quinta-feira, 25 de setembro de 2008

O Mercado


Desde o início deste século se começou a falar que a “força do Mercado” não era bastante para garantir o bem estar do ser humano.

Quando começou a Revolução Industrial no século 18 os políticos e economistas acreditaram que finalmente a humanidade teria um meio mais seguro para se desenvolver do que a agricultura de sobrevivência e daí por diante o Estado devia deixar por conta do Mercado o cuidado dos cidadãos. Ele proveria trabalho e salário digno, providenciaria plano de saúde, aposentadoria e seguro de vida tirando do Estado a obrigação assistencialista que sempre executou mal. Filósofos como Marx e Engels e políticos como Lênin contestaram isto e por meio de uma revolução implantaram em vários povos o socialismo comunista. A Europa ficou no meio termo e defendia um socialismo capitalista. Os EUA se tornaram os grandes defensores do capitalismo e do Mercado e ferrenhos opositores do socialismo e do comunismo. Foram tão bem sucedidos que países como a França, social-democrata, eram considerados retrógrados.
Mas o que todo mundo começou a sentir no fim do século 20 é que a exigência do Mercado de dispensar operários para reduzir custos e ganhar a competição, exigir experiência para contratar um empregado tornando difícil o ingresso dos jovens nas empresas colocando-os na marginalidade e estabelecer metas de produção sempre superiores insuflando o desperdício e o acúmulo de bens e tornando a vida dos empregados uma roda-viva, não estava sendo bom para ninguém.
Todo o problema do capitalismo dito “selvagem” é o lucro. Aquela diferença entre o custo de produção e a venda. Antes as empresas podiam ganhar o que quisessem desde que monopolizassem o Mercado, com a concorrência têm de cortar custos prejudicando pessoas, a quem deviam servir. Este lucro sempre mais generoso foi o responsável pela situação em que se encontra a sociedade em todos os países neste início do século 21. Querendo mais lucro emprestavam dinheiro a juro alto para quem quisesse comprar um imóvel. O preço da moradia foi só crescendo. Os bancos e seguradoras tinham em seus cofres hipotecas de casas que não valiam o que o papel indicava. Quando as famílias, pessoas comuns, não puderam pagar o preço exorbitante que o Mercado lhe cobrava os agentes financeiros viram seus papéis despencarem de valor. Olha, até os bancos que sempre prosperaram por ser sovinas e avaliar sempre por baixo o valor de um bem, seja meu o seu cometeram esta besteira! A ganância fez avaliarem por cem um imóvel que vale cinqüenta. Mas como a maior parte do dinheiro que está com eles é de cada um de nós estamos todos sendo penalizados de alguma maneira. Querer os "ovos de ouro matando a galinha" nunca deu certo.
Mas quem sabe, toda esta amarga lição para o bolso não seja a mola para a mudança de pensar da raça humana e a gente volte a exibir menos os bens, não desperdiçar tanta comida e combustíveis e assim ajudar o planeta a aguentar esta carga de “malas-sem-alça” que somos todos nós, os “filhos de Deus”, os “reis da criação” e o que mais inche o balão do nosso orgulho.

Ah sim, andar de bicicleta ao invéz de usar o caro também faz muito bem

domingo, 14 de setembro de 2008

Um Corpo para uma Finalidade


Estava no Val, levei a bicicleta para trocar o câmbio dianteiro e encontrei Mazinho. Falamos sobre problemas nas compras pela internet. Contei que comprei o câmbio, bom e mais barato, mas veio com a braçadeira em cima e devia ser em baixo, tive de trocar numa loja do beco e pagar a diferença. Ele contou da compra de uma bicicleta feita por um colega que mandou a especificação de todas as peças e chegou uma bike completamente diferente do que ele queria.

Vim embora e juntei esta conversa com o que li sobre Bibi Ferreira. A grande atriz tem 86 anos e representa todos os dias durante 90 minutos com uma voz que chega bem clara aos 400 lugares do teatro. Como é que ela cuida de seu corpo para estar assim em forma nesta idade? O repórter contou que o dia para ela começa mesmo na hora em que vai para o teatro, por volta de 19 horas. Faz sua própria maquilagem e um leve exercício (sentada estica cada perna por três vezes), aquece a voz e confere se tudo do que vai precisar no palco está correto. Depois do espetáculo sai pra cear uma refeição com bastante carboidrato (não come verduras nem legumes). Em casa assisti um filme novo e vai dormir. Dorme bastante. Só acorda ao meio-dia. Dispensa o almoço e o café-com-leite da tarde. Não malha de jeito nenhum. Bem, como é que este modo de vida tão diferente do que os médicos nos aconselham hoje deu certo para ela? Foi isto que juntei com o que o colega contou, a configuração da bike.

Antes de nosso nascimento uma combinação de informações genéticas do nosso pai com as de nossa mãe (genes que vieram sendo selecionados há muitas gerações) estabelecem nossa configuração, como vão funcionar nossos órgãos e até o tempo provável do bom funcionamento de cada um. Para alguns o fumar vai provocar um câncer ou um acidente vascular antes dos 50 anos, para outros as substâncias tóxicas do cigarro não vão interferir com seu corpo e vão morrer bem depois dos 90 anos. É uma charada. O bom senso diz que mesmo sem sabermos como fomos montados pelos genes é melhor cuidar bem do nosso organismo. São tantos fatores, bilhões, que apesar dos cientistas procurarem incansavelmente compreender e controlar cada um deles a gente acha melhor “entregar pra Deus”.

Isto inclui entender o mundo espiritual. Aqueles que acreditam nisso entendem que nosso organismo vive em simbiose com um ser espiritual e que esta comunhão é decidida antecipadamente por seres que controlam trilhões de informações. Eles escolhem o casal que pode prover as configurações necessárias para o que aquele espírito vai, e precisa, viver em um corpo. A união para produzir aquele ser pode mesmo ser fortuita, como na música de Chico Buarque, Minha História: “Ele veio sem muita conversa, sem muito explicar./ Eu só sei que falava e cheirava e gostava do mar./ Sei que tinha tatuagem no braço e dourado no dente/ e minha mãe se entregou a esse homem perdidamente./ Ele assim como veio partiu não se sabe pra onde/ e deixou minha mãe com o olhar cada dia mais longe.” Um pai que só lhe deu os detalhes necessários para que seu corpo biológico cumprisse um propósito em sua existência.

Então somos assim. Algo ou Alguém detalhou todo o esquema de como precisava ser nosso corpo e sem falta o recebemos, nos mínimos detalhes da configuração exigida. Mesmo um erro médico na chegada ou um acontecimento durante a gestação (construção da máquina) fizeram parte do projeto. Não há a quem nos queixarmos, somos o que deveríamos ser. Use bem sua bike, seu corpo.