sábado, 15 de dezembro de 2007


Vivendo
Hoje, 15/12/2007, Oscar Niemayer faz 100 anos. No dia 15/12/2008 como o mundo era diferente desse nosso! Mas muitos instrumentos que fazem parte de nossa vida agora já existiam como sementes, idéias, teorias, na cabeça de muitos pesquisadores dedicados. Até o computador, que uma pessoa comum na época que Niemayer nasceu nem sonhava, já era imaginado por idealistas. E nosso arquiteto, ainda garoto, olhava para os prédios e casas de formas quadradas e via estádios, edifícios e mansões redondos, ovais e elíticos, que desenhou depois.
Não sou um desses escolhidos, talvez nem você, mas uma coisa temos de colocar bem viva em nossa mente: chegar ao 100 anos de idade ativos, sensíveis, com a mente vivaz e criativos.
Então, tenho de falar num conceito espiritualista quem se antepõe ao católico/evangélico - não o cristão. Em nossa cultura, na parte religiosa, aprendemos que nessa vida trabalhamos e sofremos para em outra vida descansarmos e vivermos em preguiça eterna. Não foi o que o mestre Jesus ensinou (João 5:17): “Meu Pai trabalha até agora e eu trabalho também”. Do que se deduz que nem nesta vida nem na outra vamos “viver na flauta” e que a atividade será eterna, enquanto existirmos como ego.
Daí, volto a falar da bicicleta. Agora mesmo fui visitar um vizinho que perdeu as duas pernas por diabete. Não sei o que ele fez ou não fez para ficar assim, mas com certeza um exercício, um esporte vigoroso nos protege muito. No meu caso, uma pedalada de mais de 70 km por semana foi um santo remédio: mantém minha pressão normal, diminuiu meu ácido úrico e baixou a glicose no sangue. Este organismo maravilhoso, este sistema espetacular, este templo vivo precisa ser muito usado para se manter saudável e viver muito.
Portanto, que nossa meta seja viver tanto quanto nosso irmão Oscar Niemayer, 100 anos! Isso, se não tivermos acordado outra coisa. Lembro o que o Senhor Jesus falou sobre João Evangelista (João 21:22,23): “‘Se eu quiser que ele continue a viver até que eu volte, o que é que você tem com isso?’... Então se espalhou entre os seguidores de Jesus a notícia de que aquele discípulo não ia morrer”. Já imaginou?

quinta-feira, 29 de novembro de 2007


"Consegui Roubar um Milhão!", Disse o Safado

Quando olhamos para o próprio umbigo deixamos de ver um monte de coisas, nossa vida curta, por exemplo. Estou falando isso porque li no Diário do Vale a manchete Sonegação Fiscal Gerou Rombo de R$1 bilhão: “Verificamos que o patrimônio dos fiscais não é compatível às suas rendas”, disse o procurador-geral da Justiça do Estado do Rio de Janeiro.
Um dia desses, andando de bike por uma estrada de Barra do Pirai vi dois cachorros atacando alguma coisa. Cheguei perto e vi um ouriço acuado e já sangrando no focinho, a parte de seu corpo não protegida pelas cerdas espinhentas. Espantei os cães e assisti o bicho subir a ribanceira íngreme torcendo para ele não cair. Ele sumiu lá no alto, no meio do mato. É um bicho estranho, gorducho, atarracado, coberto de um pelo duro e afiado que vai da cor marrom até a amarelada e com um focinho afilado e comprido. Pensei, vendo o bicho se escafeder, nas centenas de anos que a natureza levou para moldar esta espécie animal.
Agora veja, nós humanos vivemos menos que um centena de anos e mesmo nesse pouco tempo passamos por tantas mudanças na vida, tanto físicas quanto emocionais, tecnológicas e filosóficas. As coisas têm acontecido muito depressa. Já andei em estribo de bonde e pulei com ele andando, hoje vejo jatos para mil passageiros cruzando o céu. Escutei com o coração na mão as aventuras de Jerônimo e Moleque Saci no rádio capelinha lá de casa e hoje vejo minha neta conversando com 20 pessoas ao mesmo tempo no programa de computador Orkut.
Então, como é que um empresário pode imaginar que precisa salvar seu capital pagando a um fiscal ao invés de se submeter ao julgamento do Estado? Pagou uma vez e vai ter que pagar de novo. E como é que pode um fiscal, muito bem remunerado pelo mesmo Estado, trair o seu empregador e o povo para construir uma mansão, comprar um carrão e uma lancha e viver “a tripa forra” sem se importar com as pessoas pobres e uma geração de jovens a que o Estado não consegue pagar uma educação que lhes dê a chance de ter uma vida mais digna?
Mas não perco a esperança não. Acredito numa Justiça Divina, nas leis da natureza que selecionam os melhores em cada espécie sem levar em conta suas propriedades e na curta vida humana que não deixa impune nossos maus feitos.
Em outro artigo neste dia 29/11/2007 li que 37% de 3.010 adolescentes entrevistados pelo Ibope – na faixa de 13 a 19 anos – apontaram a corrupção como a maior vergonha do Brasil. Droga, quando é que vamos voltar a dar mais valor a um nome respeitado do que a uma riqueza que tenta encobrir um nome que enoja a todo mundo?

domingo, 18 de novembro de 2007


Uma Nação Dividida
Desde Gilberto Freire e sua obra Casa Grande e Senzala os brasileiros foram criados com a convicção de que a nação brasileira é una e que os encontros às escondidas dos coronéis e seus filhos com as negras mucamas e dos bandeirantes com as índias soldou de maneira definitiva as três raças em um só povo que respeita as diversidades e trata a todos com igualdade. E na nossa infância sentíamos isso mesmo brincando sem nenhuma diferença com colegas negros, mamelucos e brancos. Mas, já rapazes, vimos os colegas negros e mulatos irem ficando para trás nos estudos e apesar de ainda jogarmos bola juntos e sairmos irmãmente para bailes uma separação foi acontecendo. Homens feitos ainda tínhamos afeição pelos antigos colegas e até demos emprego a alguns deles, mas tanto eles quanto nós percebemos que não pertencíamos mais a mesma classe de gente, e não era só por diferença social.
Agora, as três matrizes étnicas mostram que não estavam perfeitamente misturadas como ensinava Darcy Ribeiro. Não formaram uma nova estrutura social tal qual o leite emulsificado em que a gordura e a água são divididas em gotículas bem minúsculas e assim conseguem ficar juntas sem formar a nata e o soro. O professor emérito da UFRJ, o antropólogo Otávio Velho, diz que a fórmula antiga que definia a sociedade brasileira já não dá conta de explicar os movimentos quilombolas e indígenas. Não que a nação esteja irremediavelmente dividida, mas é que a construção dela ainda não terminou.
Há dois anos uma corrente liderada pela antropóloga Yvonne Maggie se opôs a Lei de Cotas Raciais dizendo que “o Estado não poderia assumir o papel de definidor da cor da pele, porque a última experiência mundial de diferenciação de pessoas pela cor da pele ocorreu na Alemanha nazista” e deu no que deu. Otávio Velho, porém, diz que a coisa não é tão simples assim: “A Antropologia brasileira é um grande sucesso. No mundo é uma das que mais avançaram em termos da sociedade. A fórmula elaborada por ela colaborou na construção de certa imagem do Brasil. Mas o que representou sucesso pode ser uma armadilha. O que sugiro é que essa construção de nação, hoje, se mostra restrita para dar conta da toda a diversidade que se está multiplicando de maneira vertiginosa para além das fronteiras do que imaginávamos ser a nação brasileira. A nação explodiu! Tínhamos, por exemplo, a idéia de que os índios estavam restritos à Amazônia e que pouco influenciavam no conjunto da vida nacional. Mas hoje temos grupos que se consideram indígenas pipocando em todo o país, alguns deles inclusive urbanos. Os quilombos também surgem em todo o país. Essas manifestações são surpreendentes e por isso vistas como estranhas e falsas. Por quê? Porque aceitamos este princípio geral de que a nação é uma construção histórica e quando nos deparamos com identidades indígena ou quilombola não aceitamos. A idéia que tínhamos de um Brasil mestiço não pode ser utilizada para não enxergarmos fenômenos que escapam desta imagem”.
Também penso assim, o Brasil é uma nação de negros que pensavam que eram brancos e índios que se imaginavam europeus, mas a cada dia os descendentes, frutos das antigas misturas (na maioria das vezes forçadas), percebem a importância de cultuar a cultura de seus antepassados africanos e indígenas e não aceitam ser novamente forçados a serem irmãos. Com isso talvez consigamos a verdadeira nação brasileira, com africanos, índios e europeus que respeitam as tradições e culturas uns dos outros e dá oportunidades iguais a todos. Sobre esta igualdade é bom dizer que cada raça tem uma inteligência voltada para um aspecto definido das atividades humanas e o melhor aproveitamento das qualidades de uma pessoa é dar-lhe chance de ser aquilo que ele melhor pode fazer.

