quarta-feira, 29 de julho de 2009

Evangelho de Maria Madalena (fragmento)


Acabei de ler um livro apócrifo, o evangelho segundo Maria Madalena. É pequeno porque só foi encontrado um fragmento do manuscrito.

O ser humano sempre foi muito inventivo e nos primeiros cem anos depois da ascensão de Jesus alguns de seus seguidores escreveram o que se dizia sobre o Mestre e qo ue mais lhe tocava o coração, misturando estes ditos com seus próprios pensamentos. Lembre que não era fácil escrever naquele tempo, poucos sabiam ler e escrever e o material precisava ser preparado pelo próprio escritor: o estilete, geralmente um bambu fino com ponta que era molhada em tinta, e este líquido, preparado por ele mesmo, precisava ser uma mistura que aderisse e não soltasse do pergaminho que podia ser um pedaço de pano ou de couro bem delgado; não dava para sair de casa e simplesmente comprar na papelaria. Escrever uma história sobre Jesus ou qualquer outro tema exigia um forte desejo do candidato a escritor. Depois de pronta ele mandava o escrito para outro cristão, em outra cidade, que compartilhava de suas idéias - isto exigia encontrar alguém que estivesse em viagem para aqueles lados. Se este outro fosse tocado pelo que continha naquela missiva fazia, repetindo todo aquele trabalho, uma cópia e mandava para outrem. Só chegaram até nós, dois mil anos depois, os documentos que tinham muitas cópias e ainda assim faltando muitos pedaços.

No interim a igreja cristã já organizada escolheu durante o segundo século depois de Cristo as cartas que melhor expressavam o sentimento da comunidade dos seguidores de Jesus de Nazaré que estavam espalhados, desde a Judéia, para todos os pontos cardeais. Foram escolhidos quatro evangelhos e todos os outros foram considerados apócrifos, o que no entender dos bispos, cristãos proeminentes de então (preocupados em manter coeso os ensinamentos do rabi que a inventividade e as diferenças de personalidade estavam fazendo periclitar) significava esconjurar. Foi ruim para a humanidade? No meu entender foi o que tinha de ser, mas uma idéia fica incubada como um vírus ou, dizendo de outro modo, fica escondida como um tesouro até o tempo certo de despertar ou aparecer. É o caso do evangelho apócrifo de Madalena. Agora, em um tempo no qual as mulheres ganham destaque ou recuperam sua condição de liderança que desfrutaram na época em que o matriarcado era moda, muitos estudiosos começam a acreditar que Maria Madalena foi uma líder naquele primeiro grupo cristão, é o que diz este pequeno manuscrito. Nele está escrito as palavras derradeiras do Messias : "Quando o Filho de Deus assim falou, saudou a todos dizendo: 'A Paz esteja convosco. Recebei minha paz. Tomai cuidado para que ninguém vos afaste do Caminho, dizendo: 'Por aqui' ou 'Por lá', pois o Filho do Homem está dentro de vós. Segui-o. Quem o procurar, o encontrará. Prossegui agora, então, pregai o Evangelho do Reino. Não estabeleçais outras regras, além das que vos mostrei, e não as instituais como legislador, senão sereis cerceados por elas'. Após dizer tudo isso, partiu.
Mas eles estavam profundamente tristes. E falavam: 'Como vamos pregar aos gentios o Evangelho do Reino do Filho do Homem? Se eles não o pouparam, vão poupar a nós?' Maria Madalena se levantou, cumprimentou a todos e disse a seus irmãos: "Não vos lamentais nem sofrais, nem hesiteis, pois sua graça estará inteiramente convosco e vos protegerá. Antes, louvemos sua grandeza, pois Ele nos preparou e nos fez homens.' Após Maria ter dito isso, eles entregaram seus corações a Deus e começaram a conversar sobre as Palavras do Salvador.
Pedro disse a Maria: 'Irmã, sabemos que o Salvador te amava mais do que qualquer outra mulher. Conta-nos as palavras do Salvador, as de que te lembras, aquelas que só tu sabes e nós nem ouvimos'. Maria Madalena respondeu dizendo: 'Esclarecerei a vós o que está oculto'. E ela começou a falar essas palavras: 'Eu tive uma visão do Senhor e contei a Ele: 'Mestre, apareceste-me hoje...'".

