quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Um ódio antigo

Quem acredita ser a Bíblia a “Palavra de Deus” tem que fazer malabarismos incríveis quando lê o livro de Josué ou de Juizes. Precisa pinçar com muito cuidado os textos que estão dentro do contexto dos ensinamentos de Jesus e pular a maior parte do que está escrito neles. Como o que está escrito em Josué 11:16-20: “Josué tomou toda aquela terra, a região montanhosa de Judá, as planícies do vale do Jordão e do litoral. O Deus eterno fez que os moradores dessas cidades teimassem em lutar contra o povo de Israel para que assim fossem completamente destruídos e mortos sem dó nem piedade. O Deus eterno havia ordenado isso a Moisés”.
Estou falando disso por causa da “ofensiva de Gaza”, novo conflito entre judeus e árabes, e para comentar uma entrevista que o historiador Benny Morris deu a uma jornalista brasileira. Ela o apresenta assim: “Morris nasceu num kibutz (colônia agrícola onde os jovens idealistas trabalhavam sem remuneração) e foi ativista de movimentos juvenis de esquerda. Os paradoxos o acompanham e suas opiniões podem confundir o leitor desatento”.
Ele foi o primeiro historiador judeu a descrever as matanças feitas pelos isralenses para tomar a terra dos palestinos: “Houve 24 massacres, sendo o da aldeia de Deir Yassin, perto de Jerusalém, o mais famoso. Eu pesquisei um tema doloroso que muitos israelenses preferiam ignorar. O premier David Bem Gurion sabia que era preciso remover as comunidades árabes para que o Estado judeu existisse. Não há ordens explícitas por escrito. Era uma coisa subtendida.” Mas nos tempos antigos Moisés deu uma ordem pública e universal (Deuteronômio 7:16): “Acabem com todos os povos que o Eterno, o nosso Deus, entregar nas mãos de vocês. Não tenham penas deles nem adorem os seus deuses, pois isso seria uma armadilha mortal para vocês”. Isto plantam antagonismo que duram até hoje.
Morris diz que “o Hamas (uma organização dissidente da irmandade muçulmana) prega a destruição de Israel. Eles gostariam de ter o poderio militar israelense e eliminar o país do mapa” Daí ele revela que existe uma “arma” muita mais perigosa que os foguetes Grad, é a “bomba demográfica”. Como Israel expandiu seus territórios nas diversas guerras contra os árabes o país tem hoje 5,3 milhões de palestinos convivendo com 5,5 milhões de judeus. Ora, o Brasil tem um número muito maior de excluídos das vantagens do modo de vida capitalista e apesar da violência crescente (quase guerra) nós que vivemos cercados de bens materiais ainda convivemos bem com os outros brasileiros. Mas lá parece que isto não é possível.
Os que buscam a paz sugerem que o governo de Israel seja binacional, como é na Bélgica e no Canadá, mas a maioria rejeita porque entendem que será uma ameaça às identidades nacionais e a tradições culturais dos dois povos. Há alguma esperança? Sim, a procura pelos direitos de cidadania. O desejo de poder viver em paz, trabalhar e criar a família, conseguir fazer que seu nome e seu histórico familiar sobreviva deve ser mais forte que as lembranças, as diferenças religiosas e os ódios. Mas quanto mais tempo homens religiosos insuflarem os ânimos em nome de Deus tanto mais demorará a solução para o Oriente próximo.

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