sábado, 17 de novembro de 2007


Um Coração do Tamanho do Mundo
Será que existe um número limite de seres por quem podemos ter afeição? Talvez o que queira saber é se podemos excluir um ser vivo de nossa atenção sem com isto ferir nossa consciência. No tempo antigo, quando uma mulher paria muitos filhos, costumava se dizer que “em coração de mãe sempre cabe mais um”. É só o coração das mulheres mães que tem um tamanho ilimitado para amar ou todos nós temos esta capacidade e só não a colocamos em prática? Á quantos podemos abarcar sob nossa proteção e atenção?
Ontem, vi o filme O Homem da Máscara de Ferro com di Caprio e um bando de artistas formidáveis. Num trecho D’Artagnan diz se referindo ao rei Luis XIV: “Em certo momento pensei que ele tinha um coração de rei”; querendo dizer que um verdadeiro rei (ou qualquer governante) precisa ter a capacidade de se preocupar sinceramente com todos aqueles que estão sob sua liderança. Faz lembrar a interpretação de um sonho feita pelo judeu Daniel para o rei babilônio Nabucodonosor (o construtor de uma das maravilhas do mundo antigo, os Jardins Suspensos de Babilônia - se quiser lembrar quais eram as 7 maravilhas do mundo antigo veja http://www.vivercidades.org.br/publique222/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=1227&sid=14): “O Senhor viu uma árvore que cresceu muito até tocar o céu e que dava tantos frutos que o mundo todo podia se alimentar deles. Até os animais selvagens descansavam na sombra da árvore. Aquela árvore, ó Rei, é o Senhor” (Daniel 4:19-22).
Porém existem impedimentos morais e financeiros para tolher a expansão de nossas afeições. Outro dia vendo um documentário sobre a Índia ouvi um entrevistado explicar que ele não assumia uma nova esposa porque não teria como sustenta-la. Imagine um homem romântico, numa cultura que lhe permite ter quantas esposas quiser, ver uma moça pobre que lhe tocou o coração, que poderia desabrochar se fosse devidamente cuidada, e ter de passar adiante deixando-a para trás porque suas posses lhe impunham este limite.
Estou falando isto tudo porque ontem acabei com uma família porque não podia cuidar dela. Vou me explicar. Há muito tempo, saindo a passear com o poodle Malu vimos uma gata malhada num jardim que veio até a grade brincar com ela e virar de barriga para ganhar cócegas. Era uma gata de rua que pulava de quintal em quintal e era alimentada pelo pessoal da firma dona daquele jardim. Ás vezes aparecia na área lá de casa e Lili colocava leite pra ela numa vasilha. Qual não foi minha surpresa quando a encontrei na garagem mostrando os dentes para proteger os gatinhos que pariu. Bem, todos lá de casa, inclusive a neta que mora no Rio e estava passeando, decidiram que devíamos abrir nosso coração para a nova família. Comprei ração de gato, improvisei uma bandeja de tinta como caixa de areia para fazerem as necessidades e com isto arranjei mais despesa e trabalho. Quando saia com Malu pela manhãzinha levava leite e ração para os gatos e a intervalos trocava a areia da caixa. Os gatinhos eram três, um malhado que estava sempre ao lado da mãe e deixava que o pegasse e que Malu o cheirasse, e outros dois pretinhos que viviam escondidos. Passou dois meses e a casa que alugamos ficou sem inquilino e Lili começou a ficar preocupada que os gatos atrapalhassem o aluguel do imóvel. Um impedimento financeiro começou a pressionar a afeição que estávamos desenvolvendo pela família de gatos. Nesta época o gatinho malhado, mais afoito, acompanhando a mãe foi para a rua e desapareceu de nossas vistas.
A bem da verdade é importante ressaltar que nosso coração abriu-se até certo ponto. Quando ela subia até a área recebia afagos e comida, porém não lhe era permitido entrar em casa. Gostávamos dela, mas não do jeito que vivemos com Malu. Assim as afeições têm gradações que incomodam. Nestes casos sempre me lembro de uma frase do instrutor Jesus (Lucas 22:28,29): “Vocês têm estado sempre comigo nos meus sofrimentos. Por isso, vocês vão comer e beber à minha mesa no meu Reino”. Alguns recebem mais do que outros em nossos cuidados.
Ontem, apareceram moscas em nossa mesa. É demais agora ter que abrigar insetos e alimenta-los! Desci para ver o que estava atraindo-as, havia fezes dos gatos por cada canto da casa vazia. Recolhi e desinfetei tudo, a garagem também, e decidi que estava na hora de tirar os gatos dali. Liguei para o Serviço de Proteção aos Animais e fui informado que eles não abrigavam, só castravam os bichos da rua. Se pudesse levar a gata até eles ela seria castrada. Mais não podiam fazer. Pensei leva-los para um ginásio coberto aqui perto e sempre passar lá levando ração. Procurei os gatinhos para colocá-los no carro, a mãe andava em sua ronda pela vizinhança, e não os achei. Como a porta da garagem estava aberta quando limpava os fundos imaginei que eles haviam fugido. Consertei a tela do portão que dá acesso à garagem para que não se abrigassem mais lá e aguardei os acontecimentos.
Mais tarde fui levar minha neta para casa da mãe. Liguei o carro e quando sai pra fechar a porta vi um gatinho dentro da valeta coberto com a água da chuva. Tirei-o dali e fui pegar um pano para secá-lo. Pâmela segurava o bichinho que ainda se mexia. Quando voltei estava morto, devia estar escondido sob o capô do carro e o ventilador o pegou. Cheios de tristeza levamos o animalzinho e o atiramos num terreno baldio e o cobrimos. Quando voltei pra casa e guardei o carro vi o corpo inerte do outro filhote. Também tinha sido atingido pela hélice, conseguiu correr, mas morreu pouco adiante. A gata, na área miava intensamente não podendo mais entrar na garagem. Coloquei o filhote bem encostado à tela para que ela o cheirasse e o levei na bicicleta atirando o corpo num matagal. De volta, a chuva não dava trégua, ouvi a gata miando no quintal. Decidimos não lhe dar mais ração para obrigá-la a procurar comida em outros lugares e não ficar sujando nosso quintal.
Triste pensar que tudo poderia ser diferente. A gata malhada tão afetuosa, que virava a barriga pra gente fazer cócega, podia estar bem alimentada deitada no tapete da sala com os filhotes deslizando entre os pés da gente. Isto é que se chama de visão romântica na literatura. No Realismo o escritor ia contar do pano da poltrona esgarçado pelas unhas afiadas dos felinos, coco espalhado por todos os cantos e uma trabalheira com os bichos que seria demais pra nós. Agora mesmo estávamos discutindo como detetizar pulgas que devem estar infestando a garagem.
Então, volto à pergunta do princípio: Qual o limite de nossa capacidade de abrigar e cuidar de outros seres? O que faz algumas pessoas terem mais disposição que outras para isso? E penso nas crianças da rua e aquelas que sem cuidados em casa também precisam de cuidados. Quem poderá dar afeição a elas? Como descobrir o potencial que temos de ajudar e investir tempo e dinheiro nisso? Quanta culpa podemos acumular sem que isto atrapalhe a nossa mente? E como se redime todas estas dívidas, voluntárias e involuntárias? O perdão de Deus resolve tudo ou só desabilita fnossas emoções? Sei lá.

