sexta-feira, 25 de setembro de 2009

O cuidado com a Natureza




Muito tempo atrás os humanos se preocupavam mais com a natureza. Transcrevo aqui o diálogo entre dois caçadores - do livro Filhos da Terra, em espanhol - há 50.000 anos:
Jondalar sacó de la funda su cuchillo con mango de hueso y practicó un profundo corte en el cuello del animal. Sacó las lanzas y vio cómo la sangre se acumulaba en un charco alrededor de la cabeza de la yegua.
-Cuando vuelvas a la Gran Madre Tierra - dijo al caballo muerto - dale las gracias. - metió la mano en su bolsa y acarició la figurilla de piedra que representaba a la Madre, en un gesto inconsciente.
«Zelandoni tiene razón. - pensó - Si los hijos de la Tierra llegan a olvidar quién les da el sustento, podemos despertar algún día para descubrir que no tenemos hogar.»
Entonces aferró el cuchillo y se preparó a coger su parte de las provisiones de Doni.
-He visto una hiena al regresar. - dijo Thonolan cuando estuvo de vuelta - Parece que se va a alimentar alguien más, no sólo nosotros.
-A la Madre no le gusta el despilfarro - dijo Jondalar, bañado en sangre hasta los codos - Todo retorna a Ella de un modo u otro. Anda, ayúdame.
Muitos séculos depois os arqueólogos tem encontrado muitas estatuetas da Mãe Terra (Vênus de Willendorf). A imagem de uma mulher na qual só está bem esculpida a barriga prenhe de vida; os membros e a cabeça são apenas esboçados. Homens e mulheres a temiam pois ao ofendê-la - tirando uma vida na caça e desperdiçando ou destruindo a mata - ela lhes castigava tornando as fêmea, humanas ou animais, inférteis e os homens impotentes. Quer castigo maior? Creio que seríamos mais cuidadosos com as obras da mãe natureza se ainda tivéssemos este temor ainda hoje! Pensando bem, não será por nossa falta de cuidado com o ecossistema que os homens estão tão "broxados"?

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Resgate da culpa


Já ouviu a história de Antígona, a filha de Édipo, o que matou o pai e casou com a própria mãe? Percebe em seu coração um mal estar só em ler sobre estes crimes? Faz lembrar as palavras escritas por Paulo, o apóstolo, aos cristãos: "Que tais crimes nem sejam mencionados entre vós", tal a gastura que nos causa. Mas nos jornais, de momento a momento, ouvimos de casos bárbaros onde um ser humano desafia as leis e a ira de nosso Senhor e engendra para si mesmo, para seus parentes e para sociedade uma culpa que causará muito dano até ser resgata por outra ação contrária, heróica e exemplar. Foi o que fez Antígona.
O irmão mais moço se bandeou para outro povo e veio com o exército dele lutar contra sua cidade, Troade, a das sete portas. Morreu na batalha, e o rei Creonte, seu tio, emitiu um decreto proibindo seu enterro: "Ele deve ficar insepulto para servir de pasto para os cães e os urubus". Antígona não aceitou este decreto e foi ao campo de batalha untar o corpo do irmão com os óleos próprios de um funeral e cobriu-o com terra da melhor forma que pode. Guardas prenderam-na em flagrante delito e levaram-na ao rei Creonte. Ela foi julgada daquela forma parcial e rápida, comum sob governos ditatoriais, e foi condenada a morte.
Esta história é uma peça de teatro escrita por Sófocles, teatrólogo grego, quinhentos anos antes de Cristo. É uma tragédia e morrem quase todos os personagens. Impressionou-me uma fala do coro - nas tragédias gregas, além dos atores, o palco era dividido por um grupo que em uníssono comentava o desenrolar dos acontecimentos - que diz: "Triste é para uma família quando os deuses decidem castigá-la". É o que se vê toda hora no noticiário, uma bala perdida tirando a vida de alguém ou um incauto perdendo os bens ou a vida para um marginal que lhe cruza o caminho. Mais do que nunca é uma palavra poderosa, um mantra, as últimas palavras do Pai Nosso e que devemos repetir sempre: "Livra-nos de todo mal", amém.

domingo, 13 de setembro de 2009

É Gooooooll!


