sábado, 17 de outubro de 2009

Criando com o inconsciente


Quando se fala dos anos de trevas que cobriram a Europa até quase o ano mil surgi uma pergunta: o que travou o conhecimento já que em todos os tempos o homem foi um grande buscador de respostas? Carl Jung, em uma conferência levanta a seguinte explicação:
“Os homens antigos não possuíam o pensamento lógico, simplesmente porque não podiam produzir o mesmo tipo de raciocínio abstrato que podemos produzir. Deve ter havido um longo período de tempo antes que nossas mentes fossem treinadas para produzir uma condição abstrata de mente sobre e contra as tentações dos sentidos e emoções. Em assuntos técnicos os antigos nunca poderiam sustentar um pensamento abstrato por qualquer período de tempo, eles sempre eram interrompidos pelo instinto de travessura. Nós vemos isto em velhas máquinas construídas até 1820; em uma velha bomba, por exemplo, os eixos eram colocados sobre duas colunas dóricas; e certas máquinas eram construídas no estilo rococó - perfeitamente ridículo. Isto é travessura; e quanto mais travessuras se faziam, é claro, menor era a chance de que a máquina fosse eficiente. Eles pararam na curiosidade que agradava aos seus sentidos, de modo que nunca chegaram a qualquer espécie de seriedade no pensamento”.
Aqui ele falava do pensamento racional, mas o que dizer do poderoso inconsciente?
“O inconsciente é aquilo que não sabemos, mas está guardando dentro da gente. Vocês podem dizer que perceberiam se estivessem muito aborrecidos com alguma coisa, mas há situações nas quais vocês não conseguem percebê-lo, preferem pensar que estão doentes. Há situações em que não temos condições de admitir a verdade, ela pode ser demasiadamente contra nossos interesses; nós não podemos admitir a verdadeira natureza de nossas emoções, ela nos parece chocante”.
Ora, se usando o inconsciente teríamos capacidade de analisar nossas emoções e até nos curar, porque não desenvolvemos o uso desta capacidade que nos tornaria mais capazes? Ele diz:
“Nossa consciência é voltada para aquilo a que chamamos mundo visível. De modo a mover-se no mundo nós precisamos de certa atitude ou persona, a máscara que pomos frente ao mundo. Pessoas com uma persona muito forte têm faces muito parecidas com máscaras e para os outros parecemos bem misteriosos. O que vemos do mundo está distante da realidade, é meramente a superfície; nós não olhamos para dentro da substância do mundo, para dentro daquilo que Kant chamou de "a coisa em si", o inconsciente das coisas, e como tais são desconhecidas para nós. Portanto, para entendermos plenamente as coisas nós precisamos da outra metade do mundo, o mundo da sombra, o lado de dentro das coisas. Agora, se eu tenho uma pele de adaptação para o mundo consciente, eu devo ter uma para o mundo inconsciente também. A anima é a adaptação do homem às coisas desconhecidas ou parcialmente conhecidas. Foi muito tardiamente que eu cheguei à conclusão de que a anima é a contraparte da persona, e sempre aparece como uma mulher de certa qualidade porque ela está em conexão com a sombra específica do homem. Não há nada em nossa civilização que não tenha estado primeiro em nossa imaginação, em nossa fantasia; mesmo casas e cadeiras existiram, primeiro, na imaginação do arquiteto ou projetista. A Guerra Mundial só aconteceu quando muitas mentes eram de opinião de que a guerra iria acontecer e seria declarada na Sérvia, opiniões baseadas em uma percepção intuitiva. Como a crença comum de que haverá um Armagedon que iniciará no Oriente Próximo. Esta imaginação pode facilitar o começo de um conflito de grandes proporções. As fantasias são extremamente perigosas. Elas são parte de um inconsciente coletivo que consegue produzir grandes mudanças”. Mesmo quando usamos grande parte de nosso raciocínio do consciente não fazemos uso da poderosa força “que move montanhas” e que está no grande arquivo inconslciente.

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