sábado, 3 de novembro de 2007

Um Basta ao Crime Praticado pelo Estado


Um Basta ao Crime Praticado pelo Estado

Já ouviu falar em “crime organizado endógeno”? É um conceito criado por um professor da Universidade Federal de Pernambuco, Adriano Oliveira, autor do livro Tiros na Democracia. Para explicar meu ponto de vista sobre isso deixe lhe contar um tantinho de História.
Quando o ser humano reconheceu a liderança de um membro do clã e, depois, as sociedades admitiram o governo de um grupo de pessoas sobre seus destinos aceitaram todos os custos e despesas que estas autoridades lhe causariam. Quase 700 a.C. as dez tribos de Israel não tinham um rei, somente juizes que eram escolhidos em época de crises. Quando decidiram que era bom ter um governo regular o juiz da época, Samuel, lhes explicou o quanto custaria isto: “O rei os tratará assim: Tomará os filhos de vocês para serem soldados nos seus carros de guerra, na infantaria e na cavalaria. Colocará alguns deles como oficiais encarregados de 50 ou de 100 soldados. Outros serão usados para fabricar as suas armas e equipar seus carros de guerra. Alguns rapazes terão de cultivar suas terras e suas filhas trabalharão em suas padarias e suas cozinhas. Para estas despesas ele tomará uma décima parte de tudo que vocês produzirem (dizem que no governo Lula o governo está nos tirando 34%) e quando isto acontecer, vocês chorarão amargamente, porém o Deus eterno não ouvirá as suas queixas”. Bem, nossos antepassados aceitaram, mas com o acordo tácito que tais dominadores dariam segurança ao grupo, o protegeria dos criminosos e organizariam a vida do seu Estado. Mas quando temos todas estas despesas e o que arrumamos é uma escumalha que só serve para nos roubar e desorganizar nossas vidas então precisamos ter ânimo de dar um basta e escolher líderes mais dignos, pois Deus não se meterá nisso – no máximo impedirá que as coisas fujam do Seu plano eterno.
É disto que fala o professor Adriano: o crime no Brasil tem origem no Estado. “Temos no país um grande quantitativo de organizações criminosas e quando mergulhamos nesse submundo descobrimos o quanto o Estado está envolvido. Portanto, onde está o Estado observamos o crime organizado. O crime organizado endógeno é aquele que nasce dentro do Estado quando: juizes vendem sentenças, policiais recebem dinheiro e atrapalham ou impedem a investigação e promotores não denunciam determinadas pessoas. Ou quando mais freqüentemente observamos prefeitos cometerem atos de corrupção em concluiu com empresas privadas para fraudar licitações e descumprirem leis. Considero todos esses atos como crime organizado endógeno e não temos como deixar de dizer que o Estado tem o seu lado bandido”.
Ele acha que o crime no Brasil está associado ao Estado – como no desvio de recursos públicos – ou nascendo dentro do Estado, como na venda de sentenças. Com certeza essas ações de peculato não é uma simples esperteza natural do brasileiro, como tentou nos enganar o excelente jogador de futebol, Gerson, o “canhotinha de ouro”. O crime que se enraíza dentro do Estado é muito mais perigoso para todos nós do que o criminoso comum. Quando um policial é morto no confronto com bandidos bem armados com armas das forças armadas os culpados são seus colegas que vendem armamento aos marginais. Assim um jovem que entra na polícia devia botar na cabeça que jamais ajudaria aos criminosos, mesmo que com isto auferisse vantagens financeiras, que afinal seriam de curta duração porque estaria preparando sua própria morte ou de algum de seus colegas. Também, não pode “fazer vista grossa” às más ações de seus colegas de farda, seja por amizade ou corporativismo, pois tais corrupções atentam contra a sociedade, sua corporação, sua família e contra si mesmo.
E nós, como cidadãos temos de: reclamar de tudo que achamos criminosos e denunciar o que vemos e julgamos ser errado. E não ficar alheios por pensar que nosso julgamento pode encrencar um inocente ou por comodismo.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007


Pelando o Cocuruto da Serra do Rio Bonito


Falando do filme Tropa de Elite e os diálogos cheios de nomes feios, Arnaldo Bloch, cronista d’ O Globo, disse que estes termos são considerados hoje como ênfase na oração e não um uma ofensa ou pornografia. Assim, se você ainda não é dos que aturam ler ou ouvir nomes feios é bom não continuar lendo o que escrevi, porque as coisas que vi me deixaram tão indignado que só com um sonoro nome feio consigo descrever minha irritação.

Neste domingo, 14/10/2007, subi a serra do Rio Bonito pedalando junto com alguns colegas ciclistas. A água acabou e quando chegamos ao riacho, lá no alto, corremos para encher os cantis. Mas qual não foi nossa indignação quando vimos o grotão por onde escorre as primeiras águas do riacho com a vegetação da mata Atlântica desmatada. Os paus das alegres árvores derrubados tristes no chão, os cipós sofridos emaranhados nas terra, os arbustos rasteiros roçados sem clemência.

Imaginei o fazendeiro dando ordem ao capataz: “Bota tudo no chão! Quero aquele topo de serra pronto para botar meus bois. Se os riachos secarem que se dane. Se a merda deste planeta ficar igual a Marte, sem água e sem ar, não vou estar mais aqui para ver. Acaba com tudo”.
Pensei que talvez o miserável tenha ido pedir uma autorização a um funcionário público que vendeu o documento oficial por algumas moedas das quais estava precisado, dizendo: “Sou muito mal pago para proteger o meio ambiente. Tenho mais é que cuidar da minha barriga. Que a droga daquela vegetação se exploda. Que aquela mata vá pra puta-que-a-pariu”.



E a cambada que subiu a serra com machados, serras, foices e facões deve ter ouvido o gerente gritar: “Mete o machado em tudo aí. Quero toda esta mata no chão até o fim da porra deste dia. Se alguém aqui tiver pena de planta então é melhor descer a serra e passar fome com a família. O trabalho de vocês é desmatar este alto de serra todo. Tudo aqui tem que virar capinzal. Não quero ninguém fazendo corpo mole!” Agora, se você também está indignado, peço a quem tem autoridade para subir ou mandar alguém subir lá no alto da serra do Rio Bonito, depois de Amparo, entrando pela fazenda Ribeirão Claro, uns 2 km subindo e mandar parar aquela destruição. Ontem, domingo, não tinha ninguém lá, mas hoje os machados já devem estar cantando na madeira.

sábado, 13 de outubro de 2007


EM QUE MUNDO ESTAMOS

Quando, há uns 100.000 anos, os primeiros humanos olharam para o céu de noite ficaram emocionados com a beleza das miríades de estrelas pontilhando e rebrilhando naquela abóbada negra. Os hominídeos que existiam antes deles não se importavam com os lindos pontos de luz lá em cima, nem podiam concluir que aquilo tudo era obra de um Ser poderoso. Aos seres humanos elas serviram de sinais de orientação tanto geográficos como para suas vidas.

Então, há 10.000 anos, entre os homens já existiam aqueles que se dedicavam de coração a estudar os astros e observando-os perceberam que enquanto alguns eram fixos, pareciam presos na abóbada celeste e, cada noite apareciam no mesmo lugar caminhando para o oriente outros, cada noite, surgiam num lugar diferente e cismavam em caminhar em sentido contrário ao das estrelas, eram os planetas. Nesta época, por influência de uma casta religiosa que tinha direito de vida e morte sobre o povo, os astrônomos deram aos astros o nome dos deuses. Um planeta, por exemplo, por ter uma cor avermelhada ganhou o nome do deus da guerra, Marte, - por analogia ao sangue que é derramado nas lutas sangrentas - enquanto outro, por sua luz forte, azul e bela, chamado também de estrela D’Alva, recebeu o nome da bela deusa Ártemis, depois chamada de Vênus. Para melhor estudar as estrelas eles também agrupavam as mais visíveis em grupos chamados constelações tentando ver no grupo algo que lembrasse uma figura, como um animal, por exemplo, a Ursa Maior.

Até muito tempo depois de Cristo os homens acreditavam que toda aquela beleza tinha sido colocada ali em cima para embelezar as noites dos seres humanos, os filhos de Deus, e que estávamos no centro do Universo. Então, algumas vozes mais ousadas e corajosas começaram a afirmar e mostrar provas, inclusive matemáticas, de que o Sol era o centro do Universo e que tudo o mais girava em redor dele, inclusive a gente no planeta Terra. Foi uma luta contra conceitos religiosos e políticos, mas a verdade, pelo menos uma parte dela, conseguiu vencer e aceitamos, um pouco a contragosto, que girávamos pelo céu escuro em meio a milhões de outros astros.

Então, há 500 anos os astrônomos, com ajuda de instrumentos óticos, começaram a descobrir e contar para nós todos, por jornais e revistas, que existiam muitos outros astros sem ser as estrelas, os cometas, os planetas e os satélites. E ficamos sabendo das supernovas (estrelas que explodiam) e das nebulosas, das estrelas duplas girando uma em redor da outra, e das galáxias nos confins do Universo, afastadas da nossa, a Via Láctea.

No século 20 ficamos sabendo das estrelas de nêutrons, dos quasares, dos buracos-negros no centro das galáxias que têm forma de redemoinho, da matéria negra e que as estrelas se diferenciam não só por sua grandeza de luz, mas por sua geração. Sim, quando as estrelas explodem, seu material ou rejeito é usado pelas leis universais da Física para construir novas estrelas. Também ficamos sabendo que cada estrela tem a sua volta uma família de planetas, os planetas extra-solares que são formados pela poeira que sobra na formação da estrela. Nesta foto de um observatório montado num satélite fora da atmosfera da Terra e que foi melhor definida pelo trabalho de um artista gráfico, duas estrelas da geração mais recente dão voltas em torno de um ponto e uma delas mostra um anel de rejeito que a força de gravidade e outras forças universais vão moldar em planetas sólidos como o nosso. O anel mais externo é formado por blocos de gelo semelhante ao cinturão de asteróides que circunda o sistema solar muito longe da gente.

