terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Fique Aberto a Novas idéias


Claude Leví-Strauss (1908-) é um antropólogo, quer dizer, um estudioso dos costumes do ser humano. Segundo o livro Saber – O Tesouro das Nações, ele disse que: “a sociedade humana é estruturada da mesma forma que as frases numa linguagem, assim, como na comparação de línguas diferentes, as semelhanças são configurações comuns à mente humana”. Nesta sua busca de um padrão universal para o desenvolvimento das tradições e conhecimento humano ele veio ao Brasil, em 1938, para estudar os costumes e lendas de nossos índios. No livro As Estruturas Elementares do Parentesco (1959) ele usa a matemática – a teoria dos conjuntos – para explicar como os diversos níveis de associação se articulam, se interpenetram, e explicam melhor as conquistas do ser humano do que alguns casos particulares. “O homem pode ser definido como um animal construtor de objetos e partindo deles explicitamos as relações sociais. Isso é a antropologia cultural. Podemos, também, partir das relações sociais para compreendermos sua cultura e porque foram feitos os objetos”.
Ele aprendeu com Alfred Reginald Radcliffe Brown (1881-1955) que : “É preciso tomar qualquer comunidade de tamanho conveniente e estudar o sistema estrutural da forma como se apresenta na região, isto é, a rede de relações que liga os habitantes entre si e com os povos de outras regiões”. Mas lidando com nossos índios ele percebeu que “o pensamento indígena tem uma estrutura incompleta, aberta ao outro, que precisa do outro para se completar”. Então abandona o estruturalismo e no livro O Cru e o Cozido ele lança a lei da reciprocidade: “O universal seria a obrigação de trocar, coisas materiais e simbólicas, um grupo com o outro grupo. Isto estaria na base da formação da sociedade humana” (O Globo, Prosa & Verso, 15/11/2008). Recentemente, no livro História do Lince (1991) ele faz uma síntese de tudo que disse antes focalizando o dualismo em perpétuo desequilíbrio. Ao invés de se fechar em dogmas, tabus e preconceitos o homem deve estar sempre disposto a aprender.
Ontem, aconteceu comigo um exemplo disto. Falando com um pretenso espírita, com fama de palestrante, sobre o natal, disse pra ele que Lévi-Strauss explicou no ensaio Os Tempos Modernos (1951) que “a árvore de natal é um desdobramento dos cultos às árvores nos tempos pré-históricos que se prolongou em várias tradições folclóricas”. Disse também que o filósofo aprendeu que o pensamento mitológico indígena não era linear, mas transformacional (isto perturbava sua compreensão racional) “transpondo fronteiras entre humanos e não-humanos, entre o mundo dos homens e dos espíritos e entre a casa e a floresta”. Segundo ele a árvore de natal nos lembra a imortalidade, a vida além da morte, não só porque esta planta sobrevivia ao inverno rigoroso dos países setentrionais, como as florestas nos falam de seres “não humanos”, fadas e duendes que nas terras meridionais são chamados de orixás. Esses elementaes não são somente forças da natureza, mas são também personalidades, seres. Então aquele homem racional que se diz espírita me respondeu cheio de empáfia: “Não acredito nisso!” Me levantei e saindo retruquei: “Assim é fácil. Diz-se, não acredito, e isto nos libera de investigar e aprender”.
Foi isto que Lévi-Strauss aprendeu com os índios brasileiros: “O índio, quando chega um outro (os portugueses ou franceses que chegavam ao Brasil) deixa gerar em sua mente um desequilíbrio (uma dúvida, uma inocente vontade de aprender, como uma criança) fazendo com que surja uma nova lacuna que se preenche e volta a esperar a chegada de outro para voltar a se desequilibrar e ganhar novas idéias”.
Esta vocação de estar aberto ao novo, tão comum na base da cultura de nossos índios, mesclou-se com os cultos africanos que aqui chegaram e com a religiosidade ritualista que os europeus trouxeram e deu neste “homem brasileiro” que Gilberto Freyre e Darcy Ribeiro tentaram desvendar.
Em um de seus livros, Brasil, Coração do Mundo Pátria do Evangelho, Chico Xavier também falou desta contribuição que este caldeirão de idéias que é o Brasil tem dado aos estudiosos e ao mundo.

Então, não pense que já sabe tudo. Fique receptivo às novas idéias.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

O Salvador da Crise


A gente tem mania de resolver tudo, de eliminar as confusões. Sempre admirei os colonos norte-americanos nos velhos filmes de cowboy. Mal chegavam numa terra desolada cuidavam de construir sua cabana e ir se cercando dos confortos que tinham deixado no leste. O ser humano detesta o caos, precisa de um ambiente regular para se sentir seguro.
Na antiga Grécia, no tempo que aquela região ainda era habitada por tribos rudes e não havia ainda um povo, os helenos adoravam Dionísio, o deus da orgia, das bebedeiras e das festas sem limite. Quando cidades-estado se formaram - Atenas, Esparta e outras - o povo preferindo a ordem passou a adorar Apolo, outro filho de Zeus, que impunha uma adoração com hierarquia e um código de leis que protegesse a vida dos cidadãos e de suas famílias. Era o desejo humano de aplainar seus caminhos.
Bem de acordo com este pensamento, li estes dias um comentário sobre o escritor Ernst Jünger (1895-1998) autor de Nos Penhascos de Mármore defensor da idéia de que a política é efêmera e passageira mas que insistia na existência de alguma coisa verdadeira por trás das ações humanas, desejo este que nunca se esgota e que cristaliza tudo. “Só nos conservamos vivos graças à suposição de uma ordem oculta sob o real. Também é verdade que esta crença sempre carrega uma decepção, pois os acontecimentos não se cansam de nos trair”. Neste livro seus personagens, um agricultor e um poeta, vivem numa terra tranqüila chamada Marina cujos limites são profundos penhascos. Lá em baixo, na Mauritânia, vive um povo violento com uma história de terror. Este livro escrito em 1939 é uma paródia sobre o nazismo.
O partido de Hitler e de sua quadrilha assistiu seu país tão rico ser destroçado por políticos sem patriotismo, assim os nazistas decidiram consertar tudo em uma geração, em 20 anos. Conquistando vitórias expressivas nas urnas foram mudando a constituição, as leis e as tradições germânicas para construir o 3º Reich, um novo Império Romano Germânico. “Eles acreditam que o mundo é um mapa que pode ser manipulado ao seu prazer”. No romance a barbárie rastejou para a terra que vivia sossegada e segura e como um réptil silencioso atirou aquele povo não nas trevas do terror, mas na luz atordoante de mudanças que mexeu com a vida de milhares de famílias.
Jünger, que também era naturalista, estudou Zoologia e Botânica na universidade de Leipzig e era um dedicado pesquisador de sementes e insetos. “Se você se interessa pelos animais e coisas pequenas, o mundo imediatamente se faz imenso”. Ele levou esta maneira de ver o cosmo para sua literatura detendo-se nas minúcias, nos pequenos sinais que indicam as mudanças que podem mexer com nossa vida e de nossa família. E assim precisamos ver o mundo. Olhe com atenção as pequenas notícias nos jornais, elas são avisos do terror que tramado por políticos que acham que são salvadores e podem mudar tudo em pouco tempo acabam tirando toda nossa estabilidade e paz. Jesus avisou que um cristão deve ser assim, vigilante (Mateus 24:32): "Aprendam a lição que a figueira ensina. Quando seus ramos ficam verdes e as folhas começam a brotar, vocês sabem que o verão está perto. Assim também quando virem acontecer essas coisas fiquem sabendo que o tempo está próximo". Ou como dizia Ibrahim Sued, o grande colunista social: "Olho vivo porque cavalo não desce escada".

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Uma Anã Marrom


Na Bíblia tem um livro de poesias no qual em uma delas o personagem é Deus e ele interroga um homem sofredor que não se conforma com sua penitência. Veja estes versos:
“Será que você pode amarrar com cordas as estrelas da constelação das Sete Cabrinhas? Ou soltar as correntes que mantêm juntas as Três Marias? ... Você conhece as leis que governam os céus?”
Isto deve ter sido escrito há uns 3.000 anos e de lá pra cá muitos e muitos homens e mulheres devotaram suas vidas a estudar “as leis que governam os céus”. Nesta busca de respostas um objeto estelar prendeu a atenção de vários astrônomos, eles o chamam de ISO-Oph 102. Não parece um planeta nem uma estrela. Tem 75 vezes o tamanho de Júpiter, o maior planeta do Sistema Solar. Os cientistas decidiram chamá-lo de anão-marrom.
As anãs são estrelas pequenas, geralmente velhas estrelas que a força de gravidade delas mesma vai diminuindo seu diâmetro, como uma vovó idosa que vai encolhendo feito uma uva que vira passa. Elas podem ser vermelhas, laranjas e brancas. Mas a marrom não é do mesmo tipo dessas. É um corpo celeste defeituoso que não teve uma formação normal e nunca será uma estrela nem um planeta. Tanto uma quanto outro são feitos de uma bolha de gás. Este corpo com desenvolvimento excepcional forma uma massa sólida externa, mas tem o interior gasoso em fusão. A pressão abre buracos opostos na crosta por onde fluem moléculas de carbono que formam meios cinturões em volta da anã marrom. Que objeto estranho, não é?
Assim é a criação de Deus. Tudo o que existe foi feito em sete dias criativos. A forma básica feita por Deus vem sofrendo modificações e adaptações em miríades de formas. Sejam ínfimas bactérias ou enormes corpos celestes. Assim sempre surgem novas formas de animais e de objetos interestelares. No percurso aparecem seres mal formados que não conseguem sobreviver e corpos estelares disformes. Mas de algum modo, mesmo estes, cumprem sua missão neste plano gigantesco que é o universo tridimensional.

