sexta-feira, 11 de maio de 2007

AFRO-BRASILEIROS

Quando li pela primeira vez os argumentos de alguns estudiosos de que as quotas para os negros nas universidades criaria uma perigosa descriminação em nosso país que sempre foi elogiado por sua integração racial não percebi como isto podia acontecer e aceitei a nova lei como um avanço para o nosso povo. Leio com mais atenção o que eles dizem: “Quando o setor público começa a discriminar, ainda que ‘positivamente’, em nome da raça ou da cultura; e, pior, quando o governo começa a resolver quem pertence ou não pertence a determinado grupo, e associar a isto benefícios e privilégios, ainda que com as melhores intenções, as portas se abrem para reforçar o preconceito e os conflitos étnicos, resultando em problemas potencialmente mais graves do que os que se pretende resolver. No Brasil, a maior parte da população brasileira é racialmente mista, e a grande maioria se recusa a ser classificada racialmente. Quem seriam os negros? Os cinco por cento que se declaram como pretos nas estatísticas do IBGE?”.
www.schwartzman.org.br/simon/identidade.htm
Ainda continuo achando que para se vencer a inércia dos números que afirmam que os brasileiros de cor de pele mais escura tem menos chances na vida – menos educação, empregos piores, salários inferiores e péssimos níveis de moradia – é preciso uma lei contundente e até mesmo discriminatória. Mas agora li outro aspecto que me inquietou. São palavras do professor de literatura da UFMG, Eduardo A Duarte: “A literatura afro-brasileira é um ramo dentro e fora da literatura brasileira, um ramo étnico... Não deixa de ser brasileira, é feita por brasileiros, mas que fazem questão de assinalar a diferença étnica. Uma visão de mundo identificada à africanidade, algo que uma pessoa que não é afro-brasileira não alcança”.
Estes dias, professores divulgaram um estudo do DNA dos brasileiros: “Nossos dados sugerem que no Brasil, no plano individual, a cor determinada por avaliação física é um fraco fator de predição de ancestralidade genômica africana estimada por marcadores moleculares. Se uma mulher branca tem um filho com um homem negro, por exemplo, a criança pode herdar do pai os genes associados com resistência à malária e da mãe os genes que contribuem para a conformação do nariz. Seria ‘africano’ do ponto de vista da doença e ‘europeu’ do ponto de vista nasal. De certo modo, foi o que se encontrou numa amostra da população rural de Minas Gerais que participa de um estudo de saúde da UFMG, o Projeto Queixadinha. Nem todo negro no Brasil é geneticamente um afrodescendente, e nem todo afro-brasileiro é necessariamente um negro. Assim se pode resumir a pesquisa”.
Nosso grande Machado de Assis, mulato, escrevia como “autor inglês” e o poeta negro Cruz e Souza escreveu Broqueis como um ser humano e sem dar nenhuma pista de que via o mundo pelo ponto de vista de um negro que sempre foi discriminado. Só mais velho, em Emparedado ele deixa transparecer em seu texto o racismo que havia no fim do século 19. Isto me faz pensar se nossos servidores negros e nossos amigos de pele mais escura (com quem convivemos tão naturalmente) no fundo do coração não estão escondendo uma profunda frustração com a vida que tem e não nos deixam pressentir isto cantando um samba alegre para nos divertir e sorrindo com seus dentes mais brancos que os nossos.
Então, que terrível país é este no qual uma pessoa discrimina os amigos e vizinhos por sua cor de pele mais escura e eles nos discriminam como branco-azedos sem samba no pé e sem alegria de viver. Assim, quotas a torto e direito não vão piorar mais as coisas.