E Deus, como é que fica pra nós? Fica maior! Por exemplo, para Jó, um homem que sofreu muitos dissabores e que viveu na época de Moisés, uns 1.000 anos antes de Cristo, Deus era maior do que as altas montanhas que ele conhecia: “O Deus Eterno deu a Jó a seguinte resposta: ‘As suas palavras só mostram a sua ignorância; quem é você para pôr em dúvida a minha sabedoria? Onde é que você estava quando criei o mundo? Você sabe quem resolveu qual seria o tamanho do mundo e quem foi que fez as medições? Quando o mar jorrou do ventre da Terra, quem foi que fechou os portões para segura-lo? De onde vem a luz, e qual é a origem da escuridão? Você pode soltar as correntes que prendem as Três Marias ? Você pode fazer aparecer a estrela D’alva ou guiar a Ursa Maior e a Ursa Menor? Você conhece as leis que governam o céu e sabe como devem ser aplicadas na Terra?’”.

Esta sempre foi a lição que recebemos do Criador: continue estudando e investigando por sua vida afora, porque você ainda não sabe tudo. Então, precisamos tratar de estudar e ler sempre. Porque muitos mais mistérios serão revelados.

sábado, 6 de outubro de 2007


SALVANDO O RIO BRANDÃO

O nosso pequeno rio nasce num grotão cheio de magia na estrada Roma-Getulândia e corre pulando como um menino da roça cheio de saúde e alegria.

Mas depois de andar um bocado sofre uma terrível agressão do poder público de nossa cidade que não encontrou uma solução melhor para eliminar o chorume do infernal lixão desse povo laborioso e rico do que joga-lo nas águas límpidas do Brandão.

Depois ele anda mais devagar pelas terras da fazenda Sta. Cecília. Rola intoxicado, fedendo, um velho relegado pelo povo que devia tomar conta dele. E passa pela Vila Sta. Cecília feio, espalhando uma terrível catinga que faz os moradores bem-sucedidos que moram em seu entorno torcerem o nariz.

E, assim morre triste e vagabundo o rio Brandão que está sendo tão maltratado pelo povo que devia tratar bem dele e desfrutar de sua beleza.

Conclamo os cidadãos de Volta Redonda a mostrarem sua educação, cidadania e consciência ecológica salvando nosso rio Brandão de seu destino trágico de ser apenas um esgoto de nossa sujeira.

sexta-feira, 28 de setembro de 2007


Vivendo em Cidades

Quando se lê o livro Quem Roubou o meu Queijo? Aprende-se a vencer o medo e avançar para novas conquistas e mudanças, mas o que realmente me tocou nele foi a chave para nos sobrepormos ao medo: ter uma idéia clara das mudanças que estão ocorrendo em nossa volta.
Então, no O Globo de domingo li o artigo Planeta Favela comentando a visão de mundo do historiador Mike Davis que também é um teórico da moderna urbanização. “É um fato épico, pela primeira vez na história a população urbana é maior que a rural, mas o mais importante é a dinâmica por trás desta estatística. Desde 1950, 2/3 do crescimento da humanidade foram para as cidades e até 2060, quando a população humana atingirá seu máximo biológico, 10,5 bilhões de pessoas, todos os novos habitantes do planeta, a quase totalidade dos nascimentos acontecerá dentro das cidades”.
Um comentário. Os religiosos conservadores entendem que a ordem que Deus deu a raça humana: “Tenham muitos e muitos filhos, espalhem-se sobre a Terra e a dominem”, indicava que seu desejo é que a nova espécie dominante do planeta não ficasse aglomerada em cidades, mas vivesse no campo com bastante espaço entre as famílias. Esta interpretação é corroborada pelo que os humanos que sobreviveram ao dilúvio que inundou as terras do norte da Mesopotâmia, no que hoje é a Armênia, disseram: “Vamos, pessoal! Vamos fazer tijolos queimados e construir uma cidade que tenha uma torre que chegue até o céu. Assim ficaremos famosos e não seremos espalhados pelo mundo inteiro”. Este conceito serviu de incentivo para os nômades hebreus viverem em tendas mantendo-se afastados das cidades muradas e de seus costumes corrompidos.
Então, por séculos e séculos, ao passo que as cidades proliferavam e cresciam em tamanho transbordando para além das antigas muralhas, tudo o que acontecia de maléfico era atribuído ao aglomerado humano que por esta atitude desobedecia a uma ordem divina. As pragas, a seca e a fome e as guerras que dizimavam milhares de vidas tinham como causa o amontoado humano nas cidades.
Agora, este pensador apoiando a idéia antroposófica ensina que serão nas cidades que os humanos conseguirão “lidar com a mudança do meio ambiente e com o desafio do aquecimento global. Elas são a maneira mais eficiente de se viver em um mundo de recursos limitados”. Sua visão da situação é que se os humanos ainda vivessem em maior proporção no interior, a degradação dos rios, queimadas e gastos de energia seriam maiores do que vivendo todos numa grande concentração urbana. Porém, Davis acha que as cidades precisam passar por uma “reconstrução” tanto urbana, quanto na forma de vida das pessoas, como na ética: “É preciso recriar esperança, igualdade e oportunidade para todos”.
Há muitos anos, quando morava no Rio de Janeiro, me dei conta das centenas de pessoas que interrompiam nosso happy hauer ou aproveitavam a parada no trânsito para oferecer alguma quinquilharia ou pedir uma esmola. O número de pedintes nas ruas triplicava. Senti que aquilo não ia acabar bem. É verdade que o samba e o futebol pareciam manter aquelas almas afligidas por tantas carências em paz, mas os poetas já percebiam que essa desigualdade estava alimentando ressentimentos. Como diz este samba:
Lata d’água na cabeça
Lá vai Maria, lá vai Maria
Sobe o morro e não se cansa
Pela mão leva a criança,
Lá vai Maria.
Maria lava roupa lá no alto,
lutando pelo pão de cada dia,
sonhando com a vida no asfalto
que acaba onde o morro principia.
O urbanista Davis insiste que precisa acontecer uma “grande transferência de recursos de uma parte da sociedade para outra”. Uma consciência socialista pode ser uma solução, outra parece ser a que Lula e outros presidentes sul-americanos têm feito: complementar a renda dos mais pobres, além de ser dado mais disponibilidade de estudo, projetos culturais e esportes para todos. Desta forma, havendo mais equilíbrio entre as classes dentro de uma cidade os conflitos e o crime diminuiriam.
Davis também chama atenção para as vantagens de ser morar em uma grande comunidade: “Cidades são capazes de fazer algo quase milagroso, que é criar luxos públicos. Que magnata pode ter uma biblioteca do porte da Biblioteca Nacional ou um espaço público como uma praia (como Copacabana ou a Barra) ou uma grande piscina pública (como o Parque Aquático, de Volta Redonda)”.
E ensina que o governo precisa educar maciçamente o povo para aprender a zelar pelo entorno de sua casa mantendo limpos e bem cuidados os rios, as ruas e as praças públicas. Respeito pelo direito dos outros no trânsito e nas relações comerciais é fundamental para a convivência pacífica. Tudo que se faz tem de ser bom para ambas as partes. E para os criminosos natos é preciso uma vigilância e punição rigorosas. Assim se pode viver bem numa cidade.
Assim, é preciso ter esta grande mudança em mente: O espaço cada vez mais exíguo entre as pessoas só vai aumentar, então precisamos nos moldar a isto e nos comportarmos e nos prepararmos para tudo que vai significar em termos de mudanças e oportunidades.