sábado, 8 de novembro de 2008

Violência em casa


Dei sorte com meus filhos. Não sei mas acredito que esta felicidade foi ajudada por uma boa dose de afeição e preocupação (amor) por eles. Fiz coisas erradas que não chegaram aos ouvidos de meus pais e sempre pensei que meus filhos também estavam armando fora das minhas vistas. Porém, se qualquer deles começasse um padrão de comportamento de transgressão eu precisava estar completamente desligado deles para não sentir ou perceber, e intervir. Assim, quando ouvisse um filho homem falar de conquistar qualquer garota não poderia deixar isto passar em branco. Precisava sentar e conversar. Aquilo que os pais falavam no meu tempo de rapaz ainda vale hoje: Precisa lembrar que assim como você quer que respeitem tua irmã também precisa tratar com correção a filha de outro homem. As coisas mudaram muito. Talvez a garota nem tenha um pai em casa e pode ter uma cabeça liberal que lhe permita usar as carícias do rapaz. Mas uma adolescente, assim como meu filho, ainda não tem bem claro na mente os limites, o que pode prejudicar seu futuro e o da outra pessoa. Então precisam de orientação. E mesmo nesta vida corrida a gente como pai precisa encontrar este tempo.
Disse tudo isto a propósito das palavras da socióloga Eva Blay: “Ódio e vingança. Os homens se preparam para dominar e matar as mulheres”. A violência contra mulher acontece em 29% dos lares nas cidades, na zona rural está em 37%. Em cada três casas, uma não é um lar, é um poço de ódio, um criadouro de seres humanos descontrolados e violentos. Quem quer criar para o mundo um indivíduo que será conhecido como um mau pai, um péssimo marido e um sujeito que vai tornar o mundo um pouco pior? Então, mesmo depois que ele deixa a casa paterna ainda precisamos estar de olhos e ouvidos abertos para saber o que os filhos e genros estão fazendo. A Dra. Eva diz: “Dificilmente o homem vai matar de cara. Ele ofende, xinga, quebra o prato de comida. Depois vai bater para não deixar marca. E isto vai piorando”. Os filhos casados ainda são responsabilidade nossa. Se eles se tornam maus não educamos direito. Educar não é só chamar atenção e muito menos brigar ou bater. Conversar (ouvir e falar) é bom, compartilhar emoções (é o que a maioria dos marginais da vida correta mais sentem necessidade) é melhor e dar o exemplo é o grande lance. Um filho nosso precisa ter uma cabeça boa. Eva avisa que o homem violento em casa não tem uma correta visão da vida: “Na cabeça deste homem ele está educando a mulher dele”, na base da porrada. Um cara que não queria que fosse meu filho, disse na delegacia da Mulher: “Quando ela estava grávida do meu filho, também bati mas não na barriga [que sujeito bonzinho!]. Bati nela grávida dos dois, mas, na barriga, só quando estava grávida da menina”. O que fazer num caso destes? Alguma coisa tem de ser feita pelo pai se não somos tão pirados quanto ele. Eva ensina: “A violência conjugal é uma relação entre dois sujeitos e temos de entendê-los”. Quer dizer ajudá-los a se entenderem, primeiro consigo mesmo.
Da mesma forma com nossas filhas. Precisamos prepará-las para jamais aceitar o desrespeito. O conselho de Cristo de dar a outra face não é de forma alguma para continuar num mesmo vínculo que foi quebrado quando o desajustado levantou a mão para ela. De forma alguma ela pode deixar a casa dos pais pensando em viver com um homem para tentar consertá-lo. E se forçar a saída de casa para tentar ter uma vida melhor que com os pais, então fizemos nossa obrigação toda errada. A socióloga diz: “A violência no lar é uma questão emocional. Porque não é uma negociação de troca, é uma negociação de poder. No caso de Eloá [aquele seqüestro que abalou o país], Lindemberg só queria uma coisa: que ela se submetesse a ele”. E o cara não teve um pai que se apercebesse disto e o ajudasse.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Serendipiti, você vai precisar disso.


Sabe o que é serendipiti (acento oxítano)? Tem um cronista dO Globo que gosto muito. Deixo sua matéria de sábado para ler depois do fim de semana, igual faço com as tiras dos quadrinhos: começo lendo Recruta Zero e deixo Hagar para o final, feito sobremesa. Foi ele, Arnaldo Bloch, que falou desta palavra no dia 4/10/2008. Citou a definição do dicionário de Cambridge: “A afortunada sorte de encontrar coisas valiosas e felizes por mero acaso”. Mas engasguei numa frase do Arnaldo: “A serendipidade é ainda mais bela por nada ter de sobrenatural ou esotérico: está mais ligada à intuição e à inteligência”. Acho que esta frase está errada e poderia dar origem a outras duas corretas: A serendipidade é ainda mais bela por ser sobrenatural ou esotérico: está mais ligada à intuição que à inteligência, ou A serendipidade é ainda mais bela por nada ter de sobrenatural ou esotérico: está mais ligada à inteligência.
Pois o que intuição? Enquanto a inteligência tem a ver com “a agilidade do pensamento”, a capacidade de explorar todas as informações que estão nos neurônios, a facilidade para lidar com a “marcha livre das idéias, da iluminação que nasce do deslize, da imaginação que subverte as soluções fáceis, corre riscos e, no meio do caminho converge para o inesperado final feliz”, a intuição vem “desde o grito original de sofrimento negro”, uma memória emotiva de sofrimentos e alegrias vividas por outras pessoas em tempos longínquos que temos guardada em outra parte de nossa mente, e também do “aproveitamento feliz do acaso”. Acaso que vai “dissolvendo e reestruturando (as personalidades), enriquecendo a malha da vida”.
Bem, o judeu Arnaldo não deve estudar a Cabala nem se importar com questões além da matéria, mas gosto demais do jeito inteligente dele escrever e de sua capacidade de perceber detalhes escondidos em nosso cotidiano.
Desejo à todos muito serendipiti. Que encontrem a felicidade em grandes e pequenas coisas, pelo acaso, pela inteligência ou com os talentos que vêm de outros tempos.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

A Queda do Império Norte-americano


Não quero te enganar não, mas iniciar um século nunca foi uma tarefa muito fácil. Coisas pendentes dos cem anos anteriores começam a feder e ninguém aguenta mais. Mudanças começam a acontecer. Não é de hoje que os precavidos falavam dos perigos que cercam as altas finanças. “Seu” Gumercindo, meu pai, comerciante português ressabiado e bem informado, dizia que antes de meter nosso suado dinheiro em ações de empresas devia se aplicar na firma da gente: “Ações é para quem vive especulando com isto”. Agora todo mundo está falando na falta de moral e ética dos financistas e alguns começam a falar que o Mercado precisa ser mais vigiado pelo Estado e que o capitalismo selvagem devia ser extirpado do planeta. Alguma coisa vai acontecer.
Um cientista político na Alemanha, Herfried Münkler, autor do livro Impérios, a Lógica do Dominância Mundial, diz que está no fim a “dominância americana”. Mais um império começa a ruir. Ele compara com o que aconteceu ao findar o império alemão na década de 1920. O fim de um Estado imperialista “provoca inicialmente um vácuo perigoso de poder... Sem a crise que abalou a Europa entre 1929 e 1932, o regime nacional socialista, o nazismo, não teria sido possível”. Não somente ele, mas outros analistas falam do perigo da expansão dos extremistas. Quando o gato sai os ratos botam a cabeça pra fora do esconderijo.
O que deve começar a acontecer, segundo ele e amparado nos exemplos da história, é que a “arrogância” dos EUA vai diminuir: “Como um império o país podia se dar ao luxo de usar uma doutrina unilateralista. A guerra do Iraque e a posição norte-americana sobre o aquecimento global são dois exemplos de como Washington, em vez de acompanhar a decisão da maioria das nações preferiu ditar suas próprias normas. Se podemos falar em algum efeito positivo dessa crise, então ele seria a maior disposição dos EUA de cooperar com a comunidade internacional”. Mas o lado negativo é que sem um xerife internacional “países que lutam para construir armas atômicas, como o Irã, podem aproveitar o estado de fraqueza do Ocidente para uma surpresa. Nunca a situação mundial foi tão frágil”.
Tem outra coisa. O império, nos últimos anos, cresceu desmesuradamente não só por ter criado uma falsa impressão de riqueza, os financistas fazendo que um dólar real se multiplicasse em trinta pela invenção de uma porção de papéis sem respaldo, mas por vender sua moeda ao mundo todo. Herfried disse: “Enquanto os países do Terceiro Mundo entravam em dificuldade com o aumento da dívida externa, Washington financiava seu débito atraindo capital do mundo inteiro”. Veja nosso exemplo: o Brasil juntou U$200 bilhões como reserva contra uma crise de crédito. Essa grana toda foi parar lá. Foi uma coisa certa, o país está mais ou menos blindado. Mas se esta moeda começar a perder o valor, a ser desprezada pelo mundo que vai preterí-la pela moeda chinesa, por exemplo, quem vai querer comprar nossos dólares? Eles mesmo não terão como recomprar os trilhões espalhados pelo planeta. Houve tempo que todo o dinheiro norte-americano em circulação era lastreado por ouro. Hoje, as reservas deles não cobrem nem dez por cento do dólar que circula pelo mundo.
Resta uma coisa para os EUA despencarem de vez, o que sempre aconteceu nos impérios que caíram. As mentes brilhantes trocarem suas universidades, empresas e laboratórios por trabalho em outro país. Foi o que aconteceu com a Alemanha quando o nazismo tomou o poder. Os grandes cientistas debandaram para outros países, especialmente para os EUA, levando seu saber que se transformou em produtos com enorme valor agregado. E isto ainda não está dando pra se ver.