Um mega show de um grande artista pode encher o Maracanã, mas como o futebol enche vários estádios, no mesmo dia, pelo Brasil a fora? Que poderosa força leva multidões aos campos de bola?
Estou lendo o que o psicanalista Jung ensinou em um seminário, em 1928. Ele não falava de futebol, mas acabou explicando um poderoso arquétipo que está no inconsciente de todo ser humano. Leia o que ele disse:."Há um manuscrito do século doze no qual um teólogo da Faculdade de Paris, escreve: 'Há algumas igrejas onde até os bispos e arcebispos jogam bola com seus subordinados, embora pareça mais louvável não fazer uma tal coisa'. É interessante que estes jogos foram jogados 'para o consolo e recreação da alma'. E em outros jogos nas igrejas a bola depois de muito chutada era cortada em pedaços representando o ano passado. Outros textos falam de um velho costume da Páscoa no qual a "bola do ano passado", devia ser cortada em pedaços. É como se o ano que passou tivesse que ser desmembrado, de um modo que todos pudessem participar. Comparem também com a comunhão cristã, na qual deus é desmembrado e comido. Isto tudo está ligado com antiquíssimas cerimônias sacrificiais da primavera. Sendo uma cerimônia realizada na páscoa, que coencide com o fim do inverno nos países acima do equador, é bastante provável que a bola simbolize o Sol". Assim, um costume tão antigo quanto a existência dos homens,o jogo de bola fazia parte das tentativas de garantir a volta da primavera, as colheitas e a sobrevivência do grupo, e sem lembrar disto o mesmo anseio move multidões em direção aos estádios até hoje.
Ele disse mais: "Quando estamos prestando atenção a nossas transações conscientes, esquecemos que nosso inconsciente está reagindo ao mesmo tempo. Uma comunidade é um organismo, uma simbiose, e nós formamos uma espécie de organismo enquanto pensamos juntos; e se qualquer coisa perturbadora acontece dentro deste organismo, algumas mentes percebem o distúrbio e dizem 'olha lá'". Nos jogos de futebol a multidão sente como um homem só celebrando a vida sem fim.
Então Jung fala de outro jogo que tem similaridades com o futebol:
"A tourada já não promove um sentimento de comunidade. Nós superamos esse simbolismo, assim como superamos a idéia de redenção comendo a carne e bebendo sangue da vítima sacrificada; poucas pessoas hoje em dia sentem a emoção medieval quando estão comendo o corpo e bebendo o sangue na comunhão. Então a tourada como símbolo místico é antiquada, assim como muito do nosso simbolismo cristão. O touro é força natural, o animal não-controlado, que não é necessariamente destrutivo. Nós temos o preconceito cristão contra o animal no homem, mas um animal não é necessariamente mau, assim como não é bom. Nós somos maus, mas o homem não é necessariamente mau, porque ele também é bom. Se nós matamos o animal em nós, também matamos as coisas realmente boas em nós, não as coisas aparentemente boas. Esta é nossa única esperança - voltar a uma condição na qual sejamos corretos com a natureza. E o toureiro é o herói, porque ele é a única luz que brilha naquela escura massa de paixão e raiva, aquela falta de controle e disciplina. Ele personifica a perfeita disciplina. É preciso raça e ousadia, para viver no seio do barbarismo; se fraquejar em qualquer lugar, está acabado". Este é outro atrativo do futebol, o domínio sobre nosso lado animal e violento. No meio da disputa dura pelo domínio da bola (da vida) o melhor jogador é o que mantem suas emoções sob controle. A multidão assiste e cada um transfere para si o que vê em campo: a bola (a vida) rolando e o jogador(o herói), ele mesmo, conduzindo-a cheio de garra e emoções, mas controlando o lado irracional, e com talento faz o gol. Isto é o que todos que estão com os olhos pregados nele desejam, ser um vencedor.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

O dom das palavras


A palavra foi o começo de nosso caminhar, o jeito de juntar informações e passá-las adiante, aos outros. Quem lida com as palavras, as enfileira seguidinhas formando idéias, é uma pessoa especial. Quem lê as palavras, compreende o pensamento contido nelas, também ajunta por formar novas noções sobre a vida dos homens. Mas quem inventa palavras é um rei, um mestre. Reli Sagarana, um livro de contos de João Guimarães Rosa e a cada página fiquei maravilhado com seu dom de inventar palavras. No conto O Burrinho Pedrêz ele descreve um curral atochado de bois e nos faz ver o reboliço de animais apertados: “Alta, sobre a cordilheira de cacundas sinuosas, oscilava a mastreação de chifres. E comprimiam-se os flancos dos mestiços de todas as meias-raças plebéias dos campos-gerais com as cores mais achadas e impossíveis: pretos, fuscos, retintos, gateados, baios, vermelhos, rosilhos, barrosos, alaranjados, castanhos tirando a rubros, pitangas com longes pretos, listados, versicolores, turinos, marchetados, tartarugas variegados, araçás, zebruras pardossujas em fundo verdacento, ágata acebolada, nós de madeira e granito impuro”.
Me diga onde ele arranjou estes nomes para as cores do gado bovino encurralado. Por isso, quando criticando alguém questionar uma palavra que você usou: esta palavra não existe!, responda petulante: Fiz ela agorinha mesmo, fresquinha. E pronto.