sábado, 1 de setembro de 2007

O subprime e as vantagens indevidas


Lendo a comentarista de Economia de O Globo, Míriam Leitão, falando a respeito da crise financeira da moda, os financiamentos imobiliários nos EUA, o subpirme, me veio a vontade de escrever sobre uma norma que tem norteado minha vida, às vezes.
A Contabilidade, ciência exata baseada na Matemática, fez milagres na Economia que, dizem alguns entendidos, deixaram as próximas gerações numa corda bamba.
Na antiguidade os ativos eram bens físicos que qualquer humano conseguia produzir ou criar: saco de milho, vasilha, carneiro, arado, cavalo, vestimenta, etc.
No sistema de escambo ia o carneiro vinha uma mesa, o fazendeiro fazia uma troca com o marceneiro e cada um continuava com o mesmo número de ativos.
Mas quando o fazendeiro precisava de uma roupa e o trigo só seria colhido dentro de alguns meses e ele conseguia um crédito com o costureiro, vinha túnica e o saco de trigo ficava prometido. Os ativos continuavam iguais até que um artesão mais sabido descobriu outro ativo, o juro. O trigo sendo entregue depois a roupa custava 10% mais. O tempo de espera era um outro bem.
Quando os senhores feudais criaram as moedas a economia deu um salto, duplicou. Eles precisavam pagar por outro ativo, o serviço, o trabalho despendido por um soldado, por um carpinteiro, um cavalariço ou outro qualquer profissional. O dinheiro do fidalgo era bem recebido porque tinha respaldo: suas terras, seus castelos e até seu título. Ativos físicos e de honra.
O trabalho, a arte, aptidão agora valia bens, eram ativos abstratos que geravam ativos físicos.
Depois surgiu o sistema bancário e a economia deu outro salto, multiplicaram-se os ativos. O granjeiro vendia alguns patos e botava o dinheiro no banco. Ele tinha esse ativo lá guardado para a hora que precisasse. Mas o banqueiro pegava seu dinheiro e emprestava ao artesão de couro para comprar material para os trabalhos que ia confeccionar. O mesmo virava um outro ativo. A economia dobrou de tamanho. O ser humano prosperava.
Mas, às vezes, o crédito ou o próprio dinheiro falhavam. A safra fracassava e não tinha trigo para entregar, ou o senhor feudal era derrotado e um rival assumia toda sua herança e não honrava o valor das moedas cunhadas pelo senhor anterior, ou o artesão de couro pagava e não recebia sua mercadoria ou era roubado. Muitos ativos viravam pó.
Surgiram em boa hora as companhias de seguro. O proprietário de um ativo pagava um dízimo mensal para protegê-lo e o bem estava segurado: a safra a ser colhida, o rebanho, o estoque de mercadoria e até o dinheiro no banco.
A humanidade juntava bens tangíveis e imateriais que lhe davam mais conforto durante a vida ativa e até um repouso na velhice.
Mas sempre que nestes negócios não se jogava limpo, com transparência como se diz agora, os bens ficavam sem nenhuma segurança, porque a honra e a justiça ainda são os maiores valores, mesmo que no desenrolar da vida não pareça.
É o que a Mirian comentava sobre os empréstimos subprime, com juros mais caros. O que encarecia o empréstimo era a falta de garantias dos tomadores: imigrantes ilegais que não trabalham com carteira assinada ou famílias que não tinham um rendimento compatível com as normas bancárias. E aceitavam os juros mais altos porque não tinham os meios que as outras famílias possuíam. Se alguma coisa desandava, sem garantias, só restava às financeiras tomar o imóvel e revendê-lo. Mas como o juro era alto, a venda do imóvel não cobria o débito e – coisa rara – sobrava para o banqueiro à perda de ativos.
Não é bem assim, como tudo neste mundo está interligado – e não estamos falando de física quântica – o banqueiro tinha repassado o valor do financiamento para um banco que queria trocar seu dinheiro por um ativo que rendesse um juro melhor e quando o comprador do imóvel não pagava e a casa era revendida por um valor menor, os depósitos bancários sumiam. Não some o dinheiro sagrado do banqueiro, mas o suado depósito que a costureira e o pedreiro colocaram lá. O subprime promete arrancar os ativos de muita gente.
Assim, temos de ficar atentos aos caminhos do nosso dinheirinho. Todo cuidado é pouco. A aventura é um perigo, a cobiça continua merecendo punição. Ou como dizia o poeta: “São demais os perigos desta vida”; ou segundo o sabido colunista social Ibrahim Sued avisava: “Olho vivo que cavalo não sobe escada”.

terça-feira, 28 de agosto de 2007


Absalão
Acabei de ler um livro, Absalão, Absalão, do escritor norte-americano William Faulkner (1897-1962). Quem conhece um bocado da Bíblia sabe da história de David e seu filho mais bonito, Absalão. É um velho drama que acompanha o ser humano, um ressentimento recôndito que cada homem tem por aquele que emprenhou a sua mãe e por meio dela transmitiu à outro humano suas características preservando sua imagem. Parente de outra tragédia que causa terríveis efeitos na sociedade, o pai que destrói a sua prole para salvar a sua vida, seus ideais e suas ambições.
O livro é difícil de ler porque o autor cria em torno do enredo um labirinto de acontecimentos que aparentemente só serve para explicar como o narrador ficou sabendo daquela história. Tirando este roupagem pesada surge uma história que se repete bem mais do que se pensa. Um garoto pobre, numa família grande, zanzando pelas ruas sem o que fazer se deparou com uma cena que o marcou pra toda a vida: um fazendeiro, sentado em sua varanda e servido por um negro de terno que tanto lhe trazia uma bebida gelada, quanto lhe abanava do calor e até tirava e colocava o seu sapato. Para um garoto que nunca tinha sorvido uma laranjada gelada e nem mesmo tinha um sapato pra calçar, ver alguém fazer essas pequenas necessidades para outro lhe botou na cabeça duas coisas: precisava ser dono de terras, de uma bela casa e de vários escravos; e tinha de se manter completamente distante da raça negra, não podia de modo algum misturar seu sangue com o deles. E como os adeptos do Segredo dizem hoje: seu desejo se tornou uma ordem para o Universo que cooperou para ele conseguir tudo o que queria, mesmo passando por cima de outros, da ética e das leis.
Então, tudo começou a conspirar contra ele: teve um filho com uma mulher que descobriu ser mulata, abandonou-a e ao filho; a mulher que escolheu para casar, só para ganhar um status na sociedade, foi sofrendo sem amor até a morte; e os filhos, um casal, acabaram se envolvendo com seu filho mulato que além de grande amigo do rapaz marcou casamento com a moça, sua meia irmã. E o homem, o David, que na história se chama Sutpen, decide jogar os filhos entregues a própria sorte para salvar seu sonho de ser um homem honrado, superior e que tinha empregados para lhe fazer a menor vontade. Acabou morto com uma machadada.
Mas no decorrer da narrativa Faulkner coloca pensamentos soberbos como esse sobre uma amizade: “Por isso não tinha a mínima importância qual dos dois estava falando, pois não era apenas a conversa que clareava tudo, que possibilitava a comunicação, mas um feliz casamento entre falar e ouvir, onde cada um, diante da necessidade, perdoava, tolerava e esquecia a falta do outro”. Ou defendendo a importância de levar o estudo até a universidade: “A cultura que o equipararia e poliria para a posição que ele queria alcançar na vida, como qualquer homem, ele poderia obter em qualquer lugar, até na sua biblioteca – se tivesse a vontade necessária -, mas há alguma coisa, uma certa qualidade na cultura que somente a vida monástica de uma universidade poderia lhe dar”. E o terrível pensamento que pode passar na cabeça de um filho que foi menosprezado pelo pai: “Como pôde ele ter permissão de morrer sem ter de admitir que estava errado e sofrer e se arrepender disso”.
Demorou a leitura deste livro grosso, mas me distraiu, ajudou a passar o tempo e vi certos aspectos da vida sobre um ângulo novo pra mim nos meus 63 anos.
Agora vou começar a ler cinco livros da autora Jean M Auel, romances sobre o homem primitivo, no Neolítico. Me amarro em ler sobre as dificuldades que os homens venceram naquela época.