Em todo caso temos de ficar "ligados". Mantendo nossa canoa na direção certa, seguindo o fluxo bom do mundo. Falei canoa, mas devia ter falado "nossa bike". Afinal é andando em cima dela que vejo melhor o que está acontecendo em minha volta.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Saia de tua Prisão




Ernest Mach (1838-1916), austríaco, era filósofo e físico, mistura interessante. e foi autor do livro Contribuição à Análise das Sensações. Ele entendia que cada ser humano é um “prisioneiro existencial”, ele está algemado ao real e seu comportamento é dirigido pelo acaso e pelo arbítrio da vida. Seu pensamento era que cada um cria para si (outros entende que recebe um destino ou missão) ou se ajusta a uma gaiola. Sua mulher, pelo caráter que tem, seus filhos da mesma forma, e seu emprego o cercam e o obrigam a um modo de agir. Está engaiolado. Penso no exemplo de um de meus filhos: ele trabalha na Barra e passa todo dia na frente do mar, sua vontade era pegar onda com uma prancha, mas as obrigações não o permite.
Um escritor da mesma nacionalidade, Arthur Schnitzler, leitor das obras de Mach, disse que nessa prisão a maioria se conforma, mas outros, “um certo número de indivíduos acreditam que estão evoluindo, mas de todas as qualidades que imagina estar melhorando, só a vaidade coincide com isso”. Não, para este escritor de Crônica de uma Vida de Mulher, o ser humano está preso a uma existência de imobilidade. Neste livro, a personagem é uma mulher que viveu no período dramático da derrocada do império austro-húngaro e viu a família perder todos os bens e o pai enlouquecer. Ganha o mundo pensando estar se libertando daquela prisão e vive uma existência de amores frustrados e fracasso na vida profissional. Continua presa a uma vida sem alegrias.
Para o filósofo e o escritor cada humano está numa jangada ao sabor do oceano e mesmo cercado de incertezas a vida costuma ser segura. Mas com o correr do tempo as partes que formam sua jangada começam a se soltar: a morte leva pessoas queridas e abre fundos buracos nos sentimentos, se aposenta ou é dispensado do trabalho que sabe fazer e não encontra outro ou perde bens que o sustentam. Sem mais uma segurança ou prisão existencial o homem se desintegra.
Porém, na própria história que Schnitzler escreveu, sua personagem, Therese Fabiani, imprensada pelas circunstâncias ainda consegue lutar e abrir um caminho em sua vida. Esta é a lição: na se acomode. Mesmo a saúde se ressente do comodismo. Por isto uns camaradas que não dão o braço a torcer deixam a cama quentinha numa manhã fria e sobem em suas bikes e pedalam, pedalam, fugindo de alguma coisa ou procurando algo. Tem gente que acha que nossa jangada, a gaiola dourada da gente, é nossa bicicleta. Pois não quero ficar sem minha gaiola!

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

O Mercado


Desde o início deste século se começou a falar que a “força do Mercado” não era bastante para garantir o bem estar do ser humano.

Quando começou a Revolução Industrial no século 18 os políticos e economistas acreditaram que finalmente a humanidade teria um meio mais seguro para se desenvolver do que a agricultura de sobrevivência e daí por diante o Estado devia deixar por conta do Mercado o cuidado dos cidadãos. Ele proveria trabalho e salário digno, providenciaria plano de saúde, aposentadoria e seguro de vida tirando do Estado a obrigação assistencialista que sempre executou mal. Filósofos como Marx e Engels e políticos como Lênin contestaram isto e por meio de uma revolução implantaram em vários povos o socialismo comunista. A Europa ficou no meio termo e defendia um socialismo capitalista. Os EUA se tornaram os grandes defensores do capitalismo e do Mercado e ferrenhos opositores do socialismo e do comunismo. Foram tão bem sucedidos que países como a França, social-democrata, eram considerados retrógrados.
Mas o que todo mundo começou a sentir no fim do século 20 é que a exigência do Mercado de dispensar operários para reduzir custos e ganhar a competição, exigir experiência para contratar um empregado tornando difícil o ingresso dos jovens nas empresas colocando-os na marginalidade e estabelecer metas de produção sempre superiores insuflando o desperdício e o acúmulo de bens e tornando a vida dos empregados uma roda-viva, não estava sendo bom para ninguém.
Todo o problema do capitalismo dito “selvagem” é o lucro. Aquela diferença entre o custo de produção e a venda. Antes as empresas podiam ganhar o que quisessem desde que monopolizassem o Mercado, com a concorrência têm de cortar custos prejudicando pessoas, a quem deviam servir. Este lucro sempre mais generoso foi o responsável pela situação em que se encontra a sociedade em todos os países neste início do século 21. Querendo mais lucro emprestavam dinheiro a juro alto para quem quisesse comprar um imóvel. O preço da moradia foi só crescendo. Os bancos e seguradoras tinham em seus cofres hipotecas de casas que não valiam o que o papel indicava. Quando as famílias, pessoas comuns, não puderam pagar o preço exorbitante que o Mercado lhe cobrava os agentes financeiros viram seus papéis despencarem de valor. Olha, até os bancos que sempre prosperaram por ser sovinas e avaliar sempre por baixo o valor de um bem, seja meu o seu cometeram esta besteira! A ganância fez avaliarem por cem um imóvel que vale cinqüenta. Mas como a maior parte do dinheiro que está com eles é de cada um de nós estamos todos sendo penalizados de alguma maneira. Querer os "ovos de ouro matando a galinha" nunca deu certo.
Mas quem sabe, toda esta amarga lição para o bolso não seja a mola para a mudança de pensar da raça humana e a gente volte a exibir menos os bens, não desperdiçar tanta comida e combustíveis e assim ajudar o planeta a aguentar esta carga de “malas-sem-alça” que somos todos nós, os “filhos de Deus”, os “reis da criação” e o que mais inche o balão do nosso orgulho.

Ah sim, andar de bicicleta ao invéz de usar o caro também faz muito bem

domingo, 14 de setembro de 2008

Um Corpo para uma Finalidade


Estava no Val, levei a bicicleta para trocar o câmbio dianteiro e encontrei Mazinho. Falamos sobre problemas nas compras pela internet. Contei que comprei o câmbio, bom e mais barato, mas veio com a braçadeira em cima e devia ser em baixo, tive de trocar numa loja do beco e pagar a diferença. Ele contou da compra de uma bicicleta feita por um colega que mandou a especificação de todas as peças e chegou uma bike completamente diferente do que ele queria.

Vim embora e juntei esta conversa com o que li sobre Bibi Ferreira. A grande atriz tem 86 anos e representa todos os dias durante 90 minutos com uma voz que chega bem clara aos 400 lugares do teatro. Como é que ela cuida de seu corpo para estar assim em forma nesta idade? O repórter contou que o dia para ela começa mesmo na hora em que vai para o teatro, por volta de 19 horas. Faz sua própria maquilagem e um leve exercício (sentada estica cada perna por três vezes), aquece a voz e confere se tudo do que vai precisar no palco está correto. Depois do espetáculo sai pra cear uma refeição com bastante carboidrato (não come verduras nem legumes). Em casa assisti um filme novo e vai dormir. Dorme bastante. Só acorda ao meio-dia. Dispensa o almoço e o café-com-leite da tarde. Não malha de jeito nenhum. Bem, como é que este modo de vida tão diferente do que os médicos nos aconselham hoje deu certo para ela? Foi isto que juntei com o que o colega contou, a configuração da bike.

Antes de nosso nascimento uma combinação de informações genéticas do nosso pai com as de nossa mãe (genes que vieram sendo selecionados há muitas gerações) estabelecem nossa configuração, como vão funcionar nossos órgãos e até o tempo provável do bom funcionamento de cada um. Para alguns o fumar vai provocar um câncer ou um acidente vascular antes dos 50 anos, para outros as substâncias tóxicas do cigarro não vão interferir com seu corpo e vão morrer bem depois dos 90 anos. É uma charada. O bom senso diz que mesmo sem sabermos como fomos montados pelos genes é melhor cuidar bem do nosso organismo. São tantos fatores, bilhões, que apesar dos cientistas procurarem incansavelmente compreender e controlar cada um deles a gente acha melhor “entregar pra Deus”.

Isto inclui entender o mundo espiritual. Aqueles que acreditam nisso entendem que nosso organismo vive em simbiose com um ser espiritual e que esta comunhão é decidida antecipadamente por seres que controlam trilhões de informações. Eles escolhem o casal que pode prover as configurações necessárias para o que aquele espírito vai, e precisa, viver em um corpo. A união para produzir aquele ser pode mesmo ser fortuita, como na música de Chico Buarque, Minha História: “Ele veio sem muita conversa, sem muito explicar./ Eu só sei que falava e cheirava e gostava do mar./ Sei que tinha tatuagem no braço e dourado no dente/ e minha mãe se entregou a esse homem perdidamente./ Ele assim como veio partiu não se sabe pra onde/ e deixou minha mãe com o olhar cada dia mais longe.” Um pai que só lhe deu os detalhes necessários para que seu corpo biológico cumprisse um propósito em sua existência.

Então somos assim. Algo ou Alguém detalhou todo o esquema de como precisava ser nosso corpo e sem falta o recebemos, nos mínimos detalhes da configuração exigida. Mesmo um erro médico na chegada ou um acontecimento durante a gestação (construção da máquina) fizeram parte do projeto. Não há a quem nos queixarmos, somos o que deveríamos ser. Use bem sua bike, seu corpo.        

domingo, 31 de agosto de 2008

Quero o teu voto

Meu camarada fique ligado.

Melhor, o mestre ensinou: “Vigiem e orem para que não sejam tentados”.

Uma boa história pode tirar o foco da gente e nos levar a tomar decisões que depois nos arrependemos. Depois que “vender uma idéia” ganhou o nome de “marketing” e foram estudadas cientificamente o que dá mais certo e o que funciona melhor na convicção dos outros o vigiar ficou mais necessário.

Hoje, neste dia de domingo que ainda não se definiu, não sabe se vai ser de sol ou de chuva, e que fiquei em casa sem pedalar, recebi do amigo Nelson uma piada que ilustra a importância de se examinar bem o que nos mostram.

Um senador morreu e chegou diante de São Pedro.