A reta infinita


Os filósofos são homens e mulheres que tomaram para si a tarefa de refletir sobre a razão de existirmos. Ao invés de ver filmes, que estão cada dia mais vazios, gasto este tempo lendo os filósofos e aprendendo com eles.
Lendo Emanuel Kant me deparei com um intrincado pensamento que prova nossa infinitude. No livro Crítica da Razão Prática ele diz: "Ora, a conformidade completa da vontade para com a lei moral é a santidade, uma perfeição de que nenhum ser racional do mundo sensível é capaz de alcançar em qualquer momento de sua existência".
Ele continua desenvolvendo o raciocínio: "Penso que a proposição de não poder alcançar a conformidade completa com a lei moral a não ser num progresso que vá ao infinito é da maior utilidade".
Por que? "Na ausência dessa proposição ou se despojaria a lei moral de sua santidade fazendo-a benevolente" - quer dizer, por que punir o malfeitor se somos todos malfeitores? - "ou então se exaltaria sua missão até fazer dela um destino inacessível".
Daí, conclui: "A esperança da perfeição do homem viria de sua resolução e a partir do progresso já realizado desde um estado pior para um estado moralmente melhor, podendo esperar uma continuação ininterrupta deste progresso qualquer que possa ser a duração de sua existência, e mesmo para além desta vida".
Com isto concorda o padre Fábio de Melo no livro Quem me Roubou de Mim onde conclui ser um grande crime um cônjuge - ou outras relações que mantenham duas pessoas convivendo, como pai e filho ou patrão e empregado - impedir o crescimento moral do outro já que a missão do ser humano é ascender a perfeição de um filho de Deus e poder dizer cheio de alegria: Eu venci o mundo.
Assim, vemos que aqueles que gastam seu tempo pensando o que os humanos são e qual tem sido o nosso progresso, chegam à conclusão de nossa eternidade. O pensamento real é o que Glória Perez desenvolveu em sua novela Caminho das Índias: os erros e boas ações não se esgotam em uma geração, mas repercutem nos filhos e netos. Uma reta não é um começo e um fim, mas apenas um pedaço de uma curva infinita.

sábado, 5 de setembro de 2009

Dura Lex


Quando o presidente Luis Inácio em recente discurso declarou enfaticamente que os procuradores da República deviam zelar pela biografia tanto deles mesmos quanto da dos acusados me acudiu o que Emanuel Kant falou sobre a lei no seu livro Crítica da Razão Prática: "A razão prática causa prejuizo ao amor próprio pelo fato de apenas conceder-lhe os limites justos que correspondem a lei moral, estando, ainda antes da mesma se manifestar, natural e viva dentro de nós mesmos. Ela abate completamente a presunção, pelo fato de que todas as reivindicações feitas por nossa autoestima e contrárias a ela são nulas e ilegítimas, porquanto uma resolução em acordo com esta lei é precisamente a condição de todo o valor da pessoa".
Um cidadão que ainda está sendo investigado e julgado realmente ainda merece algum respeito. Acontece que a Justiça brasileira ainda está amarrada por burocracias processuais demoradas e um um homem indigno afronta a sociedade espalhando um péssimo exemplo. Assim a exposição pública de provas contundentes feita pela imprensa faz a sociedade prejulgar o indivíduo como um fora da lei e considerá-lo como indigno de qualquer respeito e talvez mantenha as engrenagens da Justiça se movendo.

Como diz Kant, "a lei é a própria causa da nossa liberdade e é assim digna de respeito e tudo que a contraria, a saber, as inclinações em nós ela enfraquece na medida em que ela abate e humilha; ela é o objeto do maior respeito".
A liberdade e a vida segura de cada cidadão é garantida pela lei, então temos de abaixar nossas cabeças e restringir nossa vontade diante dela e só levantarmos a cabeça diante da lei quando exigirmos que ela garanta nossos direitos. Um corrupto não pode andar de cabeça erguida no meio da sociedade.
O filósofo diz algo muito sério sobre nossa relação com a lei: "Há algo de tão singular na estima ilimitada para com a lei moral cuja voz faz tremer até o mais audacioso malfeitor indicando que este sentimento está inseparavelmente ligado a uma representação da lei dentro de todo ser racional finito e seria inútil tentar descobrir uma ligação entre este respeito e alguma coisa em nós. Não é nem da ordem do prazer nem da ordem do sofrimento o que, no entanto, produz em nós o interesse pelo cumprimento da lei".

É algo inerente no ser humano, como o impulso de adorar a Deus, temer a lei.