quinta-feira, 30 de abril de 2009

Brasil País do Futuro


Comecei a ler, Brasil País do Futuro, de Stefan Zweig (1881-1942). Por anos escutei e repeti estas palavras como zombaria: as predições do estudioso austríaco ficaram só no papel. Mas agora começa a se delinear o que aos olhos deste estrangeiro era tão evidente, nossa terra tem imensas vantagens que ajudarão a humanidade nos dias difíceis que advirão. A posição geográfica mais favorável diante do aquecimento global é uma; as riquesas minerais sempre foram reconhecidas mesmo pelo brasileiro mais descrente de nossas possibilidades; e o povo, nós mesmo - motivo de piada mesmo para nosotros, galhofeiros - que Zweig admirou por sua cordialidade e paciência, precisou escolher um presidente oriundo de nossa classe social mais baixa para começar a perceber como é inventivo, trabalhador, previdente e, principalmente, uma gente que sabe misturar tudo isto com bonomia, danças, muita música e futebol.
Em que errou, foi no que tanto nos avisou, mas que políticos, tudo menos representantes deste povo, foram insensíveis ou, preocupados só com seus lucros, não viram - era preciso usar todos os recursos que temos para dar oportunidade aos nossos jovens. Sem dar prespectivas a boa parte das novas gerações, o Brasil produziu guetos, lutas cruéis de classes e indivíduos sem cordialidade, tudo que Zweig deplorava na Europa e elogiava em nós mesmos. E cegos os nossos políticos continuam achando que roubar para si mesmos o dinheiro público - que seria usado para fazer de nosso país um país bem sucedido agora mesmo - é o mais inteligente que podem fazer. É verdade que Zweig viveu no Brasil de 1940, tempo em que se dizia aqui no Rio, ''que malandro que é malandro é honesto só por malandragem''. Porém, mesmo com a atuação de maus brasileiros, parece que esta terra tem mesmo um destino de grandeza nos planos dos guardiões de nosso mundo.

Mas voltando ao livro, Brasil País do Futuro, se vê que Zweig foi dos primeiros estudiosos da formação do país que defendeu que a descoberta do Brasil não foi um acaso provocado por uma calmaria. Ele diz: "Era preciso estar legalmente garantido que essa nova terra pertencia não à Espanha, mas sim à Coroa portuguesa, e isso Portugal, com manifesta previdência, garantira a si por meio do Tratado de Tordesilhas, que em 7 de junho de 1494, portanto pouco depois do descobrimento da América, ampliara a zona portuguesa, das primitivas cem léguas para trezentas e setenta a oeste do Cabo Verde – justamente, pois, tanto que abrangesse ela a costa do Brasil, ao que se diz, ainda então não descoberta. Se essa ampliação foi uma casualidade, não deixou de ser uma casualidade que concorda admiravelmente com o desvio de Pedro Alvares Cabral, da rota natural".

Mas uma coisa que me fez pensar foi Zweig explicar que Portugal não deu atenção as novas terras, como uma mãe que não recebe com carinho um novo filho. "Nesse tumulto de paixões, um evento de tanta importância histórica como o descobrimento do Brasil apenas é notado. Nada é mais característico do menosprezo desse fato, do que, em sua epopéia, Camões, entre seus milhares de versos, referir-se apenas vagamente ao descobrimento ou à existência do Brasil. Os marinheiros de Vasco da Gama levaram para Portugal tecidos custosos, jóias, pedras preciosas e especiarias e, sobretudo, a notícia de que nos palácios dos rajás havia milhares de vezes mais do que aquilo. Se essa Ilha ou Terra de Santa Cruz encerra riquezas, elas só podem ser riquezas potenciais, e têm que ser conquistadas com trabalho penoso de anos. Mas el-Rei de Portugal necessita de lucros rápidos, imediatos, para saldar as suas dívidas. É, pois, preciso dirigir as vistas para as Índias, a África, as Molucas, o Oriente. Por isso, a Terra de Santa Cruz se torna a irmã desprezada entre as três irmãs, a Ásia, a África e a América, e, apesar disso, a única que, na hora do infortúnio, se manterá fiel". Pensei: Será por isto que até hoje o brasileiro tem esta mania de achar que os outros países são melhor do que a nossa terra e dar mais valor as coisas estrangeiras? Brasil, país de agora.

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