O guardador da Porta explicou,

- Quando chega aqui um político muito importante, o que é muitíssimo raro, tenho ordens de mandá-lo primeiro conhecer as opções.
- Quais são elas?
- Fazer uma visita ao Inferno e depois conhecer o céu.
- Não precisa, estou decidido a ficar no Céu.
- Senhor, ordens são ordens. Já devia saber bem o poder das normas!
- Se não tem outro jeito.
E assim o senador desceu ao Inferno. Ali encontrou vários políticos se divertindo numa partida de futebol e comendo churrasco regado a cerveja gelada. Um papo descontraído falando de muitas mutretas completou o dia e ele nem pode dar uma boa olhada em volta. Voltou à frente de Pedro que o mandou para uma visita ao Céu. Ali, em um ambiente de adoração os seres santos executavam diversas tarefas sem fim. Depois de um dia de conversas recheadas de devoção ao Eterno o senador volta ao Portal.
- Então, já se decidiu?
- Sim, gostei mais do Inferno. Não tinha idéia de que fosse assim.
- O Senhor viu tudo com bastante atenção?
- Não sou criança!
- Então vá! Chegando lá ele se defronta com um lixão onde pessoas se empurrão para pegar qualquer coisa para comer. O dono do lugar se aproxima e o senador reclama.
- Mas estive aqui ontem e o lugar era completamente diferente!
O responsável pelo local é curto e grosso.
- Acontece que ontem estávamos em campanha. Nesta ocasião fazemos tudo ficar bonito e só falamos de coisas boas. Depois que a gente consegue o voto do otário volta tudo a ser como sempre foi. Agora que conseguimos seu voto, bem vindo a realidade. ha-ha-ha-ha-ha

sábado, 9 de agosto de 2008

Encontro de Galáxias

Desde Tycho Brahe, que ainda não possuía o telescópio, as estrelas foram registradas e estudadas em suas particularidades e o Universo começou a ser entendido, não como sinais e prodígios para o ser humano, mas como intrincado enigma que o homem com sua razão talvez jamais compreenda completamente.
Passou quase 500 anos e agora os astrônomos com instrumentos estupendos conseguem assistir o espetáculo do Universo em movimento, formando e destruindo mundos e tornado a construí-los para eliminá-los novamente em um ciclo sem fim.
Neste ano de 2008 eles viram na posição de Aquários, há 90 milhões de anos luz de distância, um espetáculo eletrizante, duas galáxias se abraçando. Para ver algo a tal distância o ser humano precisou inventar instrumentos que Tycho Brahe nem imaginava, um espectógrafo com multi-objetivas acoplado ao telescópio Gemini, no alto dos Andes, no Chile. Um astrônomo “viu” aquela cena como se fossem dois esqueitistas que vindo de direções contrárias se dão as mãos quando passam um pelo outro. A galáxia à esquerda (em baixo) é registrada como NGC 5427 e a outra a NGC 5426. Este assombroso agarramento vai causar a transformação de ambas em uma só grande galáxia elíptica. Como diz no livro de Gênesis da Bíblia: “O homem se une a sua mulher e os dois se tornam uma só pessoas”. Deve demorar 100 milhões de anos para que se aniquilem como galáxias individuais e se tornem uma só grande massa de corpos celestes.
A aproximação delas duas começou em um tempo que aqui na Terra a evolução, seguindo um projeto divino, começava a fazer nascer primatas com novas características que levariam ao nascimento dos humanos. Foi há 60 mil anos.
Já se vê bem definido um braço da 5426 envolvendo sua companheira. Por esta ponte elas já compartilham gases e poeira que devem estar formando estrelas e planetas com material de ambas.
Este acontecimento é comum no Universo. Os astrônomos só agora se dão conta disso, mas muitas galáxias se unem assim. Nossa própria Via Láctea está se aproximando de Andrômeda e também vão passar por uma fusão descomunal. E nós, você e eu? Chegamos, olhamos rapidamente e sumimos? Creio que eu e você somos apenas um pedaço da vida de um ser eterno que verá esta cena fabulosa em toda a sua extensão.
“O Deus Eterno me criou antes de tudo, antes de suas obras mais antigas. Eu fui formado há muito tempo, no começo, antes do princípio do mundo. Nasci antes dos oceanos, nasci antes das montanhas, antes de Deus ter feito a Terra. Estava a Seu lado e era sua fonte diária de alegria, sempre feliz na Sua presença” (Provérbios 8:22-31).

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Minha neta e o pós-modernismo

O filósofo italiano Gianni Vattimo ensina que o modernismo acabou quando “a idéia de racionalidade central ou pensamento único” foi questionada pela opinião pública que passou a desconfiar das religiões e outras instituições e criticar o papel da família. Ergueu-se o estruturalismo, “todas as culturas possuem direitos iguais”, os norte-americanos e europeus não estavam no caminho certo enquanto africanos, asiáticos e sul-americanos perdiam-se numa estrada errada. Todos estam desenvolvendo um projeto de futuro.
Vi a realidade disso conversando com minha neta de 14 anos. Ela se queixava das reprimendas intermináveis do pai: “Vô, ele tem medo que eu faça as mesmas coisas que ele fez! Ele não entende que meu pensamento é diferente do dele”. O pós-moderno é um jeito de ver a vida em que não há mais verdades inatacáveis, o que não é outra coisa que “pretensão autoritária de pensar pelo outro e atentar contra sua liberdade”. É o famoso conceito relativista da física aplicado politicamente nas “democracias liberais em que vigora a liberdade de pensamento”.
Em outro tempo, quando minha cabeça era feita por dogmas religiosos, ficaria estarrecido de ouvir Pâmela falar: “Não sei se acredito em Deus. Os antigos achavam que um relâmpago era um deus e estavam errados, porque estão certos os que acreditam em Deus agora?” Parece até que ela leu Nietzsche que em Assim Falou Zaratustra, diz: “Sofrimento e incompetência; eis o que criou todos os deuses e todos os além-mundos. Ouve sempre muitos enfermos entre os que sonham e suspiram por Deus; odeiam furiosamente o que procura o conhecimento. Acreditai-me, meus irmãos".
Bem, se vivemos então neste momento histórico em que compreendemos que nada está completamente definido ou como dizia Heidegger: “Nós somos projetos e por isso precisamos de liberdade e espaços abertos para nos desenvolvermos”, como lidar com minha neta e seu anseio de auto-afirmação? Gianni diz que o caminho é a “discussão mais intensa dos pontos de vista e a participação ampla de cada um sem o que se asfixia a democracia. E nenhuma luta contra o terrorismo ou as drogas pode cercear o livre aprendizado de cada um”. Bem, vou dizer a meu filho para falar e deixá-la replicar também. Este é o modo de se lidar em casa com a mentalidade pós-moderna.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Como escrever e dizer alguma coisa


Qual deve ser a função de cada humano? Seja médico, ciclista, advogado ou escritor nossa missão deve ser estimular “a poesia do coração ou a prosa das circunstâncias da vida (quem destacou isto foi o filósofo Hegel)”? Em miúdos, nas relações entre as pessoas nosso impulso deve ser de humanizar o outro ou de bestializá-lo?
João Gilberto Noll, escritor gaúcho de O Cego e a Dançarina, Rastros de Verão e outros, e convidado para discutir a obra de Machado de Assis na FLIP de Paraty, acredita no que outro filósofo, Marcuse, disse: “que a cultura é a negação ao que é, a suprema renúncia diante de certo hedonismo”. Cultura é um intrincado conjunto de comportamentos, significados e idéias que grupos humanos juntaram para normatizar seu modo de vida. A intenção sempre foi criar degraus de ascensão do ser humano. Viver numa caverna queimando carne e grãos era muito próximo do animal. Ao aprender como fazer utensílios e ferramentas, cultivar a terra e colher seu alimento e edificar uma casa com móveis os indivíduos se afastaram mais das bestas e esse aprendizado se tornou norma. O homem tinha ascendido mais um degrau. E assim vem acontecendo. Mas quando vemos uma família vivendo num condomínio com as mais modernas técnicas de construção, com um banheiro que está muito distante do antigo matinho que escondia o defecar e cercado de móveis de lindo designer e roupas de tecidos especiais, tão diferente da roupa mal costurada feita de pele animal, e ainda assim comete uma agressão assassina contra um filho parece que o bestial dentro de nós continua forte e tudo que aprendemos foi só um verniz vagabundo que não serve de nada e é pura hipocrisia. Então, há os que entendem que ajudar o seu irmão é fazê-lo se confrontar com a besta que ainda dorme dentro de si. Assim pensa Noll: “Eu detesto o tom psicologizante do teatro ou da literatura, tom que acentua a visão rasa do humano”. Por isto a ficção dele, como em A Fúria do Corpo, explora a inutilidade e a inoperância da família humana, este pensamento é chamado de “literatura negativa”, termo formulado por Mallarmé, outro estudioso do comportamento humano. O enredo desse livro fala “da explosão da libido no ventre da miséria”. Uma vida dolorosa. “No momento em que expando esse universo mínimo até a tensão máxima acho que a ondas propulsoras desse pontinho humano poderão despertar a paisagem adormecida, já estrangeira para o nosso entendimento”. Para ele “a atividade ficcional é como levantar o tapete para mostrar o que fizemos da vida. Se a escrita não lhe der profunda vergonha talvez ela esteja insípida demais, inofensiva”.
Para onde está indo a humanidade? Somos o ápice da evolução, o plano final de Deus? O ser humano, o filho de Deus. Ou virá outra raça? Como é que cada um de nós pode contribuir para isso? Será que devassar a podridão em nossa volta é a melhor maneira de redimir o homem? Noll diz: “O que espero de qualquer escrita é que ela me devolva o espanto que a vida viciosa roubou”.
Para quem quer escrever ele ensina seu método: “Por isso talvez eu seja um escritor de linguagem e não temático. A linguagem é que vai abrindo o texto para a narrativa e não um assunto predeterminado”. Ensina aquilo que tantos escritores falam: “o medo do papel em branco”, o que vai ser colocado naquela página. Será que consigo exprimir meus pensamentos e desejos de um modo que os outros apreciem? Ele diz: “O início da escrita é um momento de aquecimento, de tatear no escuro, até que eu encontre o tom preciso da narrativa, graças ao exercício bruto da palavra, sem medo de aqui e ali extrapolar. Depois de terminar a história retorno ao início para trabalhá-la dentro da clave geral do livro, já que até ali esse começo era apenas um laboratório de ensaios”. E afinal o que vai surgindo na página em branco só vale a pena ser lido se não for parte do racional do escritor. “A trama vai se configurando à medida que a força do inconsciente se acelera, cresce. Não tenho a menor idéia de onde a coisa vai dar”. O racional surge na fase final da escrita: “Num segundo, num terceiro ou quarto momento aí vou trabalhar o texto com certa obsessão”. Aí, o que tinha de sair já está ali, para o bem ou para o mal. “Se há alguma qualidade literária que eu preze acima de todas é de fato a surpresa, a capacidade de captar a vida naquilo que ela tem de mais arredio”. Daí, como nos livros dele, as pessoas que surgem são sacudidas pelos instintos mais baixos, mas conseguem sobreviver a eles.
É, talvez nesta “literatura negativa”, pelo espanto que ela nos causa, a gente veja melhor para onde estamos indo.

