quarta-feira, 6 de maio de 2009

Unindo o território nacional


Volto a falar do livro, Brasil País do Futuro, porque me impressiona as linhas de raciocínio de Stefan Zweig. Quando fala das Capitanias Hereditárias, diz;'' O território com sua
gigantesca vastidão e com suas ilimitadas possibilidades quer e pede mãos, e cada uma que a ele chega acena para Portugal, solicitando outras e outras. Mas, como sempre, desde o começo da época heróica, os cofres estão vazios. Por isto é necessário uma experiência para povoar a terra, promover a colonização por meio da iniciativa privada. O território que, por assim dizer, ainda está inabitado, é dividido em doze capitanias, e cada uma delas é doada, com plenos direitos hereditários, a um cidadão, o qual tem que se obrigar a desenvolver, por meio de colonização, essa faixa de terra, ou melhor, esse reino''. Há quinhentos anos já os soberanos entregavam as obras públicas para ser tocadas por cidadãos, já que os cofres públicos derramavam os tesouros para uma elite gastadeira.
Daí, Zweig diz que o soberano comete o erro de escolher homens velhos, já sem ânimo para a empreitada, e só duas capitanias se desenvolvem. Lições que a História nos ensina sobre a dificuldade em delegar poderes. Mas foi bom, a terra de Santa Cruz não tinha por destino ser dividida em reinos.
A tarefa se mostrou difícil para os cidadãos poderosos. Um deles, “o donatário Luiz de Góes, desesperado, escreve, a 12 de maio de 1548, a el-Rei: 'Se com tempo e brevidade Vossa Alteza não socorre a estas capitanias e costa do Brasil, ainda que nós percamos
as vidas e fazendas, Vossa Alteza perderá a terra'. Se Portugal não der uma organização unitária ao Brasil, estará este perdido. Só um representante resoluto do rei, um governador geral, que também leve consigo poder militar, poderá estabelecer ordem e, ainda a tempo, congregar numa unidade os pedaços em que o Brasil se está desfazendo”. Poderes maiores movem as coisas para se fazer a unidade do país.
Chega Tomé de Souza ''com mil homens e seis jesuítas com suas batinas pretas e singelas. Esses seis homens trazem o que de mais precioso um povo e uma terra necessitam para sua existência, trazem uma idéia, a idéia verdadeiramente criadora do Brasil. Os jesuítas são os primeiros que nada querem para si e tudo querem para esta terra. Trazem consigo plantas e animais para cultivar o solo; trazem medicamentos para curar os enfermos, livros e instrumentos a fim de ensinar os incultos. Descobrimento, para a moral dos conquistadores do século dezesseis era igual a conquista, subordinação, sujeição, privação de direitos, escravização''. Os jesuítas foram um presente de Deus para o Brasil, daí sempre se dizer que Deus é brasileiro.
''Sem posses, tanto os indivíduos como a ordem, personificam uma determinada vontade, portanto um elemento ainda de todo espiritual, ainda não inteiramente imiscuído no que é secular. E chegam na melhor hora, pois para sua grandiosa concepção, a de, por meio de campanhas espirituais, restabelecer a unidade religiosa do mundo, o descobrimento de um novo continente representa um lucro inaudito''.
Então, Zweig diz uma coisa fabulosa; ''Eles, ao contrário, como 'os únicos homens disciplinados de seu tempo', conforme diz Euclides da Cunha, passando por cima desse processo de colonização pelo roubo, pensam no processo de edificação por meios morais, pensam nas gerações vindouras e, desde o primeiro instante, estabelecem na nova terra a
equiparação moral de todos entre si''. Não tinham pressa para criar uma nação aos moldes de sua ordem; '' Os primeiros dias após a chegada dedicam os jesuítas a tomar conhecimento da situação. Antes de ensinar querem aprender, e imediatamente um deles trata de, o mais depressa possível, aprender o idioma dos aborígenes. Os jesuítas sabem perfeitamente que serão necessárias gerações e gerações para que se complete esse processo de "abrasileiramento" e que cada um deles que arrisca a vida, a saúde e as forças nesse começo, jamais verá os menores resultados de seus esforços. É um trabalho penoso, de semeadura, que eles começam, é um empreendimento árduo e, na aparência, sem esperança. Mas o ter ele início numa terra de todo inculta e numa terra sem limites aumenta-lhes a energia, em vez de a diminuir; assim como a vinda oportuna dos jesuítas é para o Brasil uma sorte, o Brasil é, por sua vez, uma sorte para eles, porque é a oficina ideal para seu apostolado''.
Assim, o Brasil sempre foi um país em preparação para futuro. E como diz um outro dito muito repetido, quem viver verá, se somos o país do futuro.

Nenhum comentário: