quinta-feira, 15 de maio de 2008

No Tempo da Fome


Não é nenhum fim do mundo, mas o Programa de Alimentos das Nações Unidas anunciou que neste ano de 2008 os alimentos já subiram 57,5%. No tempo em que as nações creditavam suas dificuldades aos deuses pensava-se que um caso desse era uma punição deles, hoje existem as estatísticas e a Economia para explicar nossas dificuldades. Elas mostram, por exemplo, que um pobre sente mais a carestia do que um sujeito rico, pois enquanto para ele os gastos com alimentação correspondem a 60%, 70% do que entra de dinheiro em casa, para este são meros 10%. O fim dos tempos é para uns e não para os outros. E sempre foi assim. No Apocalipse (6:5,6), último livro da Bíblia, diz que sempre que é solto o cavaleiro negro, a fome, ouve-se a cantilena: “Meio quilo de trigo custa o que vocês ganham num dia inteiro de trabalho, mas para quem usa azeite e vinho não lhe custará tanto assim”.
A fartura e a fome vêm em ciclos que se repetem sempre. Mas para quem estuda estes fenômenos a situação é delicada e pode ficar perigosa, explosiva mesmo. O povo que de costume agüenta bem o sacrifício não suporta ver os filhos com fome. Os brasileiros mais velhos ainda lembram do tempo em que o populacho invadia supermercados saqueando tudo. Os especialistas dizem que podem acontecer instabilidade política e catalisar conflitos abalando a ordem pública.
Mas o pior é mais insidioso. O economista Wiliam E James disse (O Globo 03/03 p 25): “Depois de duas décadas tirando miseráveis da pobreza os países em desenvolvimento podem retornar ao empobrecimento caso os preços dos alimentos não voltem ao normal. Os mais pobres podem deixar de comprar roupa e eletrodomésticos, levando ao desemprego ou, ainda pior, abandonando o estudo para trabalhar e formando uma nova geração despreparada para alcançar as metas do milênio decididas pela comunidade das nações”. A fome trava o crescimento e pode causar recuou nos ganhos obtidos. Ela deixa um rastro de miséria que duro anos.
Mas qual a razão do aumento dos preços dos alimentos? Fidel Castro já tinha cantado a pedra quando falou que o biocombustível ia colocar nos carros o alimento tirado da boca do povo. O economista confirmou: “Ao contrário do etanol de cana produzido pelo Brasil, que não tem impacto direto na oferta de grãos, o etanol americano feito de milho é certamente um complicador”. O milho que os EUA produziam em abundância e vendiam para o mundo mantendo os preços em nível equilibrado agora é usado para fazer combustível. Não há sobra para exportar, aí os preços sobem e a polenta e o angu, alimentos básicos da mesa dos pobres, sobem de preço. Assim como a ração que alimenta o frango, o porco e o boi ambém fica mais cara fazendo o preço das carnes subirem como foguete. E como disse o presidente Lula, ainda existem os salafrários, os que para manter seu dinheiro sempre rendendo bem começaram a aplicar em commodities dos agronegócios fazendo que a médio prazo (até o início do ano que vem) o custo do alimento já fique com viés de alta crescente.
E tem o petróleo. Um especialista da área, Neal Ryan, disse (O Globo 10/05 p 35): "Há uma avassaladora relutância em admitir que estamos simplesmente em um novo paradigma de preços e não muito distantes de um colapso global da economia. Os preços do petróleo simplesmente não vão recuar para o patamar de US$75 (bateu US$126 no dia 09/05/2008)". E a gente sabe bem qual o peso desta matéria prima na cadeia de todos os preços.
Então, é se cuidar. Cuidado com dívidas porque a barriga não consegue esperar. Mas não é para desanimar. Fique sempre lembrando que depois da tempestade vem a bonança.

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