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Superioridade


Quando a gente anda nas trilhas tem sempre alguém que se queixa: "o ritmo está muito forte", "minha bike não está legal", "eu não estou legal hoje", "a gente devia ter ido por outro caminho". O crítico literário José Castello diz que para este alguém "a realidade nunca se submete a seus propósitos", e o cara fica difícil de aturar.



Castello lembra (O Globo 21/6/2008 p 4 Prosa & Verso) um verso de Fernando Pessoa e coloca na boca desses sofredores: "Cansa tanto viver! Se houvesse outro modo de vida!". O tal sujeito está num beco sem saída porque o problema dele "não é o de mudar o modo de vida ou do estilo de vida, mas precisa se livrar da própria vida".



Ele fala deste tipo a propósito de um livro de Carlos Heitor Cony, O Ventre, e de seu personagem, um tal Severo que diz ter nojo da vida: "Desprezo pela própria criação, que inclui sempre o imprevisto e o desagradável". Cony captura um pensaqmento daquela mente tortuosa: "A vida não vai mudar nunca. A vida não vale a vida".



Castello explica que "o nojo pressupõe mais que aborrecimento e incômodo, é fruto de um sentimento de primazia que coloca a pessoa acima do mundo medíocre". E este parece ser o estado de espírito da maioria das pessoas de nosso tempo, se sentir dono de tudo, supérior aos outros. Este pensamento dificulta muito. Castello pergunta, se colocando no lugar de um tal: "Para que criar, se tudo que geramos é imperfeito?" Paraliza tudo. Não será este "observar as coisas desde o alto e não aceitar a planície da imperfeição" o âmago da temida depressão?



Este pensador que gosto de ler diz que precisamos "aceitar a idéia de que estamos sempre a rascunhar a vida" e conclui: "Até a ilusão deve ser ser imperfeita ou seríamos só uma massa burra".



Nunca mais vou me queixar na trilha, mesmo que um freio ruim me faça deixar um pedaço de meu braço numa cerca de arame. C'est la vie!

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Fuja para os Montes


O mestre Jesus disse uma vez (Lucas 21:20-24): “Quando vocês virem Jerusalém cercada por exércitos fiquem sabendo que logo será destruída. Então quem estiver na cidade fuja para os montes e quem estiver no campo não entre nela”. Ele frisou a necessidade de fazer uma grande mudança na vida diante de uma crise iminente.
Estou falando isso porque junto com a conta de água chegou um prospecto fazendo várias sugestões: apagar a luz sempre que não estiver no cômodo, não deixar a torneira aberta enquanto faz outra coisa que não lavar e evitando o uso do carro sempre que possível. Já estamos tão acostumados a desperdiçar que a vontade é não fazer nenhuma mudança na nossa vida, mas o mestre insistiu: “Como serão horríveis aqueles dias para as mulheres grávidas e para as mães com criancinhas”.
O Brasil começa acordar para o aquecimento global e trouxe para trabalhar com Minc no Ministério de Meio ambiente uma mulher que dividiu com Al Gore o Nobel da Paz, Suzana Kahn Ribeiro, uma carioca que vai gerir a secretaria de Mudanças Climáticas. Ela chega detonando: “As pessoas tendem a culpar os madeireiros, mas esquecem de verificar se o carvão vegetal do seu churrasco é fruto do desmatamento” (O Globo 8/6/2008 p 11). É o não é preciso fazer mudanças em nossos hábitos e ficar mais alerta a destruição do meio ambiente?
Ela adverte que o aquecimento global vai elevar o nível do mar e aumentar as enchentes: “Os temporais afetarão mais quem está no alto da favela do que quem mora no asfalto. O aquecimento global vai agravar as desigualdades”. Ela também vem monitorando como o trânsito cada vez mais engarrafado das cidades contribue para o efeito estufa: “Ninguém mais compra geladeira que emite CFC. Agora, o governo já tem um programa de etiquetagem dos veículos que saem de fábrica com os percentuais de poluição produzidos pelos motores”. Ela espera que o brasileiro comece a pensar como os norteamericanos e europeus que estão abandonando os carrões por modelos econômicos.
Em outro campo ela está preparando um plano nacional para capturar o metano produzido nos lixões sendo aproveitado como fonte de energia. Não se pode desperdiçar mais nada. Para dar o exemplo à iniciativa privada ela vem trabalhando para que os prédios usados por repartições do governo evitem desperdício de água e energia, só comprem móveis com madeira de procedência correta e outras atitudes que vão demandar uma consciência mais ecológica das pessoas.
Bem a gente que anda de bicicleta pelas trilhas da roça e participa de iniciativas de divulgação do uso da “magrela” dentro da cidade – participamos de duas este mês – está contribuindo um pouco para evitar que nosso planeta fique cercado pela poluição como Jerusalém foi cercada pelos exércitos romanos. Temos de participar “fugindo para os montes”. Mudando nossos hábitos.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Aqui qui nóis mora


Quando se anda de bicicleta em noite de lua cheia olhando para o chão não se vê bem a trilha luminosa que se estende lá em cima no céu, a Via Láctea. A última edição da revista Astronomia disse que o primeiro a tentar mapear esta galáxia, da qual a Terra faz parte, foi William Herschel, em 1785. Contando as estrelas nos quatro cantos do céu ou em 600 sentidos diferentes calculou que ela fosse no feitio de um prato oval e com um comprimento em sua parte mais longa do que mais tarde se nomearia como 6.000 anos-luz. Mais de dois séculos depois, em 1951, William Morgan do Observatório de Yerkes traçou um novo perfil para nossa galáxia. Estudando as estrelas por sua emissão de calor explicou que ela tinha a forma de um disco com três braços em forma de espiral e nomeou cada um pelo nome de suas constelações principais: Perseus, Orion, e Sagitarius.
Agora, com exames de rádio, traçaram a forma do gás galáctico solidificado que mostrou um retrato mais definido de nossa galáxia: é uma espiral com quatro braços proeminentes chamados Norma, Scutum-Centaurus, Sagittarius, e Perseus. O braço que Morgan denominou Orion, onde está o Sol e nossa Terra, é identificado agora como um apêndice de gás e poeira situada entre os braços do Sagittarius e do Perseus.
"Traçar os braços espirais é muito difícil.", diz Robert Benjamin da universidade de Wisconsin-Whitewater, "Por muitos anos, os astrônomos de diversos povos criaram mapas da galáxia inteira baseada em estudos de apenas uma seção dela ou usando somente um método. Infelizmente, quando os modelos dos vários grupos foram comparados, eles nunca concordavam.”
Benjamin e seus colegas aplicaram um exame infravermelho (chamado RELANCE) que incluiu mais de 100 milhões de estrelas ao longo de uma área de 130° do céu. Os astrônomos mediram a densidade das estrelas e detectaram uma overdensidade no sentido do braço de Scutum-Centaurus, que começa no centro da Via-Láctea e se prolonga em sua volta. Mas não viram nenhuma quantidade correspondente no número de estrelas associadas as posições previstas dos braços de Sagittarius (mais afastado do centro) e do Norma (mais próximo do centro).
Assim, os novos resultados indicam que a Via-Láctea tem dois braços principais, Scutum-Centaurus e Perseus (mais afastada do núcleo da galáxia), e uma aparência comum às galáxias em espirais. Neles dois estão grandes densidades de estrelas novas brilhantes e gigantes vermelhos mais velhos. Os braços Sagittarius e Norma parecem ser menores e formados por gás e bolsões de estrelas novas.
Uma outra pesquisa encontrou um braço espiral incomum a aproximadamente 10.000 anos-luz do centro contendo aproximadamente 10 milhões de sóis formados com gás de hidrogênio e, estranhamente, parecem vir ao nosso encontro a uma velocidade de mais de 190.000 km/h. Patrick Thaddeus, no centro Harvard-Smithsonian de astrofísica analisou os mapas de rádio do gás galáctico obtidos no observatório de Cerro Tololo no Chile e novos dados saltaram a vista.
Agora os astrônomos entendem que enquanto as espirais giram produz ondas de choque em grande escala que provavelmente esculpi os braços e ordenam seus movimentos externos. Um olhar detalhado nas posições e nas velocidades dos braços mostra que estas áreas orbitam a galáxia mais lentamente do que esperada.
Uma rede combinada de 10 telescópios de rádio conseguiu a melhor definição angular na astronomia da Via-Láctea até agora. Mediu o paralaxe das regiões deformadas pelas ondas de densidade dos braços em espiral que mais velozes alcançam e retardam as nuvens de gás comprimindo-as, o que provoca a formação de estrelas quentes, novas. A diminuição torna a galáxia mais elíptica do que a forma circular idealizada pelos astrônomos.
A procura de respostas, a indagação, em qualquer ciência ou profissão é o que leva à novas descobertas e conquistas. E apesar do estudo do Universo ter aprendido muito ainda há muita coisa para se descobrir sobre este amontoado de estrelas no qual a vida surgiu na forma humana aqui na Terra.

domingo, 8 de junho de 2008


O polonês Jerzy Slolimowski é um cineasta, mas não fez disso sua única atividade. Nos anos da década de 1960, quando a juventude do mundo inteiro se revoltou contra seus pais e a maneira que conduziam seu país, ele fez filmes de vanguarda condenando a União Soviética que estava acabando com a tradição e cultura de sua pátria.
Então, quando o cinema se tornou antiestético e passou a copiar Holywood ele largou seu trabalho e foi viver recolhido numa floresta do interior onde pintava paisagens em tons grisalhos e secos, a cor da Polônia.
Seu exílio auto-imposto foi uma decisão corajosa: “Não existem lugares por mais interioranos que sejam que as noites não sejam iluminadas pelas luzes da TV ou dos computadores ligados. Tudo isso passou a ser supérfluo para mim. Precisava do silêncio e da quietude para criar. No barulho não existe a ordem. Na tranqüilidade eu me permito fazer associações poéticas ao olhar uma imagem.”
Mas o prazer de gritar, “Ação!”, estava em seu coração e quando leu uma notícia sobre um vilarejo onde o homem apaixonado ficava espiando em devoção a mulher escolhida ele deixou seus pincéis e sua palheta e voltou a cidade convencendo um produtor a lhe dar dinheiro para filmar. Com pouco dinheiro criou um filme denso: “A chave para entender o visual de meu novo filme, Quatro Noites com Anna, está na contemplação. É preciso entender o tempo dos movimentos de câmera nesse exercício, diferente do que o cinema industrial faz. Como a história se passa na floresta meus personagens não precisam de telefones, televisores ou internet. Precisam de liberdade contra a opressão do frívolo.”