sexta-feira, 11 de maio de 2007

AFRO-BRASILEIROS

Quando li pela primeira vez os argumentos de alguns estudiosos de que as quotas para os negros nas universidades criaria uma perigosa descriminação em nosso país que sempre foi elogiado por sua integração racial não percebi como isto podia acontecer e aceitei a nova lei como um avanço para o nosso povo. Leio com mais atenção o que eles dizem: “Quando o setor público começa a discriminar, ainda que ‘positivamente’, em nome da raça ou da cultura; e, pior, quando o governo começa a resolver quem pertence ou não pertence a determinado grupo, e associar a isto benefícios e privilégios, ainda que com as melhores intenções, as portas se abrem para reforçar o preconceito e os conflitos étnicos, resultando em problemas potencialmente mais graves do que os que se pretende resolver. No Brasil, a maior parte da população brasileira é racialmente mista, e a grande maioria se recusa a ser classificada racialmente. Quem seriam os negros? Os cinco por cento que se declaram como pretos nas estatísticas do IBGE?”.
www.schwartzman.org.br/simon/identidade.htm
Ainda continuo achando que para se vencer a inércia dos números que afirmam que os brasileiros de cor de pele mais escura tem menos chances na vida – menos educação, empregos piores, salários inferiores e péssimos níveis de moradia – é preciso uma lei contundente e até mesmo discriminatória. Mas agora li outro aspecto que me inquietou. São palavras do professor de literatura da UFMG, Eduardo A Duarte: “A literatura afro-brasileira é um ramo dentro e fora da literatura brasileira, um ramo étnico... Não deixa de ser brasileira, é feita por brasileiros, mas que fazem questão de assinalar a diferença étnica. Uma visão de mundo identificada à africanidade, algo que uma pessoa que não é afro-brasileira não alcança”.
Estes dias, professores divulgaram um estudo do DNA dos brasileiros: “Nossos dados sugerem que no Brasil, no plano individual, a cor determinada por avaliação física é um fraco fator de predição de ancestralidade genômica africana estimada por marcadores moleculares. Se uma mulher branca tem um filho com um homem negro, por exemplo, a criança pode herdar do pai os genes associados com resistência à malária e da mãe os genes que contribuem para a conformação do nariz. Seria ‘africano’ do ponto de vista da doença e ‘europeu’ do ponto de vista nasal. De certo modo, foi o que se encontrou numa amostra da população rural de Minas Gerais que participa de um estudo de saúde da UFMG, o Projeto Queixadinha. Nem todo negro no Brasil é geneticamente um afrodescendente, e nem todo afro-brasileiro é necessariamente um negro. Assim se pode resumir a pesquisa”.
Nosso grande Machado de Assis, mulato, escrevia como “autor inglês” e o poeta negro Cruz e Souza escreveu Broqueis como um ser humano e sem dar nenhuma pista de que via o mundo pelo ponto de vista de um negro que sempre foi discriminado. Só mais velho, em Emparedado ele deixa transparecer em seu texto o racismo que havia no fim do século 19. Isto me faz pensar se nossos servidores negros e nossos amigos de pele mais escura (com quem convivemos tão naturalmente) no fundo do coração não estão escondendo uma profunda frustração com a vida que tem e não nos deixam pressentir isto cantando um samba alegre para nos divertir e sorrindo com seus dentes mais brancos que os nossos.
Então, que terrível país é este no qual uma pessoa discrimina os amigos e vizinhos por sua cor de pele mais escura e eles nos discriminam como branco-azedos sem samba no pé e sem alegria de viver. Assim, quotas a torto e direito não vão piorar mais as coisas.

sábado, 21 de abril de 2007


ALAIN TOURAINE 1925- Sociólogo francês que leciona na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais de Paris é outro pensador obcecado com a influência do Islamismo no mundo do século 21. Lembra do que o papa Bento XVI falou em uma conferência sobre o pensamento do Islã? Para não dizer o que pensa ele contou uma discussão entre um antecessor e o imperador de Bizâncio: “A religião de Maomé prega a intolerância com outras crenças e o confronto violento para resolver qualquer questão com os outros povos”. Foi uma barulheira tremenda no mundo todo. Mas o professor Alain se pergunta a mesma coisa: “O mudo islâmico, dentro do seu conjunto, e em suas várias partes, responde à modernidade, reconhecendo os direitos pessoais, ou essa é uma vasta região onde esses critérios não são aplicáveis e, por conseqüência, não está disposta a se comunicar com outras partes do mundo a não ser pela guerra e pela rejeição a populações que lhe parecem infiéis à mensagem divina?”.
Ele até contemporiza lembrando que os avanços da humanidade às vezes demoravam a ser absorvido por certos povos. Relembra que mesmo no meio da avalanche de idéias e sentimentos que atropelaram o ser humano no início do Iluminismo lugares como o Brasil ainda dependiam do trabalho escravo – até hoje os jornais, vez por outra, noticiam que a polícia desbaratou o trabalho escravo em uma fazenda onde um proprietário e seus capatazes não aprenderam nada sobre democracia e direitos humanos. Então, será que os árabes estão só um pouco atrasados e logo vão aprender a respeitar a crença dos outros e tentar todos os meios para resolver pendências políticas em paz? Ou a intolerância é uma parte irremovível da cultura árabe?
Touraine reconhece que boa parte do mundo árabe vem se esforçando para se adaptar a modernidade e aos conceitos de direitos individuais. Porém, ele vê entre eles um comportamento antigo e tribal: o direito comunitário, profundamente entranhado em seus corações e o meio que usaram para sobrevier como povo as conquistas dos ocidentais. Aí ele percebe um grande perigo. Enquanto alguns sociólogos entendem que a imigração de muçulmanos para os países da Europa e da América vá ocidentalizá-los e fazê-los adotar normas jurídicas e morais do Ocidente e com isso, servindo como exemplo para os que ficaram no Oriente, modernizar o Islã, Alain acha que eles acabarão servindo de cabeça-de-ponte em meio à população do país que os acolheu e conseguirão influenciar os jovens sem perspectivas e ansiosos para acreditar em alguma coisa tornando-os terroristas que só vão ver a violência como meio de mudar ou destruir a sociedade que tirou suas esperanças.
Assim, Touraine, teme: “Se os muçulmanos continuarem recusando a existência de princípios universais e rejeitando a idéia de modernidade cuja essência é reconhecer a presença de princípios universais nos indivíduos particulares, não existirá mais comunicação possível entre os atores cujas culturas são completamente diferentes”. Ele não aceita o argumento idiota de que um árabe não vai aceitar a modernidade porque ela foi desenvolvida no Ocidente: “A Matemática e a Astrologia foram desenvolvidas em certos países e em determinadas épocas (como o Egito e a Mesopotâmia antigos), o que não impediu de serem aceitos pelo mundo inteiro. Assim, deve-se insistir na existência de princípios que, elaborados em uma parte do mundo e em uma época precisa, devem ser reconhecidos como valores universais pelo conjunto dos países”. Mesmo tendo lutado para se verem livres da dominação árabe, os europeus – especialmente os da península Ibérica – são agradecidos até hoje pela cultura que os árabes adicionaram a seu modo de viver.
Dificilmente, no Brasil, havemos de enfrentar alguma luta entre evangélicos fanáticos e católicos ou espíritas, então é torcer para que esses nossos irmãos árabes aprendam a tolerância para não levar-nos todos de roldão em uma crise econômica ou militar: “Nenhuma sociedade tem o monopólio dos grandes princípios da modernidade, e o grau de acirramento dos conflitos fundamentais, sejam religiosos e culturais, ou simplesmente econômicos, obriga-nos a buscar negociações em níveis mais aprofundados e elevados”.
Coluna de Merval Pereira em O Globo, 14/04/2007

sexta-feira, 13 de abril de 2007


JEAN BAUDRILLARD 1929-2007 Sociólogo e filósofo francês que foi marcado por seus colegas como um niilista por uns e como o “pai do pensamento moderno” por outros, em mais de uma centena de livros foi um crítico feroz da cultura de consumo. Quando vamos ao shopping de uma metrópole, faiscante em centenas de lojas exibindo tudo o que a inventividade humana conseguiu produzir, às vezes nos pegamos pensando se aquilo é a vida real, a função maior do ser humano, ou é apenas um mundo virtual, como no filme Matrix que se inspirou no livro de Simulacros e Simulações, de Baudrillard.
O filósofo considerava a todos nós como cúmplices da situação em que vivemos, desta hiper-realidade que ele chama de “assassinato do real em que a clonagem de cultura e idéias pode configurar o fim de um dos traços fundamentais do homem: a morte”. Ele entendia que o espetáculo feérico mostrado pela mídia, igual a um carrossel enlouquecido, tira de nós a oportunidade de pensar e buscar mudanças para o mundo “neutralizando e anulado uns aos outros pelo excesso e pelo vazio de sentido”. Sua descrença completa, a negação veemente de valores aproveitáveis na sociedade humana, não era pregação de uma atitude de impotência, mas a celebração catastrófica de que precisamos mudar o rumo da humanidade. “O social funciona sobre a base da disfunção do acidente, do catastrófico e do irreal”.
Talvez por isso Baudrillard sentia um grande fascínio pelo mal, ainda que para entender sua força e melhor combatê-la. “Não se trata de ser contra a erradicação do mal. É preciso abandonar o idealismo”. Não acreditava nas visões de um mundo utópico nem na fé dos religiosos de que um dia a Terra será dos mansos e pacíficos: “Não existe este ponto ideal e perfeito, esse ponto de chegada para a história. Não há o bem sem o mal. Um está ao lado do outro. As coisas são reversíveis: são boas e se tornam más ou são más e se tornam boas”. Sua maneira arguta de ver o ser humano na história lhe dizia que existem forças naturais e sociais indomáveis: “Quero dizer que as coisas que são reprimidas não desaparecem, mas ressurgem adiante com maior força, tornando-se incontroláveis. Pensar a sociedade contemporânea consiste em pensar a produção do mal como uma energia incontrolável”. Assim, aquietemo-nos. Se houve um Nero que empalava os inocentes, um Átila que destroçava tudo que se interpunha às suas hordas, um Hitler que jogou milhões em fornos crematórios e um George W. Bush que acha mais importante que o imperialismo ianque continue faturando e o mundo que se exploda, ainda haverá muitos outros antiCristos.
Por tudo isto é que o mundo consegue inverter belos princípios e continuar matando milhões de humanos, irmãos da nossa espécie, de fome e doenças. Veja só: O ponto fraco do gigante norte-americano é seu desequilíbrio crônico das contas externas, sempre gasta muito mais do que fatura. E olha que vende horrores! No ano passado os EUA gastou quase 1 trilhão de dólares a mais do que produziu. Sabe quem financiou este estouro de caixa? Os países em desenvolvimento. A China conseguiu um superávit de 7% que aplicou em grande parte em papéis norte-americanos. E nós que já temos US$100 bilhões ‘malocados’ como reservas estratégicas! Gente, quanto esforço, suor e lágrimas, aplicados em bom papel impresso pelo Banco Central de GW Bush! Marx errou demais ao teorizar que o Capital devia fluir das economias desenvolvidas, dotadas de imensa capacidade de poupar e que já teriam explorado grande parte das suas oportunidades de investimento, para as economias em desenvolvimento. É, afinal, mais um fruto do nefasto mal que é inerente a raça humana.
O Globo, 10/03/2007, Opinião e Prosa&Verso

