sábado, 29 de março de 2008

O IDEAL E A ÉTICA


Cada um de nós tem seu ideal. O meu é ser livre, ter o menos amarras possível, andar por esta vida sem carregar muito peso. Consegui isto desenvolvendo um trabalho sem patrão e com poucas obrigações e andando de bicicleta pelas estradas das serras de nossa região. Estimo que cada amigo meu consiga alcançar o seu ideal e ter felicidade.
Porém, para que nosso ideal não prejudique a vida de nosso próximo ele precisa ser contido pelos limites da ética. Foi exatamente sobre isto que o cientista político João Roberto Martins Fº, professor na Universidade de São Carlos, SP, falou ao O Globo no dia 23/03/2008 p 14. Em 1968, no Brasil e em outros países, os estudantes estavam tão cheios de ideais que formaram um ativo movimento estudantil. Por tudo iam as ruas exigindo educação mais eficiente, melhores transportes, mais correção na classe política, mais liberdade e, no Brasil, a volta a normalidade democrática com os militares devolvendo o poder político que tinham tomado com um golpe em 1964. Enfim, queriam um país melhor. Em nosso país militares também tinham o peito estourando de ideais: eliminar as idéias comunistas do meio de nosso povo e formar um governo mais correto e eficiente. Cada lado levou seu ideal às últimas conseqüências.
Em junho daquele ano a União Nacional dos Estudantes conseguiu levar às ruas uma multidão de pessoas em protesto no que ficou conhecido como a Passeata dos Cem Mil. Os militares responderam invadindo a UNE em agosto. Um deputado protestou em meio a uma câmara amedrontada, a junta militar criou o Ato Institucional 5 prendendo e desempregando qualquer um que ousasse protestar contra seu governo com mão de ferro e estudantes e políticos caíram na luta clandestina contra a ditadura.
Os resultados todos conhecemos, mas como tenho tantos amigos jovens que nasceram bem depois desta época é bom lembrar que milhares de brasileiros foram presos, centenas foram torturados e mortos e outros tantos se exilaram em outros países – muitos eram professores e cientistas importantes para o desenvolvimento de nosso país. Todos saímos perdendo quando os ideais extrapolaram os limites éticos e morais. E quando isto acontece o infrator tem de carregar a culpa pelo que fez até que pelo bom comportamento e pela retratação de seus maus atos consiga limpar sua imagem.
O professor Martins Filho diz que as Forças Armadas do Brasil ainda não conseguiram a admiração do povo porque mesmo tendo se pautado por um bom comportamento desde que devolveu o poder e aceitou a democracia como modo de se viver não confessou os erros que praticaram naquele momento histórico e teimam em escondê-los. “A oficialidade de hoje tem pouco comprometimento com o que aconteceu naquela época, mas essa oficialidade ou vai ficar sempre se defrontando com a imagem do Exército que participou da repressão, ou vai ver que a melhor atitude seria fazer um documento reconhecendo que houve, pelo clima da época, grandes erros”.
Porém, um fato ainda precisa ser explicado, pois ele parece desmanchar todo argumento contra o ideal sem ética. “A luta da memória quem venceu foi a esquerda. Até hoje ela aparece como heróica”. Aqueles que por seu ideal também extrapolaram os limites éticos seqüestrando, explodindo bombas e assassinando são romantizados como heróis até hoje e conseguem dividendos políticos por terem feito aquilo. O professor dá uma pista sobre isto: “Os militares esqueceram uma lição de Carl von Clausewitz, um técnico da guerra: ‘A guerra é dominada pela política’”. Como é que podemos aplicar esta lição em nossa vida individual quando por causa de um sonho abandonamos obrigações e direitos? Não sei.

terça-feira, 18 de março de 2008


Quando se estuda História fica-se admirado de como um império, como foi o babilônio, acabar, se disfazer em areia. Agora, neste início do século 21 parece que começamos a ver o fim de outro império, o norte-americano.
Você já ouviu falar em “descolamento do dólar”? A economista Miriam Leitão tratou disso em O Globo de 09/03/2008, na p 34: “Vários indicadores têm apontado para o quadro recessivo norte-americano, mas, como o mundo continua dando sinais de crescimento, a tese do descolamento reaparece”.
Os EUA representam 20% do PIB mundial, se por cinco anos vêm acontecendo desemprego por lá e agora vagas de trabalho foram fechadas e todos os indicadores econômicos estão despencando, como é que o mundo não está sentindo isso e as mercadorias continuam subindo de preço como se a economia mundial estivesse crescendo com todo vigor? As minas de ferro do Brasil pediram um aumento de 70% e os países importadores aceitaram, o petróleo já chegou a US$106 e o milho, a soja e outras commodities agrícolas estão disparando de preço. O que significa isso?
Os países emergentes como o próprio Brasil, China, Índia e outros vêm aumentando suas importações e muitos economistas acham que eles conseguirão sustentar o crescimento mundial. Dizem que o bom resultado de companhias multinacionais como IBM, Coca Cola e Toyota foi causado por boas vendas nos países emergentes, enquanto as vendas em suas matrizes vêm tendo um desempenho ruim.
Parece que a poderosa locomotiva que puxa o mundo e assim acha que pode intervir na política e até no território de outros países está perdendo as forças e agora outras locomotivas estão ajudando a puxar o trem do mundo. Assim, na questão de empregos, deve ter serviço tanto para nossos filhos como para os filhos deles nos anos a frente.
Porém, Miriam apresenta outra razão para o aumento das mercadorias: “Com os juros americanos com tendência de queda, a bolsa americana instável, o mercado estaria em busca de rentabilidade especulando no mercado de commodities... com um flagrante descolamento dos preços desses produtos da realidade corrente. Em resumo, em vez de sinal de vigor da economia pode ser indício de uma bolha saindo do mercado hipotecário para outros mercados”. Quer dizer, espertalhões ganhando rios de dinheiro agora para todo mundo sair perdendo mais na frente.
Então é a gente continuar bem ligado, sem nos endividarmos, para que a tempestade do mundo em volta da gente não destroçe o ninhozinho da família da gente.