terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Fique Aberto a Novas idéias


Claude Leví-Strauss (1908-) é um antropólogo, quer dizer, um estudioso dos costumes do ser humano. Segundo o livro Saber – O Tesouro das Nações, ele disse que: “a sociedade humana é estruturada da mesma forma que as frases numa linguagem, assim, como na comparação de línguas diferentes, as semelhanças são configurações comuns à mente humana”. Nesta sua busca de um padrão universal para o desenvolvimento das tradições e conhecimento humano ele veio ao Brasil, em 1938, para estudar os costumes e lendas de nossos índios. No livro As Estruturas Elementares do Parentesco (1959) ele usa a matemática – a teoria dos conjuntos – para explicar como os diversos níveis de associação se articulam, se interpenetram, e explicam melhor as conquistas do ser humano do que alguns casos particulares. “O homem pode ser definido como um animal construtor de objetos e partindo deles explicitamos as relações sociais. Isso é a antropologia cultural. Podemos, também, partir das relações sociais para compreendermos sua cultura e porque foram feitos os objetos”.
Ele aprendeu com Alfred Reginald Radcliffe Brown (1881-1955) que : “É preciso tomar qualquer comunidade de tamanho conveniente e estudar o sistema estrutural da forma como se apresenta na região, isto é, a rede de relações que liga os habitantes entre si e com os povos de outras regiões”. Mas lidando com nossos índios ele percebeu que “o pensamento indígena tem uma estrutura incompleta, aberta ao outro, que precisa do outro para se completar”. Então abandona o estruturalismo e no livro O Cru e o Cozido ele lança a lei da reciprocidade: “O universal seria a obrigação de trocar, coisas materiais e simbólicas, um grupo com o outro grupo. Isto estaria na base da formação da sociedade humana” (O Globo, Prosa & Verso, 15/11/2008). Recentemente, no livro História do Lince (1991) ele faz uma síntese de tudo que disse antes focalizando o dualismo em perpétuo desequilíbrio. Ao invés de se fechar em dogmas, tabus e preconceitos o homem deve estar sempre disposto a aprender.
Ontem, aconteceu comigo um exemplo disto. Falando com um pretenso espírita, com fama de palestrante, sobre o natal, disse pra ele que Lévi-Strauss explicou no ensaio Os Tempos Modernos (1951) que “a árvore de natal é um desdobramento dos cultos às árvores nos tempos pré-históricos que se prolongou em várias tradições folclóricas”. Disse também que o filósofo aprendeu que o pensamento mitológico indígena não era linear, mas transformacional (isto perturbava sua compreensão racional) “transpondo fronteiras entre humanos e não-humanos, entre o mundo dos homens e dos espíritos e entre a casa e a floresta”. Segundo ele a árvore de natal nos lembra a imortalidade, a vida além da morte, não só porque esta planta sobrevivia ao inverno rigoroso dos países setentrionais, como as florestas nos falam de seres “não humanos”, fadas e duendes que nas terras meridionais são chamados de orixás. Esses elementaes não são somente forças da natureza, mas são também personalidades, seres. Então aquele homem racional que se diz espírita me respondeu cheio de empáfia: “Não acredito nisso!” Me levantei e saindo retruquei: “Assim é fácil. Diz-se, não acredito, e isto nos libera de investigar e aprender”.
Foi isto que Lévi-Strauss aprendeu com os índios brasileiros: “O índio, quando chega um outro (os portugueses ou franceses que chegavam ao Brasil) deixa gerar em sua mente um desequilíbrio (uma dúvida, uma inocente vontade de aprender, como uma criança) fazendo com que surja uma nova lacuna que se preenche e volta a esperar a chegada de outro para voltar a se desequilibrar e ganhar novas idéias”.
Esta vocação de estar aberto ao novo, tão comum na base da cultura de nossos índios, mesclou-se com os cultos africanos que aqui chegaram e com a religiosidade ritualista que os europeus trouxeram e deu neste “homem brasileiro” que Gilberto Freyre e Darcy Ribeiro tentaram desvendar.
Em um de seus livros, Brasil, Coração do Mundo Pátria do Evangelho, Chico Xavier também falou desta contribuição que este caldeirão de idéias que é o Brasil tem dado aos estudiosos e ao mundo.

