quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Confissões


Leia estas palavras de Jung em Interpretação dos Sonhos e perceba que idéia espetacular:
"A análise é análoga à confissão, e a confissão tem sido sempre coletiva e deve ser coletiva; não é feita para alguém em si, sozinho, mas para o bem da coletividade, por um propósito social. A consciência social de alguém está com problemas e força-o a confessar; através de pecado e segredo alguém é excluído, e quando confessa é incluído novamente. O que mais ocorre na vida com uma tribo primitiva é esse sentimento de estar na corrente da vida coletiva. Em circunstâncias primitivas pode-se discutir qualquer coisa, qualquer coisa pode ser dita a qualquer um. Quando um homem diz que sua esposa dormiu com outro homem, isto é nada - toda esposa tem feito isso. Ou se uma mulher diz que seu homem fugiu com uma garota de outra vila, isso é nada - todos sabem que todo homem tem feito isso. Estas pessoas não excluem umas às outras pelo segredo, elas conhecem-se umas às outras e assim conhecem a si mesmas, estão vivendo em uma corrente coletiva. Sente-se que nossas cidades são um mero conglomerado de grupos, cada homem tem seu próprio círculo, e não se aventura a revelar-se mesmo a este, ele procura esconder até de si mesmo. E é tudo uma questão de ilusão. Os assim chamados amigos íntimos não conhecem as coisas mais importantes uns a respeito dos outros. Um paciente homossexual disse-me quantos amigos ele tinha. 'Tenho cerca de cinco amigos íntimos'. 'Eu suponho que você é homossexual com seus amigos íntimos'. Ele ficou chocado com a idéia, ele esconde isso deles. Este esconder dos amigos destrói a sociedade".
Jung lembra que foi isto mesmo o que os apóstolos ensinaram: "confessem suas faltas, uns aos outros". Pode parecer impossível de se fazer, vai complicar tudo, mas não foi sempre o que aprendemos com nossa mãe: "a mentira tem pernas curtas"?
Mas o que Jung diz a seguir é uma condenação que vai parecer estranha:"Esta sociedade humana será novamente construída, depois do encerramento da era protestante, com sua idéia de que temos de viver sem pecado. A idéia da confissão sendo um dever coletivo é uma tentativa do inconsciente para criar a base de uma nova coletividade. Ela não existe agora".

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