E ela conta umas palavras estranhas diferente das que conhecemos ditas pelo Filho do Homem. O pequeno documentos conta que o mesmo Pedro discorda do que ela fala e diz não acreditar que o Mestre tenha lhe dito isto, porém Mateus defende a mulher e termina assim: "Levi respondeu a Pedro: 'Pedro, sempre foste exaltado. Agora te vejo competindo com uma mulher como adversário. Mas, se o Salvador a fez merecedora, quem és tu para rejeitá-la? Certamente o Salvador a conhece bem. Daí a ter amado mais do que a nós. É, antes, o caso de nos envergonharmos e assumirmos o Homem Perfeito e nos separarmos, como Ele nos mandou, e pregarmos o Evangelho, não criando nenhuma regra ou lei, além das que o Salvador nos legou.'
Depois que Levi disse essas palavras, eles começaram a sair para anunciar e pregar".
Bem este pequeno documento apócrifo não muda nada, mas me parece ser mais um avanço do ser humano no longo caminho que viemos percorrendo para nos conhecermos e entendermos a melhor forma de nos relacionarmos, especialmente com os do outro sexo.
Foi o que Madalena disse num trecho de discurso: "O que me subjugava foi eliminado e o que me fazia voltar foi derrotado..., e meu desejo foi consumido e a ignorância morreu. No mundo fui libertada de outro mundo; de um tipo fui libertada para um tipo celestial e também dos grilhões do esquecimento, que são transitórios. Daqui em diante, alcançarei em silêncio o final do tempo propício, do reino eterno'. Depois de ter dito isso, Maria se calou".

domingo, 19 de julho de 2009

Conhecendo as cercanias de um buraco negro


Estou lendo Conceito de Iluminismo, de Theodor W. Adorno. Logo no início ele explica o que é o Iluminismo: “O programa do iluminismo era o de livrar o mundo do feitiço”. Mais adiante ele diz que apesar do avanço que as pessoas sequiosas de respostas deram ao resto da humanidade ele admite que a maioria ficou impermeável as novas idéias levantadas. Uns por serem reacionários: “os adeptos da tradição que acreditam que outros sabem o que eles próprios não sabem” e, assim, se deixam levar por líderes tão ignorantes quanto eles. É o que Jesus disse: “Um cego guiando outro cego”. Outros porque são filhos da “credulidade, da aversão à dúvida, por pedantismo cultural, por receio de contradizer, por parcialidade, por negligência na pesquisa pessoal e pela tendência a dar-se por satisfeito com conhecimentos parciais”.
Estou falando da opinião de Adorno por causa do que soube traduzindo a revista Astronomia: a insistência dos cientistas em compreender os buracos-negros.
Os astrônomos conseguiram estudar o entorno de um enorme buraco negro nas profundezas do núcleo de uma galáxia ativa distante usando novos dados do Observatório Spaceborne XMM-Newton que não "ve" luz e sim detecta raios x. A galáxia conhecida como 1 H 0707-495 foi observada durante quatro períodos de 48-hora-órbitas do XMM-Newton em torno da terra, a partir de Janeiro de 2008. O buraco negro no centro da galáxia está parcialmente obscurecido por nuvens de gás e poeira, mas estas observações atuais revelaram as profundezas íntimo da galáxia.
Andrew Fabian, da Universidade de Cambridge na Inglaterra, que encabeçou as observações e a análise do material coletado disse: "Agora podemos começar a mapear fora da região imediatamente em torno do buraco negro,". Um enorme buraco negro é invisível porque não emite luz, mas pode ser notado porque produz uma quantidade imensa de Raios x. Átomos de ferro, entre outros elementos, emitem raios x com uma série de aspectos característicos: velocidade dos átomos de ferro em órbita, pela energia necessária para os raios X escapar do campo gravitacional do buraco negro e na vastidão em torno do buraco negro. Esses recursos deram aos astrônomos a capacidade de estudar os arredores que têm duas vezes o raio do buraco negro propriamente dito. O XMM-Newton detectou dois modelos das emissões brilhantes nos raios X de ferro refletido que astrônomos nunca tinham visto juntos em uma galáxia ativa. Esses modelos brilhantes são conhecidos como o ferro L e linhas de K e ficam tão brilhantes somente se houver uma alta abundância de ferro. Encontrar tanto nesta galáxia sugere que o núcleo é muito mais rico em ferro que o resto da galáxia. A emissão de raios-X varia em brilho com o tempo. Durante a observação, a linha de L de ferro foi brilhante o suficiente para que o observatório XXM-Newton seguisse suas variações. Uma análise estatística meticulosa dos dados revelou uma defasagem temporal de 30 segundos entre alterações na luz de raios-X observados diretamente e os vistos após sua reflexão no disco galático. Este atraso no eco ajudou os cientistas a medir o tamanho da região refletora, o que conduziu a uma estimativa da área em torno do buraco negro de 3 a 5 milhões de massas solares. As observações das linhas K dos raios x de ferro também revelam que o buraco negro é capaz de engolir o equivalente a duas Terras por hora o que ultrapassa o limite teórico da sua capacidade alimentação. A equipe continua a controlar a galáxia usando sua nova técnica. Fabian, diz: "O crescimento do buraco negro é um processo muito confuso devido aos campos magnéticos que estão envolvidos. Longe de ser um processo contínuo, um buraco negro se alimenta de seu entorno de um modo muito confuso."
A nova técnica permitirá que os astrônomos mapeiem o processo em toda a sua complexidade, tornando conhecidas regiões anteriormente invisíveis nas bordas deste e de muito outros enormes buracos negros.
Vale a pena um sujeito comum saber isto? Não sei.

