domingo, 13 de setembro de 2009

É Gooooooll!


Um mega show de um grande artista pode encher o Maracanã, mas como o futebol enche vários estádios, no mesmo dia, pelo Brasil a fora? Que poderosa força leva multidões aos campos de bola?
Estou lendo o que o psicanalista Jung ensinou em um seminário, em 1928. Ele não falava de futebol, mas acabou explicando um poderoso arquétipo que está no inconsciente de todo ser humano. Leia o que ele disse:."Há um manuscrito do século doze no qual um teólogo da Faculdade de Paris, escreve: 'Há algumas igrejas onde até os bispos e arcebispos jogam bola com seus subordinados, embora pareça mais louvável não fazer uma tal coisa'. É interessante que estes jogos foram jogados 'para o consolo e recreação da alma'. E em outros jogos nas igrejas a bola depois de muito chutada era cortada em pedaços representando o ano passado. Outros textos falam de um velho costume da Páscoa no qual a "bola do ano passado", devia ser cortada em pedaços. É como se o ano que passou tivesse que ser desmembrado, de um modo que todos pudessem participar. Comparem também com a comunhão cristã, na qual deus é desmembrado e comido. Isto tudo está ligado com antiquíssimas cerimônias sacrificiais da primavera. Sendo uma cerimônia realizada na páscoa, que coencide com o fim do inverno nos países acima do equador, é bastante provável que a bola simbolize o Sol". Assim, um costume tão antigo quanto a existência dos homens,o jogo de bola fazia parte das tentativas de garantir a volta da primavera, as colheitas e a sobrevivência do grupo, e sem lembrar disto o mesmo anseio move multidões em direção aos estádios até hoje.
Ele disse mais: "Quando estamos prestando atenção a nossas transações conscientes, esquecemos que nosso inconsciente está reagindo ao mesmo tempo. Uma comunidade é um organismo, uma simbiose, e nós formamos uma espécie de organismo enquanto pensamos juntos; e se qualquer coisa perturbadora acontece dentro deste organismo, algumas mentes percebem o distúrbio e dizem 'olha lá'". Nos jogos de futebol a multidão sente como um homem só celebrando a vida sem fim.
Então Jung fala de outro jogo que tem similaridades com o futebol:
"A tourada já não promove um sentimento de comunidade. Nós superamos esse simbolismo, assim como superamos a idéia de redenção comendo a carne e bebendo sangue da vítima sacrificada; poucas pessoas hoje em dia sentem a emoção medieval quando estão comendo o corpo e bebendo o sangue na comunhão. Então a tourada como símbolo místico é antiquada, assim como muito do nosso simbolismo cristão. O touro é força natural, o animal não-controlado, que não é necessariamente destrutivo. Nós temos o preconceito cristão contra o animal no homem, mas um animal não é necessariamente mau, assim como não é bom. Nós somos maus, mas o homem não é necessariamente mau, porque ele também é bom. Se nós matamos o animal em nós, também matamos as coisas realmente boas em nós, não as coisas aparentemente boas. Esta é nossa única esperança - voltar a uma condição na qual sejamos corretos com a natureza. E o toureiro é o herói, porque ele é a única luz que brilha naquela escura massa de paixão e raiva, aquela falta de controle e disciplina. Ele personifica a perfeita disciplina. É preciso raça e ousadia, para viver no seio do barbarismo; se fraquejar em qualquer lugar, está acabado". Este é outro atrativo do futebol, o domínio sobre nosso lado animal e violento. No meio da disputa dura pelo domínio da bola (da vida) o melhor jogador é o que mantem suas emoções sob controle. A multidão assiste e cada um transfere para si o que vê em campo: a bola (a vida) rolando e o jogador(o herói), ele mesmo, conduzindo-a cheio de garra e emoções, mas controlando o lado irracional, e com talento faz o gol. Isto é o que todos que estão com os olhos pregados nele desejam, ser um vencedor.

Nenhum comentário: