terça-feira, 2 de junho de 2009


Estou lendo frase por frase, o filósofo Theodor W Adorno. Frase por frase, e não tem outro jeito para compreendê-lo. Veja só este trecho: "Indiferenciado é tudo aquilo que é desconhecido, estranho, que transcende o âmbito da experiência. O grito de terror que acompanha a experiência do insólito fica sendo o seu nome. A transcendência do desconhecido diante do que é conhecido converte o temor em santidade e provem da angústia do homem. O homem tem a ilusão de que se libertará do medo quando já não houver mais nada desconhecido".
O homem primitivo ao se defrontar com um fenômeno natural prodigioso nomeava-o e este som, esta palavra, passava a designar o prodígio. "Desde que a linguagem entra na história, seus mestres são sacerdotes e feiticeiros. Quem viola os símbolos cai em desgraça diante das potências supraterrenas, mas é castigado pelos poderes terrestres". As religiões surgem e se hierarqueizam, se organizam em instâncias decrescentes, para cuidar dos símbolos, mantê-los misteriosos e dominar as pessoas comuns. Quem infringe um tabu devia ser punido pelo deus ofendido, mas na realidade a punição era dada pelos homens mesmo.
O indivíduo moderno se sente protegido pela ciência, dispensa as religiões, acha que nada mais é mistério. Para tudo que lhe é precioso existe salvaguardas, tanto os remédios para seu corpo, quanto os planos de seguro para seus bens. Tudo parece controlado e que estamos livres de surprezas. Mas quando o infortúneo acontece o medo volta a se apoderar dele. "Homens e deuses podem tentar, durante o tempo que lhes é dado, distribuir a sorte segundo alguma medida, mas no final a existência triunfa sobre eles. A venda sobre os olhos da justiça não significa apenas a proibição de intervir no direito, mas de que o direito não provêm de uma escolha livre". Assim pensava Adorno.
Por tantos modos procuramos uma explicação para a desdita, mas como diz no livro Provérbios: "A sorte e o acaso acontece a todos".

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