quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Minha neta e o pós-modernismo

O filósofo italiano Gianni Vattimo ensina que o modernismo acabou quando “a idéia de racionalidade central ou pensamento único” foi questionada pela opinião pública que passou a desconfiar das religiões e outras instituições e criticar o papel da família. Ergueu-se o estruturalismo, “todas as culturas possuem direitos iguais”, os norte-americanos e europeus não estavam no caminho certo enquanto africanos, asiáticos e sul-americanos perdiam-se numa estrada errada. Todos estam desenvolvendo um projeto de futuro.
Vi a realidade disso conversando com minha neta de 14 anos. Ela se queixava das reprimendas intermináveis do pai: “Vô, ele tem medo que eu faça as mesmas coisas que ele fez! Ele não entende que meu pensamento é diferente do dele”. O pós-moderno é um jeito de ver a vida em que não há mais verdades inatacáveis, o que não é outra coisa que “pretensão autoritária de pensar pelo outro e atentar contra sua liberdade”. É o famoso conceito relativista da física aplicado politicamente nas “democracias liberais em que vigora a liberdade de pensamento”.
Em outro tempo, quando minha cabeça era feita por dogmas religiosos, ficaria estarrecido de ouvir Pâmela falar: “Não sei se acredito em Deus. Os antigos achavam que um relâmpago era um deus e estavam errados, porque estão certos os que acreditam em Deus agora?” Parece até que ela leu Nietzsche que em Assim Falou Zaratustra, diz: “Sofrimento e incompetência; eis o que criou todos os deuses e todos os além-mundos. Ouve sempre muitos enfermos entre os que sonham e suspiram por Deus; odeiam furiosamente o que procura o conhecimento. Acreditai-me, meus irmãos".
Bem, se vivemos então neste momento histórico em que compreendemos que nada está completamente definido ou como dizia Heidegger: “Nós somos projetos e por isso precisamos de liberdade e espaços abertos para nos desenvolvermos”, como lidar com minha neta e seu anseio de auto-afirmação? Gianni diz que o caminho é a “discussão mais intensa dos pontos de vista e a participação ampla de cada um sem o que se asfixia a democracia. E nenhuma luta contra o terrorismo ou as drogas pode cercear o livre aprendizado de cada um”. Bem, vou dizer a meu filho para falar e deixá-la replicar também. Este é o modo de se lidar em casa com a mentalidade pós-moderna.

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