sábado, 18 de julho de 2009

Suspendi minha assinatura do jornal.


Suspendi minha assinatura do jornal. Gostava de ler os articulistas, Arnaldo Jabour, Ancelmo Góes, Miriam Leitão e Arnaldo Bloch, mas depois de meses não se tem mais o que aprender com eles. Dizem que a existência ficou tão corrida que mesmo um cronista que escreve profissionalmente e é pago para pensar e nos mostrar uma visão original e própria da vida não tem mais tempo de refletir, então ficou tudo igual, uma pausterização que parece ser pensada para nos fazer burros e nos controlar. A propósito disto o filósofo Adorno tirou uma idéia nova de um trecho da Odisséia, de Homero, aquele em que o navio de Ulisses passa pelas sereias. Dizia a lenda: quem ouve o canto delas se desvia de seu objetivo e se perde. Assim, o intrépido capitão para não perder nenhum de seus marinheiros ordena que todos tapem bem os ouvidos com cera e se empenhem nos remos sem olhar para os lados, enquanto ele mesmo manda ser amarrado ao mastro; Ulisses ouvia o mavioso canto mas não podia segui-lo. O filósofo vê nesta história da mitologia o controle sobre o que se ouve, lê ou vê, em nosso tempo. A massa, o homem comum, trabalhador, igual aos marinheiros da nau, é cada vez mais exigida no trabalho e cansada e sem tempo pouco pode pensar ou cuidar de seu desenvolvimento como pessoa. A minoria que cabe dirigir a sociedade, informar e ensinar, como Ulisses, fica amarrada a tantas obrigações que se torna controlada pelo sistema e não consegue nos apontar um caminho melhor para esta existência. Até tomam ciência de novas idéias, de uma visão inovadora, mas não podem aprofundar-se nela, desenvolvê-la e passar para aqueles sob sua influência. Assim vivemos cercados por pensamentos, no rádio e televisão, no cinema e jornais, nas músicas, nas igrejas e câmaras políticas que muito pouco ou nada nos diz que nos desvie desta corrida da manada em que nos metemos. Correndo e correndo sem saber para onde e porquê.
Agora, o tempo de leitura – que aumentei – gasto com livros. Aí vale a pena. Como diz Roberto Carlos, “são tantas emoções” quando se lê um livro!

