quarta-feira, 28 de maio de 2008

Geração 1968


Geração 1968, já vai tarde!

Não se fala em outra coisa. Políticos corruptos, compositores e empresários que dominam o cenário nacional e mundial eram jovens adultos no fim da década de 1960 e estudiosos e curiosos procuram entendê-los estudando o que aconteceu naquela época. É como se estivessem procurando uma “cabeça de burro” enterrada no passado e que resultou no mundo em que vivemos. Esses velhos com o lema de “vamos mudar o mundo” quase acabaram com ele.
Aquela geração, eu inclusive, era filha da 2ª Guerra Mundial e de pais que viveram um Brasil agrícola e comercial, mas que participaram da explosão industrial. Nossos pais eram pessoas sem muita instrução, beatas e que pautavam a vida por princípios que eram tradições antigas. No meu caso tive a felicidade de ter uma mãe desquitada, não se sujeitou a um marido sem caráter, e um pai que tendo estudado só até a 4ª série lia compulsivamente. Então já eram mais tolerantes.
Antes, nos anos da década de 1950, a gente já pressentia mudanças no ar. Nunca me esqueço da tarde em que preguiçosamente fazia os deveres da escola e uma colega me ligou esbaforida mandando ligar o rádio na Metropolitana. O locutor dizia: "No programa de hoje dedicado a música norte-americana vamos tocar um novo ritmo que está causando furor lá fora, o rock’roll". E o ar se encheu das batidas enfezadas de Blue Suede Shoes, de Elvis Presley.
O poeta Ferreira Goulart diz ( em O Globo de 18/05/2008, Segundo Caderno p 2) que era a contracultura, “os artistas se rebelaram contra o status quo capitalista e a sociedade burguesa que sufocava a visão transcendente de então reduzindo-a a realidade nua e crua”. Era isso que a gente estava sentindo e que nossos pais não conseguiam ver, a transcendência. Goulart explica que aquele “espírito da vanguarda era internacionalista, mas como dizia Mário de Andrade, tudo que é universal é nacional de algum país”. E a garotada da época se empanturrou de cultura norte-americana. O poeta recorda: “Quando, no plano da música, essa contracultura surge no Brasil, ela nega a música popular brasileira e fala do som universal. Para o bem e para o mal esse processo de redução de caráter nacional e regional já era um ímpeto globalizante”. Politicamente isto sepultou o estilo de Getúlio Vargas, um pai dos pobres, um nacionalista e gerou a politicgem que temos.
Mas esta rebeldia contra os pais que saíram da pobreza e só pensavam em ter uma casa bem mobiliada com TV e geladeira e um carro na garagem desmanchou no ar: “No frigir dos ovos aquela contracultura norte-americana foi completamente absorvida e anulada. Ora, ela contestava a sociedade de consumo, mas com ela esta tornou-se mais forte a ponto de transforma contestação em chiclete”.
Então a nossa geração ficou pior do que nossos pais, como já dizia Belchior em Como Nossos Pais: Não quero lhe falar/ meu grande amor/ das coisas que aprendi/ nos discos... Quero lhe contar como eu vivi/ E tudo o que aconteceu comigo/ Vier é melhor que sonhar/; mais na frente diz: Eu vou ficar nesta cidade/ Não vou voltar pro sertão/. Sem princípios, aqueles antigos tabus que norteavam nossos pais, a geração 68 devorou o planeta sem nenhum pudor ou respeito, roubou e mentiu sem dó nem piedade e sem amor a nação, metidos a internacionais venderam a mãe, a pátria, e saquearam o povo já sofrido. Goulart diz isso de modo intelectual: “Essa ruptura pós-moderna alia-se perfeitamente à cultura de massa, à sociedade do espetáculo, a ponto de as artes plásticas virarem performance”.
O que resta pra geração de meus netos? O poeta dá uma esperança: “No meio deste quadro diluidor, porém, há uma faixa de pessoas com fome de transcendência, porque a vida é pouca e nem todos agüentam o nu e cru da falsa realidade dos reality shows. Uma submissão à morte da imaginação. No meio desse turbilhão os mais sensíveis buscam um outro tipo de expressão que tem cada vez menos lugar na sociedade, embora seja, em essência, mais importante. Porque tudo isso aí é espuma, lixo, desaparece pela natureza do que é e não deixa marcas. A vida continua a ser inventada por quem reflete, ainda que cresça, dia a dia, a enxurrada de espuma”. Deus te ouça, Goulart!