Então, não pense que já sabe tudo. Fique receptivo às novas idéias.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

O Salvador da Crise


A gente tem mania de resolver tudo, de eliminar as confusões. Sempre admirei os colonos norte-americanos nos velhos filmes de cowboy. Mal chegavam numa terra desolada cuidavam de construir sua cabana e ir se cercando dos confortos que tinham deixado no leste. O ser humano detesta o caos, precisa de um ambiente regular para se sentir seguro.
Na antiga Grécia, no tempo que aquela região ainda era habitada por tribos rudes e não havia ainda um povo, os helenos adoravam Dionísio, o deus da orgia, das bebedeiras e das festas sem limite. Quando cidades-estado se formaram - Atenas, Esparta e outras - o povo preferindo a ordem passou a adorar Apolo, outro filho de Zeus, que impunha uma adoração com hierarquia e um código de leis que protegesse a vida dos cidadãos e de suas famílias. Era o desejo humano de aplainar seus caminhos.
Bem de acordo com este pensamento, li estes dias um comentário sobre o escritor Ernst Jünger (1895-1998) autor de Nos Penhascos de Mármore defensor da idéia de que a política é efêmera e passageira mas que insistia na existência de alguma coisa verdadeira por trás das ações humanas, desejo este que nunca se esgota e que cristaliza tudo. “Só nos conservamos vivos graças à suposição de uma ordem oculta sob o real. Também é verdade que esta crença sempre carrega uma decepção, pois os acontecimentos não se cansam de nos trair”. Neste livro seus personagens, um agricultor e um poeta, vivem numa terra tranqüila chamada Marina cujos limites são profundos penhascos. Lá em baixo, na Mauritânia, vive um povo violento com uma história de terror. Este livro escrito em 1939 é uma paródia sobre o nazismo.
O partido de Hitler e de sua quadrilha assistiu seu país tão rico ser destroçado por políticos sem patriotismo, assim os nazistas decidiram consertar tudo em uma geração, em 20 anos. Conquistando vitórias expressivas nas urnas foram mudando a constituição, as leis e as tradições germânicas para construir o 3º Reich, um novo Império Romano Germânico. “Eles acreditam que o mundo é um mapa que pode ser manipulado ao seu prazer”. No romance a barbárie rastejou para a terra que vivia sossegada e segura e como um réptil silencioso atirou aquele povo não nas trevas do terror, mas na luz atordoante de mudanças que mexeu com a vida de milhares de famílias.
Jünger, que também era naturalista, estudou Zoologia e Botânica na universidade de Leipzig e era um dedicado pesquisador de sementes e insetos. “Se você se interessa pelos animais e coisas pequenas, o mundo imediatamente se faz imenso”. Ele levou esta maneira de ver o cosmo para sua literatura detendo-se nas minúcias, nos pequenos sinais que indicam as mudanças que podem mexer com nossa vida e de nossa família. E assim precisamos ver o mundo. Olhe com atenção as pequenas notícias nos jornais, elas são avisos do terror que tramado por políticos que acham que são salvadores e podem mudar tudo em pouco tempo acabam tirando toda nossa estabilidade e paz. Jesus avisou que um cristão deve ser assim, vigilante (Mateus 24:32): "Aprendam a lição que a figueira ensina. Quando seus ramos ficam verdes e as folhas começam a brotar, vocês sabem que o verão está perto. Assim também quando virem acontecer essas coisas fiquem sabendo que o tempo está próximo". Ou como dizia Ibrahim Sued, o grande colunista social: "Olho vivo porque cavalo não desce escada".

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Uma Anã Marrom


Na Bíblia tem um livro de poesias no qual em uma delas o personagem é Deus e ele interroga um homem sofredor que não se conforma com sua penitência. Veja estes versos:
“Será que você pode amarrar com cordas as estrelas da constelação das Sete Cabrinhas? Ou soltar as correntes que mantêm juntas as Três Marias? ... Você conhece as leis que governam os céus?”
Isto deve ter sido escrito há uns 3.000 anos e de lá pra cá muitos e muitos homens e mulheres devotaram suas vidas a estudar “as leis que governam os céus”. Nesta busca de respostas um objeto estelar prendeu a atenção de vários astrônomos, eles o chamam de ISO-Oph 102. Não parece um planeta nem uma estrela. Tem 75 vezes o tamanho de Júpiter, o maior planeta do Sistema Solar. Os cientistas decidiram chamá-lo de anão-marrom.
As anãs são estrelas pequenas, geralmente velhas estrelas que a força de gravidade delas mesma vai diminuindo seu diâmetro, como uma vovó idosa que vai encolhendo feito uma uva que vira passa. Elas podem ser vermelhas, laranjas e brancas. Mas a marrom não é do mesmo tipo dessas. É um corpo celeste defeituoso que não teve uma formação normal e nunca será uma estrela nem um planeta. Tanto uma quanto outro são feitos de uma bolha de gás. Este corpo com desenvolvimento excepcional forma uma massa sólida externa, mas tem o interior gasoso em fusão. A pressão abre buracos opostos na crosta por onde fluem moléculas de carbono que formam meios cinturões em volta da anã marrom. Que objeto estranho, não é?
Assim é a criação de Deus. Tudo o que existe foi feito em sete dias criativos. A forma básica feita por Deus vem sofrendo modificações e adaptações em miríades de formas. Sejam ínfimas bactérias ou enormes corpos celestes. Assim sempre surgem novas formas de animais e de objetos interestelares. No percurso aparecem seres mal formados que não conseguem sobreviver e corpos estelares disformes. Mas de algum modo, mesmo estes, cumprem sua missão neste plano gigantesco que é o universo tridimensional.