sexta-feira, 6 de abril de 2007

O Valor da Leitura e do Estudo




O que pode ter em comum o Dalai Lama com o ex-prefeito de Bogotá? Vou te contar. O líder espiritual dos tibetanos, Tensyn Gyatzo, vive no exílio e faz conferências em todos os países pedindo apoio para que a China reconheça a cultura, a religião e as tradições do povo que vive no alto do Himalaia. Mas ele fala de outra preocupação que o aflige: “Nosso desafio é preservar os valores morais, a espiritualidade entre os jovens. Venerar imagens não significa espiritualidade. É preciso ler mais, o importante é aprender sempre, ler cada vez mais os textos budistas”.
É lógico que como pastor religioso ele prega a devoção nos jovens, mas veja bem como ele insiste na leitura. Precisamos instar com nossos filhos, sem esmorecer, para que sentem pra ler. Estão no computador, diga alguma coisa positiva para pegarem um livro. Estão vendo TV, fale alguma coisa otimista sobre um livro. É claro que o pai e a mãe também precisam ler algum livro vez por outra. E a leitura tem um efeito secundário sobre o jovem: “Temos que fazer algo antes que seja tarde. Cada vez mais os jovens só se interessam por ganhar dinheiro. Muitos estão perdendo a espiritualidade”.
E o que pensa o Sr. Henrique Peñalosa, um ex-prefeito da capital da Colômbia? Quando três governadores brasileiros o visitaram falou sobre as ações que conseguiram baixar muito o crime naquela cidade de morros e favelas: “Nós decidimos não investir num plano de fazer oito auto-estradas na cidade, que custaria US$2,2 bilhões, e executar um projeto de ônibus articulado por que só 15% das pessoas têm carro. Decidimos investir em transporte público. Com a economia que fizemos pudemos construir escolas de qualidade, bibliotecas, parques, ciclovias e calçadões. Nós demos a cidade aos pobre, que não tinham como usá-la”. Ele contou que a polícia também se tornou mais comum nas ruas, mas o respeito à cidadania com a melhoria dos serviços públicos – com principal foco na leitura e numa educação eficiente – foi o fator de sucesso.
Do outro lado do mundo vem uma constatação do valor do investimento no ser humano. Na China o fator principal para o impetuoso crescimento econômico foi resumido em quatro pontos pelo economista Ilian Mihov: “Para criar um milagre, para crescer realmente rápido, é preciso investimento de pelo menos 25% do PIB. O crescimento não vem com a instalação de grandes fábricas e companhias multinacionais. O crescimento ocorre quando a população local se interessa pelo estudo, cria inovações, monta seus próprios negócios e gera empregos”.
Tenho 5 filhos, os netos vão para 6 e as noras e genros são 4. Todo este time precisa ser lembrado que a situação vai ficar cada vez mais difícil, tanto na situação ecológica quanto na econômica. O que vai “salvar”, selecionar, os melhores indivíduos será a instrução que acumularem, os conceitos éticos e humanísticos bem encravados em seus corações e uma espiritualidade que não é a mesma coisa que religiosidade. Então, nós, os mais velhos, precisamos continuar como um farol para os mais jovens dando exemplo, conselhos e incentivo positivo que não pode cessar nunca.
O Globo, 18/03/2007

sábado, 24 de março de 2007


JOHN UPDIKE 1932- Bem que tentei ler um livro dele, mas com frases compridas – a gente esquece do que ele começou a falar antes de chegar ao fim do raciocínio – não consegui. Agora estou lendo uma resenha de seu livro Terrorista sobre um rapaz de 18 anos, norte-americano, que se converte ao islamismo e é convencido – ou se convence – a explodir parte do monumento a Lincoln como um homem-bomba. Numa entrevista Updike segue o pensamento dos intelectuais do momento e que foi resumido muito bem por Garcia Márques: “A descrença é mais resistente que a fé porque é sustentada pelos sentidos”.
Updike avisa uma coisa que já percebi a algum tempo: os jovens podem ser mais cruéis e violentos que um homem da minha geração. “Os jovens têm hoje um modo diferente de encarar a morte, um modo que parece muito estranho para alguém da minha geração”. Eu mesmo tenho muito mais medo de ser assaltado por um homem novo do que por um marginal mais velho. “Não tem respeito pela vida dos outros e nem pela própria vida”.
Sobre o que provoca esta maneira de viver cheia de adrenalina e de outras drogas no cérebro ele dá sua explicação: “O capitalismo produz uma desilusão profunda com o futuro, uma desesperança que se infiltra nos menores gestos cotidianos. Daí o desespero de quem é capaz de pensar-se a si mesmo explodindo pelos ares junto a dezenas de inocentes. Nada vale a pena porque a própria vida não vale a pena ser vivida”.
Tenho o maior desprezo por este modo de vida globalizado de agora. Ontem, estava conversando com um casal amigo sobre como era a CSN há uns 20 anos atrás. Meu concunhado, marido de Lia, minha cunhada mais velha, morreu e deixou-a com duas filhas para criar. Um diretor da companhia, amigo do Tomaz, visitou a viúva e incentivou-a a fazer um exame para entrar na firma. Ela, menina criada no interior de Minas, só tinha uns dois anos de estudo. Como é que passaria numa prova para a enorme CSN? Ele lhe deu as respostas da prova, mandou que ela as decorasse e as escrevesse várias vezes e fosse fazer o exame. Ela passou e trabalhou muitos anos na Cia. Cuidava de plantas, fazia café, conversava sempre a animada com os funcionários de sua área e de alguma forma – como um ser humano valioso que era – contribuiu para o bem estar dos colegas e ajudou a “equipe” a produzir. Mas quando se lê que a Bayer comprou a Schering e vai mandar 6.000 funcionários embora, a gente fica danado da vida com a insensibilidade de uma sociedade que se preocupa mais em proteger o Capital do que as vida humanas.
Então, somos todos – como coniventes nesta safadeza – responsáveis pela violência do mundo. “Não existe para estes jovens qualquer perspectiva de mudar o presente, de transforma o mundo. Então, passa a ser banal pensar em explodir tudo. Qualquer coisa parece ser melhor do que o inferno da vida cotidiana”.Updike fala sobre a violência no Rio de Janeiro que diz ser “um extravasar de ódio, raiva e humilhação” de tantos jovens. “Todo mundo já ouviu falar da explosão de violência nas favelas cariocas, os crimes terrivelmente cruéis no Rio e em São Paulo. E em meio a esta crueldade estão jovens, às vezes adolescentes, que não se detêm diante de nada, que não pensam duas vezes antes de atirar, de explodir tudo”. Ele repete a acusação: “Mas há um sistema econômico cruel que nos atinge a todos, uns mais, a outros menos, mais ainda assim nos atinge a todos”.
Ele fala da distante Depressão, nos anos da década de 1920: “Eu me lembro da sensação de ser pobre. Era um sentimento de revolta. Eu me sentia traído pela vida, impotente para realizar meus sonhos. Imagino que os jovens hoje se sintam assim quando percebem que não terão oportunidades, que o sistema capitalista não vai dar a eles a menor chance de vencer na vida”. Mas existe aí um paradoxo! Ele mesmo, de menino pobre se tornou um dos maiores escritores norte-americanos! Então, será que o problema principal dos jovens não é o que os acometeu sempre, a impaciência?
Prosa&Verso, O Globo 17/03/2007