Se você é dos que gosta de filme de ação é bom nem procura-lo numa locadora porque deve ser um negócio muito paradão, escuro e introspectivo: “A pintura educou o meu olhar para dramaturgias pautadas pela cor. Quanto menos cor no quadro, mais brandas são as luzes de uma seqüência e mais fácil deixar transpirar sentimentos. A câmera tem de se mover com lentidão, percebendo e refletindo sobre o que está a sua frente. Escolhi como protagonista um homem que não é ator profissional e que teve um derrame. Isso limitava seus movimentos e era perfeito para tentar combater a velocidade anti-estética do cinema atual. Um homem de movimentos limitados me permitiria filmar suavemente.” Dá pra ver que filme cult, cabeça, é Quatro Noites com Anna. Mas tem uma coisa que gostaria de ver neste filme, “ele fala de uma forma diferente de amar: a observação do ser amado”.
Com certeza o ritmo cada vez mais louco do mundo precisa ser freado. Tem que ter um cara meio louco, podia ser eu ou você, falando, assumindo e criticando as doideiras que não enriquecem em nada a vida da gente. Os orientais buscam um coisa importante, a meditação, não para contemplar o outro mundo mas para nos fazer deixar de lado as preocupações e vaidades e nos concentrarmos em nosso crescimento humano.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Geração 1968


Geração 1968, já vai tarde!

Não se fala em outra coisa. Políticos corruptos, compositores e empresários que dominam o cenário nacional e mundial eram jovens adultos no fim da década de 1960 e estudiosos e curiosos procuram entendê-los estudando o que aconteceu naquela época. É como se estivessem procurando uma “cabeça de burro” enterrada no passado e que resultou no mundo em que vivemos. Esses velhos com o lema de “vamos mudar o mundo” quase acabaram com ele.
Aquela geração, eu inclusive, era filha da 2ª Guerra Mundial e de pais que viveram um Brasil agrícola e comercial, mas que participaram da explosão industrial. Nossos pais eram pessoas sem muita instrução, beatas e que pautavam a vida por princípios que eram tradições antigas. No meu caso tive a felicidade de ter uma mãe desquitada, não se sujeitou a um marido sem caráter, e um pai que tendo estudado só até a 4ª série lia compulsivamente. Então já eram mais tolerantes.
Antes, nos anos da década de 1950, a gente já pressentia mudanças no ar. Nunca me esqueço da tarde em que preguiçosamente fazia os deveres da escola e uma colega me ligou esbaforida mandando ligar o rádio na Metropolitana. O locutor dizia: "No programa de hoje dedicado a música norte-americana vamos tocar um novo ritmo que está causando furor lá fora, o rock’roll". E o ar se encheu das batidas enfezadas de Blue Suede Shoes, de Elvis Presley.
O poeta Ferreira Goulart diz ( em O Globo de 18/05/2008, Segundo Caderno p 2) que era a contracultura, “os artistas se rebelaram contra o status quo capitalista e a sociedade burguesa que sufocava a visão transcendente de então reduzindo-a a realidade nua e crua”. Era isso que a gente estava sentindo e que nossos pais não conseguiam ver, a transcendência. Goulart explica que aquele “espírito da vanguarda era internacionalista, mas como dizia Mário de Andrade, tudo que é universal é nacional de algum país”. E a garotada da época se empanturrou de cultura norte-americana. O poeta recorda: “Quando, no plano da música, essa contracultura surge no Brasil, ela nega a música popular brasileira e fala do som universal. Para o bem e para o mal esse processo de redução de caráter nacional e regional já era um ímpeto globalizante”. Politicamente isto sepultou o estilo de Getúlio Vargas, um pai dos pobres, um nacionalista e gerou a politicgem que temos.
Mas esta rebeldia contra os pais que saíram da pobreza e só pensavam em ter uma casa bem mobiliada com TV e geladeira e um carro na garagem desmanchou no ar: “No frigir dos ovos aquela contracultura norte-americana foi completamente absorvida e anulada. Ora, ela contestava a sociedade de consumo, mas com ela esta tornou-se mais forte a ponto de transforma contestação em chiclete”.
Então a nossa geração ficou pior do que nossos pais, como já dizia Belchior em Como Nossos Pais: Não quero lhe falar/ meu grande amor/ das coisas que aprendi/ nos discos... Quero lhe contar como eu vivi/ E tudo o que aconteceu comigo/ Vier é melhor que sonhar/; mais na frente diz: Eu vou ficar nesta cidade/ Não vou voltar pro sertão/. Sem princípios, aqueles antigos tabus que norteavam nossos pais, a geração 68 devorou o planeta sem nenhum pudor ou respeito, roubou e mentiu sem dó nem piedade e sem amor a nação, metidos a internacionais venderam a mãe, a pátria, e saquearam o povo já sofrido. Goulart diz isso de modo intelectual: “Essa ruptura pós-moderna alia-se perfeitamente à cultura de massa, à sociedade do espetáculo, a ponto de as artes plásticas virarem performance”.
O que resta pra geração de meus netos? O poeta dá uma esperança: “No meio deste quadro diluidor, porém, há uma faixa de pessoas com fome de transcendência, porque a vida é pouca e nem todos agüentam o nu e cru da falsa realidade dos reality shows. Uma submissão à morte da imaginação. No meio desse turbilhão os mais sensíveis buscam um outro tipo de expressão que tem cada vez menos lugar na sociedade, embora seja, em essência, mais importante. Porque tudo isso aí é espuma, lixo, desaparece pela natureza do que é e não deixa marcas. A vida continua a ser inventada por quem reflete, ainda que cresça, dia a dia, a enxurrada de espuma”. Deus te ouça, Goulart!

Que vale que minha geração está passando, os jovens de 1968 já estão velhos e sua maneira de pensar está acabando. Tomara que surjam outros Mahatma Gandhi, algum Winston Churchill ou alguma madre Tereza nesta nova geração e que façam a vida melhor neste planeta.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

No Tempo da Fome


Não é nenhum fim do mundo, mas o Programa de Alimentos das Nações Unidas anunciou que neste ano de 2008 os alimentos já subiram 57,5%. No tempo em que as nações creditavam suas dificuldades aos deuses pensava-se que um caso desse era uma punição deles, hoje existem as estatísticas e a Economia para explicar nossas dificuldades. Elas mostram, por exemplo, que um pobre sente mais a carestia do que um sujeito rico, pois enquanto para ele os gastos com alimentação correspondem a 60%, 70% do que entra de dinheiro em casa, para este são meros 10%. O fim dos tempos é para uns e não para os outros. E sempre foi assim. No Apocalipse (6:5,6), último livro da Bíblia, diz que sempre que é solto o cavaleiro negro, a fome, ouve-se a cantilena: “Meio quilo de trigo custa o que vocês ganham num dia inteiro de trabalho, mas para quem usa azeite e vinho não lhe custará tanto assim”.
A fartura e a fome vêm em ciclos que se repetem sempre. Mas para quem estuda estes fenômenos a situação é delicada e pode ficar perigosa, explosiva mesmo. O povo que de costume agüenta bem o sacrifício não suporta ver os filhos com fome. Os brasileiros mais velhos ainda lembram do tempo em que o populacho invadia supermercados saqueando tudo. Os especialistas dizem que podem acontecer instabilidade política e catalisar conflitos abalando a ordem pública.
Mas o pior é mais insidioso. O economista Wiliam E James disse (O Globo 03/03 p 25): “Depois de duas décadas tirando miseráveis da pobreza os países em desenvolvimento podem retornar ao empobrecimento caso os preços dos alimentos não voltem ao normal. Os mais pobres podem deixar de comprar roupa e eletrodomésticos, levando ao desemprego ou, ainda pior, abandonando o estudo para trabalhar e formando uma nova geração despreparada para alcançar as metas do milênio decididas pela comunidade das nações”. A fome trava o crescimento e pode causar recuou nos ganhos obtidos. Ela deixa um rastro de miséria que duro anos.
Mas qual a razão do aumento dos preços dos alimentos? Fidel Castro já tinha cantado a pedra quando falou que o biocombustível ia colocar nos carros o alimento tirado da boca do povo. O economista confirmou: “Ao contrário do etanol de cana produzido pelo Brasil, que não tem impacto direto na oferta de grãos, o etanol americano feito de milho é certamente um complicador”. O milho que os EUA produziam em abundância e vendiam para o mundo mantendo os preços em nível equilibrado agora é usado para fazer combustível. Não há sobra para exportar, aí os preços sobem e a polenta e o angu, alimentos básicos da mesa dos pobres, sobem de preço. Assim como a ração que alimenta o frango, o porco e o boi ambém fica mais cara fazendo o preço das carnes subirem como foguete. E como disse o presidente Lula, ainda existem os salafrários, os que para manter seu dinheiro sempre rendendo bem começaram a aplicar em commodities dos agronegócios fazendo que a médio prazo (até o início do ano que vem) o custo do alimento já fique com viés de alta crescente.
E tem o petróleo. Um especialista da área, Neal Ryan, disse (O Globo 10/05 p 35): "Há uma avassaladora relutância em admitir que estamos simplesmente em um novo paradigma de preços e não muito distantes de um colapso global da economia. Os preços do petróleo simplesmente não vão recuar para o patamar de US$75 (bateu US$126 no dia 09/05/2008)". E a gente sabe bem qual o peso desta matéria prima na cadeia de todos os preços.
Então, é se cuidar. Cuidado com dívidas porque a barriga não consegue esperar. Mas não é para desanimar. Fique sempre lembrando que depois da tempestade vem a bonança.

sábado, 26 de abril de 2008


A Formação de uma Nação

Os militares e alguns políticos andaram avisando que no norte de Roraima, nas aldeias indígenas, o inglês é mais usado que o português e ante o perigo do Estado brasileiro perder um pedaço de seu território voltam as discussões sobre o que é uma nação.

