um salteador que nos aborda na rua e leva algo que nos é caro. Mais do que raiva dele sentimos é a perda, a fragilidade dos bens materiais, e percebemos muito sentidos como nada dura para sempre.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Sejamos um bom ouvinte


Pode-se perceber bem os reais interesses de alguém que nos importa "pela freqüência e intensidade dos chamados indícios de perturbações ou de complexos".
Leia o que o mestre disse no ensaio Energia Psíquica:
"Entendemos como tais indícios os fenômenos peculiares ao processo psicológico que durante a análise surge livre das condições de experimentações. Freud descreveu grande parte destes fenômenos: os erros de linguagem, os lapsos de escrita e de memória, mal-entendidos e outros atos sintomáticos. Acrescentem-se ainda os automatismos por mim descritos, como sejam as "fugas de idéias", as "fascinações", o "falar desproposital", etc. É possível determinar o emocional da pessoa pela intensidade destes fenômenos, isto é, medindo sua duração, o tempo de que ela necessita para falar de certos assuntos. Isto nos mostra precisamente o quanto as coisas ditas acessórias são importantes para ela. O observador deve guardar-se de considerar arbitrariamente tais digressões acessórias como tolices sem importância. Pelo contrário: para que possa determinar os valores reais dela temos de perceber a importância que ela lhe dá. Se uma paciente, por ex., desperdiça seu tempo queixando-se de sua empregada, em vez de ir diretamente ao conflito principal, que o médico talvez tenha divisado de maneira totalmente correta, tal fato indica que seu complexo de empregada tem um valor energético presentemente maior do que o conflito porventura ainda inconsciente, ou que o fator inibitivo é resultante da posição altamente valorizada destas questões o que mantém o elemento central ainda no inconsciente, graças a uma supercompensação". Difícil, mas Jung sabia das coisas.
Então, quando alguém fica falando no ouvido da gente toda vida sobre uma coisa que nos parece sem importância e que pensamos estar desperdiçando nosso tempo, é hora de nos tocarmos de que ela está nos dando uma importante dica do que anda lá pelo seu íntimo. Assim, vamos ser um bom ouvinte o que será proveitoso para nós e para ela.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

She, quando ela pode


Estou lendo um livro com um título curtinho, SHE.
Robert A. Johnson é um psicanalista da linha junguiana e explora as incompreensíveis atitudes das mulheres sob a ótica de um personagem da mitologia, Psique. A lenda conta que esta bela princesa era perseguida pela ciumenta deusa do mar, Afrodite. Robert explica que a mulher luta com esta força ligada a maternidade o tempo todo agindo muitas vezes de um jeito que maltrata o homem e outras mulheres sem conseguir se controlar.
Na história, a bela princesa casa com Eros que lhe oferece uma vida muito boa exigindo, porém, que não o veja, quando estão juntos ficam na escuridão. Robert ensina que esta é uma atitude comum no homem, sustenta a mulher, mas não a quer se metendo no que ele faz. Seu desejo é um relacionamento superficial, como dos nossos ancestrais brutos, uma "trepada" e tchau.
O mito conta então que suas irmã insistem na necessidade dela conhecer o marido - vai que seja um monstro - e a aconselham a se munir de uma faca e de uma lamparina. A interpretação é que a mulher parte para conhecer o marido com estes dois instrumentos e ao invés de usá-los na ordem lógica, primeiro a luz para ver como ele é e logo a faca para cortar-lhe a cabeça se for um mau sujeito, o lado tempestuoso dela já começa agredindo. Mesmo sem saber se ele fez com má intenção ela já chega rasgando.
Então, o ensino deste conto mitológico é: o homem deve aguentar sua mulher porque ela não sabe por que está batendo, mas a gente desconfia da razão de estar apanhando.

Olha a cabeleira do Zezé


"É por isso que as pessoas preferem uma persona segura: 'este sou eu'; caso contrário, elas não sabem quem realmente são. O principal medo que temos do inconsciente é o de esquecermos quem somos".
Estas são palavras de Carl Gustav Jung em um seminário nos idos de 1923. Por isso é tão importante o carnaval, podemos agir como outra persona sem ficarmos comprometidos com o que fazemos e, desta forma, vivenciamos um outro jeito de viver que nesta vida não estamos autorizados a experimentar. Estas outras maneiras de ser estão todas em nosso inconsciente, o "coletivo", segundo Jung: "Um ser humano tem todas as tendências dentro de si, como todos temos". É isto que se chama efetivamente catarse, mas há outras formas. Jung diz assim: "O teatro é o lugar da vida irreal, é a vida em forma de imagens, um instituto psicoterapêutico onde os complexos são representados; lá é possível ver como estas coisas funcionam. Os filmes são bem mais eficientes que o teatro; são menos restritos, capazes de produzir símbolos espantosos para mostrar o inconsciente coletivo, já que seus métodos de apresentação são tão ilimitados". Quando nos identificamos com o personagem na tela - um aventureiro bem humorado como Harrison Ford em Indiana Jones, ou uma mulher enrolada e insegura do tipo que Renée Zellweger representa em Bridget Jones, ou ainda um sedutor, aproveitador, mas responsável, como Rhett Buttler representado por Clark Gable em E o Vento Levou - é porque temos todos este scripts dentro de nós e sentimos o agradável prazer de viver de novo daquele jeito.
Estas vidas estão em nosso inconsciente porque foram vividas por nossos antepassados e estão gravadas em nosso DNA ou foram vidas que vivenciamos como ser espiritual e estão gravadas em nossa alma ou perespírito. Você decide.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Já ouviu falar em "catch up"?


Ah, não venha me dizer que comeu isso agora mesmo!
"Catch up" quer dizer "tentar alcançar quem está na frente", igual a mim pedalando com Jorginho, o ex-gordo, é "correr atrás do prejuízo".
Aprendi isto lendo um artigo de Yoshiaki Nakano, direitor da escola de Economia da FGV.
"Marx, no prefácil de O Capital afirma: 'O país industrialmente mais desenvolvido mostra ao menos desenvolvido a imagem do próprio futuro'. Na distância que separa os dois situa-se o fenômeno do desenvolvimento."
Pode não parecer, mas isto tem muito a ver com o crescimento espiritual da gente.
"Os países retardatários não deveriam saltar etapas, mas poderiam abreviar o caminho aprendendo com os mais avançados". Os obstáculos são: "Celso Furtado diagnosticou que nossa situação histórica de subdesenvolvimento apresenta patologias" como a escravidão e o jeitinho de driblar as leis de confisco do país colonizador. Até hoje um deputado, muitas vezes bem instruído, mete a mão no dinheiro do povo, que o escolheu como defensor de seus interesses, porque esqueceu que o grito da independência foi dado a quase duzentos anos. Pois é, o safado esquecido pensa que é um Tiradentes, só que escamoteando "o quinto" para o próprio bolso. Uma cambada que ao invés de se elevar em espírito vai cada vez mais "pras profundas". Mas estou divagando.
Para "chegar lá" (hoje estou abusando de expressões idiomáticas) a nação tem de construir duas instituições: "O moderno estado nacional com direitos sociais, civis e políticos, isto é, a verdadeira conquista da cidadania pela sua população, que passa a ser fonte última de poder; e um mercado capitalista eficiente e competitivo". O primeiro quesito é uma elevação espiritual, o indivíduo que se torna livre e poderoso, o segundo pode não ser. O capitalismo faz o ser humano ter, mas nem sempre ser. Para me elevar tenho de SER sempre melhor. Quer dizer, tenho que alcançar com minha bicicleta a Jorginho, o magro, na sua "magrela".