segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Resgate da culpa


Já ouviu a história de Antígona, a filha de Édipo, o que matou o pai e casou com a própria mãe? Percebe em seu coração um mal estar só em ler sobre estes crimes? Faz lembrar as palavras escritas por Paulo, o apóstolo, aos cristãos: "Que tais crimes nem sejam mencionados entre vós", tal a gastura que nos causa. Mas nos jornais, de momento a momento, ouvimos de casos bárbaros onde um ser humano desafia as leis e a ira de nosso Senhor e engendra para si mesmo, para seus parentes e para sociedade uma culpa que causará muito dano até ser resgata por outra ação contrária, heróica e exemplar. Foi o que fez Antígona.
O irmão mais moço se bandeou para outro povo e veio com o exército dele lutar contra sua cidade, Troade, a das sete portas. Morreu na batalha, e o rei Creonte, seu tio, emitiu um decreto proibindo seu enterro: "Ele deve ficar insepulto para servir de pasto para os cães e os urubus". Antígona não aceitou este decreto e foi ao campo de batalha untar o corpo do irmão com os óleos próprios de um funeral e cobriu-o com terra da melhor forma que pode. Guardas prenderam-na em flagrante delito e levaram-na ao rei Creonte. Ela foi julgada daquela forma parcial e rápida, comum sob governos ditatoriais, e foi condenada a morte.
Esta história é uma peça de teatro escrita por Sófocles, teatrólogo grego, quinhentos anos antes de Cristo. É uma tragédia e morrem quase todos os personagens. Impressionou-me uma fala do coro - nas tragédias gregas, além dos atores, o palco era dividido por um grupo que em uníssono comentava o desenrolar dos acontecimentos - que diz: "Triste é para uma família quando os deuses decidem castigá-la". É o que se vê toda hora no noticiário, uma bala perdida tirando a vida de alguém ou um incauto perdendo os bens ou a vida para um marginal que lhe cruza o caminho. Mais do que nunca é uma palavra poderosa, um mantra, as últimas palavras do Pai Nosso e que devemos repetir sempre: "Livra-nos de todo mal", amém.

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