No O Globo de 05/04/2008 p 3 do Prosa & Verso comenta as três definições mais comuns do que seja nação. O primordialismo explica que ela se forma pelos laços antigos entre seres humanos; o etno-simbolismo ensina que elas se formaram “pelo desdobramento de ligações entre pessoas pertencentes a comunidades étnicas antigas com uma comunhão de valores e símbolos”, uma mesma cultura; e o modernismo diz que as nações são “um fenômeno extremamente recente na historia humana”. O professor inglês Benedict Anderson, defensor desta última linha de estudo, diz que a noção de “nação não é algo natural, inerente á raça humana, mas uma coisa que se tornou possível a partir de determinadas condições”. Que são: a organização das comunidades religiosas, as descobertas marítimas de novos continentes, as mudanças provocadas pela industrialização de produtos e o aparecimento dos sistemas educacionais nacionais.

Para Benedict as razões mais determinantes foram: a publicação de literatura no vernáculo ao invés da língua sagrada, o Latim; fim do absolutismo e do poder baseado no “direito divino dos reis”; a percepção da passagem do tempo e do movimento e da mudança das coisas. Ele diz que a “concepção medieval da simultaneidade-ao-longo-do-tempo é uma idéia de ‘tempo vazio e homogêneo’, por assim dizer, transversal, cruzando o tempo como uma coincidência temporal” e cita como exemplo a representação dos personagens bíblicos de antes e depois de Cristo vestidos e ambientados como os cidadãos do século XVIII.
Logicamente o político sempre “antenado” viu no nacionalismo um poderoso instrumento para manter as pessoas que viviam uma mesma cultura sob seu governo.
Assim, um amazonense compartilha história, músicas, crenças religiosas, comidas e festas com um baiano ou um gaúcho – apesar das diversidades regionais que só enriquecem a nação.
Por isso é importante que não se permita aos estrangeiros criar uma cultura em substituição ao pequeno vínculo que os índios da fronteira norte têm com o restante dos brasileiros.

Então continuaremos vivendo como uma nação até que chegue o tempo, como dizia John Lenon, em que não haverá mais nações e toda humanidade viverá e resolverá seus problemas como uma grande nação.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

A Traição


A TRAIÇÃO
Nas cartas ciganas a figura do urso sempre me impressionou, ela significa traição, uma das mais baixas atitudes humanas. Quando confiamos nossa segurança à alguém e ela tira nossa estabilidade psíquica nos causa muito mal, já que dela não esperávamos isso. Quando um estranho nos prejudica ficamos ofendidos com a fraude, mas quando parte de alguém que amamaos e depositamos nela nossa confiança então ficamos mais que ofendidos, somos feridos. Estou dizendo isso porque esta noite me afligi pensando no sofrimento da menininha Isabelle. A garotinha via na figura do pai a segurança completa e o carinho mais absoluto, assim (se) quando ele esbravejando feito louco apertou seu pescoço sufocando-a, mais que a dor e o medo da morte um desfalecimento tomou seu coraçãozinho e fez sua cabecinha inquirir: “Paizinho??!!”.

Segundo a visão espiritualista, quando ela morreu seu espírito se separou do corpo e mesmo então ela continuou sentindo dores, mas suplantando tudo seu coração ardia de desespero por ter sido ferida por quem ela mais depositava confiança. Fiquei imaginando o sofrimento dela olhando nos olhos quem amava e qual um animal raivoso a atacava sem qualquer piedade.

Com a mesma esperança no espírito acredito que ela deve estar cercada por outras almas que a consolam enquanto os traumas desta recente vida vão desaparecendo e ela vai assumindo de novo seu caráter de ser espiritual que teve nesta traição mais um aprendizado em sua longa busca da perfeição.

Já (se foi) seu pai amontoou sobre sua vida espiritual uma culpa que mesmo que se a arrependa e seja perdoado por Deus, terá que saldar com aquele ser irmão esta intensa decepção "até o último centavo". Então, longa vida para (se foi) o pai de Isabelle para que esta ovelha perdida volte para o meios dos fiéis depois de ter feito as pazes e recebido o perdão daquele ser que por agora foi Isabelle. Mas as penas que ele irá passar como resgate peço ao Pai Celeste força moral para que consiga evitar.

sábado, 29 de março de 2008

O IDEAL E A ÉTICA


Cada um de nós tem seu ideal. O meu é ser livre, ter o menos amarras possível, andar por esta vida sem carregar muito peso. Consegui isto desenvolvendo um trabalho sem patrão e com poucas obrigações e andando de bicicleta pelas estradas das serras de nossa região. Estimo que cada amigo meu consiga alcançar o seu ideal e ter felicidade.
Porém, para que nosso ideal não prejudique a vida de nosso próximo ele precisa ser contido pelos limites da ética. Foi exatamente sobre isto que o cientista político João Roberto Martins Fº, professor na Universidade de São Carlos, SP, falou ao O Globo no dia 23/03/2008 p 14. Em 1968, no Brasil e em outros países, os estudantes estavam tão cheios de ideais que formaram um ativo movimento estudantil. Por tudo iam as ruas exigindo educação mais eficiente, melhores transportes, mais correção na classe política, mais liberdade e, no Brasil, a volta a normalidade democrática com os militares devolvendo o poder político que tinham tomado com um golpe em 1964. Enfim, queriam um país melhor. Em nosso país militares também tinham o peito estourando de ideais: eliminar as idéias comunistas do meio de nosso povo e formar um governo mais correto e eficiente. Cada lado levou seu ideal às últimas conseqüências.
Em junho daquele ano a União Nacional dos Estudantes conseguiu levar às ruas uma multidão de pessoas em protesto no que ficou conhecido como a Passeata dos Cem Mil. Os militares responderam invadindo a UNE em agosto. Um deputado protestou em meio a uma câmara amedrontada, a junta militar criou o Ato Institucional 5 prendendo e desempregando qualquer um que ousasse protestar contra seu governo com mão de ferro e estudantes e políticos caíram na luta clandestina contra a ditadura.
Os resultados todos conhecemos, mas como tenho tantos amigos jovens que nasceram bem depois desta época é bom lembrar que milhares de brasileiros foram presos, centenas foram torturados e mortos e outros tantos se exilaram em outros países – muitos eram professores e cientistas importantes para o desenvolvimento de nosso país. Todos saímos perdendo quando os ideais extrapolaram os limites éticos e morais. E quando isto acontece o infrator tem de carregar a culpa pelo que fez até que pelo bom comportamento e pela retratação de seus maus atos consiga limpar sua imagem.
O professor Martins Filho diz que as Forças Armadas do Brasil ainda não conseguiram a admiração do povo porque mesmo tendo se pautado por um bom comportamento desde que devolveu o poder e aceitou a democracia como modo de se viver não confessou os erros que praticaram naquele momento histórico e teimam em escondê-los. “A oficialidade de hoje tem pouco comprometimento com o que aconteceu naquela época, mas essa oficialidade ou vai ficar sempre se defrontando com a imagem do Exército que participou da repressão, ou vai ver que a melhor atitude seria fazer um documento reconhecendo que houve, pelo clima da época, grandes erros”.
Porém, um fato ainda precisa ser explicado, pois ele parece desmanchar todo argumento contra o ideal sem ética. “A luta da memória quem venceu foi a esquerda. Até hoje ela aparece como heróica”. Aqueles que por seu ideal também extrapolaram os limites éticos seqüestrando, explodindo bombas e assassinando são romantizados como heróis até hoje e conseguem dividendos políticos por terem feito aquilo. O professor dá uma pista sobre isto: “Os militares esqueceram uma lição de Carl von Clausewitz, um técnico da guerra: ‘A guerra é dominada pela política’”. Como é que podemos aplicar esta lição em nossa vida individual quando por causa de um sonho abandonamos obrigações e direitos? Não sei.

terça-feira, 18 de março de 2008


Quando se estuda História fica-se admirado de como um império, como foi o babilônio, acabar, se disfazer em areia. Agora, neste início do século 21 parece que começamos a ver o fim de outro império, o norte-americano.
Você já ouviu falar em “descolamento do dólar”? A economista Miriam Leitão tratou disso em O Globo de 09/03/2008, na p 34: “Vários indicadores têm apontado para o quadro recessivo norte-americano, mas, como o mundo continua dando sinais de crescimento, a tese do descolamento reaparece”.
Os EUA representam 20% do PIB mundial, se por cinco anos vêm acontecendo desemprego por lá e agora vagas de trabalho foram fechadas e todos os indicadores econômicos estão despencando, como é que o mundo não está sentindo isso e as mercadorias continuam subindo de preço como se a economia mundial estivesse crescendo com todo vigor? As minas de ferro do Brasil pediram um aumento de 70% e os países importadores aceitaram, o petróleo já chegou a US$106 e o milho, a soja e outras commodities agrícolas estão disparando de preço. O que significa isso?
Os países emergentes como o próprio Brasil, China, Índia e outros vêm aumentando suas importações e muitos economistas acham que eles conseguirão sustentar o crescimento mundial. Dizem que o bom resultado de companhias multinacionais como IBM, Coca Cola e Toyota foi causado por boas vendas nos países emergentes, enquanto as vendas em suas matrizes vêm tendo um desempenho ruim.
Parece que a poderosa locomotiva que puxa o mundo e assim acha que pode intervir na política e até no território de outros países está perdendo as forças e agora outras locomotivas estão ajudando a puxar o trem do mundo. Assim, na questão de empregos, deve ter serviço tanto para nossos filhos como para os filhos deles nos anos a frente.
Porém, Miriam apresenta outra razão para o aumento das mercadorias: “Com os juros americanos com tendência de queda, a bolsa americana instável, o mercado estaria em busca de rentabilidade especulando no mercado de commodities... com um flagrante descolamento dos preços desses produtos da realidade corrente. Em resumo, em vez de sinal de vigor da economia pode ser indício de uma bolha saindo do mercado hipotecário para outros mercados”. Quer dizer, espertalhões ganhando rios de dinheiro agora para todo mundo sair perdendo mais na frente.
Então é a gente continuar bem ligado, sem nos endividarmos, para que a tempestade do mundo em volta da gente não destroçe o ninhozinho da família da gente.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