Que vale que minha geração está passando, os jovens de 1968 já estão velhos e sua maneira de pensar está acabando. Tomara que surjam outros Mahatma Gandhi, algum Winston Churchill ou alguma madre Tereza nesta nova geração e que façam a vida melhor neste planeta.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

No Tempo da Fome


Não é nenhum fim do mundo, mas o Programa de Alimentos das Nações Unidas anunciou que neste ano de 2008 os alimentos já subiram 57,5%. No tempo em que as nações creditavam suas dificuldades aos deuses pensava-se que um caso desse era uma punição deles, hoje existem as estatísticas e a Economia para explicar nossas dificuldades. Elas mostram, por exemplo, que um pobre sente mais a carestia do que um sujeito rico, pois enquanto para ele os gastos com alimentação correspondem a 60%, 70% do que entra de dinheiro em casa, para este são meros 10%. O fim dos tempos é para uns e não para os outros. E sempre foi assim. No Apocalipse (6:5,6), último livro da Bíblia, diz que sempre que é solto o cavaleiro negro, a fome, ouve-se a cantilena: “Meio quilo de trigo custa o que vocês ganham num dia inteiro de trabalho, mas para quem usa azeite e vinho não lhe custará tanto assim”.
A fartura e a fome vêm em ciclos que se repetem sempre. Mas para quem estuda estes fenômenos a situação é delicada e pode ficar perigosa, explosiva mesmo. O povo que de costume agüenta bem o sacrifício não suporta ver os filhos com fome. Os brasileiros mais velhos ainda lembram do tempo em que o populacho invadia supermercados saqueando tudo. Os especialistas dizem que podem acontecer instabilidade política e catalisar conflitos abalando a ordem pública.
Mas o pior é mais insidioso. O economista Wiliam E James disse (O Globo 03/03 p 25): “Depois de duas décadas tirando miseráveis da pobreza os países em desenvolvimento podem retornar ao empobrecimento caso os preços dos alimentos não voltem ao normal. Os mais pobres podem deixar de comprar roupa e eletrodomésticos, levando ao desemprego ou, ainda pior, abandonando o estudo para trabalhar e formando uma nova geração despreparada para alcançar as metas do milênio decididas pela comunidade das nações”. A fome trava o crescimento e pode causar recuou nos ganhos obtidos. Ela deixa um rastro de miséria que duro anos.
Mas qual a razão do aumento dos preços dos alimentos? Fidel Castro já tinha cantado a pedra quando falou que o biocombustível ia colocar nos carros o alimento tirado da boca do povo. O economista confirmou: “Ao contrário do etanol de cana produzido pelo Brasil, que não tem impacto direto na oferta de grãos, o etanol americano feito de milho é certamente um complicador”. O milho que os EUA produziam em abundância e vendiam para o mundo mantendo os preços em nível equilibrado agora é usado para fazer combustível. Não há sobra para exportar, aí os preços sobem e a polenta e o angu, alimentos básicos da mesa dos pobres, sobem de preço. Assim como a ração que alimenta o frango, o porco e o boi ambém fica mais cara fazendo o preço das carnes subirem como foguete. E como disse o presidente Lula, ainda existem os salafrários, os que para manter seu dinheiro sempre rendendo bem começaram a aplicar em commodities dos agronegócios fazendo que a médio prazo (até o início do ano que vem) o custo do alimento já fique com viés de alta crescente.
E tem o petróleo. Um especialista da área, Neal Ryan, disse (O Globo 10/05 p 35): "Há uma avassaladora relutância em admitir que estamos simplesmente em um novo paradigma de preços e não muito distantes de um colapso global da economia. Os preços do petróleo simplesmente não vão recuar para o patamar de US$75 (bateu US$126 no dia 09/05/2008)". E a gente sabe bem qual o peso desta matéria prima na cadeia de todos os preços.
Então, é se cuidar. Cuidado com dívidas porque a barriga não consegue esperar. Mas não é para desanimar. Fique sempre lembrando que depois da tempestade vem a bonança.