terça-feira, 13 de março de 2007


FRIEDRICH HOLDERLIN 1770-1843 Poeta, autor de Hiperion este alemão teve o privilégio de disseminar um pensamento que influenciou a vida do povo alemão no início do século XVIII e que foi denominado Idealismo alemão. Naquele momento o ser humano se esforçava para mesclar sua fé nos espíritos e sua crença no absoluto com o racionalismo que lhe era imposto pela ciência e pela relatividade de qualquer verdade diante de outras maneiras de viver que vinham tanto do Oriente quanto do Novo Mundo. Naquele livro, em poesia, ele dizia que “nem nosso saber nem nossa ação alcançarão em qualquer período de nossa existência o ponto em que é abolida toda contradição em que tudo é uno”.
Ele explicava que dentro de nós mesmo somos amparados por crenças e conceitos que nos mantém equilibrados, o problema começa porque temos que interagir com o mundo e precisamos moldar nossa maneira de pensar com as leis naturais que o mundo nos apresenta: “Com freqüência parece-nos que o mundo é tudo e que não somos nada, mas de outras vezes pensamos que somos tudo e que o mundo não é nada”. Já percebeu que quando saímos de casa bem cedo de manhã parece que estamos sozinhos na rua e, de repente, quando surge uma pessoa numa esquina sentimos como se ele estivesse invadindo nosso espaço, como se o mundo todo funcionasse só pra agente. Assim, o Idealismo era um jeito de pensar que ajudava a manter o individualismo das pessoas daquela época. Com certeza isto não serve mais para nós, hoje.
Leia os versos de OUTRORA E HOJE:Meu dia outrora principiava alegre;No entanto à noite eu chorava. Hoje, [ mais velho, Nascem-me em dúvida os dias, masFindam sagrada, serenamente.
www.algumapoesia.com.br/poesia2/poesianet178.htm

ZYGMUNT BAUMAN 1925- Professor emérito de Sociologia na Univ. de Leeds ele estudou as mudanças que levaram o ser humano a este mundo moderno e a era do Consumismo que está colocando em perigo o equilíbrio de nosso planeta e que possibilitou o surgimento da vida aqui. Foi ele que chamou a nossa maneira de viver de fluídica, em contraposição à solidez que buscavam as gerações passadas.
Um tanto pessimista ele ensina que esta liquidez humana atual torna a existência uma sucessão de experiências rápidas e sem profundidade. Assim, parece que Bauman julga nosso tempo como sendo de menor valor do que o dos seus tataravôs. “A vida líquida é uma vida precária, vivida em condições de incerteza constante”. Ele não pode ter esquecido que foi esta existência de perigo constante que construiu a própria espécie humana! De qualquer forma atesta que em nosso tempo a morte rápida e o reinício se tornou um acontecimento constante e interminável. Em Vidas Desperdiçadas ele diz que “tudo é descartável, substituído, e logo depois substituído de novo, numa sucessão de colapsos”. Mas reconhece que mais uma vez a lei insensível da Seleção natural está moldando um novo homem “com identidade frouxa e desejos extremos que se consideram em casa em muitos lugares”. Decreta que para tais “o importante não é saber quem você é, mas quem você deixou de ser”.
Faz-nos lembrar Picasso desconstruindo a pintura com seu Cubismo e que dizia: “Quando pretendem me classificar em uma categoria, já me transformei, já estou em outra parte”. Assim parece que esta experiência atual que transformou o romântico namoro em um prático “ficar” abre um leque infinito de possibilidades para o ser humano ao passo que estilhaça as certezas e os antigos dogmas. E não foi sempre assim que evoluímos? José Castelo sentencia: “Se o mundo líquido estimula o consumo veloz desconstruindo descarte, ele estimula também o desejo de criar”. Bauman listava algumas vantagens deste nosso modo de vida: “Ele pode nos levar ao espírito de aventura, a uma imaginação mais expandida, a riscos férteis da liberdade íntima e nos aproximar de nós mesmo”. Muitos temem este viver a beira do abismo e correm para se agarrar a certezas que já deviam estar a muito tempo descartadas, como as crenças religiosas antigas.
Bauman se inquieta com a sanidade mental de gentes que não tem tempo para nada demorado e teme pela perda da identidade deles. Mas não foi isso que antigos buscadores da verdade ensinavam (como Buda), dizendo que precisamos vencer o desejo e precisamos diluir-nos na unidade do Universo? Na foi o que ensinou o mestre Jesus: “Portanto, não fiquem preocupados, dizendo: ‘Onde é que vou arranjar comida, bebida e roupas?’ Os pagãos estão sempre procurando estas coisas”. Não parece que estamos nos aproximando daquele desejo antigo do homem: um dia ser um espírito sem mais nenhuma razão para preocupação?
www.klepsidra.net/klepsidra23/modernidade.htm

sábado, 3 de março de 2007


LUC FERRY 1951- Ainda existem filósofos e este francês os define como sendo aqueles homens que procuram os meios de resolver os medos que impedem os seres humanos de viver ou viverem mal. Em seu caso ele vem se dedicando a entender o movimento de laicização no Ocidente. É a volta a idéia de que “Deus está morto”, ou ainda pior, que Ele nunca existiu. Ele diz que “você tem medo quando encontra alguém mais importante ou poderoso que você”.
“Na história da humanidade tivemos três discursos para enfrentar esses medos. O da religião, que propôs salvar as pessoas de seus medos através da fé e de Deus. A psicanálise que tenta combatê-lo através da técnica da transferência. E tem a filosofia, a doutrina da salvação laica, isto é, a salvação pela razão e por você mesmo”.
Parece que ele está falando de uma realidade que não se vive no Brasil, país de forte sentimento religioso. A devoção aos santos católicos é emocionante e o fervor evangélico parece cheio de uma nova vitalidade. Porém, como os movimentos sempre chegaram ao Brasil com décadas de atraso bem pode ser que a chegada por aqui deste pensamento laico seja só uma questão de tempo.
Luc entende que o desprezo pelas religiões oficiais segue o mesmo movimento que estava tornando a democracia um modo de convivência essencial a todos os povos, mesmo os mais atrasados: “A rejeição aos dogmas, ou seja ao argumento da autoridade, a reivindicação de autonomia e liberdade de consciência, a emancipação do político em relação ao religioso e o trabalho de solapa das tradições que foi realizado há mais de três séculos na Europa, e que caracteriza a laicidade, é um trabalho tão fundamental que sob muitos aspectos ele é irreversível. Ele o é pelo menos tanto quanto a própria democracia”.
Ele lembra as imagens de estátuas de homens poderosos (como Lênin e Sadam Hussein) e de símbolos fortes (como o muro de Berlim e as Tôrres gêmeas de Nova Iorque) que foram jogadas no chão diante dos olhos assustados e admirados dos povos de todo o mundo. “O que vimos no século XX foi a desconstrução de todos os valores. Todos os ídolos foram derrubados e com eles os valores morais, espirituais e políticos. Mesmo que alguns destes valores estejam de pé, ninguém acredita mais neles da mesma forma que acreditávamos antes”. Ele diz que tudo isto já havia sido previsto pelo filósofo Nietzche no livro O Crepúsculo dos ídolos no subtítulo Como se Filosofa com o Martelo.
Luc vai mais longe e diz que os valores deixaram de ser religiosos e morais para se equipararem a objetos de consumo, o que “possibilitou que a globalização liberal desabrochasse. Tudo virou mercadoria”. Se isto é bom e durável só o tempo vai dizer. As insustentáveis mudanças que o mundo moderno nos apresenta se tornam quase insuportáveis quando a pessoa não tem alguma certeza, aquela fé inabalável que a crença religiosa nos oferece. Então como enfrentaremos esta situação? Será que causará mais problemas emocionais, depressão, pânico e desânimo?
E nos tempos em que Deus, pátria e a certeza de que a ciência ia tornar o mundo melhor era o esteio dos humanos? Se as incertezas eram menores e a mente menos racional estava mais pacificada por outro lado muitas vidas se perderam em sacrifício em nome destas verdades. Quais serão os pontos de apoio das novas gerações? Luc diz que “perdemos quase tudo em termos de valores tradicionais, já que tudo se tornou mercadoria, com uma exceção: o amor uns pelos outros, em especial por nossos filhos”. Então, ele fala de um modo que pode ser bem contestado: “O amor pelos filhos na Idade Média na Europa não era algo muito importante”; mas nem hoje quando os pais trocam o sucesso na vida profissional e o trabalho de sustentar uma vida acima de suas condições abandonando os filhos, dando pouca ou nenhuma atenção a eles. Isto parece ser mais uma incerteza da vida do que um apoio seguro.
Apesar disso, Luc diz que o afastamento das crenças religiosas é um caminho sem volta e que o ser humano vai ter que encontrar outros valores para lhe servir de guia nesta vida.
www.ambafrance.org.br/abr/label/label25/sciences/ferry.html e O Globo, Prosa&Verso p. 2, 17/02/2007