O Anti-Poder Cultural


Desde os primeiros grupos humanos deter o poder era o objetivo principal de alguns indivíduos. Até aí tudo bem. Mas quando o poder obtido era usado para promover o bem estar do chefe – como a construção de uma fortaleza com algum luxo – ou para satisfazer seus desejos em detrimento da segurança e paz do seu povo, a sociedade começou a buscar formas de se opor a ação do poderoso. Mas tanto a oposição política quanto as revoluções apenas substituíam um poder por outro ainda pior e depois de muitas experiências a sociedade procurou uma outra forma de enfrentar um governo insatisfatório, as manifestações de anti-poder. Este termo foi criado pelo cientista político da Univ. de Edimburgo, na Escócia, John Holloway, no livro Mudar o Mundo Sem Tomar o Poder. Esse professor analisou as ações “daqueles que excluíram a hierarquia, daqueles que questionaram teorias e daqueles que lutaram e morreram na resistência contra os abusos de poder”. Um dos exemplos estudados por ele foi dos zapatistas no México. Este movimento que aconteceu em 1910 com Emiliano Zapata e renasceu com os índios chiapas que empreenderam uma marcha que começou no sudeste do país, durou 37 dias, atravessou 13 estados e chegou a cidade do México com a intenção de chamar atenção do mundo para os desmandos do governo e a corrupção do Legislativo e do Judiciário. O movimento anti-poder tenta mudar a atitude dos governantes sem tentar colocar outros políticos no lugar, “anular todas as formas de autoritarismo e ativar a participação”.
Mas no sábado, 16/02/2008, O Globo no caderno Prosa & Verso resenhou o livro da Dra. Lúcia Maciel Barbosa de Oliveira que estuda uma forma de anti-poder que vem ganhando força desde o ano 2000, a “resistência como ação cultural e não mais como ação política”. O exemplo maior é o da internet: “Estas ações culturais crescem e ganham adeptos no vácuo do descrédito com as instituições tradicionais e com a estrutura de representação, ainda uma precondição para o exercício político”. Ela cita o filósofo Michel Foucault ensinando que “o poder usa mecanismos institucionais capazes de gerir o tempo e normatizar o uso do espaço para disciplinar a sociedade”, tais como a fábrica, a escola, as festas e o quartel que mantém as pessoas confinadas a locais produtivos por um período de tempo diário. Mas agora os aparatos tecnológicos usam uma multiplicidade de manifestações, um conjunto de ações culturais, que defendem uma sociedade livre das relações de poder e que pretendem estar fora da política tradicional. As mudanças democráticas ocorreriam “no comportamento singular de cada um e não como instituição de um modelo político”.
Quando vemos um político roubando insaciável precisamos ver se ele foi eleito por nós, neste caso precisamos participar em chamar atenção do incauto. Escrever email para o gabinete dele é a coisa mais fácil. Entrando no site da Assembléia Legislativa estadual ou da Câmara federal ou do Senado a gente descobre o site do pilantra e podemos tentar tocar em algum resto de vergonha que ele tenha. E participar ou até criar algum movimento a favor da ética, o que pode ser ligado a alguma atividade cultural, como uma comemoração popular. Você pode dizer que não tem pretenção política, mas é isto mesmo, é o anti-poder, a gente busca mudanças e melhoras sem querer o poder e as obrigações que ele traz.
Porém, como nosso tempo de modernismo tem como principal característica a relatividade, o fugir de afirmações, a professora Lúcia diz temer que o anti-poder cultural “uma vez transformado em ações políticas de um novo projeto de democracia passaria a se inscrever nas próprias estruturas que contesta e estaria morto por falta de oxigênio”, porque para os que vivem neste pequeno planeta no meio do nada não há lado de fora.

sábado, 26 de janeiro de 2008

Pressão Total


Cada vez se vai descobrindo mais coisas novas, não é a toa que a garotada de hoje já nasce de olhos abertos e quase falando, têm de correr se quiserem acompanhar todas as novidades que surgem dia a dia. Uma dessas é a angiotensina. Já ouvir falar? Pois a gente tem esse "negócio" dentro da gente. O nosso organismo tem um equilíbrio perfeito de líquidos e esta substância, um grande aglomerado de átomos de diversos elementos num conjunto chamado peptídeo, é responsável por manter a quantidade certa deles. Quando o fígado e os rins não produzem a quantidade ideal desta fórmula química então as coisas começam a desandar. E porque este mau funcionamento? Uma razão é termos nascido de pessoas cujos organismos têm um defeito genético e não produzem ou o fazem demais, a angiotensina. Os médicos dizem que o problema é hereditário. Mas existe outras razões que foram bem apontadas pelo nosso colega de ciclismo, Mahe: “O camarada que precisa beber pra ir vivendo chega no bar e manda botar uma dose, o corpo não gosta, faz cara feia, mas aceita. Isto continua por anos e anos até que o organismo não agüenta ser tão maltratado e apresenta a conta – igual ao mecânico que condena peças de um carro. Os rins estão ‘baleados’, o fígado está ‘meia-sola’ e o coração está pifando. Tudo porque não usamos nosso corpo da maneira especificada”. E este mau uso do corpo acontece por diversas causas. Comer demais ou comer alimentos que não são os melhores para o funcionamento de nossa máquina corporal é uma delas. Precisar do fumo ou outras drogas químicas para suportar a vida e assim colocarmos outras cadeias de átomos que não interagem bem com as que existem em nosso corpo, é o jeito exato de acabar com a saúde.
Bem, qual é o jeito? Ali atrás falei de “suportar a vida”, aí começam os problemas. Que bom quando a gente consegue ver a vida cor-de-rosa! Para quem só vê tudo escuro a solução ainda é a oração, a meditação e a leitura de um bom livro. Depois, vendo o mundo com bons olhos começamos a amá-lo e querer desfrutar de suas cores, sons e aspectos. Caímos na estrada, ou caminhando como faz “seu” Prata todos os dias ou pedalando como a gente faz. Ontem, estava ouvindo o colega Jorge se queixar de dores físicas e lhe falei de quanto as pedaladas, cada vez mais fortes, têm me feito bem. Quando a gente sua em cima da bike parece que estamos colocando pra fora do corpo todas as soluções químicas que não precisamos e deixamos só as necessárias. O equilíbrio de líquidos no corpo se regulariza, o coração e outros órgãos trabalham direitinho como um bom relógio e a pressão alta, o “inimigo invisível”, apenas um sintoma de que uma porção de coisas estão erradas, se normaliza, como tem que ser.

Em O Globo de 20/01/2008 p 43, diz: "Fatores genéticos e hereditários, combinados com dieta rica em sódio, vida sedentária, obesidade e estresse, são as principais causas de hipertensão. Ela é confirmada quando se mantém em 14x9 ou acima desse valor por mais de três medições. Números mostram que a maioria dos hipertensos está vulneráel a outras doenças graves". E aí vamos fechar nossa mandala com um fim de vida triste e sofrido? Sem essa!

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008


Pode ser a idade ou a vida estressante que se leva hoje em dia, seja pelo que for o resultado tem sido uma irritante falta de atenção que acaba me fazendo errar me obrigando a refazer procedimentos, aumentando a irritação e alimentando o ciclo mau do estresse. Mas quando estamos na trilha pedalando pelas estradas de chão e cercado pela natureza que foi o meio que nos gerou, todo o organismo começa a trabalhar num ritmo diferente. Se você me perguntar não vou saber descrever qual seja a mudança, é muito sutil, mas faz o coração bater sem palpitação e o cérebro rodar os pensamentos mais suavemente. O resultado é que tudo se torna mais nítido: as cores da vegetação, dos insetos e dos pássaros; o som da água rolando entre as pedras, do vento no capinzal e nas folhas das árvores e do canto dos passarinhos; e detalhes do mundo natural que me passariam despercebidos na correria do trabalho ficam bem destacados diante de meus olhos. Você pode dizer que isto acontece porque estou meio dopado e acertou em cheio. O exercício físico que realizamos com o ciclismo faz o corpo produzir várias substâncias químicas que são estimulantes e indutores do prazer. A gente fica numa boa.
Mas estou falando isto tudo a propósito da “tendência verde”, já ouviu falar? O Globo de 03/01/2008 p 28 diz: “Imagens de satélite têm, inclusive, comprovado o que se tem chamado de ‘Tendência verde’”. Já explico.
Neste domingo, 30/12/2007, voltávamos de uma pedalada até uma cachoeira em Quatis em direção Amparo quando reparei numa plantação de milho muito verde, farta, com folhas grandes, quase tirei uma foto dela. Passou pela minha cabeça que as plantas pareciam desmesuradamente grandes. O sol estava tão forte que nem tinha saliva para discutir a impressão com os colegas. Depois de descansar na fazenda Santana do Turvo retomamos o caminho passando pela trilha do Peixe. De novo reparei que o capim crescendo a beira da estrada estreita estava enorme, com a lâmina das folhas bem largas e verdes – dois meses atrás passamos por ali com tudo seco, o mato destruído por uma queimada. No meio do sombreado desta trilha tive ânimo de conversar com o colega Sidney sobre minha idéia que agora vejo corroborada no jornal.
Considerei que se a humanidade está jogando mais CO2 na atmosfera e os átomos que compõe esta molécula é o que as plantas usam no processo da fotossíntese para produzir massa vegetal, que é a base de toda cadeia da vida, então elas têm hoje uma abundância anormal de material para usar no seu crescimento. O mesmo gás que provoca o efeito estufa e aquece o planeta também fará as plantas se desenvolverem mais. João Bosco aproximou-se da gente e chamou atenção para um terreno recentemente arado em que o milho crescia muito rapidamente. Não que isto nos permita abusar dos recursos do nosso planeta impunemente, mas nos faz admirar o mecanismo de autoregulação desta nossa nave espacial, de nossa casa no espaço. Porém é evidente também que o clima está se modificando por causa do aumento da temperatura. Se isto mexer com as chuvas o ecossistema terá que se adequar as mudanças e a cadeia da vida, começando pelos vegetais e bactérias mais simples até as aves e mamíferos selvagens e domésticos e finalmente o homem, vão ter que sofrer graves modificações ou vão desaparecer.
Então, é bom não gastar tanto, ser mais comedido e menos exibicionista, usar a água com muito respeito dando o devido valor a este líquido básico pra existência da vida neste planeta e evitando de todo o modo a poluição.

Então, apreciemos o crescimento mais animado das plantas e aproveitemos para cuidar do jardim de nossa casa, plantar uma árvore nos bosques públicos da cidade ou no quintal de casa. Quem sabe se um feijão que a gente enterre e regue não vai virar uma planta descomunal? Além disso, é preciso ter confiança de que não estamos sozinhos e que há um designo para tudo que acontece na Terra.