terça-feira, 14 de julho de 2009

Um jeito de viver


O dia está uma pintura. Viajando de ônibus para Nova Iguaçu admiro a paisagem verde e azul dourada pelo Sol forte ao mesmo tempo que leio Brasil País do Futuro. Na já longínqua década de 1950 o escritor assim descrevia o brasileiro: “Em São Paulo, o operário, adaptado a uma organização européia e num clima mais favorável, produz exatamente o mesmo que qualquer outro doutra parte do mundo. Mas mesmo no Rio de Janeiro observei, centenas de vezes, pequenos sapateiros e alfaiates trabalharem até tarde da noite em suas acanhadas oficinas e deveras me admirei de como nas construções com um calor infernal, em que só o erguer o chapéu do chão já é um esforço, o difícil trabalho de carregar material continua sem interrupção em pleno sol. Não são, pois, absolutamente a capacidade, a boa vontade e a velocidade individuais que são inferiores. O que no conjunto falta é a sofreguidão européia ou norte-americana de por meio de esforço dobrado progredir na vida mais depressa; é, pois, antes certa falta de estímulo que mantém em nível baixo a dinâmica total. Os indivíduos aqui não querem muita coisa, não são sôfregos. Após o trabalho ou nas horas do trabalho, conversar um pouco, tomar café, é natural. Ter sua alegria na vida doméstica e no lar é para a maioria o suficiente. Todos os graus do bem-estar, da felicidade, combinam-se com essa calma e serenidade. Sucede freqüentemente, segundo ouvi de várias pessoas, que após o recebimento do salário, o trabalhador falta dois, três dias ao serviço. Cumpriu com diligência e presteza o seu serviço na semana anterior e ganhou o suficiente para, da maneira mais modesta, modestíssima, passar dois dias sem trabalhar. Para que então trabalhar esses dois dias? Rico não poderá ficar com esses poucos mil-réis; é, pois, preferível gozar calma e comodamente esses dois ou três dias. Talvez seja necessário termos visto a exuberância da natureza daqui para compreender isso. Ao passo que numa planície da Europa, triste e sem encantos, o trabalho é a única maneira de evitar a depressão".
Infelizmente nós brasileiros já embarcamos nesta correria européia, até no futebol. Agora, os cientistas e ecologistas dizem que a humanidade, se quiser sobreviver, terá que aprender com o jeito brasileiro de ser, tranquilo, sem invejar quem tem muito e produzindo o necessário para viver. São os ciclos da vida.
(a foto foi "emprestada" do site http://www.noturnafm.com.br/humor.htm )

domingo, 12 de julho de 2009

Mudando o modo de viver


A necessidade é a mãe de todas as coisas, sim, de todos os seres vivos. Outro nome dela é mãe natureza. Mas assim como a gestação de um novo ser exige desconforto e dor, o parto de uma nova maneira de pensar ou a aplicação de novas leis à sociedade requer negociações muitas vezes dolorosas. Foi como se deu com o fim da escravidão. O livro Brasil, País do Futuro, conta: "De ano para ano o problema da escravidão se torna o centro da discussão, cada vez mais forte se torna a pressão dos grupos liberais para de uma vez acabar com a 'negra ignomínia', mas, no mesmo grau, ou talvez em grau ainda maior, cresce a resistência dos círculos agrícolas, que, não sem razão, temem que uma medida tão súbita cause uma crise catastrófica ao país, de cuja economia nove décimos assentam no trabalho de escravos". É assim, parece que uma grande mudança vai acabar com a economia de um país, como se repete agora, no século 21. Quando os cientistas insistem que a emissão de gases poluentes está colocando a vida na Terra em perigo as indústrias teimam em dizer que mudanças na maneira de produzir vai gerar multidões de desempregados e acabar com a economia. A história se repete.
As pessoas sensíveis sofrem aguardando mudanças que demoram como, no tempo da escravidão, sucedeu com o imperador. O livro conta: "É imensamente penoso, para D. Pedro II, esse homem culto, em suas visitas à Europa, ante os grandes representantes da humanidade, cuja estima procura, ante um Pasteur, um Charcot, um Lamartine, um Vitor Hugo, um Wagner, um Nietzsche, ser considerado o soberano do único império que ainda tolera para os escravos o chicote e o ferreteamento". Quando com sua assinatura a herdeira, princesa Isabel, decreta o fim da escravidão o que não se mantém de pé é aquela forma de governo. "Quase sem ruído rola por terra a coroa imperial; também dessa vez, em que ela se perde, não é manchada de sangue, como quando foi adquirida; o verdadeiro vencedor moral é novamente o espírito brasileiro de conciliação”.
O livro Meio Ambiente (que estou lendo ao mesmo tempo) diz que quando o Clube de Roma, em 1971, avisou que o mundo tinha de parar a poluição e as nações ignoraram o aviso porque temiam confusão mundial “coube a delegação do Brasil liderar o movimento contrário a tese da estagnação, pregando a necessidade de uma maior conscientização dos povos da relação que existe entre o meio ambiente e desenvolvimento”. Liberal, o Brasil vai se adaptando e ensinando ao mundo como não é absolutamente impossível se conformar as necessidades de uma mudança no comportamento individual para que a humanidade continue.